Eram quatro horas da madrugada. Sara e Gilbert haviam perdido o sono e continuavam conversando, depois de mais algumas partidas de carta, não havia mais o que fazer. Estavam na sala do quarto de hotel sentados no sofá, entediados.

— Podemos transar. – Sara falou simplesmente.

— Sara. Coitada dessa criança. Como ela vai descansar se você não parar de sacudi-la. – Gilbert riu divertido.

— Amor... – Ela o fitou lasciva. – É o balancinho, a gente está ninando o bebê para dormir. – Então ela se levantou e fez o balanço do corpo para frente e para trás.

— Você não tem jeito mesmo. – Disse pasmo ao ver Sara imitando o movimento.

— Vem dar um jeito em mim então. – Ela o chamou com o dedo indicador, mordendo o lábio inferior.

Gilbert tentou conter-se, mas acabou caindo na gargalhada do modo que Sara o provocava. Ele então puxou-a pela cintura para o seu colo e a aninhou que nem um bebê.

— Você é pior que criança. Nunca mais come brigadeiro à noite. Pelo visto açúcar te agita.

— Mas isso é fácil de resolver. Você arranca minha roupa fora, que é pouca coisa agora: Somente uma camiseta sua e uma calcinha. E depois você me ajuda a gastar bastante energia. Em seguida dormimos que nem duas crianças. – Ela sorriu.

— Nada disso mocinha. – Passou o dedo no nariz dela. – Vem, vou te levar pra cama e nós três vamos dormir um pouco.

— Eu estou sem sono. – Retrucou manhosa, levantando-se do colo dele, porém virando-se de frente para ele.

— E então, o que quer fazer?

— Sexo. – Respondeu rapidamente.

— Outra coisa que não seja sexo. – Ele riu.

— Transar. – Ela disse divertida.

— Sara...  – Falou repreendedor.

— Sei lá Gris. Podemos fazer amor, um oral, um anal, até uma fodinha. – Ela riu. 

— Ninguém te merece Sara Sidle. – Ele falou rindo. Levantou-se do sofá e deu as costas para ela. – Se a senhorita não está com sono, eu estou. – Então ele seguiu em direção para o quarto. Sabia, no entanto, que Sara viria logo atrás. 

Ele não estava errado, ela veio atrás. Ele sabia que ela não a deixaria ele ir descansar. Logo ela o seguiu até o quarto, parando na porta.

— O que você quer agora pequena?

— Sei lá, já que você deu pra trás. E eu estou sem o mínimo sono, e acredito que você também, a gente podia, quem sabe, gravar um vídeo falando sobre a gravidez. Eu acho que seria até uma ideia melhor do que escolher alguém para dar uma entrevista. Você pode postar isso em uma rede social, ou algo assim. O que acha?

— Não é má ideia. – Gilbert falou após pensar um pouco na ideia de Sara. E de certa forma, não era má ideia mesmo. - Quando quer fazer isso?

— Agora!  – Ela sorriu.

Ambos se arrumaram. Sara colocou a roupa, e como não havia maquiagem com ela, preferiu fazer de cara lavada mesmo. Gilbert também se arrumou. Ela rogou praga para céus e terras por não ter consigo sua câmera para fazer o vídeo.

— Calma Sar. Vamos gravar com o celular mesmo. Conhecendo como te conheço, é uma profissional que se dá bem com qualquer câmera. – Piscou.

— Fala isso só para puxar meu saco. – Respondeu rápido, o mau humor da gravidez já havia voltado. 

“Malditos hormônios!”. Pensou Gilbert, no entanto, sabia que tinha parte de culpa. Ele gostava de provoca-la, e no fim isto acabava sendo um reflexo do que Gilbert cavava.

— Talvez. – Então ele parou como se estivesse pensando, enquanto na realidade esperava uma reação de Sara. Ela por outro lado não esboçou qualquer reação. – Talvez se não conhecesse seu trabalho e não soubesse como é boa no que faz, eu faria isso apenas para lhe exaltar sem nem mesmo saber se tinha méritos, mas na realidade eu te conheço bem, e todos que te conhecem sabem o que você é capaz de fazer com uma câmera na mão. Seu trabalho é ótimo Sara, e nunca duvide da sua capacidade. – Ele sorriu.

— Eu apenas brincava. – Disse tímida diante daquele elogio que soou também como um comentário repreendedor.

— Mas nem de brincadeira. Você é perfeita em cada pedacinho, e por isto é a mãe ideal para a minha filha.

— Como assim? – Sara fitou-o atônita. 

— Ela será gerada por uma mãe perfeita, o que faz da minha filha tão perfeita como a mãe. – Sorriu bobo.

Eles trocaram alguns beijos. Colocaram então o telefone com a câmera frontal ativada para poderem se ver, ela estava voltada para o sofá. Gilbert se sentou no mesmo, enquanto Sara estava olhando para ele.

— Não vai aparecer no vídeo? – Gilbert indagou ao vê-la evitando a câmera.

— Não direto. Prefiro que você fale antes. – Respondeu. – Quer treinar primeiro?

— Não. – Ele respondeu com um sorriso. – Irei simplesmente abrir meu coração. 

Sara então ficou ao lado da câmera, esperando que Gilbert desse o sinal para ativar. Mesmo dizendo que não treinaria, pareceu que ela organizava suas ideias mentalmente, como se selecionasse o que iria falar, ou refletisse sobre isso. Logo Gilbert acenou, dando o sinal de que ela podia apertar para gravar.

Assim ela o fez.

— Olá pessoal. Eu sou Gilbert Grissom, como vocês mesmos sabem. – Ele riu nervoso. – E eu estou um pouco ansioso, pois estou fazendo algo que geralmente não faria e que, aliás, nunca fiz. Hoje eu vim aqui para contar algo sobre minha vida pessoal. E isso é muito estranho, por que eu nunca senti necessidade disto. No entanto, como eu sei que isto irá parar na mídia de qualquer maneira, eu apenas prefiro que a minha versão seja a primeira a ser ouvida, ao menos desta vez. 

Os olhos fugiam da câmera uma série de vezes, como se tivesse medo dela, ao contrário disso ele tinha uma intimidade com as lentes desde muito tempo, mas agora parecia uma completa estranha e acusadora para cima de si, virada para si. Quando finalmente voltou a olhar para continuar, seus olhos estavam cheio d’água como tomados pelas lembranças e por um misto de sentimentos. Fragilizado, decidiu expor de uma vez só. Na duvida era só editar o vídeo ou simplesmente não postá-lo.

— Queria poder dizer a vocês fãs que lhes devia isto, mas na realidade não é o que eu sinto. Eu sempre gostei de ter minha privacidade e ser discreto na minha vida pessoal, ao menos o mais discreto possível, porém avaliando coisas que aconteceram no passado e que eu de longe quero que se repita, eu estou aqui. Há muito tempo tinha uma mulher especial em minha vida, Virginia. Sei o quanto todas vocês torciam por esse relacionamento, o quanto gostavam de ver nós dois juntos. – Ele sorriu por alguns segundos pela lembrança. – E eu também gostava, - neste momento seu sorriso morreu – estar com ela era o maior motivo da minha felicidade, cada vez que abria meus olhos e sabia que ela estava ali ao meu lado, eu sorria, não só com a boca, mas também com a alma. Planejamos uma vida juntos. Um casamento, uma casa, filhos. Tudo estava se encaminhando e viria ao seu tempo, e de repente, ela foi brutalmente arrancada de mim.

Os olhos de Gilbert já estavam vermelhos com a lembrança. Era confuso para ele, mas mesmo amando Sara com todas as suas forças, a lembrança de Virginia seguia viva em sua mente, marcada em seu interior.

— Perder ela fora como me perder de mim mesmo. Por algumas vezes eu pensei que simplesmente não resistiria. Quando ela se foi, ela levou com ela uma parte do meu coração, e aquela parte fez tanta falta que meu coração batia cada vez mais lento, até um momento que pensei que pararia de vez. – Ele respirou profundamente, limpando os olhos. Sentia-se tão mal por estar tão fragilizado. – E então eu comecei a me envolver com algumas pessoas e não foram poucas, e minha dor e a capacidade de amar que havia sido enterrado junto com aquela parte do meu coração, machucou muita gente. No entanto, hoje, eu posso dizer que estou curado. Não que algumas cicatrizes não tenham ficado, mas surgiu uma pessoa em minha vida que resgatou aquele pedaço de mim que ficou perdido, que com seu amor, com seu jeito de ser, simplesmente restaurou minha fé em mim mesmo, minha fé no amor. Eu senti que podia amar novamente. Talvez se não tivesse perdido Virginia, nunca a teria conhecido, mas o destino não falhou comigo, e colocou essa pessoa ao meu lado no momento que eu mais precisava.

Ele então olhou para Sara e fez um sinal para que ela se juntasse a ele. Ela com os olhos úmidos por conta das declarações de Gilbert, os limpou e em seguida foi até ele sentando ao seu lado no sofá.

— Quando essa mocinha apareceu na minha vida – ele então mostrou Sara – parecia que tudo na minha vida tinha sentido novamente, e novamente podia acordar ao lado de alguém e sentir minha alma sorrir. E hoje eu posso fazer planos de novo. Eu posso fazer planos de amar, de viver, de ser intenso, e sem medo de machucar alguém, por que você Sara – ele então fitou a morena ao seu lado nos olhos, acariciando delicadamente seu rosto – você é muito importante para mim, e nunca me perdoaria se um dia eu te machucasse ainda que sem querer. A Sara – ele voltou então a olhar para câmera – reavivou um homem solitário, e deu a ele a chance de ser feliz, e hoje me sinto completamente realizado. – Ele então levantou a bata de Sara deixando exposta a sua barriga. – E aqui dentro, há uma pessoa que eu amo muito: A minha filha. E quando estou perto de você, - voltou a fitar Sara – eu sinto como se pudesse abraçar o meu mundo inteiro, e tudo o que tenho de mais importante na vida.

Sara já não cabia em suas lágrimas, a declaração de Gilbert para ela, a tocou profundamente e pela primeira vez desde a gravidez não colocou a culpa de suas lágrimas em seus hormônios. Ela precisava chorar, extravasar a emoção que havia dentro dela.

— E eu quero finalizar esse vídeo, dizendo que assim que nossa filha nascer, Sara e eu iremos nos casar. Como eu disse, ao lado da mulher que eu amo, eu consigo pensar em todos os planos possíveis, e querê-los realizar o mais rápido que eu puder. Apenas peço a imprensa que não fiquem a volta da minha futura esposa, a gravidez dela é frágil, e eu nunca perdoaria um segundo erro.  A vocês fãs, eu espero que tenham gostado da notícia, e que acima de tudo respeitem a minha felicidade, respeitem a minha mulher.

Gilbert então levantou e desligou o vídeo. Feito isto, era somente jogar na rede.