One-Shot Castiel - Last To Know escrita por Raguer


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem



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“Tenho uma surpresa para você” foi a primeira coisa que ele me disse quando cheguei ao apartamento naquela noite. O seu computador portátil estava aberto em cima da nossa cama, por fazer, e a sua carteira estava pousada por cima do criado mudo. Ele sorria, animado, e eu forcei um sorriso também. Eu devia-lhe contar. 

— O que? - Questionei, ríspida. Ele nem havia notado o meu tom de voz, seco, desinteressado. Mas também não deveria esperar muito de alguém que sequer notou a mudança no meu comportamento naqueles últimos dias. - Algo relacionado com a sua banda?

Eu me sentei no fundo da cama, tirando as minhas roupas pela segunda vez em poucas horas. O pensamento do meu vestido no chão de Eric me fez estremecer, eu tinha passado de uma linha que nunca tinha imaginado. O que faríamos agora? Eu devia-lhe contar.

Soltei os cabelos, que outrora estavam presos num rabo de cavalo feito á pressa no caminho para casa. Um pouco de corretivo tapava os chupões pelo meu pescoço, devia ter sido mais discreta, mas as minhas ações não estavam sendo propriamente racionais. 

— Não, amor. - Castiel se aproximou de mim, agarrando na minha cintura. Ele pegou no portátil, e o colocou no seu colo, exibindo um ecrã que dizia “reserva concluída”. - Vamos passar o fim de semana nas montanhas. Acho que te vai fazer bem. 

Engoli em seco. O que? Não, não podia ser. Eu devia-lhe contar, ser honesta, mas por algum motivo as palavras não saiam da minha boca. Eu não conseguia só dizer “Castiel, eu te traí”, “Castiel, eu transei com o Eric”, “Castiel, desculpa”, eu não era capaz de destruir a sua felicidade. Ele estava animado, tão animado, mas eu sentia que o meu mundo estava prestes a desabar. 

— Mas, e o café? Agora sem a Dambi… - Eu tentei rejeitar o seu convite, fazer com que ele mudasse de ideias. Irmos para as montanhas juntos era uma péssima ideia, um fim de semana sozinha com o homem que acabei de trair. - Acho que não seria sensato. E o Panqueca, com que vai ficar?

— Eu já dei um jeito, o Gabin vai ajudar a Nina no café. É um plano genial para eles se aproximarem, e, nós os dois, podemos ter finalmente o nosso merecido tempo juntos. - Ele se gabou da sua ideia, que era, de fato, inteligente. Desde quando é que o Castiel estava dando uma de casamenteiro? - E… Quanto ao Panqueca, eu contratei uma petsitter. Ela vem cá busca-lo amanhã de manhã, antes de partirmos.

— Castiel, eu não sei se é uma boa ideia. - Afirmei, soltando um longo suspiro. Ele realmente tinha pensando em tudo, eu não tinha caminho de fuga. Só me restava ser honesta, mas como? O ruivo franziu a sobrancelha, notando finalmente que algo se passava. Eu devia-lhe contar.— Ouve, Cast, eu… Eu… 

Bloquei novamente. Talvez passar uns dias na montanha ajudariam-me a raciocinar melhor, a arranjar uma forma de lhe contar. Talvez me ajudaria a fazer uma escolha, mas eu sabia que ele nunca me iria perdoar. Não era a primeira vez que tinha sido traído, eu não era a primeira que lhe partia o coração. Ele ia ficar magoado, mas eu precisava ser sincera com ele. Talvez ele compreendesse, talvez ele ia entender o motivo. Eu precisava de uma luz, de um sinal.

Como é que Eric iria lidar com isto sequer? Como é que estava o nosso relacionamento? Depois daquela declaração, daquele beijo, do nosso momento juntos no seu apartamento, o que seria de nós? E o que seria de mim e de Castiel?

 

(…)

 

Mais uma vez, mal tinha dormido durante a noite. Era difícil fechar os olhos e descansar, quando milhares de pensamentos intrusivos te atormentavam durante horas.

A minha cabeça estava a mil, confusa, ora eu relembrava vivamente os momentos com o Eric, ora eu imagina o Castiel a descobrir, furioso. Outras vezes, eu apenas o imagina triste, magoado, indo embora prestes a chorar. Eu devia-lhe contar. 

Quando o despertador tocou na manhã seguinte, eu já estava de pé, debruçada sobre o armário, arrumando a minha mala para a viagem. Ainda sonolento, ele me observava, com os olhos ainda um pouco entreabertos. Um sorriso esboçava-se no seu rosto, exibindo os seus dentes perfeitamente brancos e antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele apenas sussurrou “vem cá”. 

Eu tentei me esquivar, mas os seus braços fortes que puxaram de volta para a cama, me fazendo deitar junto dele. Estávamos próximos, demasiado próximos, e eu conseguia sentir a sua respiração, o seu hálito. Ele me beijou, acariciando os meus cabelos, e, momentaneamente me deixei levar, retribui, com saudades do seu toque. Enquanto as suas mãos tocavam nas minhas costas, roçando o fecho do meu sutiã, o sentimento de culpa voltou a me atormentar. Eu não podia continuar, e me afastei. 

— Temos que nos despachar! - Disse, me levantando rapidamente. O nervosismo no meu tom de voz era perceptível a distância, contudo, mais uma vez, ele não se apercebera, ou, pelo menos, não mostrava isso.  Frustrado, largou um suspiro, se arrastando até ao banheiro para se preparar. 

Eu devia-lhe contar. Ainda não era demasiado tarde para cancelar a viagem, certo? Talvez, no fim das contas, realmente fosse uma má ideia. Podia ir para casa dos meus pais por uns dias para desanuviar, mas descansar, mas eu não deveria estar com o Castiel. Ele ia acabar por perceber.

Eu conseguia ouvi-lo a cantarolar debaixo chuveiro, a música, aquela maldita música que ele tinha feito sobre mim, para mim. A ansiedade me consumia, eu tinha que lhe contar.

Ouvi o meu celular vibrar em cima do criado mudo, e eu corri imediatamente para ver quem era. Depois da noite anterior, Eric não me disse mais nada, nem sequer uma palavra, nem sequer um “você chegou bem?”. Nem um “devíamos conversar”. 

Por um lado, esperava que fosse ele, me dando certezas, me acalmando. Não era. Era apenas Nina me desejando uma boa viagem. 

Desanimada, deixei-me cair sobre os lençóis, e fitei o teto. Tinha passado a noite a contar o número de pinceladas visíveis na pintura, e, agora, parecia que já não tinha a certeza de nada. 

A viagem ia ser mais difícil do que imaginava. 

 

(…) 

Com os olhos focados na estrada, Castiel conduzia, relaxado, trauteando a música de Winged Skull que tocava nas colunas. Desde que saímos de casa, não tínhamos trocado uma única palavra, mas ele não parecia incomodado. 

Normalmente, as nossas viagens eram animadas, intensas, e até mesmo as mais longas passavam tão rápido que nem parecia que tínhamos saído do quarteirão. Desta vez, o GPS do meu celular mostrava que ainda faltavam cerca de duas horas para chegarmos à estalagem. Duas horas. Mas eu sentia que ainda faltavam dez. 

Eu tinha tentado adormecer, mas sem sucesso, a ansiedade me corroía, a incerteza também. Ao menos a beleza do cenário, que eu conseguia observar pela janela, me trazia, de certa forma, um pouco de paz. As árvores altas, a falta de outros carros na estrada, era um sentimento bizarro, mas interessante. Eu sentia que éramos as ultimas pessoas no mundo. E se fossemos as ultimas pessoas do mundo? Isso iria mudar alguma coisa? Iria ser diferente?

A meio do caminho, paramos numa gasolineira para fazer uma pausa, esticar as pernas e talvez comer algo, beber um café. Apesar de não comer desde a noite anterior, não tinha fome, só queria estar sozinha. 

Saí do carro, em silêncio, e me dirigi ao banheiro, felizmente vazio. Apoiei as mãos no lavatório, emocionalmente cansada, e abri a torneira. 

Com água gelada, lavei o rosto, tentando acordar deste pesadelo, tentando limpar a culpa, fazer com que estes sentimentos terríveis fossem pelo cano abaixo. Quem me dera que fosse tão fácil. 

Encarei o meu reflexo, e não me reconhecia, não eras as olheiras pelas noites mal dormidas, não era a minha aparência cansada, o meu cabelo mal escovado, não era isso. Eu não reconhecia as minhas atitudes, eu não reconhecia a adolescente apaixonada que fazia de tudo por amor, que acreditava no amor, no destino. Eu me deixei levar, eu fui irracional, eu me sentia negligenciada, e Eric tratou de mim, Eric me deu o que precisava. Mas eu não precisava de culpa, não precisava de dor, de angústia. Eu nunca me devia ter envolvido com outro homem enquanto estava com o Castiel, eu devia lhe ter contado logo após o primeiro beijo. Não devia ter deixado chegar neste ponto. 

Eu me sentia enjoada, eu queria vomitar. 

 

(…) 

 

A cabine onde estaríamos hospedados era acolhedora, confortável. Em outras circunstâncias eu iria adorar estar aqui, ia estar delirante, pronta para ir esquiar ou apenas estar na neve, observar a beleza do céu, as estrelas. Ele tinha se esmerado nos planos, mas isso só me fazia sentir pior. 

— Você está agindo estranho. - Pela primeira vez, o dia todo, Castiel disse algo. Finalmente tinha percebido, se calhar por estar longe da banda e do trabalho, porém, finalmente olhou para mim e percebeu. Ele parecia preocupado, magoado, e apesar de tudo, apesar da raiva que tinha, eu não tenho direito em culpa-lo pelo que aconteceu. - O que se passa? Eu queria te dar espaço, eu queria que você sentisse que está num espaço seguro. Mas eu tenho que perguntar.

— Onde vamos comer? - Tentei desviar o assunto, mas aquele era o momento. Eu precisava de lhe dizer, de lhe contar. Mas e o que faríamos depois? Seria uma boa altura confessar tudo a quilómetros de casa? - Eu vi o menu do restaurante, parecia bom. O que acha de experimentarmos a sugestão do chefe? Talvez até pedir as sobremesas típicas. 

— Sério, o que aconteceu? É o café? - Indagou, insistente. Ele se aproximou de mim, e segurou no meu rosto, antes de me abraçar com força, acariciando os meus cabelos. - Eu quero te ajudar. Eu sei que eu estive distante nos últimos meses, mas eu te amo tanto, e não te quero perder. 

“Eu te amo tanto”, essas palavras doeram. Doeram porque eu queria ouvir isso, eu queria saber que ele me amava, eu queria que ele admitisse que me negligenciou, que me magoou. Mas o que eu fiz, era imperdoável. Eu tinha que lhe contar.

— Eu confesso que me senti, bem.. Posta de parte. - Confessei, me afastando do seu abraço. Já tínhamos falado disso antes, não era novidade. Era a mesma conversa à semanas. - Eu entendo que a carreira seja importante, mas, fiquei frustrada. Eu precisava de apoio, e você não estava disponível para mim. 

— E foi por isso que organizei a viagem, para estarmos sozinhos. Sem interrupções. Eu até disse para a Leo e o Gabin para não me incomodar, nem uma ligação, mesmo que o estúdio tenha ardido, eu só quero saber na segunda. - Retorquiu. Parecia mesmo que ele queria resolver as coisas, os nossos problemas. Merda. - Algo me diz que você não está agindo dessa maneira apenas por esse motivo. 

— C-Castiel… - A minha voz encravou. Era agora, eu ia contar. Eu precisava de ser honesta com ele, comigo. Eu não podia deixar isto arrastar mais, dormir na mesma cama que ele após de lhe ter mentido na cara, de ter estado na cama do Eric enquanto ele reservava esta viagem, pensando em mim. Eu nunca pensei nele enquanto Eric tirava as minhas roupas, enquanto me beijava, enquanto me tocava. Nenhuma vez. Eu só pensava no quão bom tinha sido, na intensidade, no desejo, na luxuria. Eu só pensei no Castiel quando estava nua, depois do clímax, abraçado ao outro homem. E a minha questão era apenas: o que eu vou fazer? Eu, eu eu, eu estava sendo egoista, só pensando no meu próprio bem. Eu tinha que lhe contar. E eu ia contar. — Eu te trai. 

 

 


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Notas finais do capítulo

Foi algo meio rushado mas eu achei interessante escrever isto baseado no trailer do próximo episódio. Estou bastante curiosa!



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