AS IRMÃS SMYTHE

Londres,

1787

O salão de bailes era o lugar onde a prole do Barão de Grantham brilhava. As senhoritas Smythe. Poucas moças da sociedade gozaram de tamanho protagonismo; no debute da mais velha, Lady Vivianne, o próprio príncipe lhe deu o privilégio da primeira dança, e na sociedade do século 18, honra maior não havia para uma moça. Falando em honra, as jovens nunca estavam desacompanhadas. Fosse pela mãe, ou umas pelas outras, principalmente, e até mesmo pelo primogênito do Barão, o cobiçado Sr. Colin Smythe.

As más línguas diziam que ver uma irmã Smythe era ver todas — os mesmos cachos loiros e olhos deslumbrantes, num tom turquesa profundo com dourado. Olhos Smythe, diziam. A mesma postura altiva. Tinham até os mesmos hábitos, como a forma delicada de estender a mão para ser beijada por um cavalheiro. Moviam-se pelo salão como um ser mitológico, Vivianne na frente segurando o braço do irmão, com Aurelia e Amelia atrás, seguidas de Lady Grantham, em perfeita sincronia. Era uma visão assustadora, como o exército grego tomando a cidade de Tróia na mais perfeita surdina.

E foi exatamente isso que fizeram.

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LADY VIVIANNE
The oldest

Vivianne não era uma mulher de muitos caprichos. Quando Amelia lhe pediu emprestado seu mais novo robe-à-la-française, ainda na caixa vinda do ateliê da modista, para usar no baile dos Carnarvon, ela cedeu. De qualquer forma, mesmo não tendo sido moldado em seu corpo, a irmã ficara mais deslumbrante no trabalhado tecido salmão com dourado que Viv jamais poderia sonhar; não tinha o mesmo colo farto, ou disposição para usá-lo. Se tratava de um vestido de protagonismo, algo que a mais velha das Smythe não acreditava possuir. 

Amélia por outro lado era a perfeita protagonista, tanto da própria história quanto de todos ao seu redor, e era um fato irrefutável que  teria o pretendente que quisesse, mesmo com o dote modesto — Céus, Amélia teria o Príncipe se assim desejasse. 

As duas mais novas com certeza se casariam nesta temporada. Talvez Aurelia se desse ao luxo de esperar mais um pouco, mas era um fato que as duas mais novas se casariam no momento que decidissem que queriam fazê-lo. Vivianne não podia se dar esse luxo.

Certamente não era caprichosa, mas precisava se casar bem. Não podia se deixar levar por beleza ou paixões — precisava de garantias para sua família, garantias que Colin não poderia dar. Precisava ter uma rede de apoio caso Aurelia se deixasse consumir pelo próprio fogo interno. Precisava ter como oferecer suporte caso os escândalos envolvendo Amélia algum dia vivessem a tona. Era a mais velha — sua função era cuidar e proteger, tanto quanto Colin, se não mais. Ele se preocuparia com as propriedades, com a Casa Grantham, com as finanças, enquanto Vivianne se ocuparia dos membros por ela compostos. 

Então, esperaria o marido ideal. Se contentaria com o fato dele não fazer com que seu coração pulasse algumas batidas, nem a arrebatasse com uma paixão avassaladora. Não precisava disso. Precisava, no entanto, de um amor maior que si mesma — um lar.