Heartlines escrita por isa


Capítulo 5
Only If For a Night




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/799616/chapter/5

And the only solution was to stand and fight and my body was bruised and I was set alight... But you cama over me like some holy rite and although I was burning you're the only light... Only if for a night.

 

 

Bom, aquilo era uma complicação.

Talvez você, assim como eu, já estivesse esperando por isso a essa altura da história, mas Astoria definitivamente não. Quando Draco apareceu na calçada de sua casa com aquela cara sofrida e séria, nós nos lembramos, ela estava com raiva. Mas havia, mesmo assim, desfeito o feitiço de segurança e deixado que ele entrasse.

Então ele disse aquela frase de efeito (eu mudei de ideia) que fez com que ela sentisse vontade de tirar a roupa. Até aí se parecia bastante com o habitual, mas Astoria sentira aquela palpitação premonitória estranha no peito e mesmo se, no dia seguinte, o casamento não tivesse imprimido um peso à relação casual, no fim, ele ajudando-a com a própria crise de ansiedade realizando o desejo de seu coração (ficar bêbada na praia) e as confidências trocadas sobre Hastings e Crabbe haviam feito o trabalho, de modo que agora ela estava ali, observando-o dormir em sua cama bem aos moldes de personagens vampiros problemáticos da ficção trouxa contemporânea que ela, como boa bruxa, desconhecia.

O que mais Astoria poderia fazer? Ela deveria ter reconhecido aquilo como um sinal, para inicio de conversa: o modo como ela o deixava ficar, diferente dos outros. Na primeira vez, há muitos meses, ela se convencera de que era apenas uma comodidade. Eles estavam tão exaustos, o corpo dele perto do de Greengrass era tão quente e convidativo, não tinha problema fechar os olhos e apenas dormir. E quando ela acordou na manhã seguinte com a boca dele em sua nuca, não se arrependeu da decisão.

Agora, com o passar do tempo, com o mês inteiro em que ele tinha sumido e com o fato de que aparentemente suas mãos pareciam implorar para tocar no cabelo dele, Astoria começava a questionar todas as suas escolhas. Ela não tinha certeza que queria alguém para ouvi-la falar sobre Susan Hastings ou sobre seus evidentes problemas familiares. Ela não tinha certeza se queria que Draco conhecesse tão bem seu apartamento e também não tinha certeza de que conseguiria ficar longe dele.

E porque não sabia o que fazer, Astoria fez como qualquer pessoa adulta e, ao invés de conversar a respeito, decidiu preparar um café. Malfoy acordou com o aroma forte da bebida. Era a primeira vez em muitas noites que ele dormia bem e, apesar de seu corpo indicar que poderia fazer proveito da cama alheia por mais uns instantes, ele não se sentia muito disposto a isso sem Astoria por perto. Quando ele a encontrou na cozinha, o robe de Greengrass e a sua cara ainda amassada destoavam de maneira gritante do modo como Malfoy já estava inteiramente vestido, com a bolsa escura de alça trespassando o peito.

— Café? – ela ofereceu, ainda aturdida pelos recentes pensamentos nebulosos e complexos em relação ao seu não-relacionamento com ele.

— Não, estou de partida. – respondeu com o rosto sem emoção curvando-se num ligeiro sorriso ao esticar a mão para lhe tocar o queixo.

Astoria preferia não ter sentido o arrepio bom promovido pelo contato dos dedos gélidos dele em sua pele, nem o modo como a duvida a rondou quando ele disse que estava indo. Era óbvio que em algum momento ele voltaria para casa: estava com ela desde a tarde de sexta e essa era a manhã de domingo. Já não haviam mais mudas de roupas disponíveis na bolsa que ele havia trazido. Ainda assim, isso a fez divagar se isso significaria mais um mês sem notícias. E ela se odiou por se importar.

Talvez por isso mesmo tenha dito de maneira seca, ainda que inconsciente, um “tudo bem” rascante. Draco percebeu o tom e desistiu de selar os lábios nos dela, como havia premeditado fazer antes de partir. Ao invés disso, encarou-a por um instante, antes de perguntar:

— Nos falamos depois?

— Sim. – ela disse, bebendo um gole de sua xícara.

E eles se falaram mesmo, caso estejamos usando o termo para um eufemismo sexual. De vez em quando Astoria combinava encontros e, nos dias e horários estabelecidos, Draco aparecia pontualmente. Mas era isso. Eles sequer se viam na mesma frequência que antes. De maneira protetiva e inconsciente, Astoria começou a manter uma janela bem grande de tempo entre um encontro e outro sem que Draco protestasse.

Não porque ele não quisesse, e sim porque não tinha nenhuma parte sua disposta a reivindicar o que quer que fosse, uma vez que Malfoy sequer julgava ter direito de pedir algo. Num geral, ele apenas torcia para que ela continuasse estabelecendo contato, ainda que pouco. No que parecia agora o seu infinito-tempo-pessoal, Draco Malfoy se dedicou a tentar não surtar com todas as muitas ideias perigosas que lhe assaltavam a mente tanto sobre ele mesmo quanto sobre Astoria.

E para não rebobinar vezes sem fim a cena de Greengrass beijando Theodore Nott (quando deu por si já fazia quase três meses, mas ainda parecia como se tivesse sido no dia anterior), ele decidiu que seria bom alguma vez na vida cultivar um passatempo que não fosse a) praticar bully supremacista desenfreado b) ser um criminoso vinculado a um megalomaníaco e c) dar voz a sua arrogância, paranoia e insegurança e responder as muitas insinuações que Pansy Parkinson vinha fazendo desde o casamento de Daphne.

Foi assim que ele começou a se dedicar aos manuscritos alquímicos que seus antepassados guardavam em uma das muitas salas de sua casa dedicadas às relíquias. A vida de Draco não melhorou de súbito – ele ainda sentia falta de Astoria de uma maneira que lhe irritava, tinha pesadelos com frequência e evitava a presença dos pais com a mesma assiduidade – mas agora por alguns gloriosos instantes era possível se desassociar de sua realidade de merda em outra atividade que não fosse estar dentro do corpo de Greengrass.

Era bom redescobrir o prazer sincero que ele encontrava em estudos de Poções e como o seu amplo acesso a materiais raros instigava o seu muito tortuoso cérebro a estabelecer conexões com conhecimentos prévios e começar a divagar sobre criações novas, coisas que poderiam auxiliá-lo melhor no sono e na regulação do próprio humor de uma maneira mais eficiente que as escassas poções que já existiam – e que ele já tomava religiosamente.

Era como Luna havia dito: a vida podia significar sofrimento e tranquilidade ao mesmo tempo. Havia dias melhores e dias muito ruins. Dançando entre esses dois polos ele começava a se sentir um pouco mais humano. Utilizando um pseudônimo, Draco até se arriscou a começar a trocar correspondências com pesquisadores e pocionistas contemporâneos cujas pesquisas o interessavam.

Às vezes, quando Astoria estava particularmente de bom humor (e com muitas saudades, embora essa parte ele não conseguisse identificar), para além do tempo sem roupas, eles passavam também um tempo discutindo sobre o assunto e Draco gostava de como os olhos dela brilhavam quando ela se empolgava com alguma particularidade.

Em um dia, Greengrass até mesmo o chamou para pensar em ingredientes consumíveis para um drinque novo que ela estava preparando – era fora da área dele, mas Malfoy ajudou mesmo assim e no fim das contas os dois consumiram um ao outro de maneira gloriosa no balcão do bar de Astoria. Era nesse tipo de lembrança que Malfoy tentava se agarrar nos seus dias particularmente sombrios, e ele obteve relativo sucesso até...

Não conseguir mais.

***

— Você quer conversar sobre isso? – Astoria murmurou quando o silêncio se tornou esmagador e constrangedor demais. Ele estava na beirada da cama, ainda nu, passando a mão esquerda pela testa de maneira distraída e nervosa. A sensação de dejavu deixava Greengrass com a guarda levantada.

Mas a situação era diferente. Eles estavam no quarto de Draco dessa vez, de modo que se mesmo que ele quisesse fugir, seria um pouco ridículo. Além disso, ela não tinha feito nenhuma pergunta estranha. Tudo tinha começado perfeitamente bem. Eles tinham se beijado, eles tinham tirado a roupa e então... Nada. Algo dentro de Draco havia congelado. Ele se levantou e se afastou sem lhe dar explicação.

— Não.

Suspirando em frustração, Astoria se enrolou em volta do lençol muito branco antes de tatear os bolsos da capa jogada ao chão em busca do maço de cigarros. Ela acendeu um sem se perguntar em questioná-lo sobre antes. Tragando, fechou os olhos e decidiu tentar de novo:

— Você quer que eu vá embora?

— Não. – ele repetiu, curvando o corpo para frente, as mãos agora afundadas no cabelo que Astoria tanto gostava.

Algo nessa visão fez com que ela se sentasse ao seu lado. Draco a olhou de esguelha, sentindo o coração escorregar. Ele queria dizer que gostava dela e que sentia saudades. Ele queria dizer que prestes a completar um ano daquela coisa que não tinha nome, o relacionamento deles deveria ser mais próximo com o dia da praia pós-casamento de Daphne e não com aquela farsa ruim de sexo casual, mas nada lhe saia.

As palavras faltavam sempre nas horas importantes.

— A gente quase não se vê mais. – foi a única coisa que ele conseguiu proferir em tom de protesto no fim das contas.

— Eu sei. – ela respondeu, soltando fumaça pela boca. Não era uma descoberta recente, mas fazia pouco tempo que ela conseguia encarar sua motivação de fundo com sinceridade.

— Eu não sei se nós podemos continuar assim, Astoria. – talvez fosse o fato de que a verdade tinha saído pelos lábios dele antes que ela conseguisse verbalizar para si.

Não era um término, era apenas uma constatação, talvez um princípio de conversa importante, mas Astoria Greengrass se sentiu magoada o suficiente para se vestir às pressas e...

Fugir também. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Heartlines" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.