Q is for Quidditch escrita por mandy


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Uma one que eu consegui recuperar do computador antigo, revisada e agora compartilhada com vocês. Espero que gostem.



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Cara, sem chances Remus tentou argumentar com os amigos na noite que antecedia o jogo.

— Não existe sem chances, Moony! Você perdeu a aposta! – Irritava-se Sirius, jogando as mãos para o alto – O jogo dura até que alguém perca e foi você!

Era um jogo antigo. Apostar até que alguém desista e seja “punido”.

E Remus Lupin era o perdedor da vez.

Perdeu porque, nem em um milhão de anos, seria capaz de desrespeitar Minerva McGonagall, mas não sabia que seu alvo seria justamente ela quando envolvido em uma nova rodada de seus jogos pessoais. E enquanto os amigos regressavam ao dormitório com peças íntimas dos professores – Peter tinha realmente levado a sério e agora tinham, sobre a cama, um sutiã estrelado da professora de Astronomia – Remus estava de mãos vazias. Um grande perdedor.

E os perdedores precisam servir aos ganhadores. Era por isso que nenhum deles nunca perdoava uma aposta.

— Eu odeio vocês. Odeio e não contem comigo para mais nada – praguejou com as narinas inflamadas.

Mas os amigos sabiam o que significava aquilo.

Sabiam que, além de aquela afirmação ser mentirosa – Remus se excitava tanto quanto eles com os jogos – era também a resposta rendida dele.

— Te vemos amanhã na arquibancada – findou James com um sorriso vitorioso.

 

* * * * *

 

Apertou o casaco contra o peito e seguiu na direção das masmorras da Sonserina. Tratou de não fazer nenhum contato visual com qualquer membro que encontrasse no caminho, precisava adiar a batalha para o campo. Não tardou, no entanto, a encontrar quem buscava.

— Reggie?

Ele já estava vestido com o uniforme verde do Quadribol e Remus não pode evitar olhar para a calça apertada que, no salão comunal da Grifinória, era motivo de chacota. “Elas não são apertadas de fato, é que o tecido adere ao corpo como uma segunda pele e-”, James costumava argumentar, mas ninguém lhe dava a devida atenção. A questão era que Remus gostava de quando Regulus a vestia. De frente ou de costas, ele gostava. Mas tratou de desviar o olhar.

Para se deparar com uma careta no rosto do sonserino que, por um momento, lhe foi incompreensível.

— Como é que você tem coragem de vir aqui com essa cara? – Regulus deu passos pesados em sua direção, o indicador batendo duas vezes em seu peito.

E então Remus esboçou um sorriso torto.

Nem gostava tanto assim de Quadribol, mas partidas entre as duas casas costumavam ser lendárias. Ele estava empolgado. Tão empolgado que marcou no rosto com tinta, duas linhas vermelhas e douradas.

— Eu preciso torcer pela minha casa, afinal – o enlaçou pela cintura, trazendo-o assim para mais perto.

— Precisa torcer pelo seu namorado! – Regulus reclamou.

Estavam juntos, oficialmente, há cinco meses e Remus nunca se cansava de ouvi-lo falar daquele jeito. Antes disso eram só olhares e depois implicâncias bobas, até que ambos se encontrassem um no outro, entre beijos na ronda diária dos monitores ou num armário de vassouras qualquer.

No começo Sirius não levou numa boa. Mas não cabia a Sirius decidir e como não havia a menor possibilidade de socar a cara de Remus por tal afronta – porque alguém como Remus Lupin é precioso demais para ser quebrado na porrada – só lhe restou aceitar.

— Eu vou estar na arquibancada olhando pra você – selou os lábios do mais baixo.

E selou de novo depois de nova careta.

Daí Remus se sentiu mal. Levou ambos os braços aos ombros de Regulus e respirou fundo uma vez.

— Ei. Dê o melhor de si hoje.

Mas ele não precisava dizer isso. Sabia que Regulus sempre dava o melhor de si, parte por conta da rivalidade que tinha com James Potter, parte porque amava o Quadribol. Pensar em tudo isso só fazia com que se sentisse pior.

Mas uma aposta é uma aposta.

Beijou-o de verdade desta vez, apertando sua cintura e suspirando contra os seus lábios. Remus conteve a vontade que tinha de apertá-lo por cima do tecido da calça, bem ali na parte de trás.

— Vá para o campo, apanhador.

 

* * * * *

 

A juíza havia deixado clara a principal regra: um jogo limpo. Isso porque os jogadores – tanto da Sonserina, quanto da Grifinória – pareciam se preparar para o campo de batalha. Mas era isso, essa fúria, que fazia com que cada jogo entre ambas as casas fosse lendário. E quando as vassouras alçaram vôo, a voracidade das torcidas tomou conta do terreno, tendo as casas de Corvinal e Lufa-Lufa dividia entre as arquibancadas rivais, tão cativados pelo espírito esportivo que o antagonismo entre as casas de Hogwarts por um momento era esquecido.

Ao mesmo tempo, ele era exaltado. Os leões da Grifinória rugiam a cada vez que a defesa de sua casa bloqueava uma bola, enquanto a Sonserina avançava com força para o ataque, a platéia verde e prata dando socos no ar, incentivando o rompante do time.

Em meio às nuvens cinzentas, a maioria dos que estavam na arquibancada precisava forçar os olhos, uma vez ou outra, para encontrar os apanhadores do time. Isso acontecia, geralmente, quando o locutor voltava sua narrativa aos dois jovens rivais em campo: James Potter e Regulus Black. Eram ambos incrivelmente velozes e era por esse motivo que os jogos entre Grifinória e Sonserina eram tão extensos, afinal, nenhum deles permitiria que o outro alcançasse o pomo de ouro.

Em quarenta minutos de jogo eles já haviam avistado a bolinha veloz mais de duas vezes. James era conhecido por suas brincadeiras em campo e foi como, na maioria das vezes, ele conseguiu apanhar o pomo – driblando o adversário ou às vezes fazendo uma jogada de desvio perigosa quando sabia que o estavam seguindo, sempre com os olhos muito atentos e um sorriso na cara. Foi numa dessas que Regulus quase apanhou o pomo. Quase. Acontece que Regulus também era genial em seus movimentos e há quem diga de passagem que um pouco ousado também. Já havia notado as táticas do oponente.

— E Grifinória marca 140 pontos contra 60 da Sonserina! – O locutor anunciava aos cento e quarenta minutos de jogos.

Nenhuma pausa foi feita. E nenhum torcedor parecia cansado de gritar.

A Sonserina agora seria obrigada a mudar a sua tática de jogo. Porque, se antes parecia que Grifinória era um time que se garantia na Defesa, bem... Os 140 pontos diziam o oposto. Aquela era uma reputação que haviam construído ao longo dos anos em campo e usá-la a seu favor para, de repente, surpreenderem com força de ataque, era uma jogada sensacional. Mas que também enfurecia os jogadores adversários. Mais de uma falta foi apontada e, mais de uma vez, a juíza ameaçou tirar um dos batedores do campo.

E enquanto o jogo prosseguia, marcando então uma hora e quarenta, a responsabilidade de vitória estava nas costas de Regulus. Só precisava apanhar o pomo.

Manteve-se parado numa das extremidades do campo, procurando por entre as balizas, a arquibancada ou mesmo no chão. James não estava muito distante, sobrevoando com cautela porque, para um apanhador, o primeiro obstáculo é enxergar a boleta dourada e, uma vez que vista, avançar. E pareceu que os dois avistaram-na ao mesmo tempo, sobrevoando a arquibancada da Lufa-Lufa e, como raios, dispararam na direção do pomo de ouro.

— E mais uma vez a atenção se volta para os apanhadores dos times! – Intensificou-se a voz do locutor, tão atento quanto os torcedores debruçados em suas arquibancadas – Regulus parece estar alguns centímetros à frente e... O que diabos é isso?

Nenhum dos dois pareceu prestar atenção num primeiro momento. Precisavam apanhar aquela bola infernal de uma vez.

— Eu não sei se isso é contra as regras, mas certamente é uma jogada e tanto da Grifinória – o coração - e a vassoura - de Regulus acelerou – Remus Lupin agora está tirando... As calças?

Parou.

Por um segundo, Regulus parou e voltou os olhos para a arquibancada adversária. Se os olhos estavam treinados para encontrar o pomo, estavam igualmente atentos ao namorado e não soube dizer se o rosto ficava vermelho de vergonha ou de raiva ao ver Remus sem as roupas por entre a multidão que bradava. Para completar, alguém ao seu lado lhe puxava a cueca.

— Sensacional! – Narrou o locutor entre aplausos.

Antes de xingá-lo mentalmente, antes mesmo de conseguir cair em si e seguir em busca do pomo, Remus se sentou de forma abrupta. A comoção ficou ainda maior e, mesmo quando Regulus voltou a impulsionar a vassoura, soube que algo estava errado.

— Estuporado! – Gritavam da Grifinória – Ele foi estuporado!

Parou uma vez mais, sentindo o coração falhar uma batida.

— Dentro ou fora do jogo isso me parece uma infração grave – a voz do narrador voltava a ser ouvida, mas, de novo, desviou-se do foco – O que é aquilo? Será que?

Esqueceram-se de Lupin e todos os olhos se voltavam a um James sobrevoando entre as equipes, a mão fechada em volta de asas minúsculas.

 – E a Grifinória vence a partida!

 

* * * * *

 

Deu-se conta dos músculos que doíam antes de abrir os olhos. Soube que estava na enfermaria somente pelo cheiro familiar de poções e ambiente fechado, o que Remus achava um exagero porque somente havia sido estuporado. Quando abriu os olhos, no entanto, precisou conter o impulso de fechá-los novamente e fingir-se de morto.

Regulus ainda estava com as vestes do Quadribol. Os dedos estavam tão fortemente entrelaçados uns nos outros que Remus podia ver as veias que saltavam de sua mão. Engoliu em seco uma vez.

Por um lado, a aposta estava cumprida, sem mais obrigações para com os Marotos. Por outro lado...

— Que palhaçada foi aquela? – Questionou o sonserino no segundo seguinte.

— Você não vai nem perguntar se eu estou bem? – Remus tentou desviar o assunto.

— Não, eu não vou. Eu to mais interessado em saber por que você tirou a roupa no meio do campo de Quadribol! – Disse, mas logo balançou a cabeça numa negativa, com um riso indignado no rosto – Não, essa resposta eu já sei, foi muito bom o trabalho, parabéns!

Então a Grifinória havia ganhado?

Conteve a questão, desviando os olhos por um momento. Assim, Regulus prosseguiu:

— É baixo, Lupin! É baixo até para os seus amigos, mas eu não esperava que você se envolvesse nesse tipo de trapaça idiota! Pra que, pro seu time ganhar? Você nem gosta de Quadribol, Remus Lupin!

— É a minha casa comunal, ta? – Argumentou com voz baixa, sabendo que nenhuma desculpa lhe salvaria daquilo.

Já tinha previsto isso.

Mas Regulus por um tempo ficou em silêncio, olhando-o como quem quer acreditar em suas palavras absurdas.

— Eu to com vontade de socar a sua cara.

— Para, não precisa ficar bravo assim, é só um jogo...

— Ah, primeiro é a sua casa comunal, e agora, é só um jogo? Eu não to puto só por causa do jogo, to puto porque você trapaceou! Você trapaceou contra mim!

— Olha, a Grifinória já estava na frente mesmo, a gente tava ganhando! E eu nem tinha certeza se você ia olhar...

Aquela era uma verdade. Porque Regulus era um dos melhores jogadores que conhecia, ele deveria estar empenhado em pegar o pomo e nada mais. Além disso, eram namorados. E teoricamente Regulus o veria sem as roupas um dia. Certo?

— Eu quero muito socar a sua cara – Regulus repetiu.

— Eu estava preso numa aposta – continuou a jogar com a verdade, sabendo que daquele jeito só pioraria a situação – Se eu não cumprisse esta, outra pior viria, sabe... – precisou dramatizar um pouco.

— E você é o que, o cachorrinho deles agora?

Tecnicamente o lobo...— disse tão baixo que não teve certeza se Regulus ouviria.

— Remus Lupin! – Regulus pronunciou por entre os dentes, fazendo-o engolir qualquer piada que pudesse estar pensando – Eu resolvi encarar isso com você, porque um namoro significa cumplicidade. Sabe o que eu estou recebendo em troca agora? Zombarias! “Regulus Black já não serve mais pro time, foi enfeitiçado pelo inimigo”, mas nem é isso que tá me tirando do eixo – precisou respirar fundo por um instante – Eu nunca vi você sequer sem camisa, Remus, e respeito as suas inseguranças. Sempre respeitei. Mas daí você decide tirar a roupa pra mim no meio do campo?

A dor no corpo deu lugar à dor no peito.

Mesmo quando brincavam um com o outro, as mãos dentro das roupas eram o máximo o máximo que haviam chegado e, ainda assim, era muito. Porque as noites de lua cheia castigavam o corpo de Remus e nenhuma palavra de conforto o fazia sentir menos aberração.

— Eu acho que... A ideia de ser visto tão de perto pelo meu namorado me apavorou mais do que... Isso – não ergueu o rosto para falar – E, ao mesmo tempo, a ideia de ser visto por você, de ser tão... Importante, de alguma forma, para você prestar atenção, me tentou.

Regulus continuou a guardar silêncio por um tempo mais.

E depois, balançou a cabeça numa negativa.

— Eu tô realmente muito bravo pra continuar essa conversa agora, Remus... – disse enquanto se levantava da cadeira a qual estava sentado, seguindo para a porta da enfermaria assim – Mas espero que os seus amigos da Grifinória tenham gostado.

E, se em algum momento da vida de Remus ele havia se sentido burro, nenhum se comparava àquele.

 

* * * * *

 

“Me encontre às nove no Campo de Quadribol.

Do seu, pra sempre seu,

R. L.”

 

E lá estava Regulus, coberto por um casaco pesado enquanto caminhava na direção do campo. Havia se passado dois dias e eles ainda não conversavam, quase nem trocaram olhares na ronda dos monitores na noite anterior. Estava ali, no entanto, porque sentia falta dele. Não, nunca admitiria em voz alta, não ainda... Mas sentia.

Queria ter amigos para conversar, perguntar-lhes se aquilo era motivo suficiente para um término. Afinal, era o seu primeiro relacionamento e Regulus ainda estava aprendendo a lidar. Mas sabia que todos os companheiros mais próximos – Snape, Crouch, e mesmo o professor Slughorn! – lhe diriam que sim, que deveria terminar com o grifano traidor de uma vez por todas! E, no fundo, não era o que queria ouvir.

Mas aquela conversa tinha de ser decisiva.

No campo, procurou Remus no baixo das arquibancadas. A única coisa que encontrou foi o uniforme da Grifinória dobrado, ao lado de uma vassoura velha. O coração disparou por um momento.

— Remus? – Gritou, vasculhando a área com mais atenção.

— Aqui em cima! – Ouviu sua resposta aérea.

Olhando para o alto, encontrou-o não muito distante, montado numa vassoura. Se usava alguma peça de roupa, provavelmente se resumia à cueca e nada mais.

Tomou a vassoura que estava ali e deu impulso para subir, confirmando o que já sabia: Remus estava pelado. E levemente desequilibrado sobre a vassoura.

À luz da lua Regulus podia ver todas as cicatrizes. As garras que em seu peito, os ombros arranhados... Podia apostar que algumas eram mais recentes do que outras, visto que a última lua cheia fora há uma semana atrás.

— Desce daí, vamos conversar no chão... – pediu, sobrevoando para mais perto.

— Não, vamos conversar aqui – Remus insistiu.

— Rems, você nem sabe voar...

— Eu tô no alto. Não tô? – Arqueou as sobrancelhas, mas a forma como suas mãos tremiam enquanto agarravam o cabo era uma resposta por si só – Eu to aqui pra pedir desculpas. Pra dizer que eu fui um bobão e que, de hoje em diante, eu vou ser o seu namorado e cúmplice no que tiver de ser, Regulus. E que sou maduro o suficiente pra administrar a amizade que eu tenho com os meninos e o meu namoro com você...

Maturidade talvez fosse uma palavra forte, mas ele certamente estava alguns passos à frente dos marotos.

Regulus suspirou uma vez.

— Eu não posso te perdoar se você congelar sem as roupas, Remus. Nem se você cair a vassoura – tentou ser coerente uma vez mais – A gente pode, por favor, descer?

E, um momento depois, Remus assentiu.

Ambos voltaram para a superfície então, deixando as vassouras no chão e se encarando por um tempo, até que Remus desviasse os olhos.

— Isso é meio constrangedor...

— Você ainda me deve muito constrangimento...

— Isso quer dizer que você me desculpa? – E somente assim erguia os olhos para o namorado.

E Regulus revirou os seus.

Aproximou-se um passo, sentindo a temperatura fria do corpo do outro. Acariciou o seu rosto com uma das mãos, lentamente, sentindo o próprio corpo virar gelatina. Regulus perguntou-se, naqueles dois dias, porque gostava tanto assim de Remus Lupin. Naquele momento soube que não precisava de uma resposta. Só gostava... Por tudo o que ele era, por tudo o que lhe fazia sentir.

 – Você é lindo com ou sem as roupas, hum?! – Disse, selando os seus lábios uma vez.

— Ouvir você dizer isso no meio do campo quadribol é mais constrangedor ainda... – riu-se Remus, balançando a cabeça numa negativa, contendo a vontade que tinha de se esconder.

Segurando em seus ombros, Regulus o empurrou gentilmente para as arquibancadas. E quanto ele já estava quase lá, prendeu um sorriso nos lábios:

— Seria inevitável olhar para você pelado no jogo... Você é gostoso pra caralho!


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Notas finais do capítulo

Toc toc: tem alguém aí? Comentem, por favor, façam uma autora feliz!



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