Set me free escrita por Clarisse Hugh


Capítulo 1
Set me free


Notas iniciais do capítulo

Feliz aniversário para o mago vampiro mais maravilhoso do mundo ♥



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Simon

Kiss me on the mouth and set me free

Sing me like a choir

I can be the subject of your dreams

Your sickening desire

Don’t you want to see a man up close

A phoenix in the fire

 

So kiss me on the mouth and set me free

But please, don’t bite

A primeira vez que aconteceu, eu achei que era uma armação.

Olhando para trás agora, não tenho orgulho de constatar que essa tenha sido minha primeira reação, mas, em minha defesa, aquilo era tudo que eu conhecia e esperava, então você não pode exatamente me culpar.

Eu tinha acabado de acordar de um pesadelo e estava vivenciando o processo de me situar no tempo e no espaço:

Não, Simon, você não tem mais 11 anos nem está em um orfanato.

Watford é real e você está em meados do seu sexto ano nessa escola de magia.

Você tem amigos agora.

Pessoas que se importam de verdade.

Sim, você não está mais sozinho, mesmo que Agatha tenha terminado o namoro de vocês e dessa vez você tenha certeza de que é pra valer.

(Lembro de esse pensamento me incomodar menos do que imaginei e talvez Penny estivesse mesmo com razão quando afirmou que funcionávamos melhor como amigos).

Gradativamente minha respiração se acalmou e notei estar muito escuro lá fora, indicando que ainda devia ser madrugada. Foi nesse momento que ouvi Baz se revirando na cama, provavelmente sofrendo com um pesadelo ele mesmo. Eu estava preparado para deixar pra lá e tentar voltar a dormir, como tantas vezes antes, mas então o ouvi chamar meu nome.

— Snow...

Tenho certeza de que meu pescoço até estalou com a velocidade com a qual me virei em sua direção. Considerei por um instante se ele não tinha acordado também, apenas me dirigindo algum comentário sarcástico como de costume, mas algo em sua voz estava diferente do tom usualmente reservado para mim. Forcei minha vista no escuro e sim, definitivamente os olhos de Baz estavam fechados.

— Não, Snow, você não pode confiar em mim... – Em anos de convivência, acho que eu nunca tinha presenciado tanta emoção escapando através de sua entonação urgente e desesperada. – Eu sou um monstro, Simon.

Mal pude processar onde exatamente aquilo se enquadrava – uma confissão, certamente, mas do quê? Algo mundano, como baixa autoestima ou uma coisa mística, como o vampirismo que venho investigando desde o início do ano passado? – porque um segundo depois sua expressão se transformou em surpresa, suavizou e então ele sorriu.

Senti uma sensação esquisita no peito, pensando naquele sorriso transbordando deleite estar relacionado com algo vilanesco. Uma mordida, um feitiço, sangue jorrando ou qualquer coisa desse tipo. Ainda que apenas num sonho, aquilo me incomodava, soava errado. Mas era tarde, eu estava cansado e acostumado demais a não pensar sobre coisas difíceis, então só dei de ombros e voltei a dormir.

●○⸸○●

Na segunda vez, foi quando fiquei mais desconfiado de que havia algo naquelas ocorrências além do que eu estava vendo à primeira vista.

Nós estávamos na semana das provas finais e Baz estava estudando ainda mais do que o normal porque ele é obcecado em ser o melhor aluno da sala, então não foi uma surpresa entrar em nosso quarto e o encontrar cochilando em cima de seus cadernos. Seu respirar tão profundo, entretanto, que talvez chamar aquilo de “cochilo” fosse um eufemismo. Crowley, ele claramente estava precisando descansar.

A ocorrência anterior de quando eu observara Baz dormindo há algumas semanas estivera arquivada na minha lista de “Coisas Para Não Pensar”, mas fui incapaz de não a invocar em minha mente ao notar que, dessa vez, ele já estava sorrindo desde o início.

Alguns minutos depois, enquanto eu fuçava minhas próprias anotações em busca de algo que me ajudasse a me preparar para o teste de Palavras Mágicas, escutei:

— Simon, seu pesadelo lindo...

Estranhamente, depois de proferir aquela frase absurda, o sorriso dele, de algum modo, ficou ainda maior. Na sequência, eu fechei meu livro abruptamente, sem querer, agradecendo por não ter sido com força o suficiente para fazer barulho e acordá-lo.

Uma série de pensamentos se acumulando muito rápido em minha mente:

Outra vez sorrindo.

Mais uma vez ele usara meu primeiro nome.

Só que dessa vez me chamou de “lindo”.

E, apesar da palavra “pesadelo”, Baz parecia estar tendo um sonho bastante agradável.

Mas isso... eu não conseguia entender.

Porque ele estaria sorrindo tão docemente enquanto sonhando sobre mim?

(Talvez mais alarmante do que todo o resto: Tyrannus Basilton Grimm-Pitch usando um adjetivo positivo para me descrever?! E logo algo como “lindo”?! Eu?! Esse garoto não tem um espelho?! Quero dizer, ele é o cara mais bonito em Watford inteira, pelo amor de deus!!!)

Foi ali que comecei a suspeitar não estar visualizando o quadro completo. A sensação de estar diante de um mistério me instigava e assustava, mas com desafios eu sabia lidar. Era para isso que eu estivera treinando toda uma vida, não?

Naquele dia decidi coletar todas as peças do complexo quebra-cabeça chamado Baz Pitch.

●○⸸○●

A terceira vez nem foi um ato propriamente dito.

O jeito correto de categorizar talvez seria como uma coletânea de pequenas observações que, juntas, assumiram um significado.

Ou quem sabe um ressignificado, porque não foi nada fora do usual. Apenas uma constatação de que, diante de observação constante e direcionada, não é exatamente ódio que Baz exibe no olhar quando seus olhos se cruzam com os meus.

Talvez nunca tenha sido.

Há uma chama, sim, no brilho daquelas írises acinzentadas, mas não maldade. O mais curioso é que nem é difícil de perceber, quando se presta atenção. No refeitório, enquanto eu certamente quebro todas as regras de etiqueta à mesa; nas salas de aula, quando sou incapaz de fazer um feitiço simples dar certo, mas principalmente quando consigo esse feito e fico sorrindo à toa pelo resto do dia; pelos corredores, quando nossos caminhos se cruzam entre as atividades escolares e até na biblioteca, quando noto uma espiada discreta em minha direção, o livro em suas mãos esquecido por um momento que seja...

Está tudo ali, se você se propor a enxergar, e agora eu via.

Algo em mim, entretanto, seguia desacreditando, desconfiado de estar lendo demais nas entrelinhas, com medo de ser uma armadilha ou até de me deixar levar e acabar com apenas mais uma pessoa para colocar em perigo. O que eu tinha a oferecer certamente não valia o esforço, certo? Aquela distância entre nós havia sido construída por algum motivo, não?

Ao menos era isso que eu repetia a mim mesmo todas as noites, enquanto fazia listas sobre o que deixar para lá e falhava miseravelmente desde o começo, porque sempre foi impossível não pensar nele e talvez agora eu estivesse começando a entender o porquê.

●○⸸○●

A última semana antes do verão, nunca foi das mais agradáveis. Ano após ano eu adio ao máximo o pensamento de que terei que sobreviver a mais uma temporada num orfanato, sozinho entre Normais desconfortáveis com a minha magia, me perguntando diariamente se o Mundo dos Magos é real ou se eu não inventei tudo.

É por isso que desenvolvi o costume de tomar o meu tempo com cada pequena atividade desses dias restantes, saboreando com calma a sensação de cada pequena coisa que amo em Watford, dos scones de cereja até o cheiro reconfortante de grama do campo de futebol.

Reservei, portanto, um dos últimos momentos do sexto ano para acompanhar a aula de violino do Baz. Desde o ano anterior, quando eu o seguia para todo o lado, obcecado com a possibilidade de um esquema maligno, desenvolvi o hábito de sentar no corredor da sala de música e ouvir suas melodias ecoando pelas paredes. Baz sempre sabe que eu estou por ali (maldita audição vampiresca!) e eu sei que ele sabe, mas temos uma espécie de acordo tácito de não atrapalhar um ao outro, num arranjo que parece funcionar para nós dois.

Sendo sincero, a música clássica me acalma e, dessa vez, não foi diferente.

Por trás das portas pesadas de madeira, Baz desliza o arco de seu violino com a maestria com que faz todo o resto na vida e logo, do chão ao teto, reverberam as notas da peça escolhida para o dia. A professora o acompanha com o piano, mas meu foco está inteiramente depositado na emoção que transborda de cada nota do violino. Um misto de melancolia e uma doçura suave que o herdeiro Pitch não se permite demonstrar de nenhuma outra maneira.

Eu estava tão entretido em guardar os sons para revisitar depois que nem me dei conta de quando a aula terminou e Baz saiu para o corredor, dando de cara comigo ainda sentado no chão, com as costas apoiadas na parede e os olhos semicerrados.

— Snow.

— Baz.

Respondi na mesma medida, mas, antes que ele seguisse caminho, criei coragem e questionei:

— A música de hoje é bonita. De quem era?

— Chopin. Frederic Chopin.

Ele me respondeu na lata, como se as palavras fossem expulsas de seus pulmões pelo choque de minha pergunta em si. Um instante depois, já com a expressão controlada na máscara habitual, mas ainda num tom suave, ele acrescenta:

— A peça se chama “Raindrop Prelude”. Obra 28, número 15.

Dei um jeito de salvar a informação para depois, me perguntando se há algo nela de especial com que Baz se identifique, algum pedacinho escondido que ele estivesse disposto a compartilhar comigo, de todas as pessoas.

— Obrigado. – Ofertei junto a um sorriso tímido, antes de me levantar e sair caminhando em direção aos dormitórios.

Durante o trajeto eu já tinha em mente o que fazer em seguida e uma das coisas mais fantásticas da Penny é que, por pior aluno que eu seja, toda vez que demonstro curiosidade em alguma pesquisa ela me incentiva, não importa o assunto. Foi por isso que, naquela mesma tarde, quando eu pedi o celular dela emprestado para ver uma informação sobre música clássica, ela nem sequer questionou.

A pesquisa em si foi, no mínimo... interessante. Descobri que Chopin é conhecido pelos pianistas que tocam suas obras como uma das almas mais românticas da música. Um homem guiado por suas emoções, que sofreu com sua saúde frágil por toda a vida. Acima de tudo isso, porém, a parte mais curiosa foi ler que, recentemente, estudiosos apontaram claros indícios de relacionamentos românticos entre ele e alguns... homens. Especialmente seu amigo Tytus Woyciechowski, para quem Chopin escreveu em cartas coisas como: “Você não gosta de ser beijado. Por favor, permita-me fazer isso hoje. Você tem que pagar pelo sonho sujo que tive com você na noite passada. Dê-me um beijo, querido amado”.

Essas palavras subitamente pareciam ter sido gravadas à ferro em minha mente e, por isso, limpei o último item do histórico e devolvi o celular para a Penny com o coração batendo na garganta, escapando o mais rápido possível para o topo da Torre dos Mímicos, me enfiando embaixo do chuveiro praticamente de uniforme e deixando que a água fria clareasse meus pensamentos agitados.

Aqueles acordes jamais deixaram a minha cabeça, mas 72 horas depois, no dia de irmos embora, foi outra melodia que me chamou a atenção.

Enquanto terminava de arrumar sua mala, Baz cantarolava baixinho uma música que não demorei para reconhecer e é claro que a voz dele também seria perfeita:

Come as you are, as you were, as I want you to be. As a friend, as a friend, as an old enemy...

Por conta dos fones de ouvido ele não percebera que eu podia escutar claramente, ou simplesmente não ligava. De qualquer modo, aqueles versos pareciam dialogar diretamente comigo e todo aquele turbilhão de coisas que eu vinha remoendo dentro de mim nos últimos meses.

Take your time, hurry up. Choice is yours...

Tão rápido quanto começara, a música se encerrou. Zíper sendo fechado e um último sussurro proferido, com a voz falha, sem olhar para trás:

— ... don't be late.

●○⸸○●

Mais tarde, por todo o caminho do trem que me levava para mais uma estação de solidão (tanto Manchester quanto o verão), o resto da estrofe se parecia com uma promessa.

Take a rest

As a friend

As an old memoria

●○⸸○●

Uma temporada inteira de sentimentos remoídos depois, no início do ano letivo, quando Baz não apareceu por semanas e meu intestino parecia se revirar inteiro dentro de mim – de preocupação! de suspeita! de saudades!— eu quase podia escutar o eco distante daquela miragem de meses atrás.

Memoria...

Memoria...

Memoria...  

●○⸸○●

Baz

 You can coax the cold right out of me

Drape me in your warmth

The rapture in the dark puts me at ease

The blind eye of the storm

Let's go for a walk down Easy Street

Where you can be reborn

Às vezes eu tenho certeza de que sou uma piada.

Um experimento doentio do universo para constatar o quão patética uma pessoa é capaz de ser antes de findar sua própria existência em autocombustão.

(O que me serviria bem, com o vampirismo e a questão de ser um mago dominador de fogo e tal).

Não bastava saber que minha mãe morreu num ataque de vampiros, eu precisava me tornar um.

Não bastava ser o último herdeiro da linhagem dos Pitch, eu precisava ser gay.

Não bastava nem sequer ser gay, eu precisava me apaixonar pateticamente pelo protegido do maior inimigo da minha família.

Mas, acima de tudo, não bastava que o alvo do meu afeto fosse Simon Snow.

Não.

Ele tinha que ser esse garoto absolutamente lindo, doce e cheio de vida que jamais vai me amar de volta porque, de algum modo, eu fui agraciado com a capacidade de fazê-lo me odiar.

Tem sido um inferno viver com tudo isso pesando nas minhas costas, todas as confissões entaladas na garganta, todo o sofrimento esmagando meu coração. No quarto ano eu achei que seria passageiro. No quinto, pensei que fosse enlouquecer. Mas no ano passado... No ano passado eu estava tão cansado que havia dias em que chegava até temer estar deixando a verdade escapar pelos meus dedos.

Perdi a conta de quantas vezes, diante do olhar escrutinador daquelas orbes azuis, eu estive a um passo de jogar tudo para o alto, me ajoelhar a seus pés e implorar que ele arrancasse de vez o que quer que quisesse de mim.

Minha magia, meus pensamentos, meu coração.

Pegue o que tiver vontade, Simon. É tudo seu.

Então o verão veio e a ausência dele foi tortura, não benção, e isso porque eu ainda não fazia ideia do que estava reservado para mim.

Seis semanas no breu.

Mais de quarenta dias faminto por liberdade quase tanto quanto por comida e sangue.

E um único pensamento mantendo minha mente (mais ou menos) sã:

Cachos acobreados, olhos muito azuis e uma profusão de pintas organizadas em constelações.

Fiona me encontrou e me tirou daquele maldito caixão, mas sinto que talvez uma parte minha tenha ficado por lá, tanto quanto um pedaço meu me foi arrancado de mim no dia em que fui mordido.

Agora eu tenho medo do escuro e há um vazio em meu estômago que refeição nenhuma será capaz de preencher. Uma ânsia trêmula que me acompanha a cada passo. Passos estes, inclusive, que têm sido dados mancando, porque nem sequer minha perna machucada se curou ainda.

Me sinto quebrado.

Irremediavelmente.

Como uma fruta podre mastigada e cuspida fora.

Sempre sofri com o frio, mas mais do que nunca sinto como se a brasa da presença de Simon fosse a única coisa capaz de me manter vivo, ou ao menos tão vivo quanto seja possível para alguém como eu.

Hoje ele me disse que minha mãe veio me Visitar e eu não estava aqui para receber a mensagem.

Natasha Pitch cruzou o Véu para me entregar um segredo e um beijo e eu estava sequestrado da minha própria vida – não tão distante da realidade dos últimos anos, é verdade, apenas numa forma mais tangível em sua restrição – mas o Escolhido estava aqui para garantir que eu recebesse o recado e, contrariando a lógica de como ele deveria ter agido depois de tanto tempo de antagonismo, foi exatamente isso que ele fez.

Mais que isso, ele se ofereceu para me ajudar.

É por isso que, chorando em silêncio em nosso quarto enquanto ele dorme, lhe ofereço minha sincera confissão.

Um pedido.

Uma oração.

Simon Snow, seu completo desastre desafiador de qualquer lógica, espero que você me queime por dentro e por fora, que acalme os demônios que assombram minha mente todas as noites e, mais que tudo, que você dê um jeito de reescrever nosso futuro para uma realidade mais gentil para nós dois, se for possível, mas especialmente para você.

Te desejo, por uma vez que seja, um caminho fácil.

Brilhe.

Renasça.

Seja feliz, meu amor.

And kiss me on the mouth and set me free

But please, don’t bite

●○⸸○●

Simon

Aah, I'm pulling on your heart to push my luck

Aah, cause who's got any time for growin' up?

Kiss me on the mouth

Kiss me on the mouth

Kiss me, kiss me on the mouth and set me free

Kiss me on the mouth and set me free

Kiss me on the mouth and set me free

Kiss me on the mouth and set me free

Eu nunca fui uma pessoa que pensa muito antes de agir e talvez seja para o melhor.

Quero dizer, ficar ruminando minhas ideias por meses me trouxe apenas dores de cabeça e uma revelação potencialmente explosiva.

(Só pra deixar claro, eu digo isso no sentido literal).

Todos os sentimentos descobertos no ano anterior, somados à saudade avassaladora no verão, a preocupação de quando Baz não retornou para o início do ano letivo e a visita da mãe dele com informações sobre seu assassino...

É... muita coisa.

E com relação ao Baz, mesmo agora que ele retornou, vê-lo magro, ainda mais pálido que o normal, atormentado por pesadelos e com uma perna ruim... Não sei o que fazer e sinto que vou explodir.

Minha mágica escorre pelos meus poros tanto quanto o suor frio que desce pela minha testa e tenho quase certeza de que, em poucos minutos, não serei mais capaz de segurar todo esse poder e vou soltar uma descarga de magia capaz de explodir metade da Inglaterra.

Meu deus.

Meu deus.

Respira, Simon. Respira.

— Snow?

Estou tão concentrado no meu ataque de pânico que não notei quando Baz entrou no quarto. Um arrepio me percorre por todo o corpo ao olhá-lo de perto, me fazendo lembrar de como ele me ajudou a lidar com o dragão no último ataque do Oco, ainda ontem.

Ele arriscou a própria vida, quase esgotando seu estoque de magia para salvar a escola e tudo que eu pensei na hora era que eu tinha de protegê-lo. Por isso abri a represa dentro de mim e lhe dei meu poder. Que ele tomasse tudo, se fosse necessário. Eu só queria que ele ficasse bem. A salvo.

Foi tudo tão rápido e até agora não tivemos exatamente uma oportunidade para conversar sobre o assunto, mas foi como respirar aliviado pela primeira vez em muito tempo. Como estar completo. A pele gelada daquele garoto que eu recentemente aprendi não odiar nadinha me centrando no espaço e no tempo.

Agora, no entanto, não me sobrou nenhum resquício daquele frio tão bem-vindo.

Me sinto uma fênix, queimando no próprio fogo.

Por favor, que eu não machuque ninguém.

— Simon! Se acalme. – Não sei dizer se ele está gritando ou sussurrando. Meu mundo todo é ele. Baz. Baz. Baz. – Respira. Me deixa te ajudar.

Basilton Grimm-Pitch então me oferece sua mão, se aproximando do incêndio ao invés de correr e se salvar. Logo ele, tão inflamável... Seguro firme sua palma na minha e tomo uma decisão, acreditando ter tempo para um último pedido.

Uma súplica.

Se tudo tem que acabar em chamas, que assim seja.

— Me beija. Baz, me liberte.

Mas se eu estava esperando fogo, ele não veio.

Ao menos não como eu imaginava.

(Talvez exatamente como eu imaginava).

Os olhos cinzas se arregalaram por um instante, mas logo sua boca estava na minha e foi... mágico.

Sei que parece um adjetivo preguiçoso da minha parte, mas eu nunca fui bom com palavras e isso é o mais próximo que consigo de explicar o choque de energia que pareceu nos unir como um só.

O modo como suas mãos se acomodaram perfeitamente na curva das minhas costas e as minhas se embrenharam no cabelo dele como se voltassem para casa.

A forma como lágrimas gêmeas escorreram de nossos olhos, o caos a nossa volta desaparecendo e, como que invocadas por nossos sorrisos, inúmeras constelações surgiram nas paredes de nosso quarto.

Cada estrela, uma promessa brilhante de futuro.

De liberdade.

Kiss me on the mouth and set me free

Sing me like a choir

I can be the subject of your dreams

Your sickening desire

Don’t you wanna see a man up close

A phoenix in the fire

 

So kiss me on the mouth and set me free

But please, don’t bite

 ●○⸸○●


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