A Vingança Está na Moda escrita por Carol McGarrett


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Então... como prometido, demorei, mas voltei com essas duas! Confesso que estou com um pouquinho de receio quanto a essa história, espero que vocês gostem.
Boa leitura!



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Depois de longas oito semanas pulando no gelo com as muletas, eu me vi livre do gesso. Juro que quando o médico cortou o gesso e tirou a gaze que estava enrolada na minha perna eu pude ouvir anjos cantando “Aleluia!”. Tudo bem, eu teria algumas semanas de fisioterapia pela frente, porém nada que me impedisse de andar normalmente.

Correção, eu não estava andando normalmente. Nada disso... quando, enfim, eu pulei da maca crente que eu poderia sair sambando pelo corredor do hospital, eis que a única coisa que eu senti foi dor. MUITA DOR!  E quando olhei para a minha linda perninha eu... vamos dizer que eu precisava urgentemente esconder essa perna, parecia que tinham trocado a minha perna com a do Tony Ramos! Não é possível ser tão peluda!! Foram só oito semanas!!

Tão rápida quanto uma tartaruga, vesti a minha calça, calcei a minha bota e, mancando igual ao Corcunda de Notre-Dame, toda torta, saí do hospital. A única pessoa que teve a coragem de me acompanhar hoje foi Lara. Sim, imensa de grávida, andando igual a um pato, ela tinha o último ultrassom naquele dia, e não se importou em ser a acompanhante da filhote de Lobisomen aqui.

— Você tem certeza de que consegue dirigir? – Lara me perguntou.

— O carro é automático, Lara. Posso dirigir com um único pé.

Lara entrou no banco do carona até bem tranquila.

— E aí, quando vai ser o parto?

— Bem... – Lara acariciou a barriga. – Pode ser a qualquer momento. Hoje, amanhã, daqui a duas semanas. A certeza é a de que, de um mês não passa.

Arregalei os olhos.

— Uau... no máximo em um mês a vida de todos nós mudará para sempre.

— É, definitiva e incondicionalmente. – Ela afirmou com um enorme sorriso.

Me concentrei em sair do estacionamento e levar, em segurança, minha cunhada até a casa dela.

Lara a cada segundo mudava a posição, dizendo que a barriga estava pesando.

Deixei Lara em casa e, claro, fui obrigada a descer para fazer companhia a ela até que Jack chegasse. Vai que acontecia alguma coisa...

Jack chegou e ainda me fez de empregada, me mandando ir para a cozinha e fazer o jantar. Meu final de semana em casa estava sendo uma tristeza atrás da outra. E para completar ainda chamou o papai e a mamãe. Legal, cozinhar para um batalhão, eu juro, 90% do tempo eu odeio o meu irmão mais velho.

Depois de cozinhar, lavar as vasilhas e ainda ser feita de passeadora de cachorro, era hora de ir para casa. Meus pais foram no carro deles, eu fui no meu. Só para descobrir alguns quilômetros à frente, que dois dos meus pneus estavam furados.

Azar há de ser assim!

Sem poder fazer nada, liguei para o meu pai e para o seguro. Obvio que o Todo Poderoso cismou de vir atrás de mim, e ficamos nós três sentados na calçada esperando a boa vontade do guincho chegar para levar o meu carrinho para a oficina.

E se eu achei que essa foi a minha quota de azar do final de semana eu estava muito, mas muito enganada.

Essa confusão do carro foi na sexta, no sábado pela manhã eu tinha uma missão importantíssima, que exigia urgência!

Liguei para minha depiladora, e ela não tinha horário. Tentei depilar a minha perna com a lâmina, me cortei. Eu só tinha uma saída.

Depilar a minha própria perna com cera. Assim, saí correndo de casa, parei na minha lojinha de produtos de beleza favorita, comprei tudo o que precisava – e mais algumas coisas que não precisava também! – E voltei para casa, com o claro intuito de me ver livre daquele pedacinho peludo!

Acontece que eu não tinha coragem de puxar a cera, minha mãe tentou e, também não teve coragem de puxar, e só de pensar em ter que arrancar tudo aquilo com um puxão eu tinha vontade de chorar! No fim das contas, eu acabei  com a perna cheia de cera, uma colada na outra e completamente desesperada.

— MAMÃE!!! – Gritei desesperada.

— Filha, pelo que vi na internet, você precisa de um óleo para remover essa cera da perna.

— Mas eu não comprei nenhum óleo! Aliás, eu comprei sim! Eu juro que coloquei na cestinha. – Comecei a gesticular desesperadamente de dentro do banheiro.

— Onde você colocou as compras?

— Em cima da escrivaninha. Tá tudo na sacola.

Escutei o barulho da sacola de papel... fiquei aliviada em saber que eu logo teria as minhas pernas livres, mas não sem pelos.

— Ahn... filha. Não tem nada aqui!

— TEM QUE TER!! – Me desesperei de novo!

Minha mãe veio até o banheiro e olhou para a minha situação deplorável.

— Sinto muito, filhota. Não tem nada ali. – Ela me mostrou a sacola cheia de produtos de maquiagem, mas sem o meu salvador.

— Mas eu preciso desse óleo ou eu vou perder a minha pele!! Uma perna já grudou na outra!! – Choraminguei.

— Eu vou lá comprar para você! – Mamãe me disse, tão desesperada quanto eu.

— NÃO!! NÃO!! Eu preciso da senhora aqui! Eu já quase não estou conseguindo me mexer, a senhora não pode me abandonar aqui! Cadê o papai?

— Reunião urgente no FBI!

— MÃE! EU VOU MORRER ASSIM!! Como um filhote de lobisomem e ainda coberta de cera! Que morte horrível!

Mamãe correu para o meu quarto e voltou com o meu celular na mão.

— Vai ligar para a Penelope? Tia JJ?

— Não, a Liz está na cidade?

— Não sei.

— Desbloqueia isso aqui e liga para a ruiva.

Desbloqueei o meu iphone e o aparelho quase caiu dentro da banheira cheia de água e cera e sei lá mais o que...

Mamãe ligou para Lizzy no viva-voz.

— Fala Louca do FBI! – Liz atendeu ao celular assim.

— Sou eu, Emily.

— Ahn... Senhora Hotchner! Oi! Desculpa! Tudo bem com a senhora?

— Preciso de sua ajuda, Liz.

— Pode falar.

— Você está na cidade?

— Sim, é aniversário da minha sogra!

— Preciso que deixe a sua sogra e venha socorrer a sua amiga.

— O que aconteceu com a Elena?

— NÃO CONTA!! – Gritei.

Mamãe me ignorou e continuou a conversar com minha amiga.

— Preciso que você  passe em uma loja de cosméticos, supermercado ou qualquer lugar onde venda óleo para depilação.

— Levo só um vidro?

— Não, compre uns dez. É uma urgência. – Mamãe falou ao dar uma olhada nas minhas pernas.

— Tudo bem... vou fazer isso. – Lizzy disse. – Chego aí em uma hora, pode ser?

— Pode, Lizzy. E muito obrigada. – Mamãe falou e desligou o telefone. – Seu suplício está acabando, filhota. – Me disse e se sentou na beirada na banheira ao meu lado.

— Eu nunca mais faço isso sozinha. – Murmurei.

Uma hora depois, tocavam a campainha.

— Se você estiver sozinha pode entrar, se seu namorado estiver junto, deixe a guia amarrada na varanda. – Gritei.

— Sean ficou com a mãe dele. E não o chame de cachorro. Ofende o pobre! – Lizzy falou injuriada da porta do meu quarto. – Não vou entrar aí! Comprei doze vidros, vai que precisa de mais, né? E, só mais uma coisinha, só você consegue colar uma perna na outra quando se depila, Elena, pelo amor de Deus!

E tão rápido que mal ouvimos, ela foi embora.

— E foi correndo para a festa da sogra! Aqueles dois vão trocar alianças antes que todo mundo saiba! – Mamãe comentou ao entrar no banheiro depois de pegar os vidrinhos.

Duas horas e meia depois, eu tinha a mobilidade das minhas pernas novamente. E desisti de depilá-las, não queria arriscar mais.

Depois dessa e de estar sem carro, eu e mamãe decidimos por sentar na frente da TV e assistir a algum filme.

Ficamos assim pela tarde, pois até o almoço foi por conta daquele famoso pedido no app. À noite, Chris apareceu e queria dar uma saída.

— Vai logo, aproveita que seu pai não está aqui para impor horário em vocês. – Mamãe nos disse e voltou sua atenção para o filme que assistia.

Corri para o meu quarto, assim, mais manquei do que andei, e cheguei lá em cima. Com um probleminha...

COM QUE ROUPA EU IRIA?? Sabe como é! Tudo bem que está frio pra caramba, é quase final de fevereiro, mas eu tinha uma perna peluda para tampar.

Rodei igual barata tonta e em meu desespero, pedi conselhos de moda para Liz.

E: Está podendo falar?

L: Claro.

E: Chris está aqui, vamos sair. Me ajude, como eu tampo uma perna peluda?

L: Com calça!

E: Preciso de um look completo!

L: Sei lá, seu jeans favorito, bota de cano alto para não aparecer nada, capricha na blusa, já que o resto tá bem simples...

E: ISSO! Salvou a minha vida!

L: Não há de que... vão aonde?

E: Não sei... mas quero sair para me divertir... tô precisando. E você e Sean, vão a algum lugar?

L: Nada... vamos de Netflix e pipoca. Bom divertimento...

Com a ajuda de Liz, fiquei pronta rapidinho, aproveitei para usar uma das coisinhas que comprei de manhã e me vendo bem apresentável para curtir a noite, apesar da calça comprida e bota, desci as escadas devagar e consegui sair com Chris antes que papai chegasse.

— E então... vamos para onde? – Perguntei para Chris.

— Só dar uma volta, não acho que você aguenta ir para uma balada.

— Não preciso dançar. – Afirmei, estava animada por, enfim, estar sem o gesso.

Chris me olhou desconfiado.

— Eu passei oito semanas com o pé enfiado em uma bota, tô sendo massacrada na Faculdade, acho que mereço um pouco de divertimento.

— Então, restaurante primeiro, casa noturna depois?

— Mas é claro! – Dei um beijo no meu namorado e ele se virou para ligar o carro.

— Sem ninguém junto?

Ele estava mencionando o fato de que sempre que nós saímos, alguém aparece do nada... ou, às vezes, quando saímos eu e ele e Liz e Sean.

— Só nós dois.

— Até parece reprise dos Dia dos Namorados. – Ele riu.

— Sem nenhum fondue por favor, Capitão América!

— Nunca mais vamos comer aquilo dentro de um restaurante, Elena. Só dentro de casa.

— Não acha que o prejuízo de se colocar fogo dentro da própria casa é demais, não?

— Eu vou garantir que tenham sprinklers, por toda a casa, principalmente na nossa cozinha.

Eu comecei a rir, com um meu histórico era bem provável que eu colocasse fogo não só na nossa futura casa como também na vizinhança inteira.

Nosso jantarzinho não programado foi tranquilo, o que é milagre, porque SEMPRE acontece algo que pode ser colocado na categoria desastre, e quando saímos, lógico que de mãos dadas e naquele clima de romance, Chris me puxou para um beijo e nós dois nos deixamos levar encostados no carro.

— Para qual clube? – Questionei assim que consegui reaver meu fôlego, Chris tinha aproveitado a rua vazia para me dar outro beijo e graças aos céus que não tinha ninguém para ver.

— Tem um clube novo perto de Dupont Circle.

— Não ouvi falar.

— Me afirmaram que é ótimo.

— Confio no seu gosto. – Comentei e o puxei para outro beijo.

Depois de uns quinze minutos nós fomos para a tal Casa Noturna, antes de descer tive que dar uma conferida na minha maquiagem e, principalmente, no batom.

— Você está ótima! – Chris me disse me dando outro beijo.

— Desse jeito eu não vou nunca ter um batom nesse rosto!

— Eu não em importo!

Revirei os olhos.

— Vamos lá para dentro ou não?

Chris desceu do carro, deu a volta e me ajudou a descer. Eu não estava andando lá com essa elegância toda, mas com a bota estava dando para dar uma disfarçada, então não chamei muito atenção, juro que até reconheci uns casais dos tempos de Ensino Médio. Quem diria! E fiquei chocada em saber que o casal número 1 da escola, a Líder de Torcida principal e o Quarterback bonitão não estavam mais juntos.

— Jura? – Exclamei para Amanda, uma ex-líder de torcida que jamais conversou comigo, mas hoje estava batendo papo.

— Sim, dá pra acreditar que a Sam apareceu grávida de outra pessoa, claro que o Joshua não aceitou.

Não precisei falar mais nada, minha cara de espanto disse tudo.

— E a melhor parte, você não sabe quem é pai!! – Amanda estava eufórica em contar a fofoca, como se estivéssemos ainda no Ensino Médio.

— Não, eu....

— O professor de sociologia dela!!

Eu juro que quase caí do banco onde eu estava sentada, se não fosse por Chris ali, teria me esborrachado no chão e, quebrado outra coisa, é claro.

— Eu estou...

Amanda me cortou para ir correndo até outra ex-líder de torcida de nossa Escola, louca para passar a fofoca para frente.

Chris me segurou pela cintura e só comentou:

— Depois falam que não são interesseiros...

— Você quer dizer os romances entre jogadores e líderes de torcida?

— É claro. Essa da Amanda foi...

Eu comecei a rir.

— Ela nunca foi lá muto benta, porém Joshua mereceu... nunca vi mais nojento na minha vida, até parecia que ele era o Tom Brady e seus sete anéis do Super Bowl... e nem jogava tanto assim. Tanto que perdeu a bolsa de estudos. – Respondi e resolvi trocar de assunto, ou melhor, de foco, estava olhando para a pista, bem embaixo do DJ.

— Seu pé mal saiu do gesso... – Chris me informou, seguindo o meu olhar.

— Mas tem meses que eu não danço com você!!! – Praticamente implorei.

Demorou um tempo, na verdade, demorou dois drinks sem álcool e muita persuasão de minha parte para que Chris fosse dançar comigo.

Falar que dançamos é ser gente boa, curtimos mesmo, ao ritmo das músicas que conhecíamos, e, no resto, só ficamos por lá, nos olhando e nos beijando, eu estava aproveitando que ficaria quase dois meses sem vê-lo e já estava adiantando a saudade.

Minha mãe não me deu toque de recolher, e eu estava torcendo para o que quer que tenha prendido o meu pai dentro do FBI varasse a madrugada, pois eu não estava nem um pouco a fim de ir para casa agora.

Nós dois ficamos na Casa até quando ela fechou e eu só fui entrar em casa com o dia amanhecendo... uma façanha e tanto, já que ninguém foi atrás de mim, como normalmente aconteceria, já às duas da manhã.

Me despedi do meu namorado e entrei em casa, devagar e sem fazer barulho, minha mãe tinha dormido no sofá e com a TV ligada, vi uma garrafa de vinho pela metade e uma caixa de donuts vazia na frente dela...  e essa cena me dizia que papai não tinha voltado para casa, eu tinha tido uma noite de sorte!

Antes de subir, joguei um cobertor em cima de minha mãe, ajeitei a almofada debaixo de sua cabeça e tirei toda aquela bagunça da mesinha de centro. Depois resolvi que tomaria um banho antes de me deitar, para relaxar bem.

Posso te dizer que dormi bem, muito bem... e poderia ter continuado se não fossem as vozes... vozes altas, na verdade, a voz mais alta era de meu pai, a de mamãe estava baixa e ela tentava controlar o marido.

— O que aconteceu? – Perguntei para mim mesma, me sentando na cama e sendo agraciada com a pior visão do mundo, minha perna peluda. – CREDO!

Tampei a perna e me joguei nos travesseiros depois que conferi as horas, eu mal tinha dormido três. Era domingo de manhã e papai estava dando um show lá embaixo.

Acontece que eu achava que o ataque de papai era por conta de algo da reunião, contudo não era.

— Aaron, por favor... deixa-a dormir.

— DORMIR, EMILLY? VOCÊ VIU ISSO??

Me perguntei internamente o que eu tinha feito dessa vez. Nada demais. Porém, resolvi checar mentalmente de novo, só para garantir. Nada veio à minha mente.

Acontece que nem com os pedidos de minha mãe, papai se se acalmou. Não, e menos de trinta segundos depois que ela pediu pela décima vez que ele ficasse tranquilo e respirasse, a porta de meu quarto foi aberta praticamente com um chute, indo bater na parece e ficando fincada ali.

— O que eu fiz dessa vez? – Me perguntei mentalmente, enquanto encarava os olhos de pura fúria de meu pai e tentava tirar o meu cabelo do meu rosto.

— Tem algo que queira me contar, Elena? – Ele me perguntou cruzando os braços. Vi que ele ainda estava de terno, não tinha tirado nem o paletó e ostentava enormes olheiras de quem não tem uma noite descente de sono há dias.

— Ahn... comecei. Não. Nada. – Falei sem muita certeza, meu pai era conhecido por desenterrar coisas lá de 1900 e lá vai poeira e teia de aranha.

— Tem certeza, mocinha?

O tom de voz dele me fez me arrepiar de medo e meu estômago se contorceu nervosamente.

Eu só consegui balançar positivamente a minha cabeça.

— Então, pode me explicar o que é isso? – Papai começou jogar fotos em cima da minha cama. De início eu não vi nada, porém, à medida que eu absorvia as imagens, eu ficava ainda mais desconcertada. Eram fotos minhas e de Chris. E, era exatamente o beijo perto do restaurante onde jantamos, aquele que eu dei graças à Deus que papai não estivesse por perto.

Por perto ele não estava, mas alguém fotografou todo o nosso momento e ele passava em câmera lenta na minha frente, e tinha entregue todas as provas da minha noite ao meu pai. Com alívio vi que não tinha fotos da nossa dança dentro da Casa Noturna, o que era bom e menos um ataque por parte de meu pai, afinal, se ele escutasse o que eu escutei enquanto dançávamos... dizer que paramos toda a pista de dança e muitos comentaram que deveríamos procurar um quarto, é um ótimo resumo.

Eu não soube responder nada, mas senti meu rosto esquentar, muito, de uma maneira que queimava a minha mão.

Meu maior problema, eu nem poderia falar que as fotos eram montagens, afinal, a roupa que usava quando elas foram tiradas, estavam jogadas sem cerimônia alguma no divã ao pé da cama, bem perto de onde meu pai estava.

— Eu estou esperando uma explicação.

Não tinha explicação. Ali eram Chris e eu, em momentos que meu pai não merecia ver, ao menos não quando eu espero ter um pai que viva até os cem anos de idade.

Diante do meu silêncio, papai jogou as fotos em cima da minha cama, e saiu mais vermelho que um pimentão de tanto ódio.

— E, diga para o moleque que você chama de namorado, que você não vai vê-lo até que verão chegue!

Eu demorei para processar o que ele havia dito. E quando eu o fiz, soltei um grito, que saiu sem querer.

— Quer que eu termine esse relacionamento por você, Elena? – Papai falou friamente enquanto novamente subia a escada.

Eu já tinha juntado todas as fotos e as escondido de papai e sua vontade assassina de quebrar alguma coisa.

— Não, pai, eu não vou terminar com o Chris só conta de algumas fotos...

Foi aí que a confusão se instalou.

— O que você disse, Elena?

Eu tenho que aprender a refrear a minha língua para muitas coisas, mas não para isso.

— Eu não vou terminar com o Chris. – Disse firme, me levantei. Mamãe estava parada nos encarando, pronta para entrar no meio, caso algo acontecesse ou algum de nós falasse a frase errada.

— Aaron, vamos descer. Elena você se arrume que vamos conversar. – Ela disse quando a competição de encarada não dava sinais de que ia terminar.

Com muito custo ela conseguiu levar papai para o andar de baixo e eu pude me trocar e dar uma ajeitada no meu quarto.

Para falar bem a verdade, eu não estava assim tão brava com o meu pai, estava possessa com a pessoa que havia me seguido e feito da minha vida esse problemão em um domingo de manhã.

Ainda possessa com o que tinham feito comigo e com a ideia de meu pai que eu teria que terminar meu namoro, resolvi chamar a única pessoa que poderia me ajudar nesse momento, já que ela tem um pai tão ciumento quanto o meu.

E: Tá acordada?

Lizzy era a minha única alternativa a essa hora. Até porque eu tinha aprontado algo muito parecido com ela e Sean no Natal...

L: Mais ou menos.— Foi a resposta que recebi cinco minutos depois.

E: Rapidez para responder é o seu nome do meio, hein?

L: Se você está mal-humorada não é culpa minha, e me deixa dormir porque tô cansada e daqui a pouco tenho um voo para pegar.

E: Harvard não parou por conta do mau tempo?

L: kkkkkkkkkkk claro que não, a escravidão lá faça chuva ou faça sol. Mas para que você me acordou.

E: Meu pai.

L: Tudo bem o Sr. Hotchner?

E: Alguém entregou para ele umas fotos minhas com o Chris... sabe como é...

L: Claro que sei... consigo ver a cena dele, afinal já passei por isso...

E: Por isso estou conversando com você!

L: Você foi a causa do ataque do meu pai, Elena. Eu achei que ele iria dar um derrame de tanto que ele ficou vermelho. E, que antes que ele desse o derrame, ele iria atirar no Sean... não me peça para ser simpática à sua causa.

E: Eu não sabia desses detalhes.

L: Devia ter imaginado, afinal, você conhece o meu pai.

E: É muito tarde para pedir desculpas?

L: Sim.

Eu ia responder, clamando que iria explicar para o Sr. Gibbs que era uma brincadeira, mas mamãe me chamou.

Larguei o celular em cima da cama e desci a escada, sempre testando o ambiente antes de falar alguma coisa, vai que meu pai estava armado, né?

— Pensou no que acabou de fazer, Elena? – Era papai quem falara, e eu procurei por ele na hora. Ele estava com aquela cara de taciturno, sentado na mesa da cozinha, o jornal ainda dobrado do seu lado.

— Será que não podemos conversar sobre o fato de que alguém me seguiu ontem à noite? – Joguei verde, não saí do assunto, mas também não era o assunto principal.

— Vamos colocar PG para tentar descobrir isso amanhã. Hoje o assunto é outro...

— Pai...  – Eu não tinha o que argumentar, eu tinha saído com o meu namorado, e não tinha nada DEMAIS nas fotos, eram beijos mais apaixonados, mas que casal não dá uns pegas a mais?

— Não me interessa o que você fale, reclame – Papai começou.

— Por favor, não faça isso! – Clamei. – Eu tenho certeza de que fizeram isso para estressar o senhor, ou para acabar comigo... mas pai, não me faça terminar com o Chris, eu o amo!

Mamãe se engasgou e eu só fui perceber o que tinha dito quando o rosto do meu pai ficou roxo.

Será que eu podia pedir asilo na casa da minha amiga pelos próximos cinco anos?

— Vá para o seu quarto! – Foi a ordem que recebi de papai, sua voz estava estranhamente fria. – AGORA.

Saí correndo do jeito que conseguia. Desesperada, primeiro porque eu sabia que estava encrencada a nível master, afinal eu tinha quebrado o me toque de recolher, tinha sido flagrada dando uns amassos no meu namorado e, meu pai tinha as provas na frente dele, e, agora, eu e minha boca grande, acabamos por revelar o segredo que eu tinha guardado até do Chris...

E: Preciso da sua ajuda...

L: De novo?

E: Acabei de falar para o meu pai que eu amo o Chris.

L: VOCÊ O QUE?

E: É, dessa vez eu falei demais!

L: Com certeza, mas resolveu o primeiro problema?

E: Não... nem cheguei perto.

L: Nenhuma pista?

E: Vão colocar a Tia PG nisso, mas sei lá, fotos impressas? Como ela vai descobrir. Eu acho que foi alguém armando pra mim.

L: Mesmo? Por que você?

E: Não sei... nunca fiz nada contra ninguém...

L: Nunca? Não teve nenhuma vez que você aprontou com alguém...

E: Não.

L: Bem, talvez querem desestabilizar o Diretor do FBI, então.

E: Será que não foi obra da Diretora da CIA?

L: MINHA MÃE??? POR QUE MINHA MÃE FARIA ALGO ASSIM? Usar a filha da pessoa é maldade, se ela quisesse fazer algo contra o diretor do FBI, tenho certeza de que ela iria direto nele e dava um tiro na cabeça dele, mamãe não é de usar subterfúgios. E depois dessa, eu vou é atrás dela, porque ela e papai estão discutindo algo, fui. Boa sorte aí.

E: Obrigada.

Com o fim da minha conversa, me deitei na minha cama e fiquei olhando o teto... pensando em quem poderia armar uma dessas para mim ou para papai.

Pensei, e pensei e pensei até que tive que pegar o meu celular e ler as últimas mensagens que troquei com Liz.

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

L(...) Mas para que você me acordou.

E: Meu pai.

L: Tudo bem o Sr. Hotchner?

E: Alguém entregou para ele umas fotos minhas com o Chris... sabe como é...

L: Claro que sei... consigo ver a cena dele, afinal já passei por isso...

E: Por isso estou conversando com você!

L: Você foi a causa do ataque do meu pai, Elena. Eu achei que ele iria dar um derrame de tanto que ele ficou vermelho. E, que antes que ele desse o derrame, ele iria atirar no Sean... não me peça para ser simpática à sua causa.

E: Eu não sabia desses detalhes.

L: Devia ter imaginado, afinal, você conhece o meu pai.

E depois mais tarde...

L: Nenhuma pista?

E: Vão colocar a Tia PG nisso, mas sei lá, fotos impressas? Como ela vai descobrir. Eu acho que foi alguém armando pra mim.

L: Mesmo? Por que você?

E: Não sei... nunca fiz nada contra ninguém...

L: Nunca? Não teve nenhuma vez que você aprontou com alguém...

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EU NÃO ACREDITO QUE ELA FEZ ISSO COMIGO!!! E AINDA JOGOU NA MINHA CARA!!! A sua.... sua.....

Eu não percebi que gritava até que meu pai, que já estava meio virado no Jiraya apareceu na porta do meu quarto.

— O que foi agora?

— Foi tudo armado.

Ele levantou uma sobrancelha...

— É sério, papai. Foi a Liz!

— E por que a Liz se daria o trabalho de fazer isso?

Bem... aí vinha a outra parte delicada, eles não sabiam do presente de Natal que eu tinha comprado para ela...

Mamãe colocou a cabeça dentro do meu quarto e estava esperando a minha resposta.

— Porque eu aprontei algo bem pior com ela no Natal... e vamos dizer que o Sr. Gibbs quase cometeu um assassinato duplo.

— O que você fez?

— Dei um body camuflado para a Liz, com o seguinte escrito: “Garotinha do Papai”. Mandei entregar na casa da Liz e quando ela abriu, sem ter a menor noção do era, o Sr. Gibbs estava do lado, na mesma hora ele catou a espingarda e foi parar na casa do Sean... Liz não comentou muito o que aconteceu depois, mas... acho que sei como foi a reação do pai dela...

Mamãe revirou os olhos e saiu do meu quarto, querendo saber quando tanto eu quanto Liz iríamos crescer, papai bufou, ele sabia que eu merecia isso, afinal fui eu quem começou tudo. Isso porque ele não fazia ideia da cena da loja.

— A partir de hoje você tem um toque de recolher quando estiver na cidade, e, se quebrá-lo, Elena, Deus me perdoe, você amando esse seu namorado ou não, seu namoro estará terminado. – Foi tudo o que papai falou quando bateu a porta.

Peguei meu celular e mandei uma mensagem para Liz:

E: Foi você, as fotos, foi você!!!

L: Só as fotos???

Arregalei meus olhos.

E: FALA SÉRIO!!!

L: Elena, vingança é um prato que se come frio... e você mereceu depois da surpresa de Natal... e, só para constar, Sean manda um oi!

Olhei estupefata para a tela do meu Iphone... OS DOIS!! O casalzinho 20 de Alexandria tinha aprontado comigo!

Eu tinha, definitivamente, que aprender com que eu mexia... Minha amiga tinha uma memória de 10 terabytes não é possível.

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— Cuidado! Ela não pode nem descobrir que estivemos aqui! – Murmurei. Sean me lançou um olhar meio atravessado. – Que? Só avisando.

— Onde você acha que eu aprendi a fazer isso, Liz?

— Só para garantir, vai que você se esqueceu. – Respondi.

Nós dois estávamos do lado de fora da casa de Jack e Lara, dando um jeito de começar a nossa vingança contra Elena. Na verdade, era para ter começado no hospital, minha ideia era falsificar uma ligação da emergência falando que a sobrinha dela estava para nascer, mas Lara foi com ela, e essa parte do plano foi para as cucuias.

Então, partimos para a parte 2, que é deixá-la a pé, acontece que também não deu lá muito certo, afinal, o Sr. e a Sra. Hotchner vieram jantar aqui, o que não nos impediu de cortar dois pneus do carro, só para que ela tivesse que ficar esperando o guincho.

Assim, com uma faca que logo seria abandonada em um local muito, mas muito distante de onde poderíamos estar e usando luvas e tocas para que nenhum DNA ou impressão digital ficasse para trás, Sean cortou os pneus e logo saímos dali, um casal normal de mãos dadas andando pela vizinhança, afinal, paramos o carro bem longe para que ninguém o reconhecesse. Era dado o início ao nosso plano.

— Qual será a parte dois? – Sean me pergunto quando entramos no carro e eu coloquei a faca dentro de uma sacola.

— Abandonar isso aqui bem, mas bem longe de tudo.

— Não essa parte, Liz.

— Ah! Essa deixa comigo. Você não vai saber fazer isso...

— O que você vai aprontar?

Dei um sorriso.

— Se eu conheço a Elena, ela deve estar para morrer por conta da perna dela que ficou engessada por 8 semanas, assim, a primeira coisa que vou fazer é dar um jeito de que ela não encontre horário na depiladora. Ela vai partir para a lâmina, mas eu, você, todo o fandom da Marvel, sabemos que ela é estabanada que só vendo, então vai acabar se cortando.

— E?

— E tem uma terceira opção. A opção “faça você mesma”, também conhecida como cera fria. Elena vai passar a cera na perna, mas não vai ter coragem de puxar! Eu conheço a minha amiga, ela não suporta sentir dor, assim, vai ficar com cera na perna, e só tem uma coisa que tira cera da perna.

— Água! – Meu namorado sabe tudo (só que não) do mundo das mulheres me soltou essa pérola.

— Não, óleo. Um óleo especial que geralmente é vendido junto com a cera, tenho que garantir que Elena não leve esse óleo para casa...

— E como você vai fazer isso?

Mostrei meu celular para ele.

— Elena sempre posta foto e diz onde está indo, não sei como o Sr. Hotchner ainda não a proibiu de fazer isso... contudo... eu vou saber onde ela está e vou surrupiar o óleo da cestinha dela. A louca é tão avoada, que não vai nem perceber...

— Você está empenhada em fazer desse final de semana o pior pesadelo de Elena, hein?

— Sean, eu não me esqueci do que passamos no Natal... não morremos por milagre, porque meu pai ia, com certeza, atirar em você! Ela tem que pagar.

Sean deu sorriso de lado e arrancou o carro.

— Não passe nem perto dos carros daquela família!

— Liz, eu sei o que eu estou fazendo.

— Eu acho que sei mais, aprendi várias técnicas de perseguição com a Ziva.

— Espero que ela não tenha te ensinado a matar ninguém com um vidro de cera...

— Ninguém morre se depilando... mas pode ficar sem a pele da perna, caso uma perna grude na outra....

Sean arregalou os olhos.

— Ser mulher é viver perigosamente vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, trezentos e sessenta e cinco dias por ano, querido... – Informei para o assustado Marine.

Nós voltamos para casa, ele para a dele e eu para a minha. Meu pai ficou bem desconfiado da minha cara e de meu súbito desaparecimento, porém, quando eu disse a palavra “vingança” ele se acalmou e se sentou no sofá, voltando a ver o filme em preto e branco que passava.

Fui para a cozinha atrás de alguma coisa para comer.

— Não fiz o jantar. – Meu pai informou.

— Mamãe?

— Ligou dizendo que tem uma operação para coordenar a noite inteira.

— O senhor já comeu? – Perguntei ao Agente Muito Aposentado que agora passava o dia construindo qualquer coisa que viesse a mente dele.

Meu pai passou a mão pela barriga, como se pensasse se já tinha jantado, se ainda estava com fome ou se não tinha comido nada.

— Pelo visto não. – Falei e me virei para os armários, atrás de algo que fosse rápido e gostoso.

— Não vai sair com o Marine Suicida? Você não o vê desde a Noite de Ano Novo. – Papai falou casualmente.

— Estava com ele. E não, não vamos sair, Dona Pam faz aniversário amanhã e como temos que terminar a nossa vingança contra a Elena, ele vai passar a noite ao lado da mãe... porque amanhã será impossível.

Papai ficou feliz de que alguém ficaria com ele em casa e eu me voltei para o jantar. Resolvi fazer um Macarrão à Carbonara, ao notar que todos os ingredientes estavam à minha disposição.

— O senhor fez compras?

— Você disse que vinha, resolvi que talvez você preferisse comer comida caseira ao invés de qualquer coisa pedida pelo aplicativo que tem no seu celular...

Traduzindo a fala de meu pai e a ideia de minha mãe (porque isso tem dedo da Madame Diretora da CIA): Já que você vinha e você adora cozinhar, Elizabeth, enchemos a dispensa, assim você pode ficar à vontade para cozinhar para a família inteira.

Suspirei e me concentrei no nosso jantar.

O bom da carbonara é que é rápida e em menos de trinta minutos, o cheiro de parmesão e guanciale estava de dar água na boca e meu pai, muito discretamente, veio para a cozinha com a desculpa de pegar uma cerveja.

— Cerveja não combina com essa comida, pai... o senhor sabe disso.

Ele ficou todo sem graça. Pegou uma das garrafas de vinho de mamãe, abriu e muito a contra gosto, se serviu de uma taça.

— Não vai me oferecer um pouco? – Perguntei.

Ele deu uma risada.

— Tá querendo ter uma desculpa para escalar a árvore de novo?

Droga... papai nunca vai esquecer o meu dia de louca...

O jantar ficou pronto, e só para não sair muito da tradição, tomei um copo de suco integral de uva.

— Você, filha, definitivamente, cozinha melhor que a sua mãe.

Eu comecei a rir.

— Que ela jamais te escute!

Como eu fiz o jantar, papai arrumou a cozinha enquanto eu saía para Ice dar um voltinha, meu pobre doguinho já estava tão velhinho que o veterinário começou a me dar dicas para começar o processo de despedida, afinal, ele já tinha quase quinze anos....

Voltei para casa e fiz hora para ir dormir... ainda tinha uns trabalhos da faculdade para terminar e esperava que minha mãe aparecesse, ela não veio e eu acabei por varar a noite terminando o que tinha para fazer, fui dormir com o dia quase amanhecendo, só para papai bater na minha porta e me avisar que eu tinha um compromisso hoje... o almoço de aniversário da minha sogra...

— Vou só dar um cochilo. – Falei depois de um bocejo gingante. Papai balançou negativamente a cabeça e saiu murmurando algo como: “se fosse filha biológica da Jen não parecia tanto.”

Meu cochilo não durou tanto assim, eu tinha uma vingança para continuar a planejar.

Logo a lesada da Elena teve que postar que estava comprando algumas coisinhas, eu reconheci a loja na hora e dei sorte de que não era longe.

— Papai, preciso de seu carro! – Gritei.

— Só não mate a Elena.

Achei a doida no meio da loja, tentando decidir a cor de um batom, de longe parecia o mesmo tom de vermelho para mim. Fiquei um tanto escondida pela prateleira e fingi escolher uma sombra. Logo Elena saiu cantando a música que tocava e foi para outra sessão, enchendo a cestinha.

— Ela não vai embora nunca? – Alguém falou do meu lado, me assustando.

— O que você está fazendo aqui? – Perguntei para Sean.

Ele apontou para a cunhada e para a mãe.

— Perdi no “pedra, papel e tesoura”. E você, esperando o que?

— E Elena colocar o que eu tenho que tirar de dentro da cesta. – Informei.

E nós dois nos encostamos em um canto e alternadamente observávamos Elena e minha sogra, juro que a minha intenção era não comprar nada, mas acabei saindo de lá com algumas coisinhas também.

— Acho que é aquilo ali, não é? – Sean me cutucou quando eu estava tentando decidir entre um esmalte azul e um preto. – Leva um mais claro. – Ele falou. De birra escolhi os dois.

Elena foi para o caixa e eu fui atrás dela, quando ela parou para responder uma mensagem e deixou a cesta no chão, tirei o óleo de dentro e me voltei para a sessão de shampoos.

Não me demorei muito mais, tinha que devolver a caminhonete do meu pai. E, depois de pagar pelos produtos que escolhi, me despedi de Sean e de minha sogra, prometendo que logo estaria lá.

Ao devolver as chaves do carro para papai, ele só me levantou a sobrancelha.

— E então...

— Parte 2 em ação.

— São quantas partes?

— Três... e a terceira tem um convidado pra lá de especial.

— Posso saber quem é?

— Papai, o senhor quase deu um derrame no Natal... Deixa a Elena passar aperto com o Sr. Hotchner, apesar de que duvido que ele vá, armado com uma espingarda, atrás de Chris, porque o pai dele é um dos Senadores que votam na comissão dos orçamentos, mas a Elena vai sofrer um pouquinho.

— Com quem você aprendeu a ser tão vingativa assim?

Eu só sorri para papai.

— Tenho que me arrumar. – Avisei e subi a escada antes que ele começasse a perguntar onde eu tinha aprendido todos esses truques e eu acabasse falando tudo o que Abby, Ziva, Ellie e mamãe tinham me dito.

O ponto alto do dia foi quando eu recebi a ligação da Sra. Hotchner. Estava na cozinha da casa do meu namorado, secando e guardando as vasilhas depois do almoço, quando Dona Emily me liga tão desesperada quanto Elena.

Tive que ser muito atriz para não começar a rir do infortúnio da minha amiga.

— Posso saber quem é? – Meu namorado me perguntou quando coloquei o celular no bolso.

— Dona Emily...

— Para? – Sean parou de lavar o prato e me olhou.

— Resgatar a Elena. Pelo que entendi, uma perna colou na outra.

— Então seu plano está funcionando perfeitamente.

— Pode apostar que sim.

— Vai agora?

Fiz uma careta.

— Claro que não, Sean, ela pode esperar...

Fiz Elena esperar quase uma hora, claro que Sean foi comigo e quando saí da casa dos Hotchners às gargalhadas ele me chamou de maluca.

— Ainda vamos para a parte 3...

— CLARO... é a parte que mais me interessa!

— E como você vai convencer o Chris a sair com a Elena.

— Eu não preciso convencer ninguém... ele vai.

— E como vamos saber aonde eles vão?

— Viva McGee e suas aulas de “Vamos fazer a Liz uma pequena hacker!”

Ficamos um pouco da tarde na casa dele e a outra parte na minha, mamãe tinha chegado e clamado a minha presença perto dela, dizendo que estava morrendo de saudade de mim e, claro, ela queria as devidas atualizações sobre meu plano “Vendetta 1”.

Estava sentada no sofá, entre Sean e um balde de pipoca, vendo John Wick, claro que não sozinhos, papai estava por lá, junto com mamãe, uma noite de sábado em família, quando meu celular tocou.

Era uma mensagem. De Elena, e a doida queria conselhos de moda, porque iria sair e tinha que tampar a perna peluda. Ajudei a ela, e ia dando risadinhas a cada resposta que dava até que ela se despediu. Dei um tapa na perna de Sean e soltei:

— Se arrume, a última parte do nosso plano começa agora!

— Vão aonde? – Papai me perguntou.

— Ela não sabe, mas conhecendo o Chris, deve ser em qualquer lugar caro...  – Respondi e subi as escadas para colocar uma roupa quentinha para dar uma espiã.

Voltei vinte minutos depois e Sean já me esperava.

Conseguimos achar o carro de Chris por sorte, paramos no semáforo e ele logo parou do lado, foi Sean quem me mostrou o casal.

— Às vezes a sorte até que me acompanha... – Comentei. – E sabe de uma coisa?

— Não, Liz... o que?

— Somos uma excelente dupla de espiões.... Podíamos investir em uma carreira de Investigadores Particulares se nada der certo no futuro!

Sean não me respondeu nada. Tentar eu tinha tentado!

Como de costume, Elena e Chris tinham sempre que ir aos restaurantes mais cheios de frescura da cidade. Pareciam até a minha mãe.

— O que eles têm contra comer no Outback? – Sean me perguntou quando Chris parou o carro na frente de um restaurante caro.

— Qualquer um pode ir lá e não precisa de reserva! – Respondi enquanto tirava umas fotos do casalzinho. Meu namorado fez um barulho de desgosto, definitivamente eu e ele somos completamente o opostos ao casal formado pela minha melhor amiga e Chris.

Paramos o carro longe da entrada e tivemos que ficar de tocaia.

— Eles vão demorar muito?

— Se o restaurante ainda não estiver pegando fogo, Elena ainda está lá dentro.

Sean deu uma gargalhada.

— Você reclama do seu pai ficar mencionando a sua noite de bêbada corajosa, mas não esquece esse fato.

— Micos alheios são perpétuos, os meus não. – Olhei pelo retrovisor e nada do casalzinho aparecer. – Anda logo Elena, eu tô com sono!

— Por que está com sono? São nove e meia da noite!

— Virei a noite estudando... – Murmurei. – Tô com trabalho até na testa para fazer.

— Vai fazer três faculdades ao mesmo tempo... isso que dá.

— Quando eu me formar, me darei uma viagem para algum lugar bem paradisíaco, só para que eu possa descansar. – Falei.

— Eu não estou convidado?

— Você vai me deixar dormir? – E eu só vi a besteira que disse quando ele me deu um sorriso de lado, e graças aos céus, os dois saiam do restaurante. – Me passa a câmera. – Pedi sem olhar para ele, pois podia sentir meu rosto quente pra caramba.

Coloquei a câmera – a mesma que usam no NCIS – para tirar fotos em sequência, então só tive que manter o foco e o zoom, sem precisar ficar vendo, isso não me interessava.

— Eles não vão parar nunca?

Tive que concordar com Sean... pelo amor de Deus!

— Acho que já tenho fotos demais. – Falei e desliguei a câmera.

— E agora? Isso já são provas mais do que suficiente. – Meu parceiro de crime deu um tapinha na câmera.

Vamos ver para onde eles vão... vai que tem o grand finale para fazer o Sr. Hotchner querer a cabeça de Chris...

Os dois ainda demoraram horrores para saírem de perto do restaurante. Haja pegação.

— Nós dois somos assim?

— Acho que não... nunca reparei. – Respondi para Sean.

— Acho que deveríamos começar a ser.

— Aí meu pai descobre e você sabe né... aula de prática de mergulho... um barco chamado Jenny...

— E ele pode não descobrir... – Ele se virou para me dar um beijo, e bem... quase que a gente perde a dupla!

Eu só precisava de mais algumas fotos e poderia dar a noite como encerrada.

— Ele tá indo para Dupont Circle? – Comentei, era basicamente o caminho para o apartamento da Família DiNozzo.

— Não abriu uma Casa Noturna nova por lá? – Sean me devolveu a pergunta.

— Não sei! Não moro mais aqui! E Dupont Circle não é a área onde nós saímos... esqueceu que não gostamos.... – Passamos na frente da tal Casa Noturna e, céus, que lugar mais cheio de frescura, já na fila vi duas ex-líderes de torcida que frequentaram o ensino médio comigo.

— Vai querer entrar lá para bancar a discípula de Thomas Magnum? – Sean começou a rir da minha careta para o lugar.

— Não... primeiro porque eu seria confundida com a faxineira, segundo, não tenho dinheiro para pagar pela entrada e terceiro, nem você gosta de lugares assim! Vamos embora, acho que já posso imprimir essas fotos e deixá-las no para-brisa do carro dos Hotchners.

— Como quiser. – Meu namorado acelerou o carro e eu comecei a garantir que as fotos que tirei valeram a tocaia. – Aqui, você tá com fome? – Me perguntou depois de uns dez minutos.

— Eu tô... e você?

— Também. Quer uma pizza?

— Só se for para levar. De jeito nenhum desço vestida assim para entrar em uma pizzaria!

Sean comprou a pizza, fomos para casa, onde imprimi as fotos, com a devida atenção de usar luvas para não deixar marcas.

Com as fotos impressas e dentro de um envelope sem marcas, me sentei na cozinha com meu namorado e meus pais para comer a pizza. Depois segui para a casa dos Hotchners, onde, com muito cuidado, deixei as provas no para-brisa do carro.

— Acabou? – Sean me perguntou assim que pulei dentro da pick up!

— Nossa parte sim. Agora é com o Todo Poderoso Diretor do FBI! – Dei um beijo no meu namorado e nós voltamos para casa. – Nunca mais ela vai querer mexer conosco! Nunca mais!

E nossa noite terminou com nós dois dividindo um pote de sorvete, sentados na sala de TV da minha casa, na companhia dos meus pais, assistindo ao terceiro filme em sequência de John Wick.

 Dormi feito um anjinho, ah, como é doce a vingança! Só para ser acordada com meu celular tocando. Achei que era Abby querendo programar um almoço maluco, deixei pra lá, mas eu sou curiosa por natureza, assim resolvi olhar. Foi um custo abrir os olhos, mas valeu a pena.

Elena estava desesperada. Falando do ataque do pai dela. Sabia que poderia contar com o Sr. Hotchner, ele é igualzinho ao meu pai...

Depois ela desistiu e, eu mandei o print da conversa para Sean, com a seguinte legenda:

DEU CERTO!!!

Levantei da cama, rindo do desespero da minha amiga. Ela que riu tanto de mim no Natal passado, estava passando pelo mesmo perrengue agora. Tomando café, eis que Elena me manda outra mensagem. E mais outra.

Agora a coisa tinha ficado feia. Olha o que ela foi falar. Mas eu precisava dos detalhes do ataque do pai dela. E ela me falou, e nem desconfiava de quem tinha feito aquilo.

Mas é de uma lerdeza que dá gosto!

Dei uma dica para ela e me despedi, queria ver se Elena ainda tinha cérebro!

Meia hora depois, Elena finalmente juntou dois com dois, colocando o cérebro para funcionar. E me mandou a seguinte mensagem:

E: Foi você, as fotos, foi você!!!

Mostrei a mensagem para Sean que tinha aparecido cedo, já que ele iria me levar ao aeroporto hoje.

— Até que ela demorou... achei que ela nos descobriria ontem à noite. Mande um oi para ela! – Ele comentou sem um pingo de dó.

Tive que responder...

L: Só as fotos???

Acho que ela entrou em parafuso, porque demorou para mandar outra mensagem.

E: FALA SÉRIO!!!

Comecei a rir, minha vingança estava feita! Agora estávamos quites.

— Acabou? – Sean e papai me perguntaram juntos.

— Agora sim! Aliás, falta só uma coisinha, peguei o celular de volta e digitei a seguinte mensagem:

L: Elena, vingança é um prato que se come frio... e você mereceu depois da surpresa de Natal... e, só para constar, Sean manda um oi!

Tenho certeza absoluta de que Elena, depois dessa, nunca mais vai mexer comigo!


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Notas finais do capítulo

Elena mexeu, definitivamente, com o casal errado...
Essa não é a última aparição dessa dupla... a próxima encrenca já está idealizada... e Deus que ajude Aaron Hotchner!!

Muito obrigada a você que leu!

Até qualquer outra história!

xoxo



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