— Kageyama, está tudo bem você? 

A pergunta de Yachi mal pode ser ouvida por ele, não por culpa do tom baixo que a garota usou para perguntar, mas devido a distração na qual ele estava mergulhado desde que entrou na sala de aula. 

— Hã?  

— Eu perguntei se está tudo bem com você.  

Tobio pensou por um instante.  Sua empreitada do final de semana foi um desastre, para não dizer um fiasco total.  Era só dar uma olhada nos bombons de gosto duvidoso e embalagem mal feita que agora, repleto de revolta, enfiava na pasta escolar.  

— Estou bem, Hitoka.  Não se preocupe.  – Não, não se sentia bem, contudo jamais confessaria isso a colega. 

Kageyama estava chateado. Na verdade, muito chateado.  A ideia de fazer chocolates caseiros para presentear Hinata e consequentemente declarar seus sentimentos   no Valentine's Day. Foi por água abaixo no momento que pisou naquela turma. Entretanto, era preciso voltar no tempo para entender o  porquê…

 O levantador do time de vôlei do colégio Karasuno, descobriu que gostava de Shouyou somente há alguns dias, quando ele e Miwa, sua irmã mais velha, conversavam sobre os tipos de chocolates que eram dados no dia dos namorados.  Na ocasião, sua irmã falava sobre o próprio namoro com um rapaz da faculdade onde ela estudava. Em dado momento a garota lhe perguntou se ele gostava de alguém,  e também,  se gostaria de fazer chocolates para presentear esse alguém tão especial.  Foi um choque quando se viu desejando fazer bombons, e tudo piorou quando pensou na pessoa para quem gostaria de dar os benditos doces: Hinata Shouyou, o idiota ruivo com quem brigava quase diariamente.  Depois disso, após ter tomado consciência dos próprios sentimentos, com a ajuda da irmã é claro, que também o ajudou a fazer os bombons. Kageyama e Miwa  traçaram  um plano para entregar os chocolates para Hinata,  entretanto o plano saiu totalmente diferente do que eles haviam planejado...

— Tem certeza mesmo? 

Yachi o trouxe para o presente com aquela indagação, se deixasse, ele ainda continuaria divagando em seus pensamentos até o término da aula.  

— Sim, tenho. 

Kageyama suspirou.  Percebeu que não adiantava  ficar com raiva do que descobriu há poucos minutos,  quando tentou executar seu plano, que consistia em antecipar-se aos outros colegas no retorno do recreio e colocar os bombons honmei choco na mochila de Hinata.  

— Sei lá... é que você pareceu meio estranho quando eu entrei aqui. – Hitoka insistiu. 

Não é para menos! Quis gritar. Apesar dela não ser a culpada por seu mau humor.

Há poucos minutos, antes de Yachi entrar naquele espaço,  ele  tinha acabado de ter a maior decepção de sua vida, pois ao mexer nas coisas de Hinata, mais especificamente na mochila do garoto.   Kageyama encontrou  uma linda caixa de bombons do tipo Honmei choco no interior dela. 

Aquilo só podia significar uma coisa...

— Não é nada,  de verdade. Não esquenta a cabeça comigo.

— Mas...

 Os alunos começaram a entrar na sala e sentar em seus respectivos lugares, um sinal  que o recreio havia terminado e a conversa  com a colega de classe havia chegado ao fim, contudo seu pesadelo estava somente começando, quando viu aqueles dois...

 – Uau! Sério, Hinata-kun?  – A garota falou cheia de intimidade. 

— É sério, Naoko-chan! Foi desse jeitinho que aconteceu… – Por conseguinte Hinata não ficou muito atrás na cordialidade. 

O estômago de Tobio revirou ante ao bate-papo animado que se desenrolava a apenas duas carteiras de distância. Hinata dava risadinhas suspeitas para a garota, que retribuía, enquanto ele lhe contava sobre seus feitos no último jogo. 

Hinata estava apaixonado!

Hinata gostava de Naoko e aquele chocolates que viu em sua bolsa certamente foi feito para dar para ela no Valentine's Day. Talvez seu colega de time só estivesse esperando o momento exato para entregar e se declarar, por isso os doces ainda estavam escondidos no interior da  mochila. 

Tobio não soube porquê, mas a imagem de Hinata se declarando para a garota o deixou extremamente triste. Vivia às turras com o ruivo, no entanto a ideia de vê-lo namorando com alguém e consequentemente se afastando dele, parecia algo inconcebível. Principalmente agora que entendeu o que toda aquela implicância significa. Kageyama encarou a medonha caixa de chocolate dentro da sua pasta escolar, aqueles doces que jamais teria coragem de entregar, ainda mais agora, após descobrir que não tinha a menor chance de ser correspondido. 

Eu gosto de você seu idiota!

 É claro que gostava,  do contrário não estaria com as mãos repletas de pequenas queimaduras, resultado da confecção daqueles benditos bombons, que agora só lhe restava jogar fora. 

Por que tive  que compreender esses sentimentos  tão tarde?

Kageyama levantou os olhos e olhou para Hinata e Naoko. Suspirou. Até que eles faziam um bonito casal. Resignado, cruzou os braços sobre a mesa, em seguida descansou a cabeça sobre os mesmos,  nem deu bola para o professor de língua japonesa que mandava todos se calarem para dar início a sua aula. 

Tobio não queria mais saber de estudar…

— Kageyama! Oe, Ka-ge-ya-ma! 

O levantador ergueu-se da cadeira num salto, quase derrubou a mesa e a cadeira no processo. O susto por ser acordado tão subitamente foi grande. 

— Oe! O que foi, Yamaguchi?  – indagou irritado.

— A aula já acabou.  Está na hora de irmos para o treino. – Tadashi disse e inclinou a cabeça para o lado, sua intenção era  analisa-lo melhor– Tudo bem com você, cara? 

— Sim. – Tobio respondeu, mas sua atenção foi em busca do casal que há pouco tempo estava ali – Onde estão todos?

— Todos já foram para casa. 

— E o Hinata? 

— Aquele idiota saiu daqui tão ligeiro que quase me jogou no chão ao passar por mim.  – Tsukishima, que estava escorado no batente da porta, resmungou.  Entediado como sempre. 

Kageyama arrumou seu material e logo depois seguiu no encalço de Yamaguchi e Tsukishima.  

Será que Hinata já havia encontrado a oportunidade certa para se declarar a seu amor verdadeiro?

Sua mente  continuava viajando naquela questão.

Kageyama só se deu conta de que havia chegado à quadra após quase ser acertado por uma bolada que veio em sua direção. Obra de Tanaka, que pediu desculpa e continuou disputando a bola mano a mano com Nishinoya a apenas alguns metros dele. Depois do ocorrido, Tobio seguiu a passos lentos para o vestiário. Tinha que mudar de roupa, mesmo não estando na vibe para treinar.

— Ops! Desculpe... – Hinata pediu ao se trombarem na porta do vestiário  – K-ka-geyama! 

O adolescente aparentou surpresa ao vê-lo, suas bochechas ficaram vermelhas numa fração de segundo e ele desviou o olhar. 

— Hinata boke – Tobio gritou por puro impulso – Por que não olha para onde anda? 

— É… Desculpa.

O levantador ergueu a sobrancelha direita estranhando a falta de atitude do outro que não retrucou seu xingamento: 

 – Oe?! – Tobio ainda tentou segurar o braço de Hinata, mas o baixinho se desvencilhou do agarre e saiu correndo, deixando-o plantado na entrada do lugar.   – Oe, volta aqui, Hinata! 

  Kageyama  não conseguiu captar o que tinha acabado de acontecer.  Sozinho no ambiente, foi de encontro ao seu armário, no entanto, assim que se aproximou do móvel e puxou a porta do mesmo, foi surpreendido por algo caindo no chão.

 Uma linda caixa de bombons caseiros. 

— O quê…

Kageyama agachou-se lentamente. O entendimento chegava à medida que ele reconhecia a bonita embalagem com a qual havia se deparado a pouquíssimo tempo. Um imenso sorriso foi nascendo em seus lábios, um sorriso sincero que só uma pessoa conseguia arrancar dele,  mesmo que não tivesse a menor ideia disso.  A mesma pessoa que escreveu o cartão que estava preso a caixa de chocolate endereçada a si.  

"Eu gosto de você. Happy Valentine's Day, Kageyama!" 

Mesmo sem ter uma assinatura que indicasse o remetente, Tobio conhecia aquela letra como ninguém. O levantador sentiu o coração ficando quentinho, quentinho…

— Eu também gosto de você, Hinata Boke – disse baixinho antes de trazer seu presente para mais perto do peito e abraçá-lo com o máximo de carinho que conseguiu.

      Eu também gosto muito de você.