Play Me Like a Violin escrita por Siaht


Capítulo 2
0.1. Uma Música Triste em um Teatro Vazio


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas lindas!!!
Tudo bem com vocês?
Bom, fevereiro acabou há alguns dias e eu estou um pouco atrasada, então peço desculpas por isso. Me atrapalhei um pouco com a história e tive muita dificuldade em terminar de escrevê-las, mas finalmente consegui e espero realmente que gostem! ♥



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{uma música triste em um teatro vazio}

Havia algo sobre um teatro vazio que intimidava muitas pessoas. Algo sombrio, infeliz e até mesmo apavorante. Talvez fosse o abandono de um lugar feito para abraçar multidões. Talvez fosse a escuridão de um cenário que acolhia estrelas. Talvez fosse o silêncio em um palco projetado para o espetáculo. Astoria Greengrass conseguia compreender o incômodo, mas jamais iria sentir o mesmo. Afinal, quando as luzes se apagavam e a plateia ia embora, ela se sentia verdadeiramente em casa. 

Não entenda mal, ela apreciava o show. Gostava de encantar multidões. Adorava ser adorada. Amava os aplausos. Porém, vivia pelos momentos em que se sentava sozinha com seu violino, encarando um deserto de poltronas vazias, e se deixava guiar pela melodia de seu coração. Livre de acordes antigos há muito decorados, do olhar e do julgamento da boa sociedade, da expectativa de terceiros. Sua própria vaidade abandonada em um canto escuro  do teatro. Havia certa paz naquilo. E um pouco de melancolia também.

Astoria era sempre a última pessoa a ir embora do Teatro Le Fay. Fosse após um ensaio ou uma apresentação, a garota permaneceria ali muito após todos terem partido. Um hábito tão irritantemente insistente que fizera o administrador do lugar a presentar com uma chave. Ela moraria ali, se pudesse. Não havia lugar no mundo de que gostasse mais. 

Havia chegado ao fim da música, quando o som de aplausos solitários a sobressaltou. Deveria estar sozinha. Ergueu a cabeça, tirou a varinha do bolso e com um aceno simples iluminou o salão inteiro. Parado em meio a uma fileira de poltronas, havia um homem em um elegante terno cinza. Astoria guardou o violino e se levantou, fixando os olhos no rosto dele: a pele pálida, os cabelos de um loiro prateado, os olhos cinzentos. Tudo sobre o rapaz era desbotado. Ela poderia facilmente tê-lo confundido com um fantasma, se não soubesse exatamente de quem se tratava. Draco Malfoy. 

— O que você está fazendo aqui? — a moça indagou em um misto de espanto e irritação. 

Malfoy se abaixou e pegou uma caixa que estava no chão. 

— Vim trazer isso para o senhor Fawley. 

O senhor Fawley era o administrador do Le Fay. Durante a Segunda Guerra Bruxa, boa parte do prédio havia sido destruída e saqueada. Conseguiram reconstruí-lo, no entanto, muitas antiguidades e peças que faziam parte da decoração original do teatro continuavam estavam perdidas. Malfoy estava ajudando o senhor Fawley a recuperá-las. Astoria não sabia como ele fazia isso, mas sabia que fazia. Ainda assim…

— Veio fazer uma entrega a essa hora? Não podia esperar até amanhã cedo? — ela era uma mulher desconfiada. 

Draco suspirou. 

— Combinei com o senhor Fawley que faria todas as entregas após os espetáculos. Não esperava que alguém ainda estivesse aqui. 

Astoria, que havia acabado de guardar o violino, cruzou os braços sobre o peito. 

— Isso é muito estranho. 

O rapaz deu de ombros. 

— Não é mais estranho do que tocar violino em um teatro escuro e vazio. 

Greengrass estreitou os olhos. 

— Está me chamando de estranha? 

— Não. Estou dizendo que o que você estava fazendo é estranho. 

— Eu estava ensaiando. — ela mentiu. 

— Não, não estava. —  ele afirmou com uma convicção irritante. 

— Estava sim!

— Não estava. 

— Está me chamando de mentirosa? 

— Sim. —  Draco quase sorriu. Quase. 

—  Bom, eu não estava mentindo. —  ela mentiu novamente —  De qualquer forma, não é essa a questão. 

—  E qual seria mesmo? —  havia um leve toque de deboche no tom dele. O que irritou ainda mais a moça.  Não gostava de deboche. 

— O que você está fazendo aqui, Malfoy? —  Astoria quase  perdeu a compostura e elevou o tom de voz. Quase.  

—  Ah, então a senhorita sabe quem eu sou! —  dessa vez ele sorriu. Era um sorriso amargo. Cruel.

— É claro que sei. Da mesma forma que sei que você sabe quem eu sou. 

—  Touché, Greengrass. 

Ainda que os Malfoys e os Greengrass não fossem exatamente próximos, todas as famílias de sangue-puro se conheciam. Além disso, Draco e Astoria haviam sido da mesma casa em Hogwarts – ambos eram serpentes sonserinas – e o rapaz era da mesma turma que a irmã da moça. Então, sim, eles se conheciam. Não sabiam muito um sobre o outro. Mas eram capazes de se reconhecer.

Draco suspirou e deu um passo para trás. 

—  Não precisa se preocupar, não tenho intenção de lhe fazer qualquer mal. 

Ao ouvir tais palavras, Astoria gargalhou. 

—  Me fazer mal? Você acha que estou com medo de você, Malfoy? —  a mulher indagou após recuperar o fôlego. —  Por favor, você não conseguiria me machucar nem se tentasse por mil anos. Além do mais, pelo que sei, sua família não é uma grande ameaça para bruxos de sangue-puro. 

O homem a olhou como se tivesse sido estapeado e Astoria não poderia negar que gostou daquele olhar, de saber que o havia afetado de alguma forma, o feito perder a pose de inabalável. Gostou da sensação de poder que isso lhe despertou. Ela sempre gostava de se sentir poderosa. Especialmente porque isso lhe parecia tão raro nos últimos tempos.

— Bom, não vou te incomodar mais. —  o rapaz afirmou após se recuperar do choque — A não ser que queira me seguir para garantir que não vou roubar nada ou assassinar algum nascido-trouxa no caminho, vou apenas deixar um castiçal do século XVIII na sala do senhor Fawley. 

Astoria deu de ombros. 

— Faça como quiser, Malfoy. Amanhã eu posso confirmar sua história com o senhor  Fawley. Se for uma mentira, não serei eu quem sofrerá as consequências. —  mas ela supunha que não era mentira. Não fazia sentido que fosse. Estava apenas irritada com o rapaz por tê-la interrompido. Mais do que isso, estava com raiva por ter sido flagrada por ele em um momento tão íntimo. Um momento em que estava tão entregue, tão vulnerável, tão nua. Draco Malfoy vira um lado que ela não mostrava para ninguém e Astoria não gostara disso. Não gostara nem um pouco.

—  Bom, você pode voltar a fingir que estava ensaiando. —  Draco disse, lhe dando as costas. 

—  Eu não estava fingindo. 

—  Claro que não. —  ele nem se deu ao trabalho de olhá-la. 

No entanto, quando já estava com um dos pés nos degraus que levariam aos escritórios do andar superior, o Malfoy parou e se voltou para a moça que ainda estava no palco. 

—  A propósito, sinto muito, Greengrass. 

—  Sente muito pelo o que? —  Astoria questionou confusa. 

—  Pelo que quer que a tenha feito se sentir tão triste a ponto de tocar aquela música. 

“Pelo o que quer que a tenha feito se sentir tão triste a ponto de tocar aquela música.”

As palavras ainda ecoavam pela cabeça de Astoria, enquanto ela se fitava no espelho da penteadeira e tirava os grampos dos cabelos. As mechas escuras iam caindo por seu rosto e por suas costas como seda negra. Estava tarde e ela se sentia exausta. Ainda assim, já se preparava para mais uma noite insone. Suas noites vinham sendo dessa forma há tantas semanas que esconder as olheiras com maquiagem se tornara um hábito instintivo. Algo que ela fazia pela manhã, como escovar os dentes ou se vestir. Porém, não se sentia triste. Pelo menos, não muito. Não mais do que o normal. Também não estava feliz, é claro. Na verdade, fazia algum tempo em que não se lembrava como era se sentir feliz. Talvez fizesse sentido, a morte da mãe ainda era relativamente recente. Bom, pelo menos, parecia recente para ela. Sendo assim, seria estranho, até mesmo errado, se se sentisse de outro modo. 

Além disso, não havia motivo remoer as palavras de Draco Malfoy. O que ele sabia sobre ela? O que ele sabia sobre qualquer coisa? Se fosse assim tão esperto não estaria tão arruinado. Todos conheciam o papel dos Malfoy no retorno do Lorde das Trevas e como o haviam apoiado durante a Segunda Guerra Bruxa. Sabiam também que a única coisa que os fizera escapar de passar o resto dos dias em Azkaban fora a ajuda que a matriarca da família dera a Harry Potter.  O veredito ainda gerava controvérsia. Tanto quem lutara ao lado da Ordem da Fênix quanto quem lutara ao lado dos Comensais da Morte concordava que era injusto que os Malfoy saíssem impunes. 

Astoria era provavelmente uma das únicas pessoas a  ter uma opinião neutra sobre o assunto. Sequer julgava ter direito a uma. Os Greengrass, afinal, não lutaram de lado algum. Assim que as coisas começaram a se complicar, o pai mandara as filhas e a esposa para a França e se fizera de desentendido. Não tomara nenhum partido e apenas esperou para ver qual seria o lado vencedor. Stephen Greengrass era um homem astuto e que sempre se colocava em primeiro lugar. Tinha tantos preconceitos com nascidos-trouxas quanto a maioria dos puro-sangue, contudo era esperto o suficiente para não demonstrar isso de forma pública. Se Voldemort houvesse vencido, se aliaria a ele sem hesitar. A derrota, entretanto, não o maculara de forma alguma. 

Sendo assim, enquanto o mundo explodia no Reino Unido e seus colegas de classe lutavam pela vida, Astoria estava bem e segura. Alheia a todo horror e preocupada apenas em comprar sapatos novos e tocar seu violino. Estúpida, egoísta e fútil. Era o que ela fora. Ainda assim, só se dera conta disso após retornar à Hogwarts e perceber como o mundo havia virado de cabeça para baixo. Todos ao seu redor haviam sido tocados pela guerra de alguma forma, mas não ela. Às vezes isso a fazia se sentir errada. Conivente. Culpada. 

A vida, de qualquer modo, não permitia que ninguém passasse ileso por ela e havia cobrado a dívida dos Greengrass há alguns meses, quando tomara a matriarca da família. Bom, talvez não houvesse sido exatamente assim, uma vez que a mãe escolhera – de forma bastante voluntária – a morte. De um jeito ou de outro, o que importava era que, como o resto do mundo bruxo, seus familiares haviam finalmente perdido e sangrado. Astoria Greengrass estava sofrendo. E talvez  estivesse mais triste do que gostaria de admitir. E talvez, no fim das contas,  Draco Malfoy estivesse certo sobre ela.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! ♥
Beijinhos,
Thaís



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