Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 89
Uma Pequena Surpresa


Notas iniciais do capítulo

Um capítulo pequenino, mas é a despedida deles da Finlândia e praticamente a despedida temporária dos dois, então quis escrever algo como uma mini Lua de Mel...
O Local que eu descrevi existe, assim como as cidades, no final do capítulo, deixei o link do site do hotel para os curiosos de plantão.
Boa leitura!



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E, com a chegada do ano de 2022, nossa viagem chegou ao fim. Logo no dia 1º, fizemos o caminho para Helsinque, onde me despedi de meus sogros, que já voltariam para Los Angeles, pois Sr. Pierce recomeçava a gravação da série ainda nesta semana, e de minha família, já que todos voltariam ao trabalho e aos estudos.

Eu me dei o luxo de ficar mais alguns dias na Finlândia, pois ainda tinha uma coisinha para mostrar para Alexander.

— Posso saber o que você está armando? – Ele me perguntou assim que notou que ninguém mais poderia nos ouvir.

— Duas coisas que te prometi. Uma cumpro nos próximos dias, a outra, mais no final da semana.

Ele me encarou, tentando se lembrar do que poderia ser.

— E vai ser hoje?

— Não. Hoje vamos ficar aqui em Helsinque. E saímos amanhã bem cedo, novamente em direção ao norte.

— Ao Norte. Vamos continuar a sentir frio?

— Pense nisso como uma aclimatação, afinal, você vai gravar na Hungria, Romênia, Sérvia e Polônia nas próximas semanas. – Garanti a ele e assim que demos adeus as nossas famílias, voltamos para o carro e eu levei meu noivo para conhecer o centro da capital do meu país.

À noite, fomos em um dos meus restaurantes favoritos, e que acabou surpreendendo Alex ainda mais.

— Vou te confessar uma coisa, Kat. – Ele começou, assim que chegamos em casa.

— Que é?

— Nunca esperava que um dia viesse à Finlândia, seja no verão ou muito menos no inverno, mas estou me surpreendendo com o país.

— Tem muito o que se fazer por aqui, Alex. Não é um lugar frequentado por pessoas famosas, talvez por conta do frio, ou da ideia errada que a grande maioria tem do país, mas te garanto, quem vem, sempre quer voltar. E é por isso que vou te levar nesse lugar amanhã.

— É uma viagem de um dia?

— Não. De quatro dias. Depois, pegamos o avião e vamos mais para o sul. Mas o destino final você só vai saber quando chegarmos lá.

E meu noivo ficou curioso com a minha fala. Muito curioso.

— E você não vai me dar nenhuma dica quanto a isso, vai? – Ele tentou barganhar uma resposta, vindo me dar um beijo.

— Não. Merecer você até merece, porém quero ver a sua reação quando chegarmos lá. – Garanti.

Claramente Alexander não tinha se contentado com a minha resposta, porém, fingiu que sim e passou a me perguntar sobre a casa.

— Essa também é sua?

— Sim.

— Aqui não é Helsinque?

— Não. Aqui é a Península Porkkala, estamos a 30 km de Helsinque. Estamos à beira do Mar Báltico aqui. – Levei-o até a parede dos fundos que era totalmente de vidro.

— Acho que reconheço esse estilo de arquitetura! – Alex brincou ao ver a parede.

— Para ter um pouco mais de luz natural dentro de casa. – Expliquei o que ele já sabia.

— Então você tem uma praia particular?

— Não é bem uma praia. Não se parece em nada com as praias de Los Angeles, pois temos mais pedras do que areia aqui. Mas tem o mesmo propósito no verão.

— Mas você não usa como uma praia. – Disse certeiro.

— Não. Como um porto. Lembra que te falei sobre lanchas e jet-skis?

Alex só balançou a cabeça confirmando.

— Geralmente partimos daqui.

— Então refúgio de inverno é em Jyväskylä e aqui de verão?

— Não necessariamente. Até porque em Jyväskylä tem a etapa do WRC[1], e, como somos apaixonados por automobilismos largamos o sul e voltamos para o centro do país só para ver carros voando pelo cascalho.

— Eu ainda tenho muito o que me acostumar e aprender com você, não tenho?

— Mais ou menos. Porém, creio que essa tradição não será mantida por muito mais tempo.

— E por que não?

— Porque, se a série que te prometeram sair do papel, creio que no final de julho você já terá começado as gravações. Assim, nada de WRC para nós.

— Você está confiante nessa série, não está?

— Até que venha o cancelamento definitivo, Alex, para mim, essa série sai do papel e você será o protagonista.

— E você não vai ficar chateada de não poder vir? Porque eu não quero privar os ávidos fãs do Mundial de Rally da sua fotógrafa Morcega Albina...

— Não, eu não vou ficar. Até porque tenho que ver como estarão os meus horários até o verão. Tem muita coisa para ser decidida nas próximas semanas, não posso fazer planos a longo prazo. Por isso, essa nossa escapada.

— E para onde vamos, mesmo? – Ele tentou mais uma vez.

— Você verá pela manhã. E aconselho ao senhor dorminhoco e friorento aqui a ir se deitar, porque vamos sair cedo! – Sai empurrando-o escada acima ao mesmo tempo que o beijava.

— Dorminhoco? Eu?! – Alex parou no meio da escada e me encarou.

— Mas é claro. Você veio para a Finlândia para ficar dormindo o dia inteiro!

— Eu só dormi até tarde uma vez! Quando você levou Kim, Vic, Will e Pepper para o aeroporto. Nos demais dias, Elena foi meu despertador.

— E em alguns um despertador muito doloroso, ouso dizer. – Brinquei com a cara dele.

— Não me lembre disso. – Ele pediu.

— Tadinho dele... ficou todo dodói. – Continuei com a brincadeira.

— Você ri porque não foi você.

— Um dia foi... sei que a nossa sobrinha tem uma mira e tanto. Não precisa se sentir privilegiado.

— Mesmo assim, eu ainda acho que doeu mais em mim do que em você. – Ele murmurava enquanto nos arrumávamos para dormir.

— Se for te deixar mais tranquilo. Sim, doeu mais em você. Agora, será que você pode trocar o disco, porque esse está arranhado. – Pedi ao entrar para o banho. Quando saí, Alex tinha trocado de assunto...

— E para onde vamos mesmo? – Perguntou ao entrar para o banho.

Desisti dele e da falação sem fim e me joguei na cama. Pena que meu momento de paz durou pouco, pois assim que ele se deitou do meu lado, recomeçou a falar.

— Alex... falta menos de dez horas para você ver onde é. Se você for um bom menino e me deixar dormir, te prometo que deixo você dirigir. – Dei um beijo nele e me virei para dormir.

— Mas como eu vou dirigir se não sei o caminho.

— Eu serei a sua copiloto. Basta confiar em mim.

—---------------------

Eu não precisei de despertador na manhã seguinte, pois meu próprio noivo fez questão de me acordar, já me perturbando, dizendo que quem era a dorminhoca era eu.

— Não vai se levantar hoje? – Alex me cutucou nos ombros mais uma vez.

— Estou indo.

— E por que ainda não foi?

Destampei a cabeça e encarei a criatura que estava sentada ao pé da cama.

— Você já está pronto?! – Soltei ao me sentar na cama.

— Sim.

— Por acaso você dormiu?

— Não muito, você falou o tempo inteiro.

— Mentiroso. – Acusei.

Alex deu de ombros e logo puxou a coberta de cima de mim.

— Anda logo, Kat. Não sei para onde vamos, mas sei que devemos sair agora.

— Você é pior do que a Elena! – Murmurei e me levantei.

Alex simplesmente disse:

— Vê se não demora, senão eu não serei o seu motorista!

Minha reação a tamanha cara de pau: mandei o travesseiro na cabeça dele.

— E pode arrumar a cama, se está com tanta pressa.

A careta que ele fez foi impagável, porém, mesmo a contragosto, ele arrumou a cama.

—---------------------

Uma hora e meia depois de ter sido praticamente jogada da cama, estávamos saindo.

— Estamos tarde! – Alex reclamou no meu ouvido.

— Não estamos não. Não se esqueça de que é inverno e que tem nevado muito nos últimos dias, assim temos que dar tempo para que as equipes de limpeza limpem as estradas. Ou você quer passar o dia escavando um buraco para liberar o carro que você atolou em um banco de neve?

— Você me convenceu com essa.

— Claro que sim! Sou daqui. Sei o que estou fazendo. Agora você vai me obedecer em cada uma das direções que vou te indicar. – Comentei assim que fechei o porta-malas e pulei para o banco do carona.

— E nós vamos para onde?

— Lapônia. E é só isso que você vai saber por enquanto. E pode relaxar, pois vamos dividir o volante, a viagem é longa e, por favor, tome cuidado, as estradas estão livres da neve, mas o gelo continua, não confie totalmente nos pneus especiais de neve que estão no carro.

Alex, por incrível que possa parecer, não reclamou enquanto eu ia indicando o caminho por dentro de Helsinque, nem quando pedi que ele levantasse o pé por conta do mal tempo. Foi um exímio motorista até quando trocamos as funções.

— Tudo bem, até aqui eu dirigi e você foi o GPS. Agora que você está acumulando as duas funções, eu vou fazer o que?

— Dormir... descansar, apreciar a paisagem.

Ele me olhou injuriado.

— Na Califórnia pode até ter neve. Mas não tem uma paisagem assim. – Contestei a sua expressão.

Ele ficou quieto por um tempo, o que foi estranho e eu até achei que ele tinha ido dormir, mas não, meu noivo só estava muito concentrado em algo.

— Pensando em? – Perguntei quando ele se mexeu pela terceira vez em menos de um minuto.

Alex ainda ficou um tempo calado, para então soltar:

— Você vai ficar bem, sozinha, em Los Angeles?

— Especifique este bem?

Ele deu de ombros.

— Se você está preocupado com o fato de que eu terei que dirigir para cima e para baixo em Los Angeles, saiba que eu vou me virar, posso me confundir com algumas saídas, mas vou chegar em casa sã e salva.

— E quanto ao fato de que você vai ficar sozinha em casa?

— Terei nossos cachorros. – Respondi simplesmente.

— Eles não bastam, Kat. Não depois de tudo.

Foi a minha vez de ficar em silêncio.

— Eu sei que não bastam. Porém, sei que, se tudo afundar de uma vez, tenho minha família a uma ligação de distância. E se isso for pouco, sua mãe que me perdoe, vou ter que correr para ela.

— Você vai mesmo pedir ajuda para ela? – Perguntou sério.

— Se você está temendo que eu tenha uma recaída e acabe como no início do ano passado, saiba que isso não vai acontecer. Foi o que eu te disse na última semana, Alexander, hoje eu realmente sei que tenho pessoas que se importam comigo ao meu lado, estando próximas fisicamente ou não. – Reduzi o carro para poder olhá-lo e então soltei: - Confie em mim. Eu não vou me afundar em trabalho e esquecer de viver.

Voltei a olhar para a estrada, contudo Alex continuava a me fitar.

— Só me prometa, Katerina, me prometa que se tudo desmoronar, você vai pedir ajuda.

— Eu vou sim. – Disse séria.

Voltamos a ficar em silêncio, não era pacífico, pois Alex ainda estava um tanto preocupado, e creio que ficaria assim até o dia em que voltasse para Los Angeles. Mas, com o passar dos quilômetros, ele decidiu por relaxar e aproveitar o passeio.

— A cada metro que passa eu sinto que vamos cruzar com o Papai Noel ou uma de suas renas. – Ele soltou do nada.

— É, estamos bem perto de Rovaniemi. Não duvide que isso possa acontecer.

— Então estamos chegando.

— Sim. Como o tempo deu uma melhorada, mais uns trinta, quarenta minutos. E vai ser interessante, pois a noite está bem clara e eu acho que já vamos chegar vendo o que eu queria.

— E você começa com os seus mistérios... – Disse.

— Não faça esse bico. Você vai gostar do lugar.

Alex levantou uma sobrancelha em sinal de descrença, ainda mais tendo a paisagem bem distinta da que ele está tão acostumado.

— Quer apostar comigo? – Estendi a mão na sua direção.

— Mas é claro. Se eu não gostar, você vai viajar comigo para algum lugar bem quente e com praias que têm muitas ondas boas.

— Tudo bem, anotado. E se você gostar? O que você terá que fazer para mim?

— Eu faço igual aos finlandeses raiz, e saio correndo só de toalha e mergulho em um buraco no gelo.

— Eles não usam toalha... – Comentei rindo.

— E eu não sou finlandês, então deve ter algum desconto.

— Só quero ver se você vai fazer isso mesmo.

Com pouco, vi a placa para a cidade que era o nosso destino: Saariselkä.

Alex tentou ler o nome, mas eu passei rápido demais.

— Vamos para aquela cidade, cujo nome tem mais vogais do que eu jamais imaginei ver em uma palavra?

— Mais ou menos. O hotel fica a 10 km do centro da cidade. E para constar, o nome da cidade é Saariselkä. - Falei bem devagar para que meu noivo pudesse ter uma noção de como se pronuncia cada sílaba.

— E nós vamos para onde? O meio do mato!?

— Sim. Apesar de que não tem mato por aqui nessa época do ano.

Alex me olhou descrente, creio que tendo a certeza de que ele não iria gostar do destino e já buscava, lá no fundo de sua mente, uma praia boa para surf e que fosse bem, mas bem quente. 

Cruzamos a cidade e peguei o caminho para o meio da floresta de coníferas até que vi a placa de nosso destino final: Wilderness Hotel Muotka & Igloos[2].

— É ali? – Alex apontou para o hotel.

— Sim.

Realmente, para quem visse de primeira, parecia um destino um tanto inusitado. Mas a beleza do lugar não era o hotel. Era o que ele oferecia em questão de beleza natural que atraía os turistas.

Para a minha sorte, o tempo estava ajudando e tinha certeza de que nós veríamos a Aurora Boreal já na nossa primeira noite aqui.

Estacionei o carro na porta e um muito desconfiado Alexander desceu, observando a paisagem ao redor, enquanto fechava a parca até o queixo e colocava as mãos no bolso.

— E o que nós vamos ver aqui?

— Mais a noite você verá.

Fiz o nosso check in e depois nos guiaram para nossa cabine e foi aqui que a expressão de Alex começou a mudar, de completamente desconfiado para completamente impressionado.

— Era esse lugar que você me disse que queria me trazer?

— Exatamente. Mas não é por conta dessa cabine. É por conta do show gratuito que o céu dá nas noites de Lua Nova. – Apontei o teto, onde, ao invés de madeira, tinham enormes janelas panorâmicas para poder observar o céu, sem sair do conforto da cama e do quentinho da cabana, ou como chamavam aqui, do iglu de vidro.

— Os finlandeses elevaram o conceito de observação do céu a outro nível. – Foi o que ele comentou ao observar o teto.

— Falei que você ia gostar. – Comentei. – Assim, você me deve mais uma aposta! Já são quantas? Quatro que eu venço e só uma que você me pagou? – Perguntei convencida.

— Você realmente vai me fazer sair correndo da sauna quente e mergulhar no lago congelado, só de toalha?

— Apostas são apostas, Alexander. Ninguém mandou você escolher isso, agora vai ter que cumprir!

Meu noivo fechou a expressão, porém logo desistiu de ficar emburrado para o meu lado e pegou o celular para poder ver o que o hotel nos ofereceria, além do vindouro show noturno.

— Podemos alugar snowmobiles aqui, além de passear de trenó de huskies!

— Nem pensar que eu faço esse último. Apesar de saber que huskies foram domesticados para isso, eu não tenho coragem de me sentar em um trenó e ser puxada por uma matilha! Acho abominável! – Comentei e depois de tirar todos os casacos, dei uma conferida na cabana.

Não era um local muito grande, mas quem se importava se era confortável, quente e tinha uma vista deslumbrante?

— Tudo bem, nada de trenó de huskies, então, o que vamos fazer lá fora?

— Que tal pensar nisso amanhã? Eu estou cansada, com fome e sem a menor vontade de encarar toda aquela neve lá fora. Que tal pedir um serviço de quarto e só aproveitar a noite, hein? Já que estes são os nossos últimos momentos juntos por um tempo...

Alex entendeu a minha ideia e nós dois depois de comermos, nos deitamos na cama, virados para o céu, vendo o espetáculo de luzes que estava apenas começando.

— Você sabia que seria possível ver a Aurora?

— Tive um pressentimento. Noites de Lua Nova são mais propensas a terem as luzes... e, quem sabe.... aquilo ali. – Apontei para o céu e, como estávamos com a luz da cabana pagada, dava para ver um bom pedaço da Via Láctea.

Live action do seu quadro. – Ele murmurou no meu ouvido.

— Muito melhor, não acha? – Me virei para ele e lhe roubei um beijo.

— Acho a companhia muito melhor... – Ele sussurrou sorrindo.

Nossa Lua de Mel muito antecipada não durou muito, mas aproveitamos alguns programas diurnos, como um ski cross-country, que deixou Alex todo dolorido e congelado, e, em uma noite resolvemos ir à caça da Aurora Boreal de snowmobile. Foram duas horas e meia no meio da noite gelada, só para ver e fotografar as luzes no céu. E todo o frio que passamos, valeu à pena, porque essa era a verdadeira Autora Boreal, com todas as suas cores e nuances. Tanto que as fotos que tiramos ficaram perfeitas, apesar de que os modelos estarem até com os cílios congelados.

Alex, ao ver o resultado no visor da câmera, já no conforto do nosso iglu, apenas comentou:

— Podem falar que somos doidos por termos feito isso, mas valeu a viagem. Mais uma foto que temos que revelar para deixar na nossa casa. – Ele se referia à uma foto tirada pelo guia do hotel, que pegava, não somente a Aurora, mas nós dois abraçados observando a dança das luzes.

No nosso último dia, Alex cumpriu a aposta. Ficamos quase uma hora (o que eu não recomendo e não é nada saudável) assando na sauna, não era para ser tanto, mas ele estava tomando coragem para o passo dois.

— Você não vai fazer isso. – Desafiei-o, quando mais uma vez, ele chegou na porta da sauna e voltou.

— Quem começou com essa tradição esquisita? – Quis saber e revolta emanava de cada uma das suas palavras, como se eu o estivesse obrigando a cumprir a aposta que ele mesmo tinha escolhido.

— Nunca questionei. Cresci sabendo disso.

Pela janelinha de vidro da porta, Alex olhou meio desolado para o lago congelado, onde havia alguns buracos perto da margem e, mesmo estando em um calor de quase 100ºC dentro da sala, ele estremeceu.

— Eu sabia que você iria desistir. – Falei perto de seu ouvido e ele deu um pulo.

E foi aqui que ele se decidiu de vez, de supetão abriu a porta, correu descalço pelo caminho de pedras congeladas e com um pouco de neve e, na beirada do pequeno píer, jogou a toalha para trás e mergulhou no lago congelado, como um típico finlandês faria.

Eu me enrolei em um roupão, peguei outro para ele, e corri para fora, atrás do meu noivo maluco.

— Pronto, Kat. Eu cumpri a aposta! – Ele disse assim que colocou a cabeça para fora do lago. – E ainda fiz mais. Deixei a toalha aí no píer!

— E agora saia daí e se vista! Seu corpo já deve ter voltado à temperatura normal! – Pedi e estendi o roupão para ele.

E o que ele fez? Alex simplesmente chegou na beirada do píer e puxou meu pé, me desequilibrei e caí dentro do lago, ao seu lado!

— Pronto! Agora nós dois estamos nos refrescando depois de quase morrermos assados dentro daquele lugar.

— Ficamos muito tempo, porque você não se decidia. Até parece que estava com medo de mergulhar nesse lago.

— Você não entendeu a minha técnica, Kat. Eu estava bolando um plano, onde você também fosse parar dentro desse lago!

— Muito bom saber disso! Porque vai ter paga! Eu não gosto de mergulhar em lagos congelados! – Falei e nadei até a escada. - Agora eu vou ter que encarar a baixa temperatura com esse roupão encharcado... – Desisti de terminar a frase, e, em um movimento rápido, troquei o roupão molhado pelo sequinho que tinha trazido para Alex.

— E eu?! – Ele reclamou.

— Volta descalço e só com a toalha. Não foi assim que você veio?

E, em um piscar de olhos, estávamos correndo de volta para a antessala da sauna, para tomarmos um banho de verdade e voltarmos para a nossa cabana.

— Eu te falei que estava quase virando um finlandês! – Alex falava na minha cabeça enquanto percorríamos o caminho nevado até nosso iglu, depois de já estarmos devidamente vestidos. – Você pode não confirmar, mas esse pulo dentro dessa água, foi o meu batismo. Sou um finlandês de verdade agora!

Suomalainen, joka ei puhu suomea![3]

— O que você falou?!

— Nada de importante. Anda, entra que eu não quero congelar aqui. Hoje está mais frio do que o normal.

Passamos nossa última noite deitados na cama, esperando para ver se o céu nos contemplaria com um outro espetáculo. Coisa rara, mas tivemos sorte, nas quatro noites que passamos no hotel, vimos as luzes por três vezes.

Como tudo o que é bom acaba rápido, tivemos que nos contentar com o fim da viagem ao paraíso gelado e fazer as malas para voltarmos para Helsinque.

— E agora, vamos para onde. Você disse que íamos para o sul. Que sul? – Alex começou o interrogatório assim que assumiu o volante. Ele preferiu dirigir no começo para não ter que ficar tentando adivinhar o que estava escrito nas placas quando chegássemos à Capital.

— O Sul do continente Europeu, Alex. Daqui vamos em casa, pegamos todas as nossas malas e partimos para o aeroporto. Nós vamos para a Itália.

Ele arregalou os olhos e por poucos instantes me fitou, provavelmente rezando para que eu estivesse blefando.

Só que eu não estava.

— Mas a Itália não é onde...

— De todo o meu ciclo de familiares e amigos, só falta uma pessoa para que você conheça pessoalmente. Nonna Agnelli. E é para Maranello que estou te lavando agora.

— Maranello. – Ele engoliu em seco ao dizer o nome da cidade. – Pelo menos vai ter comida boa.

 

[1] Sigla de World Rally Championship, ou Campeonato Mundial de Rally.

[2] Para quem tiver curiosidade sobre o hotel, aqui está a página oficial: https://nellim.fi/muotka/

[3] Um finlandês que não fala finlandês!


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Notas finais do capítulo

E isso é tudo, pessoal!
Cortei a parte da Itália ou o capítulo teria quase dez mil palavras, e acho que ninguém iria querer ler tudo isso... assim, sábado que vem, preparem as malas que vamos dar um pulinnho da Itália..
Muito obrigada a quem leu até aqui e a quem está acompanhando a história.
Até o próximo capítulo!
xoxo



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