Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 61
O Encontro


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo para vocês. Uma última parada em um ponto turístico de Los Angeles e depois todos estão convidados para ir para Austin, TX.
Por favor, afivelem os cintos que o voo para essa primeira parte d'O Encontro começa agora!
Boa leitura!



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Nós nem precisamos de despertador, Olívia acordou tão agitada que acabou por influenciar os cachorros, que logo começaram a correr e a latir pela casa o que, é lógico, nos assustou, afinal, o trio peludo não é fazer barulho.

Quando chegamos no alto da escada, Liv, muito sem graça, nos olhou e só disse.

— Me desculpem! Eu não consegui dormir direito e, bem, estou nervosa, e parece que eles sentiram isso. – Apontou para Thor e Stark que estavam pulando ao lado dela.

Enquanto Alex voltava para o quarto para vestir uma camisa, eu aproveitei para descer e começar a fazer o café. Minha sobrinha, que realmente estava uma pilha de nervos, estava ora andando, ora pulando atrás de mim.

— Posso saber o motivo de tanto nervosismo? Quem vai apresentar o namorado para o pai sou eu, não você!

— Pois é, eu sei disso. Mas eu estou genuinamente preocupada se o vovô vai ou não gostar do tio...

— Deixe que eu me preocupo com isso. – Comentei e coloquei um chá de camomila na frente dela. – Beba e depois suba para se arrumar.

— Achei que íamos tomar café na Dottie.

— E vamos, mas você, nesse estado de nervo todo, vai é me dar trabalho. Anda, tente se acalmar, por favor. – Pedi.

— Nem a senhora, nem o tio ficaram com raiva por conta dos latidos, ficaram?

— Não, Liv. Não ficamos.

— Promete?

— Sim, Pequena.

E ela tomou o chá devagar, subindo a escada contando passos, enquanto eu tentava não surtar internamente, afinal, o que ela disse era verdade.

Meu pai e meu noivo iriam ficar frente a frente hoje.

Agora quem precisava de um chá calmante era eu!

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— Tudo bem por aí? – Alex chamou a minha atenção.

— Uhm... sim! Tudo bem.

— Não parece.

Fiz uma careta. E fingi olhar a paisagem. Estávamos no meio do caminho até o ponto onde o ficava o Letreiro de Hollywood. Liv estava alguns passos na frente e era quase que rebocada por Stark. Thor estava com Alex e não parecia muito feliz por ter sido tirado de casa para fazer exercícios tão cedo e, como sempre, Loki estava andando do meu lado, sem a guia, afinal, não tinha mais ninguém nessa trilha. Nós tínhamos trazido os três para caminhar e depois deixaríamos o trio no hotelzinho da Clínica onde Emilly trabalha, para os próximos dias.

— Eu sei que Los Angeles é uma cidade bonita e que tem uma paisagem de tirar o fôlego, mas você não está com cara de deslumbrada. O que está dentro dessa sua cabeça?

— Muita coisa. – Respondi e procurei por Olivia.

— Liv está ali. – Alex respondeu ao meu olhar. – E, por favor, defina “muita coisa”.

— Ansiedade. Nervosismo. Medo. Empolgação. Pavor. – Tentei expressar o que eu sentia.

— Sobre?

— Daqui a algumas horas. Quando finalmente todos se conhecerem. Eu te disse, não sei o que esperar e isso está me deixando agoniada.

Alex ponderou a questão por um tempo, um longo tempo, e depois me perguntou:

— Sabe o que é estranho nisso tudo?

— Não faço ideia.

— Eu não te vi tão nervosa assim quando você conheceu a minha família, e nem os meus amigos.

— Eu estava apavorada. – Confessei. – Mas talvez, o fato de que você me pegou me surpresa, me falando somente com algumas horas de antecedência tenha contribuído para eu não ter surtado integralmente. Eu fiquei algumas horas anestesiada, absorvendo o fato de que eu iria conhecer os seus pais, a sua família, no dia do aniversário da sua mãe. E eu nem fazia ideia de quem eles eram, porque nós não tínhamos conversado sobre eles!

— Nós não tínhamos conversado sobre nada! – Alex me corrigiu.

— Exatamente.

— E você nunca me contou como acertou no presente. – Ele jogou verde.

— Golpe de sorte. Muita sorte. Uma foto no Google e uma empresa tentando ser a nossa cliente. Misture tudo e você tem o resultado.

— O presente da minha mãe saiu dessa combinação aí?

— Ah, sim. Eu arrisquei com ele. Comprei de um antiquário em San Francisco. Eles prometiam entregar em até quatro horas se o pagamento fosse até o meio-dia e em localidades até 800 km de distância.

Alex deu uma gargalhada.

— Você não fez isso?!

— Fiz, e a prova está em cima da mesa de jantar da sua mãe.

— Então era o mesmo jarro!

— Isso eu não sei. Mas sei que a empresa salvou a minha vida.

— Eles conseguiram o contrato?

— Mas é claro! São meus clientes pessoais. Tenho uma dívida com eles, apesar de que não fazem ideia sobre isso. Porém, esse não é o assunto.

— É claro que é, Kat! Quem deveria estar nervoso sou eu, não você! Você já passou pelo momento “vamos ser apresentada à família”. Eu não. Então, creio que invertemos os papeis.

— Não é assim tão simples. – Contradisse.

— E por que não?

— Porque você é o primeiro desde a confusão do casamento. E tudo ainda é muito recente. Você não viu os meus irmãos, meu pai, na semana seguinte à cena. O meu receio não é eles não gostarem de você. Isso já ficou bem claro para mim que eles não vão se opor a você, porque eu já soltei para o meu pai que eu te amo.

— E o que te apavora se não é o seu pai?

— É o que eles vão dizer a você. - Disse por fim.

— Eles podem me ameaçar o quanto quiserem, Kat. Eu não vou te deixar.

— Obrigada por isso. De verdade. – Apertei a mão livre dele na minha.

— Mas não é isso, é?

— Não. Tem mais.

— Que é?

— Eles vão te contar como eu fiquei depois da cena. E eu não quero que você tenha nem uma imagem mental de como eu reagi. De como eu fiquei.

Alex levantou uma sobrancelha.

— Eu não vou te contar. Minhas amigas não te contarão. Elas me prometeram isso. Minha mãe não vai tocar no assunto. Mas meu pai deve falar alguma coisa, pois ele ficou bem assustado comigo.

Alex olhou para todas as direções menos para mim e eu busquei por Olivia, que cansada de ser rebocada por um pitbull cheio de energia, tinha diminuído o passo e agora tentava controlar a empolgação de Stark.

— Se eu te perguntar algo, você me responde com sinceridade? – Alex questionou sem me olhar.

— Sim.

— Você amava o Dempsey?

— Eu amava a ideia de que eu tinha dele. Dempsey foi treinado para gostar de tudo o que eu gostava e é impossível de não gostar de alguém assim. Tudo o que eu fazia, tudo o que queria, ele queria também e, para a Katerina inocente, o casamento seria uma eterna lua de mel, o “felizes para sempre”. E eu só cheguei a essa conclusão quando descobri tudo, quando eu realmente pensei em como a minha vida teria sido. E não seria um conto de fadas, seria um inferno, porque cedo ou tarde, a máscara dele iria cair. E eu teria duas opções, ou ficava ao lado dele e infeliz, mas mantinha a empresa e o nome da minha família, ou me divorciava e aguentava as consequências.

— E mesmo assim...

— Alex, eu nem sei te explicar o que eu senti, como foi para mim, quando tudo aconteceu. Não sei pôr em palavras a vergonha, o desespero, o fato de que eu pensava que tinha feito algo de errado para aquilo estar acontecendo. Eu simplesmente não entendia o porquê de Lucca ter feito o que fez. Foi humilhação demais. Minha família ficou do meu lado, minhas amigas ficaram do meu lado, contudo, eu nunca tive direito a uma explicação. A única vez que eu efetivamente fiquei cara-a-cara com Dempsey depois da cena da igreja, foi no parque onde ele chutou o Lokinho. E você sabe o que ele disse. Para mim, como mulher, não existia humilhação maior do que ser trocada por outra, no dia do casamento.

Já estávamos quase no letreiro, Olivia que já tinha visto o último “O”, saiu correndo, alheia à conversa que tínhamos.

— Eu nunca vou entender.

— Você pode ter uma ideia, afinal foi trocado também. São duas situações diferentes, mas no mesmo contexto. Não éramos amados, éramos escadas. Eles se cansaram de nós e resolveram nos deixar. Eu fui humilhada porque, na época, era a queridinha, aquela que todos viam como a futura CEO; já você, porque queriam se promover em cima da sua imagem, uma imagem falsa e fabricada. No fim, passamos pela mesma coisa, só porque fomos cegos para não percebermos o que acontecia à nossa volta. – Disse por fim.

— Uma última pergunta e eu encerro o assunto.

— Esse assunto ainda vai render entre nós, Alex. Pode apostar. Mas diga a pergunta.

— Eu me afastei de tudo, tentei me enterrar em um trabalho onde sabia que Suzanna jamais daria as caras. Como você conseguiu superar e ainda trabalhar no mesmo prédio que ele?

— Minhas amigas fofoqueiras e falantes. Todas três, Vic passou mais de um mês me Londres do meu lado, ou tão perto quanto eu permitia, Mel sempre que não tinha corrida, inventava alguma coisa maluca, Pietra é a melhor pessoa para se procurar quando quer levantar a autoestima. Lembra da foto do bungee jump na Suíça?

— Claro.

— Aquilo foi a tentativa das três e de meus irmãos de me tirarem de Londres. Foi ali que eu comecei a melhorar. E só fui capaz de chegar ao ponto de poder ver o meu ex sem me culpar quando me fiz uma pergunta bem específica. Eu me perguntei se eu realmente amava Lucca.

— Mas você deve...

— Eu não o amava. Nunca disse isso para ele. Ou para o meu outro namorado. Você foi o primeiro que ouviu da minha boca essas três palavras, ou duas, dependendo do idioma. Quando eu percebi isso, olhar para ele não me doía mais. Porém, me dava uma vontade imensa de socá-lo. – Dei de ombros.

E, mais uma vez, Alex ficou calado, já tínhamos chegado ao letreiro, Olivia, sabendo que não tinha nenhum guarda por perto, conseguiu subir na letra “O” e queria que eu tirasse uma foto dela ali, com Alex em um estado de semi-presença, fiz o que ela me pediu e, depois de poucos minutos, até os três cachorros já estavam ao lado dela.

Com pouco Alex voltou ao seu estado de espírito natural e cismou de me colocar em uma das letras. Acabei no “H” e virei a modelo de meu noivo, que me fez fazer as poses mais ridículas possíveis. E como tudo na vida tem um porém, só digo que subir na letra foi fácil, difícil foi descer, porque minha escada humana, também conhecida como “noivo”, achou que eu era muito levinha e não estava muito firme no terreno, e quase que nós dois pegamos a rota mais rápida até o pé da montanha – rolando barranco abaixo.

— Você está bem? – Perguntei quando consegui segurá-lo depois de me prender em uma árvore.

— Já tive quedas piores. – Ele garantiu.

Um pouco mais acima, Liv se desesperava.

— Por favor, me digam que nenhum dos dois quebrou nada.

— Estamos inteiros, Liv.

— Que alívio! O que eu faço para ajudar?

— Só fique aí. – Alex pediu. – A subida não é tão complicada assim. – Disse se levantando e depois me ajudando.

— Não é? – Olhei para o barranco.

— Não. Dá para subir. E... – Ele me lançou um sorriso de lado que me indicou que vinha problemas aí.

— Nem comece. – Avisei.

— Eu poderia dizer que o último que chegar lá em cima, paga o nosso café atrasado, ou nosso almoço muito adiantado na Dottie.

— Mas...

— Mas como eu sou o único que você ama de verdade, mesmo se você perder, eu pago tudo. – Me deu um beijo e saiu correndo.

— Ei! Espere! – Saí correndo atrás dele. – Não é porque eu te amo que eu vou deixar você ganhar de mim! – Gritei. – Pode voltar aqui!!

Liv, que tinha escutado a minha declaração, deu uma risada e Alex, bem, ele saiu como um gato, pulando e se equilibrando nas pedras e raízes até que em um piscar de olhos, estava ao lado da sobrinha.

— Uma mãozinha seria bem-vinda. Eu sei escalar árvores, mas não sou uma alpinista! – Reclamei quando não consegui sair de um certo ponto.

— Tem uma árvore ali. – Alex apontou.

— Sério?!

E ele, com uma agilidade ímpar, pulou até onde eu estava.

— E vai fazer o que? Quer que eu me agarre nas suas costas igual ao um filhote de macaco, enquanto você escala essa parede de pedra?

— Não seria uma má ideia, mas não. – Ele se agachou do meu lado e só disse assim: - Anda, sobe. Vou ser a sua escada.

— Seu ombro ainda não está 100% bom, e eu sou pesada.

— Vai dar certo, Kat. Vai logo.

Fiquei de pé dos ombros dele e logo consegui chegar até a trilha onde Liv nos esperava. Eu ainda estava tentando me colocar de pé, quando o exibido, com dois pulos, apareceu todo metido do meu lado.

— Completamente desnecessária toda essa exibição gratuita de parkour do meu lado. – Murmurei.

— Eu sei que você gostou, só não vai falar isso em voz alta. – Me estendeu a mão para me ajudar a me levantar.

— Você está se achando muito hoje. – Comentei.

— O que eu posso fazer, fiquei sabendo de coisas bem interessantes. – Ele sorriu de lado.

— Que arrependimento de ter sido a sincera. – Balancei a minha cabeça.

Ele só me abraçou, apesar de que ambos estávamos cobertos de poeira, e só me respondeu assim:

— Para que você também fique se achando, você é a primeira para quem eu disse “eu te amo”. E olha que eu já falei isso para você em norueguês, finlandês e romeno!

Ele pode ter ficado todo cheio de si com a minha revelação, porém, eu, eu só soube ficar sem graça. E, claro, que ele riu da minha reação.

— E eu jamais vou me cansar de ver a sua reação quando eu falo coisas assim. – Disse em meu ouvido e me deu um beijo.

A volta foi muito mais tranquila, dessa vez Liv entregou Stark para Alex e foi com Thor, o que não mudou em nada a forma como ela foi arrastada morro abaixo, enquanto eu e Alex íamos um pouco mais devagar, de mãos dadas, sem falar absolutamente nada.

Já perto do carro, Olivia teve que soltar.

— Dá próxima vez eu vou levar o Loki.

Meu cachorro só deu uma rosnada, claramente discordando do assunto.

— E não reclame, Ruivo! Só você não vai tentar arrancar o meu braço.

— Arrancar seu braço ele não vai não. – Alex começou. – Mas te jogar em um buraco, é bem capaz.

— Ele não faria isso. Lokinho é muito tranquilo, não é? – Ela deu um tapinha na cabeça dele.

Loki olhou para Liv depois para mim e se escondeu atrás das minhas pernas.

— Acho que ele não vai com mais ninguém a não ser a Kat. – Alex comentou rindo.

— Cachorro traíra. – Liv murmurou e se jogou no banco de trás. – Agora a gente vai comer, né? Porque eu estou morta de fome!

— Grande novidade o Pocinho Sem Fundo estar com fome. – Comentei.

— Kat, você não é parâmetro para muita coisa, a sua barriga, só de falar em comida, já começa a roncar. – Alex falou se sentando do meu lado.

— É mesmo? Vai ficar do lado dela? – Questionei.

E no segundo de silêncio que se fez entre a minha pergunta e a resposta de Alex, a barriga dele deu aquela roncada.

— Depois é a minha que ronca. Sei. Estou vendo... ou melhor, ouvindo, a verdade. – Comentei sarcasticamente.

Alex ficou calado, já Liv, deu uma sonora gargalhada no banco de trás.

— Vocês dois juntos são divertidos demais! – Nos disse.

— Desculpe-me? – Olhei para ela.

— As conversas de vocês... são as melhores.

Deixei Liv rindo de nossa cara para lá e fui ver quem me mandava mensagem. O que, sem novidade alguma, atraiu a atenção dos dois outros ocupantes do carro.

— Trabalho? – Alex quis saber.

— Não. Só Ian me avisando que todos já chegaram em Austin.

E eu não estava na metade da resposta para meu irmão, quando recebi outra mensagem.

Diz pro Surfista Tatuado que o pior pesadelo dele já aterrissou na Terra do Tio Sam. E não é o sogro dele.— Pietra tinha me mandado.

Eu não vou falar nada. Nem sei se vou te apresentar para ele. Você não anda merecendo isso!

Qual é, Kate. Sou sua melhor amiga!

Você estava usando a minha sobrinha para obter informações.— Respondi.

Você parou de mandar sinais de fumaça, eu precisava saber se você estava bem.

Correção, você precisava saber das fofocas.

Isso também. Até porque você não compartilhou muita coisa do Tatuado com suas amigas.

Não tenho o que compartilhar.

Essa parte do seu ciúme excessivo eu já entendi. Mas você poderia, pelo menos, ter avisado como ele é com pessoas que você conhece.

Como eu vou saber, Louca, se ele só conheceu a Liv! O restante da minha família está a meio mundo de distância!!

Tinha esquecido disso.

Como sempre esquece a parte mais importante.

Mudando de assunto, porque falar do fato de que eu sou um tanto alienada é notícia velha, que horas vocês chegam?

Voo marcado para 12:30. São 3 horas de voo, se sairmos no horário do LAX. E tem o fuso... que eu acho que vocês estão duas horas na frente...

Então te vejo às 17:00, por aí. Mesmo hotel que eu vou ficar?

Se você não mudar, sim.

E o jantar?

Você não foi convidada!

Mas eu vou aparecer lá, e não fique bravinha, você já sabia disso. Agora eu me vou, porque minha mala foi liberada. E seja bem-vinda ao mundo dos voos comerciais.

Sem graça você...— Respondi.

Até daqui a pouco, amiga. Esse final de semana vai ser interessantíssimo!

— Quem era? – Liv quis saber.

— Pietra. E hoje, mais do que nunca, estou te apoiando a chamá-la de tia no meio do lobby do hotel.

— Ela vai morrer do coração, vai ser divertido demais.

— Ela está merecendo isso! – Comentei.

Com pouco chegamos na clínica onde Emilly trabalha, ela já estava por lá e foi nos receber.

— Eu prometo que vou ficar de olho nos três. – Disse já sentada no chão, acariciando Stark que tinha pulado no colo dela. – E que qualquer coisa eu vou ligar para vocês.

— Nós não dissemos nada.

— Mas é o que todo pai e mão de pet fala! E você, Liv, pode fazer o favor de voltar mais vezes, você vai ser a próxima da família a aprender a surfar.

— Eu volto nas férias de primavera. Ou assim espero!

— Ótimo! Assim o mar já vai estar mais quentinho. E pode ficar tranquila, vamos gravar a sua tia tomando aquele caldo para a sua alegria e a alegria de todos.

Revirei os olhos.

— Isso é o mais importante! – Liv garantiu. – A família inteira está sedenta por esse momento. E mande um abraço para a turma inteira, e diz que eu adorei conhecê-los! – Ela se despediu com um abraço da veterinária.

Depois disso, me despedi dos meus cachorros e de Emilly e fomos para a última parada da manhã, Dottie.

Assim que entramos no restaurante, a mulher nos deu aquela olhada.

— Onde vocês foram? E por que vocês dois estão sujos assim?

— Nós subimos até o Letreiro de Hollywood, Dottie. – Liv começou a explicar. – Eu, como você pode, sou uma exímia montanhista. Já os dois aí, deram o vexame de levar um senhor tombo.

— Vocês estão bem? – Ela nos perguntou.

— Não quebramos nada. – Alex respondeu por nós.

— Bom. Então o mesmo para os dois e para você, Olivia?

— Chocolate e frutas vermelhas, por favor. O dobro de chocolate, se possível.

Nós comemos em silêncio e logo Liv estava se despedindo de Dottie.

— Mas você tem que voltar em Los Angeles mais vezes. – Foi o que a mulher disse.

— E eu vou! E minha primeira parada vai ser aqui. – Liv garantiu.

— Assim espero. E da próxima vez, traga a família inteira.

— Você não vai querer isso, Dottie, eu te garanto. – Falei em tom de alerta.

— Quero as duas famílias aqui dentro, falando e contando casos. E eu sei que isso vai acontecer. Agora vão... ou vão perder o avião. Olivia, quero ver as fotos depois, me manda pelo Instagram.

— Pode deixar Dottie!

Em casa foi até tranquilo, até porque tudo estava pronto. Deixamos um bilhete para Carmen para que ela soubesse o que teria que fazer amanhã pela manhã, colocamos tudo no porta-malas do Jeep e antes que Olivia dissesse que tinha esquecido algo, dei uma conferida no quarto dela, a procura de qualquer objeto deixado para trás, como sempre tinha, o carregador do celular e da GoPro.

— Só não esquece a cabeça, porque está colada no corpo, hein? – Entreguei para ela os dois cabos.

Ela, toda sem graça, só me deu um sorrisinho.

A meio caminho do aeroporto minha sogra ligou para Alex.

— Bom dia, mãe. Como a senhora está?

— Vocês estão atrasados! – Dona Amélia disse de uma vez só e nós três conferimos os relógios, faltava uma hora e meia para o embarque.

— Não, mãe, tudo está no horário. – Alex garantiu.

— Nós já estamos aqui. Vocês já estão chegando?

— Sim. Mais uns vinte minutos e estaremos na fila do check in.

— Vocês estão arriscando, sabem que o trânsito não perdoa. Mas vejo vocês na sala de embarque, me liguem para nos encontrarmos aqui.

— Sim, senhora.

E minha sogra desligou.

— Você pode estar nervosa, Kat. Mas ansiosa como a minha mãe, duvido.

— Não falo nada.

Com um trânsito até bem tranquilo, chegamos no aeroporto rapidamente. Estacionamos o carro e no caminho até o balcão da companhia aérea, fomos discutindo como faríamos com as malas de Olivia.

— Acho melhor despachar uma no seu nome e a outra no meu. E as nossas podemos levar no bagageiro de cima. São pequenas mesmo. – Falei com Alex e ele só encarou a mala toda colorida.

— Ou eu pago excesso de bagagem... – Murmurei diante do seu olhar.

Ele arrastou as duas malas com ele até um totem, onde passou várias e várias camadas de plástico em volta das malas, tampando as estampas de menina, transformando as duas bagagens em malas pretas e sem graça, para o desespero de Liv.

— Agora podemos despachar essas malas! – Anunciou assim que voltou.

— Bem, enquanto você fazia essa transformação radical nas malas de Olivia, eu já fiz o nosso check in. Boa sorte na fila. – Apontei para o local.

— Nada disso, senhorita Nieminen. Uma é minha, a outra é sua. Liv vem junto porque menor não pode ficar desacompanhado dentro de aeroportos. – Alex disse e saímos os três para a fila.

— Isso tá imenso! – Liv reclamou.

— Aprenda a andar de avião comercial. – Ele respondeu para a sobrinha.

Täti?!

— Nem olhe para mim, tem anos que eu não uso linha comercial. Tinha me esquecido de como isso é demorado e burocrático. – Comentei.

Olhamos no relógio só para ter a garantia de que não perderíamos o voo. E, como que por milagre, abriram mais um guichê para despacharem as malas. Assim, com meia hora para a decolagem, entramos na sala de embarque, depois de passarmos pela revista na entrada.

— Agora, onde estão todos? – Perguntei.

— Will e Pepper mandaram mensagem uma hora atrás dizendo que já estavam aqui. – Alex comentou.

— Vamos para o portão, porque estamos bem em cima da hora. – Falei e sai puxando a minha mala e minha sobrinha pelo saguão.

— Mas täti... eu só queria olhar o preço...

— Nem quero saber do que era. Anda que estamos com o tempo contado!

E o nosso portão era o último dessa ala do aeroporto, e nem precisamos chegar muito perto das cadeiras, pois logo anunciaram o início do embarque.

Já na fila, avistamos meus sogros. Só pudemos acenar de longe e pela cara que Dona Amelia fez, eu sabia o que ela iria dizer assim que nos sentássemos ao seu lado no avião, afinal, tudo o que ela fez foi apontar para o relógio em seu pulso.

Will e Pepper passaram perto de nós, a caminho do final da fila e tiveram que soltar uma piada.

— Quase que não chegam, hein? Se perderam em alguma rotatória ou foi aqui dentro mesmo? – Meu cunhado brincou.

— Não estamos atrasados, Will, isso aqui se chama pontualidade britânica! – Alex fez piada.

— Se você fosse britânico. E não se esqueça, seus pais embarcam primeiro. – Ele apontou para os pais.

— E nós na sua frente.

— Claro, tem uma criança com vocês. – Will retrucou.

Essa fila, ao contrário da fila para despacho de bagagens, andou rápido e logo estávamos nos ajeitando nas poltronas.

— Boa tarde! – Meus sogros fizeram questão de se levantaram e nos cumprimentarem.

— Boa tarde! – Falei ao abraçar cada um.

— Dessa vez foi por pouco. Eu disse que vocês estavam atrasados. – Dona Amelia ralhou com o filho.

— Boa tarde para a senhora também, mãe. E não chegamos atrasados. O que nos atrasou foi o despacho de bagagem. – Alex explicou.

— E por que vocês despacharam bagagem? – Meu sogro quis saber.

Nós dois só olhamos para Liv.

— É que as minhas malas só são um pouquinho grandes.

— Sei. Um pouquinho, né Liv? – Ele riu e Liv deu de ombros.

Logo Will e Pepper se juntaram a nós. Ainda rindo do nosso quase atraso.

— O que nós iríamos fazer no Texas se essas duas não conseguissem embarcar? – Ele perguntou.

— Estamos aqui, Will. Todos vamos para o Texas. O que me leva a uma pergunta. – Minha sogra me olhou. – Sua família já chegou, querida?

— Sim. Hoje de manhã. A essa altura devem estar tentando conter a empolgação de Elena.

— Claro... tem quanto tempo que ela não te vê?

— Seis semanas.

— Isso para uma criança é quase um século. Vai ser bonitinho ver a reação dela ao te ver.

— Isso se ela não correr para Alex primeiro. – Comentei.

— Então o ladrão de onda aí vai conseguir todos os sobrinhos? E eu? – Will fez piada.

— Só espere. Elena precisa de todos os adultos para tomar conta dela e ela chama todos de tio ou tia.

Foi a vez de Pepper fazer uma cara engraçada.

— O que foi, Rebecca? – Alex usou o nome de batismo dela de propósito. – Com medo de se sentir velha ao ser chamada de tia?

— Creio que tenho três horas de voo para me acostumar com essa ideia, não?

— Se quiser um tratamento de choque... – Alex cutucou Olivia que muito descaradamente soltou:

— Não se preocupa, täti, não dói tanto assim.

— Não me digam que isso é...

— Tia em finlandês. – Eu confirmei. – Bem-vinda ao clube!

Pepper se encolheu no abraço de Will que ria da cara dela.

As portas foram fechadas e o procedimento de decolagem iniciado, então tivemos que ficar quietos até que estivéssemos em altitude de cruzeiro. E bastou que o sinal para que os cintos pudessem ser abertos, que Will voltou a falar, se sentando no braço da poltrona, já que estava na nossa frente. Dona Amelia, entrou na conversa, e a única pessoa que não abriu a boca foi Liv, que sentada na janela, só escorou a cabeça no travesseiro e dormiu o voo inteiro.

— Mas aonde vocês foram para essa menina estar morta desse jeito? – Meu sogro nos perguntou.

Letreiro de Hollywood. E com os cachorros. – Expliquei. – Stark a rebocou morro acima e Thor abaixo.

— Agora está explicado o porquê de quase perderem o voo. Foram dar uma de turista no último dia. – Will disse dando um soco no ombro do irmão.

Esse foi o voo mais rápido da minha vida, não porque a distância era curta, mas porque eu realmente não vi a viagem, e isso deve-se ao fato de que, depois de tanto viajar sozinha pelo globo, eu tinha companhia, muitas companhias, e apesar de que conversamos por todo o tempo, não perturbamos ninguém e pelo visto nenhum passageiro reconheceu os passageiros famosos.

O aviso de afivelar o cinto foi acesso, e Will voltou para a sua poltrona, já planejando qual viagem ele queria fazer que envolvia a todos.

E trinta minutos depois, eu e Alex estávamos esperando as duas malas gigantescas de Olivia perto das esteiras, enquanto ela e o restante da família, já estavam nos carros alugados.

— Da próxima vez, Liv deixa tudo em Los Angeles. Aliás, ela poderia ter um guarda-roupa em LA, assim não tinha essa de ficar arrastando essas coisas pela metade do mundo.

— Boa sorte em falar isso com ela. – Comentei ao ajudá-lo a recuperar uma das malas.

— Ela vai me ouvir. – Disse com uma certeza absurda.

— Não, quando se trata de roupas, Liv não escuta ninguém, a não ser o cérebro dela. E lá vem a outra mala. – Apontei.

Pegamos a mala, saímos para o saguão principal para pegarmos nosso carro alugado e seguirmos para o Hotel.

— Já veio a Austin? – Alex me perguntou enquanto fazíamos o check list no carro.

— Uma vez. Por que a pergunta?

— Só para saber se você conhecia o caminho.

— Não, eu fiquei com o Waze ligado o tempo inteiro. – Comentei assim que terminamos de assinar os papeis do aluguel.

— Bem, tomara que eu não me perca e pare no México. Porque se isso acontecer espero que você esteja preparada para administrar um bar ao invés de um escritório e criar nossos cinco filhos.  – Alex brincou e diante da minha cara, gritou por Liv. – Olivia, você vai com a gente?

— Sim! – Ela veio correndo e se arremessou no banco de trás, só para bater a cabeça em uma das malas.

— Por que está aqui? – Ela reclamou esfregando a cabeça.

— Porque as suas são grandes demais e tomaram conta de todo o porta-malas. Agora me deixe ver essa testa. – Pedi e dei uma olhada na testa dela, tudo o que eu não queria era que ela aparecesse na frente de Ian com um machucado. – Não tem nada aqui. Pare de esfregar ou vai ficar vermelho.

Alex decidiu dirigir e eu acabei de copiloto, e ainda tive que aturar Will falando na minha cabeça que estava nos seguindo e que era muito bom que eu fosse uma copiloto melhor do que eu era motorista em Los Angeles, porque ele não queria parar no México a essa altura da tarde.

Quarenta minutos, e sem nenhum erro em minha copilotagem, chegamos ao hotel, estacionamos os carros na entrada e depois de descarregarmos as bagagens – as duas malas de Olivia chamando a atenção dos carregadores! – Entramos no lobby para fazermos o check in.

— Então... onde estão todos? – Foi a primeira coisa que Alex me perguntou quando paramos no balcão.

— Hoje já tem movimentação no autódromo. Dia de coletivas, o pessoal já fazendo as primeiras reuniões sobre as estratégias. Ian e papai devem estar voltando para o hotel, agora, onde estão os outros, melhor descobrir só quando já estivermos em nossos quartos, você não vai querer que a tão esperada reunião aconteça aqui, com todos olhando, vai?

Enquanto preenchíamos os documentos, alguns membros das equipes e até mesmo pilotos foram chegando e pedindo as chaves dos quartos. Entre eles, alguns membros da Ferrari.

Liv que observava a movimentação do meu lado, rezando em finlandês para que Kimi Räikkönen aparecesse para que ela pudesse tirar uma foto com ele, só me cutucou e falou.

— Olha quem está chegando! – Apontou para a porta giratória.

Olhei na direção e vi meu pai e meu irmão, um pouco mais atrás, vindos da direção oposta e a pé, vinha o restante da minha família, porém, não era deles que Olivia falava. Era da mulher de vestido preto, com o escudo da Ferrari no peito, saltos altos e óculos escuros que olhava com cara de entediada para dentro do lobby.

— A vida é sua. – Informei.

Liv, com um sorriso nada bento no rosto, foi caminhando devagar até Pietra, que agora conversava com Mel. E, no momento em que minha família entrou no lobby e que metade do staff da Fórmula 1 atravessava o lugar em direção aos elevadores, ela só soltou:

— Tia Pietra!! Que saudade que eu estava da senhora!! – Ela destacou o “senhora” para o desespero da Italiana Louca que olhava para todos os cantos, porém o estrago já estava feito, pois todos olhavam em sua direção e, para piorar a situação, Liv correu e deu um abraço apertado na Italiana.

— Fica quieta, fofoquita mezzo finlandesa mezzo inglesa! – Afastou Liv dela. - Eu não sou velha para ser chamada de senhora e o mais importante, eu não sou sua tia! Tá me confundindo com... – E aqui ela parou para consertar o estrago da fala de Liv. – E todo mundo pode ir circulando! Essa garota aqui é maluquinha! Nem nunca vi! – Disse brava gesticulando com as mãos.

Com esse comando da Poderosa da Ferrari, não ficou um no lobby, ou melhor, ficaram algumas pessoas.

A família Nieminen. A família Pierce. Pietra Agnelli e Mellissa McGraw.

Que o show começasse!


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Notas finais do capítulo

Eu sou má por contar o capítulo justamente na hora do encontro das famílias? Sim, eu sou. Esse encontro mesmo só na quarta-feira. Alé lá, bom domingo, bom feriado e muito obrigada a você que leu até aqui!
xoxo



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