Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 39
Saudade


Notas iniciais do capítulo

E aqui estou eu com mais um capítulo.
Só um avisinho básico, eu não tenha beta e sempre leio mais de uma vez os textos, mas sempre ficam erros de digitação, concordância e ortografia, quero pedir desculpa por algum que tenha passado batido.
No mais, uma ótima leitura!



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Acordei toda dolorida, acabei dormindo no sofá e ainda de mal jeito. Meu pescoço parecia uma pedra e não tinha alongamento que me aliviaria esse torcicolo. E nem vou falar na câimbra nas pernas. Porém, o que mais me intrigava era o sonho. De todos os sonhos que tive até agora, esse foi o que chegou mais perto de um final feliz. De uma certa maneira, os dois foram felizes. Mesmo que tenham tido um fim trágico, essa versão de nós tinha encontrado a felicidade.

— E ainda tivemos dois filhos! – Murmurei espantada, tentando me lembrar do rostinho das crianças. E, acabei por me lembrar do comentário de Vic: “Apesar de que um bebê de vocês.... olha, seria uma das crianças mais bonitas do mundo.”

Abri um sorriso. Eu não duvidava disso.

Me levantei do sofá e, antes mesmo que eu desse um passo, tropecei na bacia de pipoca, para a minha sorte, não tinha nada lá dentro.

Ainda no mundo da lua, tentando revisitar o meu sonho na parte dos nossos filhos, fui na cozinha, lavei e guardei a vasilha e quando estava para sair de perto da ilha, onde tinha deixado o meu chá para decantar, eis que bato o dedinho na cadeira.

Pelo visto está seria uma terça-feira daquelas!

Perkele[1]... – Gritei frustrada.

Aos trancos e barrancos, subi a escada até o quarto, me xingando mentalmente por ter dormido no sofá e por ser tão alienada ao ponto de quase perder o mindinho na cadeira.

— Só quero ver como eu vou me equilibrar em um salto hoje...

Me arrumei, escolhendo uma roupa que pudesse ser usada com uma sapatilha, porque não tinha a menor condição de usar um salto, acredite em mim, eu tentei! Nem as câimbras e muito menos meu dedinho estropiado me deixaram me equilibrar em um salto 12.

Fui para a cozinha, com o intuito de tomar o meu café da manhã e preparar o meu almoço, quando vi um bilhetinho na porta da geladeira. Que eu deveria ter visto ontem, mas como tudo o que comi em casa foi pipoca, acabou passando despercebido.

Olá, Kat.

Como sei que você vai chegar tarde e muito cansada para enfrentar o fogão, deixei algo para você aqui.

Fique bem e dê notícias.

Amelia e Jonathan.

Abri a geladeira, ainda lendo o bilhetinho, e vi uma vasilha, tirei-a de lá e abri. Me surpreendendo que ela tinha arrumado um verdadeiro lanche noturno para mim.

— Vou ter que agradecê-la. Posso não ter jantado, mas com certeza tenho o meu almoço pronto.

Corri atrás do meu celular, e quando o peguei, tinha mais de cinquenta mensagens, divididas entre o Bando de Loucas e o Final de Semana Muito Louco.

Pietra era a mais desesperada.

Ouvi de uma fonte segura, muito segura, também conhecida como a minha pequena fofoquita mezzo inglesa, mezzo finlandesa, que vamos conhecer um certo Surfista Tatuado em Austin... isso procede ou minha bambina d’oro me passou informação errada?

Olivia não é uma pizza para ser mezzo algo, mezzo outra coisa. — Reclamei.

A informação procede! — A Italiana comemorou. – Paddock?

Nem pensar!

Vai levá-lo para a arquibancada??? Mas você endoidece quando tá torcendo!!— Melissa entrou na conversa.

Kkkkkkkkkk. Ele já me viu torcendo. Anteontem. E está morrendo de ciúmes do Kimi!

Dio Santo!! O homem é ciumento!!

Austin vai pegar fogo! Mais quem vai? — Mel quis saber.

A Família inteira. Inclusive meus sogros.

Gente... viagem com as duas famílias!!! Pietra, amiga, isso é mais sério do que a gente estava imaginando. Quando vocês vão morar juntos?

Já estamos.

O QUE??!!!!! — Pietra gritou.

VOCÊ ESTÁ MORANDO COM O ALEXANDER???— Mel acompanhou.

QUEM É VOCÊ E O QUE VOCÊ FEZ COM A MINHA MELHOR AMIGA?? Ela era tão responsável! Tão certinha! Tão perfeita! – Pietra não se conformava.

RIP Katerina! — Mel soltou. – E RIP meu cérebro depois dessa informação.

Não sejam exageradas. Muita coisa aconteceu nos últimos dias... coisa demais, mas não posso falar por aqui, tenho que explicar pessoalmente.

Você tá grávida, não tá?

Melissa, a Katerina pode ter saído da casinha, mas isso ela não faria. Segurar homem com criança é coisa da irmã dela.

Obrigada, Pietra. — Agradeci. – Como eu estava falando, tem que ser pessoalmente. Prometo fazer isso em Austin. Agora tenho que trabalhar, e Pietra, avise a Olivia que se eu sonhar que ela tá espalhando fofoca por aí, ela vai ficar de castigo por um mês!!— Alertei e saí da conversa, aproveitei o aplicativo aberto para agradecer dona Amelia.

Bom dia, Dona Amelia! Muito, mas muito obrigada mesmo, pelo mimo. Não comi ontem, mas será o meu almoço hoje. Eu não esperava!! Vejo vocês à noite! Beijos!

E, enquanto eu acabava o café, tentei conversar com o meu doente preferido.

Oi, você! Bom dia!! Cheguei muito tarde ontem e quando te mandei mensagem perguntando se podia te ligar, você não me respondeu... Passou bem à noite? Como estão as dores? Você tomou pelo menos um comprimido para dor ontem? Estou preocupada de verdade.

E mandei outra.

Sei que você não gosta que fale de sua carreira, mas assisti dois filmes seus (estava sem sono e sentindo a sua falta) e eu amei. Amei ver você atuando. Eu mal pude acreditar que era você ali... Alex... você é fantástico!!

E a terceira:

Tenho que ir ou vou chegar atrasada.... mas saiba que eu senti sua falta pra caramba nessa noite... Não tenho reuniões hoje, então vou sair em um horário apropriado para poder te ver!

Ich Liebe Dich[2]! – Terminei a mensagem.

Guardei o celular na bolsa, fui escovar os dentes e passar um batom, para, então, sair de casa e notar que chovia novamente.

Ri internamente, eu devia ser a única pessoa nessa cidade que estava feliz com o mau-tempo. E, nesse estranho bom humor, que contrastava com, se não todos, quase todos os habitantes de Los Angeles, cheguei ao escritório.

De ontem não havia ficado nenhum relatório para fazer, por incrível que possa parecer, ficar até tarde, esperando a reunião com os japoneses, acabou rendendo algumas horas de folga e muito pensamento no meu sonho e nas duas crianças e, também, sobrou tempo suficiente para começar a planejar como eu iria apresentar Alex pessoalmente à minha família, e a minha família para meus sogros...

Mas bastou que Milena chegasse para que o serviço começasse a deslanchar. Me vi marcando reunião atrás de reunião, conversando com todos os setores e, quando terminei o planejamento de envio de uma carga pesada da China para Nova York, meu estômago roncou alto, foi quando olhei as horas.

Quase três da tarde e parecia que tinha trabalhado por uma semana inteira.

Tentei alongar o meu pescoço travado e só consegui gemer de dor… e me permiti dar uma pausa para comer.

— Ah não!! Entro novamente no horário do recreio! – Milena brincou.

— Aceita?

— Não obrigada! Eu consegui almoçar! Me parece que a turma das entregas tinha muito o que falar!

— Pode apostar nisso! – Respondi e voltei para a minha mesa. – O que temos aí?

— Mais transporte de substâncias especiais e querem o seu plano, exclusivamente. Parece que são seus clientes da Europa.

Olhei para a pasta.

— Sim, eles são! Pode deixar aqui, daqui a pouco resolvo. E, por favor, encaminhe esses aqui diretamente para os clientes, com cópia para mim e o escritório de Londres. Eles são importantes e precisam de uma resposta urgente.

— Sim. É só para variar… seus amados relatórios já estão chegando! Vou deixar a pilha ficar maior para trazê-los. – Milena brincou.

— Pelo menos me deixe comer antes… - Pedi.

— Claro! Até mesmo os robôs precisam de uma pausa para recarregar as baterias!

Ela pediu licença, saiu e eu voltei para o meu lanchinho, já era tarde demais para chamar de almoço. E enquanto comia, escutei meu celular vibrando insistentemente.

— Quem é agora? – Murmurei e sai mancando até a mesa, minha perna ainda não tinha se livrado das câimbras.

Olhei a tela de bloqueio e tinha três chamadas não atendidas e dez mensagens. Todas de um único contato.

Surfista.

A primeira chamada era das 7:45 da manhã, e as outras espaçavam até a última de segundos atrás.

Com as mensagens a mesma coisa.

Sendo a última bem interessante.

Kat… tá tudo bem?? Você tá ocupada ao ponto de não ouvir o seu telefone ou tá me ignorando? É porque te mandei mensagens e você não viu. Deve estar corrido por aí. Você vem hoje à noite ou vai ficar na cidade? Mande notícias se for ficar aí. Te amo.

Tadinho! Ele estava preocupado comigo! E eu só mandei mensagem perguntando como ele estava de manhã!!

Respondi na hora.

Hei!! Boa tarde!! Não, eu não estou te ignorando, seu exagerado! Só estou tendo um dia corrido. Para você ter uma ideia, só agora pude parar para comer algo (os sanduíches que a sua mãe deixou lá em casa!) e mesmo assim, já chegou mais serviço! E você, como está?? Melhorou um pouco? E não se preocupe, vou poder ir para a fazenda sim! Daqui a pouco te vejo! Beijos!! Te amo!

Depois dessa mensagem mergulhei no trabalho, só parando quando bateram na minha porta.

— Pode entrar. – Falei.

— Me desculpe te atrapalhar, Katerina, mas eu vim aqui te agradecer. – Fátima Fuentes parou na frente da minha mesa, toda sem graça.

Me levantei e a levei até o sofá.

 - Resolveu o seu problema? Seu sobrinho, conseguiu levá-lo de volta ao México?

— Sim, ele está bem. Aprendeu a lição. Vai ficar lá agora. Até porque nem pode entrar aqui. Mas tudo foi resolvido e a família está mais calma. Eu só vim te agradecer mesmo. Você ajudou a família inteira sem saber. ¡Muchas gracias!

— Não há de que, Fátima. E se tiver mais algum problema, pode vir falar comigo diretamente.

— Agradeço novamente. E… bem isso é em agradecimento. – Me estendeu uma vasilha.

— Não precisava! – Agradeci e peguei o embrulho. Só o cheiro me disse o que era. - Enchilladas?

— Sim. Minha irmã faz e vende no bairro e me disse que essa fornada era especial para você.

— Eu adoro comida mexicana! Agradeça a ela, por mim!!

— Pode deixar. Não vou tomar mais o seu tempo, Katerina. Até porque tenho que começar o meu serviço. E, se me permite dizer, acho que já está na hora de você ir.

Dei uma olhada no relógio. Quase cinco da tarde.

— Realmente. Hora de guardar tudo!

— Tenha uma ótima noite, Katerina.

— Você também, Fátima. E agradeça a sua irmã pelas enchilladas!

Para encerrar o dia, Milena apareceu com os relatórios finais. Que ficaram acomodados na mesa de reuniões.

Às cinco e quinze consegui sair e desci no elevador junto com os nerds da pesquisa, todos devidamente trajados com camisas de super-heróis e falavam animados sobre o mais novo filme da Marvel. Pelo que pude entender, todos iam assistir ao filme em uma sessão à meia noite, logo depois do lançamento.

Senti uma pontinha de inveja, afinal eu fazia isso com Tuomas quando estava em Londres.

Eles se despediram animados e eu fui para a garagem, dessa vez lá estava lotado.

Entrei no carro e deixei o prédio, por incrível que pareça, mesmo com chuva, não tinha congestionamento.

Tão rápido que me assustei, cheguei em casa. Como ainda era cedo, pude guardar algumas das coisas que estavam nas caixas e ainda tomar um banho e comer alguma das enchiladas que Fátima tinha me dado, matando tempo para, assim, me livrar do trânsito pesado que com certeza tinha congestionado a saída norte da cidade.

Estava no meio do caminho quando Alex me ligou.

— Fale doentinho! – Brinquei com ele.

— Vai ficar pegando no meu pé?? – Veio a reposta dele.

— Não tenho mais ninguém para perturbar. Vai ter que aguentar sozinho!!

E ele trocou de assunto. Creio que deixaria a reposta ácida para quando me visse.

— Você vai conseguir encontrar o caminho?

A chuva tinha dado uma trégua e a noite estava clara.

— Vou. Marquei a quilometragem. Não se preocupe.

— Você está falando isso para me deixar mais calmo, ou você realmente guardou a distância?

— As duas coisas! Eu sei a entrada, pode ficar tranquilo.

— Tá com o Jeep ou com a sua Jamanta?

— Com o Jipão. Sabe como é… não quero o meu carro todo enlameado.

— Para uma piloto de rally, você é muito fresca!

— Ponto de vista engraçado… mas não vou correr o risco de sujar o meu carro e sujar a minha roupa amanhã quando chegar no escritório. Prefiro ter o trabalho de trocar de carro a ficar com a roupa suja de lama e barro o dia inteiro!

— Tudo bem, você venceu. Onde você está?

— Chego em vinte, no máximo, em trinta minutos.

— Chega para o jantar. Bem cunhada do Will mesmo! – Ele brincou.

— Isso mesmo! Fica mexendo com que não está aqui para se defender! Falando no Will, ele já chegou em Atlanta?

— Já! Tá tranquilo por lá! Não vamos ver a cara feia do meu irmão nem tão cedo.

— E você está todo feliz porque agora é o bebê da mamãe em tempo integral, não é?

— Kat, não brinque com o fogo!! – Me alertou.

Tive que rir.

— Olha, por mais que eu queira levar essa conversa adiante, não posso! Tem uma blitz aqui na frente e não quero ser multada! Até daqui a pouco. – Encerrei a ligação e foi a conta, pois me mandaram reduzir e olharam para dentro do carro minuciosamente.

Pouco depois achei a entrada – confesso que estava receosa de não a encontrar, mas jamais admitiria tal coisa! – e dirigindo um pouco mais rápido do que no sábado, logo vislumbrei a casa. Na varanda estava Alex, com Loki ao seu lado. Não sei se a amizade dos dois tinha dado um avanço nas últimas trinta horas ou se o meu cachorro só estava aturando a companhia de meu namorado porque estava com saudades de mim.

E eu tive a resposta logo que parei o carro, pois foi eu descer que o Ruivo literalmente voou na minha direção e eu caí sentada no meio da garagem.

— Oi, Ruivo!! Também senti saudade!! – Falei ao acariciar o tronco dele. Só que Loki estava tão desesperado que simplesmente se jogou em cima de mim e começou a me lamber e como se não bastasse ter um enorme husky em cima de mim, logo apareceu um pitbull que, ganindo insistentemente, clamava que queria atenção.

— Tudo bem! Cadê você, Thor?

E pra que eu fui perguntar? Pois o desastrado mor não chegou perto de mim, caiu em cima da minha cara.

— Está precisando de ajuda ou pode lidar com seus filhos manhosos e carentes, sozinha? – Escutei Alex comentar.

Consegui me sentar, com os três cachorros ainda sentados no meu colo, e encarei meu namorado.

— Você, por acaso, deixou esse trio preso em algum cômodo e ignorou a existência deles pelas últimas trinta e tantas horas?

— Muito pelo contrário, eles tiveram atenção mais que suficiente. Mas carinho de mãe faz falta!

— Por que eu não acredito em você? – Questionei.

— Se está duvidando de mim, pergunte para a sua sogra. Loki dormiu no quarto dela! – Ele riu.

Mirei o trio, que agora tinha se sentado do meu lado, em uma estranha fila que ia do cachorro mais lesado para o mais sério.

— Só não me diga que eles resolveram comer o sapato de alguém! – Pedi.

Alex deu uma gargalhada.

— Não... mas brincaram de cabo de guerra com o meu pai. Loki trapaceou de novo. Mas isso não é novidade. – Ele deu de ombros.

— Ele se sentou em cima do seu pai? – Perguntei ao me levantar, Alex bem que tentou me ajudar, mas seria mil vezes pior, já que ele ainda não tem lá todo esse equilíbrio e eu estava com câimbras.

— O que aconteceu? – Ele logo notou a minha cara feia.

— Câimbras... acabei dormindo no sofá e toda encolhida.  E nem pergunte pelo meu pescoço, lembrei dele o dia inteiro. – Informei e peguei uma duffel bag dentro do carro.

Alex me olhou de cima a baixo. Me analisando.

— Dormiu no sofá? O que você tem na cabeça, Kat? – Questionou ao me abraçar.

— Acabei pegando no sono lá, depois que o filme acabou. – Expliquei. – Aí, quando acordei... – Estiquei a perna. – Subi a escada quase de gatinho.

Alex balançou negativamente a cabeça, mas logo encurtou a distância entre nós.

— Se eu me lembro bem... você disse que sentiu a minha falta. – Disse todo convencido.

— Pois é.... meu travesseiro/cobertor particular fez uma falta danada na noite passada. – Fiquei na ponta dos pés para poder ver seus olhos.

— Fez, é? Que coisa.... pois eu acredito que ele dormiu muito bem... não tinha ninguém falando na cabeça dele a noite inteira... – Disse com um sorriso de canto.

— E eu senti falta dessas covinhas também! – Falei e o puxei para mim. – Agora, dá para parar de fingir que não sentiu a minha falta e me dar um...

Ele não me deixou terminar, me segurou pelo passador de cinto do jeans que eu usava e me deu aquele beijo.

— Seja bem-vinda de volta! – Falou sorrindo, encostando sua testa na minha. – Também senti a sua falta. Não dormi no sofá, porém acordei com um pitbull babando em cima de mim.

Dei uma risada.

— E não me pergunte como ele entrou no quarto. Tenho certeza de que fechei a porta.

— Acredito... E, se o Lokinho aqui, - Apontei para o meu cachorro que andava ao meu lado enquanto íamos em direção à casa. – dormiu com seus pais, Stark acordou na nossa cama, onde Thor estava? – Perguntei olhando para o Branquelo que tinha acabado de tomar um escorregão no chão molhado.

— Aquele cachorro lesado ali. – Alex apontou para Thor que gania querendo entrar dentro de casa, por uma parede de vidro, meu cachorro só dava vexame. – Dormiu na sala, naquela posição de costume.

— De pernas para o ar e língua para fora?

— No meio do sofá. Meu pai achou que ele tinha morrido, assim que o viu pela manhã, porém, bastou um ronco e todo mundo teve a prova de vida que precisava.

— Que interessante. Thor me fazendo passar vergonha até quando eu não estou por perto!

— Vamos dizer que ele foi o responsável por meus pais darem ótimas gargalhadas. Mas contarei as peripécias do seu cachorro mais tarde! – Falou e abriu a porta para mim.

— Obrigada! – Murmurei.

— E antes que a minha mãe te escute e venha falar que já conversou com toda a sua família e que Olivia já fez até chamada de vídeo com ela, como foi o seu dia?

— A Olivia fez o que? – Falei um pouco alto e ele me calou colocando um dedo nos meus lábios.

— Tópico para mais tarde. Seu dia, como foi?

Olhei para Alex. O assunto Olivia era mais importante! Porém, pelo visto, ele não pensava assim.

— Corrido. Mas produtivo. Tanto ontem, quanto hoje. Agora, o que foi que a Liv fez?

Ele riu.

— Está aí uma característica que Olivia deve ter herdado de você, quando ela quer algo, ela resume um ponto e parte logo para aquele que a interessa.

— Ai que arrependimento de ter passado o seu número para ela.

 - Ninguém aqui pensa assim! – Me respondeu e me guiou para o quarto em silêncio. – Mas, vamos ser bem específicos quanto ao seu dia, por favor? A reunião com os japoneses... você deu outra rasteira no seu avô? Mostrou quem é que manda?

Olhei descrente para Alex.

— Desde quando a vida dentro de um escritório parece um filme de ação combinado com drama e espionagem para você?

— Desde que eu comecei a namorar com você! – Ele se sentou do meu lado na cama e me deu um peteleco no nariz. - Agora conte. – Disse me abraçando.

E eu fui obrigada a narrar – com detalhes – os últimos dois dias no escritório. E se todos os dias fossem ser assim, era melhor eu começar a escrever um diário.

Quando eu terminei, só escutamos a minha sogra perguntar:

— Mas onde se enfiaram esses cachorros? Alex, cadê os seus filhos?

Arregalei meus olhos para como ela chamou o trio peludo que tinha se deitado aos nossos pés.

— Foi assim na segunda e hoje. Se acostume. – Falou para mim e depois mais alto. – Eles estão aqui no quarto, matando a saudade da mãe deles!

— Kat já chegou?! E você nem para deixá-la vir me cumprimentar. Os dois, na cozinha já! – Dona Amelia mandou.

— E agora eu só vou poder conversar com você quando for a hora de dormir... – Disse com um bico.

— Alexander! Katerina! – Ela tornou a nos chamar.

— Melhor irmos... ou daqui a pouco ela chama pelo nome completo e aí ferrou de vez. – Me levantei da cama e fui para a porta. Alex pegou a minha mão e nós fomos para a cozinha.

Thor e Stark entraram correndo e foram direto para as vasilhas de comida, já Loki ficou do meu lado.

— Finalmente. Achei que ia ter que pegá-los pela orelha. – Dona Amelia falou e veio me abraçar. – Como foram os últimos dois dias, querida?

— Corridos! Caóticos. Mas sobrevivi! E muito obrigada pela surpresa! Foi o meu almoço, digo, lanche da tarde hoje! – Abracei-a de volta.

— Que bom que gostou! Eu sabia que você não ia querer cozinhar quando chegasse. – Me soltou e foi para fogão. E eu fui cumprimentar o meu sogro que estava brincando com Loki.

— Isso é novidade! – Falei com ele ao abraçá-lo.

— Dessa vez esse trapaceiro não ganha de mim.

— Alex comentou da vez que o Lokinho, além de jogá-lo no chão, ainda sentou em cima dele? – Perguntei.

Meus sogros olharam para Alex.

— Você sabia que ele era assim, filho? – Sr. Pierce questionou.

— Achei que era só comigo. Mas vejo que a personalidade dele não é a de um cachorro confiável. – Alex murmurou.

— Pois eu acho que você está enganado, Alexander. Loki é muito leal. – Dona Amelia passou atrás do Ruivo e fez um carinho na cabeça e o danado abanou até a cauda.

— Ou ele sabe com quem ele mexe. Até eu trataria bem quem me dá comida. – Meu sogro disse e tentou conquistar Loki pela barriga.

— Vai ser um longo caminho até a confiança completa. – Falei. – E Dona Amelia, o que eu posso fazer para te ajudar? A resposta nada, não é válida!

Minha sogra olhou na minha direção e depois de pensar, apontou para o fogão.

— Tome conta das panelas. Jonathan, a mesa é por sua conta. Quando o Alex estiver melhor, ele toma conta da cozinha inteira. – Terminou assim para o desespero do meu namorado. – E nada de reclamar, Alexander!

Segurei a risada, mas a expressão de ultrajado de Alex era hilária.

Cada um focou em sua tarefa, porém eu tinha uma perguntinha que não me deixava quieta.

O que Olivia tinha aprontado?

E eu não consegui ficar calada.

— Então... Fiquei sabendo que a Olivia conversou com vocês... – Comecei.

E foi como jogar álcool no fogo, porque foi eu citar o nome da minha sobrinha e tanto a minha sogra quanto meu sogro se animarem com a conversa.

— É uma pena que a diferença de fuso horário seja tão grande. Eu ia adorar conversar com essa menina todos os dias! – Dona Amelia falou.

Olhei para ela e pude ver a feição de Alex, ele só sorria de lado e quando me olhou revirou os olhos, como me dizendo: "ninguém mandou começar o assunto, agora aguenta".

— Dona Amelia, é sério. Se ela estiver importunando, a senhora pode cortar o papo. – Falei.

— Importunando? Katerina! É uma delícia conversar com ela. E ainda melhor quando a Elena aparece também.

— A Elena também?!

Alex riu e começou a me explicar.

— Elas ficaram conversando por três horas. E eu juro, Elena tem as conversas mais estranhas e engraçadas que eu já ouvi.

— A Pequenina é esperta para a idade dela. – Meu sogro falou. – E falante também.

— O senhor não faz ideia do que ela é capaz de fazer! – Comentei e me lembrei de quando Tuomas me falou que Elena tinha conseguido enfiar o meu pai dentro de uma barraca da Barbie!

— De qualquer jeito, eu estou muito feliz que Olivia vai vir dentro de poucos dias e que vamos poder conhecer Elena. E eu estive conversando com a sua mãe, também, Kat.

— É mesmo?! – Perguntei para a minha sogra.

— Você não viu o grupo que Olivia criou? – Meu sogro me perguntou.

— Quase não tive tempo para ver o telefone. – Falei.

— Bem, Olivia criou o grupo, junto com Alex. – Encarei meu namorado e ele só deu de ombros. – E colocou toda a família.

— Até o Will e a Pepper. – Alex disse sorrindo. – E eles nem sabem o que tá acontecendo.

— A família inteira? – Me fazia de desentendida.

— E pode ficar despreocupada. Cada um já se apresentou por lá. Só você que não apareceu.

Mentalmente eu traçava planos para me ver livre de Olivia.

— Assim foi fácil de conversar com a sua mãe. – Dona Amelia completou como se a minha mãe morasse na esquina da casa dela, não há meio mundo de distância.

— E como foi? – Me vi obrigada a perguntar.

— Bem, você tinha me passado o histórico da sua família quarta passada, mas você não tinha me falado que sua mãe era tão simpática.

Minha sogra ainda não tinha visto a Dona Diana Nieminen sendo professora universitária, pois assim que visse ia trocar de opinião rapidinho, rapidinho!

— E depois ainda conversamos com a sua cunhada que mora em Chicago.

— A Vic?!

— A própria. Ela é um amor.

E só pude pensar que Victoria já tinha passado todas as informações para Pietra e Mel. Meu celular deve ter travado de tanta mensagem.

— Realmente, Vic é gente boa.

Restava saber por quanto tempo eu a classificaria assim...

— E como você não deu sua opinião, nós marcamos um jantar já na quinta-feira pré GP. – Soltou a bomba. – Ideia da Olivia.

Eu, que tinha me virado para mexer o molho, quase que derrubo a panela em cima de mim.

— Jantar?! – Perguntei e escutei o desespero em minha voz. – Com todo mundo?

— Mas é claro! Quer jeito melhor de todo mundo conhecer todo mundo? – Minha sogra continuava a falar.

Olhei para a panela e reparei que minha mão estava tremendo.

Definitivamente tinha sido uma péssima ideia convidar todo mundo para o Grande Prêmio. Mas a pior das ideias que tive foi dar ouvidos para Olivia. Aquela traidora iria me pagar com juros e correções!

— Vai ser interessante. – Murmurei sem me virar.

Eu teria pesadelos pelos próximos vinte e cinco dias. E pensar que eu procurei por isso.

Definitivamente eu me odeio.

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O jantar logo ficou pronto, e meus sogros ainda falavam sobre a minha família. Coisas banais que eles haviam conversado, seja por mensagem ou por vídeo, já que, pelo visto, Olivia e Dona Amelia já tinham feito duas chamadas assim, sendo que em uma delas minha mãe participou.

E eu nem queria saber que parte da personalidade da Katerina foi discutida ali.

O assunto seguiu para como iriamos fazer nos dias de Grande Prêmio. E, foi quando do nada, outro assunto chamou a atenção de todos. E foi Alex que o trouxe à tona:

— Ah, Kat. Você não falou que sabia pilotar motos de neve. Disse e, como estava sentado do meu lado, até parou de comer para ver a minha reação, e isso deveria ter me alertado que algo iria dar muito errado.

— Sim, eu sei.  – Confirmei.

— E vocês ou seu pai, não sei, tem uma casa na região central da Finlândia, né?

— Sim. Geralmente passamos as festas de final de ano lá. – Tornei a confirmar a informação.

— E que história é essa de que você estava pilotando uma dessas motos e ficou agarrada no galho e a moto foi embora sozinha? – Ele tentava segurar a risada ao contar a história, mas não deu certo.

— Erro de cálculo. – Sibilei.

— Não foi o que pareceu no vídeo! – Alex, muito deliberadamente, tirou o celular do bolso da calça, abriu o vídeo e me mostrou. – Acho que você estava apostando corrida com o Kim e deu nisso aí.

Desviei os olhos da tela do celular.

— E aí... o que realmente aconteceu? – Ele perguntou depois de passar o aparelho para os pais verem o meu vexame.

— Você viu o vídeo! – Falei e voltei a comer.

Ele riu ainda mais.

— Sim... mas queria a sua versão... porque aquilo ali é pancada que vai parar naqueles vídeos dos maiores tombos, vergonhas e cacetadas que passam na TV.

Dona Amelia que tinha acabado de ver o vídeo fez a pergunta que eu não queria que ninguém fizesse.

— A quantos quilômetros por hora você estava para ficar enganchada na árvore e a moto sair andando sozinha por tanto tempo?

Levantei a minha cabeça e a olhei, fingindo pensar na resposta.

— Alguns. – Comentei.

— Alguns, quantos, Kat? – Meu sogro quis saber.

E pode acreditar, eu me lembrava exatamente da velocidade em que eu estava.

— Cento e noventa e seis quilômetros por hora. – Falei bem baixinho. Pude escutar um garfo batendo em um prato. Pelo canto de olho vi ser o da minha sogra.

— Achei que essas motos só chegassem há 170 km/h. – Alex falou.

— Não quando te ensinam a turbinar o motor.

— A quantos quilômetros por hora chega a sua moto? – Meu sogro quis saber.

— 250 km/h.

— Não é à toa que você ficou presa no galho! – Alex riu.

— E como você desceu? – Quis saber Dona Amelia.

— Essa é a parte engraçada do vídeo. – Meu namorado tornou a falar, pediu o telefone e trocou o vídeo. É claro que Kim iria fazer o trabalho completo.

Em resumo, toda a história foi a seguinte: Kim me desafiou para uma corrida, não havia regras, nenhuma, então, como sempre, começamos a trapacear. Ele me fechava a cada segundo e toda vez que as nossas motos estavam perto demais, eu tentava jogá-lo de cima da dele. Uma certa hora, já voltando para a Fazenda, Kim me deu uma fechada, e eu tinha duas opções, ou eu batia em um cervo que tinha aparecido do nada ou eu me arriscava e tentava saltar por cima de um tronco que bloqueava o caminho. Lógico, fiquei com a segunda opção, e fiz de tudo para saltar o tronco, e eu consegui, só que eu errei o cálculo da altura e fiquei agarrada pela gola do casaco no galho da árvore e minha moto de neve foi embora.

Kim logo parou para rir da minha cara, e, ao invés de me ajudar a descer, resolveu filmar as minhas tentativas de me desgrudar do galho e parar no chão. E cada vez que eu tentava e dava errado, ele caía na risada. E nem conseguir abrir o zíper do casaco eu consegue porque a coisa estava emperrada! Até que em um determinado momento, eu consegui me virar com mais força, acabei rasgando o casaco e caí em queda livre de cara em um banco de neve. Na hora que eu me levantei, parecia um cosplay do Olaf.

— E ele pelo menos te deu uma carona até sua moto? – Quis saber minha sogra.

— E desde quando irmãos são solidários com os outros, Dona Amelia? Não, ele não deu. Acelerou a moto dele e me deixou lá, procurando a minha e morrendo de frio. Quando finalmente cheguei em casa, arrastando a moto porque tinha quebrado a esteira, todo mundo já sabia do ocorrido. Foi o assunto da mesa da Ceia de Natal.

Alex ria com gosto. E meu sogro só soltou:

— Não sei o motivo das risadas, Alexander. Você e Will não são diferentes.

— Irmãos são todos iguais, no final das contas. – Dona Amelia comentou. – Mais alguma história?

— Não. – Falei.

— Ah... tem. Mas eu ainda não tenho as provas. Kim me disse que vai ter que pedir para o seu avô.

E eu tinha acabado de colocar Kim ao lado de Olivia na minha lista de futuros desaparecimentos da face da terra.

Acabamos de jantar e eu fiz questão de arrumar a cozinha. Depois nos sentamos na sala e a TV estava ligada em uma série, que eu já tinha ouvido falar, tinha visto um ou dois episódios, mas nada de acompanhar. E chocada vi que se tratava da série que meu sogro fazia...

Diferente do filho, Sr. Pierce não se incomodou que todos assistíssemos ao episódio e ainda quis saber a opinião dos outros dois atores que estavam na sala.

E esse papo rendeu, porque o que choveu de críticas construtivas e de spoilers para os próximos capítulos não foi brincadeira. E fiz uma anotação mental para dar um jeito de assistir à bendita da série, se eu quisesse entender o que eles estavam conversando.

E, logo depois dessa conversa Dona Amelia e Sr. Pierce se despediram, indo para o quarto. Pude escutar a minha sogra chamando por Loki. Ele se levantou do chão, me deu uma lambida na mão e saiu correndo em direção à voz de Dona Amelia.

— Aquilo ali realmente aconteceu? – Perguntei para Alex.

— Com toda a certeza! Seu cachorro não te pertence mais! – Ele brincou e me puxou para mais perto e eu, com cuidado, me sentei em seu colo, virada para ele, podendo, assim, abraçar seu pescoço e acariciar os cabelos de sua nuca. - Alguém realmente sentiu saudades! – Disse todo contente.

— Mas é claro! E você já sabia disso. – Confirmei e roubei um beijo.

Alex correspondeu um tanto animado demais ao beijo e, para evitar ficar totalmente sem graça na presença de um dos sogros, acabei por falar:

— Não podemos continuar isso dentro do quarto não?

— Com medo de ser pega no flagra? – Ele brincou ao mordiscar a minha orelha.

— Sim... não quero ter que ficar tentado controlar o quanto eu vou estar sem jeito perto de um deles. Então... – Me desenrosquei de sua cintura e me levantei de seu colo. Alex ficou de pé logo depois, e voltou a me beijar. Foi assim, um colado no outro, que fizemos nosso caminho para o quarto.

 

[1] Merda.

[2] Eu te amo em alemão.


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Notas finais do capítulo

Então é isso! Espero que tenham gostado.
Muito obrigada por lerem!
Até o próximo!
xoxo



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