Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 29
A Primeira Noite


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo!
Espero que gostem.
Boa leitura!



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“Like hate and love
Worlds apart
This fatal love
Was like poison
Right from the start

Like light and dark
Worlds apart
This fatal love
Was like poison
Right from the start”

(October and April – The Rasmus feat Anette Olzon)

 

Assim que coloquei a última bolsa dentro da casa, essa no cantinho da sala, pois se tratava de algumas coisas do escritório, percebi que estava com uma fome monstruosa.

Sem saber que horas Alex chegaria, decidi por pedir algo ao invés de fazer, porque assim ele poderia comer sem precisar esquentar. Saquei o telefone do bolso e busquei pela pizzaria mais comentada e logo pedi duas pizzas, porque, com certeza, Alex apareceria morto de fome. Ele vive falando que eu como muito, mas toda hora ele está mastigando algo. Assim, torcendo para ter acertado no sabor da pizza, voltei minha atenção para a bagunça que eu tinha que guardar.

— Vai ser difícil... a segunda mudança dentro de quinze dias... só eu para fazer isso! – Falei alto e assustei Stark. – E você, Sr. Stark, se acostume com a minha falação. Eu falo até dormindo! – Fiz um carinho na cabeça do pitbull e subi a escada para desfazer as malas.

Eu tinha roupas até o joelho quando o entregador chegou. Tive que deixar tudo de qualquer jeito e desci correndo, chegando esbaforida no portão principal. Peguei as pizzas, paguei, dei a devida gorjeta e voltei para dentro, com a barriga roncando por conta do cheiro das pizzas.

Ao colocar as embalagens na ilha, dei uma conferida no relógio, eram 22:00 e eu não tinha nenhuma pista de que horas Alex apareceria.

— Ele bem que poderia mandar uma mensagem quando estivesse saindo... – Pensei em voz alta.

Fiquei entre comer e não comer, mesmo morrendo de fome, decidi por esperá-lo, afinal eu detestava comer sozinha e era injusto com ele que ainda estava trabalhando. Então, fui fazer o que tinha que fazer, mesmo não querendo.

Estava sentada no chão do closet, fones de ouvido estourando meus tímpanos de tão alto o volume, tentando organizar os meus sapatos, sem bagunçar os de Alex (não que ele tivesse tantos assim...), o trio canino deitado na porta, me observando, quietos e atentos a cada mínimo movimento meu, como se eu fosse um programa de TV muito interessante.

— Você três estão me dando medo. – Murmurei para eles e voltei a engatinhar pelo cômodo ajeitando tudo.

Eu juro que não notei nada, não vi sombra nenhuma, não escutei nada – e nem poderia, os fones não permitiriam! - até que senti algo removendo meus fones e gritando nos meus ouvidos:

— BU!

Eu dei um pulo tão alto que quase que levei os cabides, as roupas e metade do closet comigo para o chão, onde eu aterrissei como uma jaca, meio sentada, meio deitada.

Ainda tentado entender o que tinha acontecido, olhei para cima, para ver Alex rindo da cena que ele tinha acabado de presenciar.

— Isso. Não. Foi. Engraçado! – Murmurei na defensiva. Afinal, se eu não estivesse com os fones, eu teria notado que Stark tinha saído correndo até o dono, que Thor deveria ter ganido de alegria, teria escutado Alex me chamando, ou pelo menos, teria escutado seus passos.

— Foi sim! – Ele falou se agachando do meu lado para me ajudar a me sentar. – A sua expressão de quem não estava entendendo nada foi memorável.

Lancei aquela encarada para ele.

— Em minha defesa, eu te chamei. Você que não ouviu! – Estendeu o fone na minha direção. – O que você está ouvindo? – Fez a besteira de levar o objeto à orelha. – Meu Deus! Não me surpreende que você estava tão alienada do mundo! Olha a altura disso!

Dei de ombros.

— Tem pizza! – Ele trocou de assunto, falando alegre e levando a mão à barriga, igual a uma criança esfomeada.

— Eu sei. Eu pedi! Esperto. – Me levantei do chão e tomei o fone da mão dele, desligando o outro que estava em minha orelha direita.

— Já comeu? – Me perguntou.

— Não, estava te esperando. – Decidi pela sinceridade.

E ele abriu um sorriso enorme.

— Sério?! Você realmente me esperou para comer?!

— Sim... por que a surpresa?

— Nada. – Ele desconversou, mas vi que o brilho de felicidade nos olhos dele não diminuiu de intensidade. – E aí? Já achou o seu escritório? – Ele apontou para a casa.

— Escritório??? - Perguntei confusa. - Na verdade, decidi começar por onde vai me dar mais dor de cabeça e por onde eu preciso primeiro.

— Justo. Suas roupas chiques e seus saltos. – Ele me pegou pela mão logo que começamos a descer a escada. – Mas eu quero ver a sua reação.

— Minha reação a? – Perguntei no exato momento em que ele parava em frente a uma porta.

— Abra. – Disse com um meio sorriso e suas covinhas apareceram.

— Devo ter medo?

— Ainda não... mas acho que você vai gostar.

Girei a maçaneta. E o cômodo, onde eu poderia muito bem me ver lá dentro, seja trabalhando ou apenas sentada em um sofá lendo, se fez visível.

— Por que você não me mostrou esse lugar no sábado? – Perguntei quando entrei. O lugar tinha uma enorme parede de vidro que dava para o quintal dos fundos. As outras três paredes ainda estavam desocupadas, mas eu já as imaginava com altas estantes repletas de livros. – É perfeito! – Exclamei dando uma volta e me sentindo um pouco como a Belle de A Bela e a Fera, ao girar pelo cômodo ainda vazio, depois corri até ele e lhe dei um beijo. – Obrigada!

Alex deu uma risada.

— Achei que fosse gostar. E não te mostrei esse lugar porque ele estava vazio, sem utilidade nenhuma.

— Sério? – Eu não conseguia não imaginar uma função para aquele espaço.

— Sim. Eu até gosto de ler, mas não para ter uma biblioteca em casa como você.

— Entendo. – Respondi, porém sem olhá-lo, estava pensando onde colocaria o que. E ainda imaginei outras coisinhas...

— Meu Deus, fui preterido por um cômodo! – Ele riu ao me abraçar. – Já tem planos?

— Pior que sim. – Falei acompanhando o sorriso dele. – Espero que fique bom.

— Duvido que você erre em algo, mas o que é? – Perguntou curioso.

Estendi as mãos e comecei a descrever como eu achava que tudo poderia ficar, e o que eu colocaria em cada cantinho.

— Creio que conheço a pessoa ideal para te ajudar com isso. – Alex falou.

— É mesmo? Você pode me apresentá-la? – Pedi.

E o brilho traiçoeiro de seus olhos me avisou que ele iria gostar de ver a minha reação à sua resposta.

— Você já conhece. – Disse me puxando para fora do meu escritório e me levando para a cozinha. – Vem, eu tô com muita fome.

— Quem é? – Perguntei ansiosa, enquanto ele abria uma das caixas das pizzas e tirava um pepperoni de lá.

— Meu pai.

— Seu pai? Ele é carpinteiro?!

— Sim... me ensinou algumas coisas, mas ele é quem mexe com isso.

Inacreditável!!

— Ficou surpresa?

— Mas é claro!! Não consigo imaginar o seu pai...

— Você não entrou na “Caverna do Jonathan” que é como minha mãe chama a garagem.

Me sentei em uma das cadeiras, ainda olhando um tanto pasma para Alex e o que ele tinha acabado de falar.

— Não vem com essa, Kat. Seu pai é mecânico. Por que todo esse deslumbramento?

— Porque eu não consigo imaginar o seu pai como carpinteiro.

— Por que ele é um ator?

Também, mas não era só isso.

— Ele não tem cara... sei lá... é difícil de por em palavras. Só me pegou muito de guarda baixa. – Tentei me explicar.

— Vou falar isso para ele.

— Ah, não! Por favor não! – Pedi, praticamente implorei. Dos Pierce, Jonathan ainda era aquele a quem eu ainda não tinha tido uma interação tão grande. Will, Pepper e Dona Amelia foram fáceis de conquistar e até de gostar, mas o Sr. Pierce. Ele me impunha uma espécie de respeito que eu, raramente, via em outras pessoas. Claro que ele tinha me tratado bem, tinha me aceitado na família sem fazer nenhum comentário, porém, eu ainda não me sentia totalmente confortável na sua presença, era como encarar o meu pai, a sua presença me fazia me sentir uma criança de cinco anos e o seu olhar de pai me deixava envergonhada de que a qualquer momento eu poderia fazer algo que merecesse um sermão.

Diante da minha súplica, Alex, que tinha se sentado na minha frente e comia uma fatia de pizza direto da caixa e com as mãos, tombou a cabeça e, um sorriso de quase deboche apareceu em seus lábios.

— Você tem medo do meu pai! – Ele constatou.

— Não é medo. Eu não temo ninguém. É respeito.

Alex, com a boca cheia, soltou.

— Não sei o porquê de todo esse tato! Ele te adora!

— A figura do seu pai me impõe tanto respeito quando a do meu pai. É por isso. E, talvez, só talvez, eu tenha que me policiar para não fazer ou falar alguma besteira.

 - Como comer um caminhão de açúcar, bem na frente dele. – Meu namorado começou a rir.

Abaixei minha cabeça no tampo de mármore da ilha e fiquei ali, me xingando por ter comido tantas panquecas naquela segunda-feira.

Alex ainda ria.

— Sabe que foi por isso que ele gostou de você, né? – Ele cutucou a minha cabeça.

— Seu pai mencionou isso na quarta-feira passada.

— Eu tô falando sério, Kat!! O Velho gostou de você, porque em hora nenhuma você foi fresca perto dele. Meu pai gosta de gente simples, que não se importa muito com o que os outros vão falar.

Levantei a minha cabeça e encarei o comilão na minha frente, uma pizza já tinha ido embora.

— Eu ainda não comi, se lembra?

Ele só colocou a caixa da segunda pizza – a de calabresa – na minha frente.

— Ninguém mandou ficar com a cabeça baixa.

Revirei meus olhos e peguei uma fatia, com as mãos mesmo, não estava com vontade de ter que lavar vasilha.

— Só tem uma coisa da qual meu pai não gostou.

Agora eu fiquei nauseada.

— Pode voltar a comer. – Alex garantiu.

— Fala logo. Melhor saber agora que ainda dá para tentar remediar.

— De você ter pagado a conta do café da manhã.

— Ai, céus!! Isso é de família, né? Gene dominante na sua família! Vem com a cor dos olhos ou do cabelo??

Alexander riu de chorar, mas riu tanto que quase que cai do banco.

— Essa foi boa!

— Só tentando entender a origem de um costume tão arcaico.

— Não gaste às 23:45 da noite de uma quarta-feira!

— Não estou "gastando"!

— Falando “arcaico” a essa hora?! Sim, você está!

— Não me enrola, Alex.

Ele ainda ria.

— Vai ser muito divertido ver você e meu pai trabalhando para colocar aquele escritório do jeito que você quer.

— Você está achando que eu vou aceitar o trabalho do seu pai como presente?

 - E não vai?!

— Claro que não! Eu vou pagá-lo!

— E que se inicie a guerra! Boa sorte em fazer o meu pai aceitar qualquer dinheiro sobre o que ele vai fazer de bom grado.

— Eu posso escolher outra pessoa. – Rebati.

— Aí ele vai te odiar.

Tomei fôlego para respondê-lo, só que ele me interrompeu.

— E não venha com a desculpa: “ele não vai ficar sabendo!” porque ele vai. Meus pais costumam vir muito aqui. E minha mãe é daquelas que abre todas as portas, dá uma fiscalizada em tudo...

E foi aqui que eu me lembrei de uma coisinha muito importante.

Os pais dele ainda não sabiam. Como seria contar essa notícia?

Imediatamente a esse pensamento, senti o sangue fugir do meu rosto, minhas mãos gelaram.

— Eles vêm muito aqui?! – Perguntei baixinho.

Alex levantou uma sobrancelha diante da minha reação.

— Esse pânico todo é sobre eles saberem que você está aqui?

Balancei a minha cabeça confirmando.

— Ah! Isso já tá resolvido. – Falou confiante e pegou outro pedaço de pizza, e eu começava a pensar onde cabia tanta comida.

— Como assim, já tá resolvido? – Desconfiei da sua atitude tranquila.

— Ontem, enquanto eu entrava com as coisas do seu escritório, eles apareceram por aqui. Não precisei explicar.

Eu queria cavar um buraco no chão, me jogar lá e me enterrar.

— Já que a sua reação vai ser essa, ainda bem que você não estava aqui, Kat, ou era bem capaz que você fosse correndo até o LAX e pegasse o primeiro avião que te deixaria o mais longe deles. – Disse como se não se importasse e se levantou para lavar as mãos. Ele tinha comido, sozinho, uma pizza e meia! E eu ainda estava mastigando o primeiro pedaço.

Mentalmente eu me falava para não cair no jogo dele, que eu deixasse o comentário pra lá, que não era importante. Mas eu tinha aquele ladinho do cérebro, um cantinho, que eu não controlo direito, e esse cantinho, fez minha boca funcionar então, só me escutei dizendo:

— O que eles falaram?

Alex se virou para mim com uma piscada de olhos, e sorrindo e nem um pouco envergonhado pelo que iria dizer, soltou:

— Meu pai comentou que quer netos logo.

Misericórdia!

Sem saber como agir ou o que falar, eu só encarei Alex, que me encarava de volta, com um enorme sorriso e os olhos brilhando.

É, definitivamente, eu tinha perdido todo o controle sobre essa parte da minha vida! Se há dez dias eu pedi para ir devagar... hoje já estão pedindo netos!

Nem quero saber o que vão falar na próxima semana!

Resignadamente mordi a fatia de pizza, ainda pensando em como as pessoas podem querer netos, quando o relacionamento mal tinha começado.

Ou talvez essa mudança para essa casa tenha desencadeado todos esses pensamentos. Vai saber.

Dei outra mordida e Alex ainda estava parado, braços cruzados, escorado na pia.

— Não vai falar nada?

Engoli a pizza e levantei meus olhos para ele. Não tinha nada o que falar.

— Sobre? – Perguntei só para não deixá-lo sem jeito.

— A brincadeira de meu pai.

Acabei de comer o pedaço, me levantei para guardar o restante na geladeira e aproveitei para pegar um pouco de água.

— Alexander, se você não sabe, toda brincadeira tem um fundo de verdade.

O sorriso dele aumentou, se é que fosse possível. Já eu, ao invés de ficar apavorada como achei que ficaria, simplesmente resolvi entregar na mão do destino. Afinal, o que eu planejei por tanto tempo não deu certo, quem sabe não planejar nada seja a chave do sucesso?

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Nós dois não nos demoramos muito no primeiro andar, colocamos o trio para dentro, tinha deixado as camas de Thor e Loki na sala de TV e logo os dois se jogaram por lá, cansados de ficarem correndo pelo jardim, parei para fazer um pouco de carinho neles e em Stark que veio manhoso igual ao dono para perto de mim e se deitou aos meus pés.

— Deve ser de família agir assim também... – Falei ao acariciá-lo.

 - Ele só está feliz de ter uma mãe! – Alex comentou. – Resta saber se esses dois vão ficar tão felizes quanto o Stark por terem um pai. – Terminou a frase e brincou com Thor, que só virou de barriga para cima, já Loki... – Qual é, Loki! Ontem você era meu amigo e só porque a Kat tá aqui, agora não quer conversar comigo?

Loki só se levantou, rodou no lugar e se deitou de costas para ele.

— Talvez a sessão: “eu gosto de você” do Loki só dure algumas horas na semana, e foi tudo gasto ontem... – Defendi o emburrado.

— Bem.. já que você é a mãe, deve conhecer a sua cria. Eu vou tomar um banho, você vem? – Me ofereceu a mão.

— Vou colocar comida e água para eles, vá na frente. – Dei um beijo nele e fui para cozinha enquanto ele subia assobiando os degraus.

Achei o armário onde as rações estavam, coloquei um pouco em cada vasilha, liguei os bebedouros e, antes de subir, parei na porta do cômodo que seria o meu escritório, depois comecei a rir.

— É, Alex, você é esperto! Disse que você tinha a chance de me convencer a não comprar uma casa, e você colocou até o seu pai no meio para que ele faça os móveis. – Apaguei as luzes do térreo e subi contando passos a escada. No alto, olhei para fora, a mesma parede de vidro do escritório continuava aqui, assim pude olhar para o quintal, a área da piscina e o que eu acho que era a academia. A casa era enorme, não me surpreendia que Alex estivesse relutante em querer olhar outra se ele tinha essa.

Escutei o chuveiro ser desligado no quarto, pelo visto ele tinha levado à sério a minha resposta e tinha de algum modo esperado por mim. Caminhei devagar pelo corredor atapetado, estando descalça, o som dos meus passos foi abafado, assim, parei na porta do quarto e olhei em volta. Alex estava só de toalha, procurando algo na cômoda.

— Espero que você não tenha colocado essa cômoda aí só para abrir espaço para as minhas roupas no closet. – Falei de uma vez e dessa vez foi ele quem se assustou.

— Não te ouvi chegar! – Reclamou.

— Culpe os tapetes.

— E os seus pés descalços. – Ele completou olhando para meus pés.

— Então, tá procurando que? – Entrei no quarto e me sentei na cama, do lado que ele iria dormir, a julgar que seu relógio e celular estavam já em cima do criado.

— Minha calça de moletom...

— Aquela que você usou nas últimas duas noites?

— Sim.

— Espere. – Passei por cima da cama, tudo para evitar a tentação, afinal a ideia de bebês, maternidade e paternidade estava muito presente na noite, e fui até o closet. Abri a gaveta certa e de lá tirei a calça, jogando-a na sua direção, e depois fui separar a roupa que iria trabalhar no dia seguinte.

— Obrigado. – Ele falou.  – Tá sem sono? – Me perguntou quando me viu colocando o vestido, o blazer e os sapatos no divã.

— Muito na cabeça.

— Não tem a ver com o que...

— Não, Alex! Não tem! É sério.

— Então?

Tive que rir.

— Você realmente está aceitando isso tão tranquilo assim? – Questionei calmamente.

— Isso o que?

— Minha mudança.

Ele, que já estava praticamente deitado, se levantou e se sentou na beirada da cama, de frente para mim.

— Não me pergunte como, mas eu sabia que terminaríamos assim.

— Sabia?

— Sim.

— E isso não te incomoda? - Questionei.

— Incomoda a você? – Ele retornou a pergunta.

— Não sei... ainda não processei o que fiz. A ficha só tá caindo agora.

— Por que está de noite ou por que agora vamos efetivamente dividir uma cama?

— Porque eu não estou sozinha. – Falei de uma vez. – Você pode achar besteira. Mas quando eu cheguei, depois de pegar tudo o que estava no apartamento, tudo o que eu queria era comer alguma coisa e tentar organizar as roupas, porém, eu não fiz isso, afinal, o primeiro pensamento que tive foi que você chegaria com fome e cansado... e isso é novo para mim. Me preocupar com outra pessoa que mora comigo. E, quando as pizzas chegaram, preferi te esperar. – Dei de ombros e olhei para ele, como sempre Alex parecia querer entender os mínimos detalhes do que eu falava e não desviava os olhos de mim. – Não sei se você vai entender, mas ao mesmo tempo que é sufocante, é gostoso. Estou assustada com a velocidade do nosso relacionamento, eu não cheguei a morar com o meu ex-noivo, contudo, ao mesmo tempo em que eu penso que talvez fosse mais seguro ficar um pouco mais longe de você, para que eu possa te conhecer melhor, algo me impele a querer ficar do seu lado, porque só o pensamento ficar longe de você, por qualquer outra razão que não seja trabalho, me dói. Como eu disse, é conflitante. Parece que tem duas Katerinas brigando aqui dentro, buscando um equilíbrio, que eu acho que ainda não encontrei.

Alex acariciou a minha bochecha e apenas me perguntou:

— Mas você está feliz?

— Sim! – Disso eu não tinha dúvidas. – Estou. Não poderia estar mais feliz. Eu só preciso me acostumar com o sentimento de que eu agora quero cuidar de você. Você é importante demais para mim para que eu estrague isso, Alexander. Você não faz ideia de como você me faz sentir. – Falei. E eu posso jurar, essa é a maior declaração que já fiz a alguém.

— Respondendo à sua pergunta, nada disso me incomoda. Porque vale à pena, quando eu escuto as suas declarações sinceras, mas, principalmente, quando vejo a sua reação a algo que eu faço para você, mesmo as menores coisas. Você virou o meu mundo, Katerina. Depois de muito tempo eu posso falar isso, eu amo alguém que me ama da mesma forma.

Senti minha pele ficar vermelha. Eu não estava acostumada a ser o centro da atenção de alguém.

— E não vou negar, gosto de te ver sem jeito assim. – Ele me deu um beijo. – Só não gosto de te ver com essa cara de cansada. Vai tomar um banho, você merece descansar, afinal, mais tarde tem uma reunião importante.

Dei outro beijo nele e me levantei, indo tomar um longo e demorado banho.

Eu mal abri a porta do banheiro e vi Alex sentado na cama, escorado na cabeceira, de braços abertos, me esperando acordado. Não pensei, corri para a cama e para seus braços. Ele me aninhou ali e falou:

— Me desculpe, esqueci de perguntar, como foi o seu dia?

E eu soube na hora, finalmente tinha encontrado meu lugar no mundo.

— Bem, resumindo, corrido. Mas foi um bom dia.

— Prevendo que você vai jogar alguma coisa na cara do seu avô.

— Pode apostar que sim. E o seu? Como foi no set? Vi que você tem alguns roxos que não estavam aqui de manhã... – Comentei e passei a mão no braço e no abdômen dele, onde algumas manchas roxas estavam começando a aparecer e eu sabia ficariam feias por alguns dias.

Ele segurou a minha mão em cima de seu abdômen e deu uma risada.

— Puxado. Tem dia que por mais que se tenha treinamento e ensaiado horas à fio, tudo dá errado, ou o diretor cisma de trocar a tomada em cima da hora. Aí acontece isso aqui. – Ele disse como se apanhar fosse a coisa mais normal do mundo.

Fiz um bico.

— Não gostou, né?

— Claro que não! Olha o seu estado. E aposto que tem mais!

— Têm um na perna que se você ver, vai brigar comigo.

— Alex! – Xinguei e tentei puxar a barra da calça para cima, e ele tirou a perna do meu alcance.

— Eu estou bem, Kat.

Não acreditei nele.

— É por coisas assim que nosso trabalho é dia sim, dia não. Amanhã não vou ao set.

Mesmo assim não me acalmei.

— Eu sabia que algo estava errado. Passei o dia inteiro com uma sensação esquisita.

— Nada deu errado. Eu estou aqui. Compare isso com as suas descidas de snowboard. Tem hora que você desce sem problemas, mas às vezes aparece um galho de árvore e te dá uma lambada. Foi o que aconteceu hoje.

— Isso aqui é uma marca de pé! – Apontei para a barriga.

— E que pé grande! Doeu pra caramba. Voei longe e caí sentado, mais ou menos como você mais cedo. – Ele fez piada.

— Meu Deus. – Murmurei.

— Um beijinho ajuda a melhorar. – Ele falou sorrindo.

— É mesmo? Achei que só um relaxante muscular resolveria o problema.

— Ainda fico com o beijo. – Ele me roubou um beijo.

— Você é manhoso pra caramba, né?

— Meu charme. E eu sei que você gosta. – Ele se deitou, invertendo as posições, vindo a colocar a cabeça em meu colo.

Eu tinha entendido o que ele queria, mas precisei encher a paciência dele mais uma vez nessa noite.

— E isso é?

— Eu tô doente! Mereço carinho!

Dei uma gargalhada.

— Mas é de uma cara de pau absurda! – Falei e dei um beijo nele para, logo em seguida, começar a fazer carinho em seu cabelo espetado.

Alex se ajeitou na posição e eu vi a careta que ele fez quando seu tronco encostou mais forte no meu quadril, com pouco ele dormiu. E eu fiquei ali, penteando seu cabelo com os dedos e pensando que era um desperdício que ele fizesse cenas de ação para outros atores quando ele era um ator também.

— Você é o meu maluco preferido e sabe disso, não é? – Murmurei no escuro e quieto quarto. Não sei quando dormi, mas tive outro sonho que me levou a um passado distante.

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América Central – Século XVII – 1.620

Eu podia sentir o gosto do sal na ponta da minha língua. Aliás, sal e maresia eram tudo o que eu sentia desde que saímos da Espanha. Depois de uma viagem de quase dois meses para chegamos até a América, nosso novo lar. Confesso que não gostei da viagem e não gostava daqui. Não me sentia confortável com o excesso de pessoas que chegavam, que todos diziam serem os escravos. Não gostava do tratamento dado a eles e muito menos da forma como eram obrigados a trabalhar debaixo de um sol escaldante dias à fio.

Uma vez, tentei argumentar com meu pai que pessoas, mais novas do que eu, estavam sendo maltratadas, tudo o que eu ouvi era que eles teriam a sua recompensa, e que a grande maioria não era sequer homens.

Achei um absurdo esse pensamento. Eles andavam, comiam, tinham sentimentos, sangravam, choravam de dor e de exaustão, trabalhavam muito mais do que todos os que eu conhecia, como poderiam não serem homens?

Mas meu pai era um Dom. E com um Dom não se discutia. Então fiz o que eu achava certo, comecei a contrabandear um pouco de comida para a senzala. Todos os dias eu andava despreocupadamente ali por perto e aos poucos comecei a entregar um pouco do muito que tinha dentro da Casa Grande para quem realmente fazia jus. Porém, nunca era o suficiente, e todos os dias alguém morria.

Toda essa situação me enojava a um ponto de que tudo o que eu queria fazer era sair dali, daquela vila maldita, com suas pessoas arrogantes.

Porém, me perguntava: “como?”

A resposta veio meses depois. Meu pai fora convocado pela Família Real para comparecer à Madrid, era a oportunidade perfeita, ou assim eu pensava, até que ele resolveu que tanto eu quanto minha mãe e irmãs iríamos voltar para Capital.

Achei bom, porém, uma parte de mim se preocupou, quem daria o mínimo para estes homens e mulheres? Meus irmãos tinham a mesma mentalidade absurda de meu pai, eu não poderia confiar em nenhum capataz, pois o prazer deles era chicotear as costas do escravo que eles pensavam que estava roubando do patrão. Eu não poderia confiar em ninguém a pouca ajuda que dava e eles.

Essa viagem era uma benção e uma maldição ao mesmo tempo.

Duas semanas antes da partida, nossa vila foi atacada por piratas, ou melhor, corsários. Eles chegaram durante à noite, invadiram a vila, roubaram de quem tinha, saquearam algumas adegas, e invadiram as casas, inclusive a nossa.

Ao ouvir a baderna, me escondi no guarda-roupa e me obriguei a ficar quieta, e a respirar o mínimo possível. Ouvi quando a porta do meu quarto foi aberta. Escutei três passadas diferentes cruzando o cômodo. Entendi perfeitamente o que falaram quando notaram que aquele era um quarto de mulher.

— Quem a encontrar fica com ela! Depois a deixaremos em Tortuga.

Em desespero, mordi meu lábio, para me impedir de gritar de medo. Os passos passaram bem em frente ao guarda-roupa, pararam ali por um tempo depois seguiram para fora do cômodo, fechando a porta. mesmo assim permaneci ali, achando-me segura. Com o passar o tempo e o silêncio começando a reinar, me permiti respirar de alívio.

Só para ser surpreendida por uma voz desconhecida, mas com uma cadência que me fez arrepiar.

— A filha de um Dom deveria ter um esconderijo melhor. – Ele disse e parou na frente da porta. Pelas frestas da trança, pude ver seus olhos.

Eles eram azuis da cor do Mar do Caribe.

Continuei parada, meu coração batendo descompassado, enquanto ele ia e voltava na porta, lendo o meu diário.

— Interessante terem te ensinado a ler e a escrever. É inteligente. – Ele me provocou. E foi só quando ele fechou a boca que percebi que conhecia aquele sotaque.

— O que inglês faz no meio dos piratas?

— E ela sabe falar! – Ele tornou a me provocar, se sentando na minha cama.

Abri a porta e o encarei, querendo me ver livre de sua presença incômoda, porém, tudo o que consegui fazer foi ficar hipnotizada. Além de ter uma voz que me fazia arrepiar, o pirata era bem mais alto do que a maioria dos homens que já vi. Tinha os olhos mais belos que eu já vira e me encarava com um sorriso que evidenciava as suas covinhas.

— Eu já vi a senhorita. – Ele ficou de pé, bem próximo de mim. – Andando com sua mãe pela vila. Não acha que uma vila perto da praia é um lugar incomum para alguém com uma pele tão clara? – Ele levantou a mão e passou a ponta dos dedos em minha bochecha. E enquanto ele descia a mão da minha orelha até meu lábio, eu senti meu rosto corar.

— O que você quer? – Perguntei quase que em um sussurro.

— Muitas coisas, Loira. Primeiro o seu nome.

— Qual é o seu?

— Quer entrar em uma guerra de palavras?

— Não. Seu nome?

— Alexander.

— É inglês?

— Seu nome e eu respondo essa.

— Katerina.

— Sou inglês, Katerina. E você não tem cara de espanhola.

— O que faz com os piratas?

— Sou um corsário. Sua Majestade, a Rainha Elizabeth I, me paga muito bem para fazer o que faço.

— Ela não é minha Rainha.

— Nem a minha, mas me paga bem. – Ele deu de ombros e voltou a se sentar na minha cama, passando a mão nos lençóis. – Faz anos que não me deito em uma dessas. – Ele tirou as botas e se jogou na minha cama.

— Saia daí. – Ordenei.

— Não. É confortável, e cheira bem.

— Saia. – Tornei a falar.

E Alexander se levantou rapidamente, como um felino perigoso, e parou na minha frente. Me senti pequena diante de sua altura.

— Tens medo de mim?

— N...não. – Gaguejei e dei um passo para trás.

— Mentes. – Ele falou perto o suficiente para encostar em meu cabelo.

— Se afaste! – Dei um tapa em sua mão. Só para sentir uma carga elétrica correr por minha mão no exato ponto onde nossas peles haviam se encostado.

— Ou vai fazer o que? – Ele falava me olhando nos olhos, observando todo o meu rosto, sempre perto demais. – Gritar por seu pai? Aquele covarde deve estar escondido debaixo da saia de sua mãe. Não que lá seja um lugar ruim... mas ela já não é assim tão nova.

Fiquei horrorizada com o que ele acabara de dizer.

— Te assustei com o meu linguajar? Não se esqueça, Bonita, sou um corsário. Há muito deixei de pertencer a qualquer Corte.

Dei outro passo para trás, ele me acompanhou, parecia que nós dois dançávamos uma valsa sem música. Ele sempre me olhando, e eu incapaz de desviar meus olhos dele. Alexander parecia um felino pronto para atacar, por isso eu me concentrava tanto nele, com medo de que, se eu desviasse minha atenção, ele pudesse fazer algo. Só que eu me concentrei demais nele e me esqueci para onde estava indo. Só me dando conta quando minhas costas bateram com força contra a parede fria e o ar escapou pelos meus lábios. Na mesma hora, ele levou a ponta dos dedos aos meus lábios entreabertos e deixando-os ali.

— Fuja comigo.

Balancei negativamente a cabeça, entorpecida demais para falar.

 - Eu sei que tudo isso te deixa entediada, enojada.

— Não vou virar pirata.

— Claro que não, você não tem cara de pirata, nem para meretriz em Tortuga serve, é bonita demais e logo alguém te compraria. – Ele falava tais palavras sem se preocupar. – Fuja. – Ele tornou a falar, dessa vez soltando meu rosto e levando suas mãos até a minha cintura, me levantou até que eu ficasse da sua altura.

— Não. – Sussurrei a reposta.

— Te dou um tempo para pensar.

— Você não tem nada para me dar.

— Liberdade. Sei que você não gosta do que vê aqui.

— Não sabe de nada. – Retruquei.

— Li seu diário, Katerina.

— Me solte.

— Me dê um beijo e eu te solto.

— Não vou te beijar.

— Por que sou um pirata, ou por que nunca beijou ninguém?

Meu rosto pegou fogo. E ele riu de minha reação.

— A casta e ingênua filha mais nova. Suas irmãs não são bonitas como você. – Ele, que ainda me segurava pela cintura e me prensava na parede, falou perto de minha orelha. Minha reação natural foi ficar ainda mais vermelha.

— Me solte.

— Eu já disse a minha condição.

— Não vou fugir com você.

— Não era essa... - Sua boca encostou no canto da minha, e minhas mãos se fecharam em seus ombros. – Vamos lá, Loira. Eu sei que você quer... – E agora nós dois nos olhamos nos olhos. Minha respiração ficou presa em minha garganta quando vi as suas pupilas dilatando.

Eu não sei dizer se foi ele ou se foi eu quem diminui a distância. Deve ter sido ele, afinal, eu não tinha como me mexer. E agora muito menos, já que ele me beijava vorazmente, me prendendo com seu corpo contra a parede. Eu acabei por abraçar seu pescoço levando minhas mãos até a sua nuca e puxando o seu cabelo comprido. Quando ele encostou sua testa na minha, meus pulmões ardiam por mais ar, mas meu corpo clamava por mais um beijo.

— Agora vai fugir comigo? – Tornou a me perguntar.

Eu respirava rapidamente, tentando me concentrar em algo que não fosse ele.

— Te deixei sem fala? Ótimo. Isso deve ser uma reação boa, pois pouca coisa te impressiona, pelo que sei. – Alex disse, se desenroscou de meus braços e minhas pernas e deu um passo para trás, imediatamente eu senti frio e a falta dele. – Vamos fazer um trato. Eu volto aqui amanhã à noite para saber a sua resposta. – Ele me pegou no colo e me colocou na cama. – E à propósito, você cheira ainda melhor do que a sua cama. – Me deu outro beijo e tudo o que eu fiz foi trazê-lo na minha direção.

Quando ele encerrou o beijo – sim, ele, eu não teria condições, nem se quisesse! – deu um sorriso que mostrou as suas covinhas e falou:

— Vou levar isso comigo! – Mostrou o meu diário. – Se você quiser de volta, venha comigo.

— Espere! – Quase que eu grito alto demais, quando ele fez menção de pular a janela.

— O que foi? Já está com saudades?

Dei um sonoro tapa no rosto dele.

— Ai. Achei que você tinha gostado dos beijos... a julgar como está agora. – Piscou para mim, pulou a janela e antes de sumir na noite falou – Sonhe comigo.

— A julgar como está agora? – Perguntei para mim mesma e fui até o espelho para me ver.

Eu tinha o rosto e o colo vermelhos, o cabelo estava todo embolado em minha nuca, bem no local onde ele havia me segurado, meus lábios estavam inchados e meus olhos grandes e brilhantes, e, para minha total vergonha, percebi tardiamente que por todo esse tempo eu estava de camisola.

Eu tinha beijado um completo e belo estranho em minhas roupas de dormir. Que meu pai jamais ficasse sabendo disso.

Voltei para a janela e fiquei pensando em como ele havia escapado dos guardas. E, inquieta demais para conseguir dormir – só de piscar os olhos eu via Alexander. – Me pus a pensar na proposta do estranho.

— Será que vale à pena seguir os passos de um pirata?

Balancei a minha cabeça em negativa.

É claro que não valia. O que ele tinha para me oferecer que fosse melhor do que a casa de meu pai?

Liberdade. – Meu cérebro conjurou uma imitação perfeita de seu sotaque inglês.

Liberdade era tentadora. Eu não tinha isso aqui.

Voltei a olhar para fora, o tumulto do assalto tinha passado, a lua cheia brilhava no céu, sendo refletida no Oceano, pude sentir o cheiro de queimado que vinha de algum lugar perto da plantação, não me importei pois, a verdade era que eu debatia internamente comigo mesma. Um lado meu queria ir, queria sair daqui, eu já tinha pensado nisso, eu já queria fugir, que mal faria? Já o outro lado me dizia que não. Que tudo o que eu conseguiria seria ser usada e descartada como uma meretriz em Tortuga.

Mas por que a ideia de ficar ao lado dele parecia tão certa?

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Notas finais do capítulo

Bem... é isso.
Espero que tenham gostado.
Muito obrigada aos novos leitores e aos comentários que recebo!! Vocês me deixam muito feliz!!
Até o próximo capítulo.
xoxo



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