Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 18
Telefonemas


Notas iniciais do capítulo

E o segundo capítulo da semana está no ar!
Espero que gostem!
Boa leitura!



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— Boa noite! – Comecei a saudação. Não dei títulos, porque eu não sabia com quem estava falando, se era com o Diretor-Geral ou se era com meu avô.

— Katerina... fiquei sabendo de algo que me incomodou profundamente hoje...

— Que bom que o senhor já descobriu que estão querendo a minha cabeça nessa empresa!

— Quem é o rapaz que estava no porto te esperando? – Ele foi direto, ignorando o meu comentário inicial.

— Quem está me perguntando isso, meu chefe ou meu avô?

— Faz diferença? -  Sua voz era fria como gelo.

— Claro. Meu Chefe não tem nada a ver com quem saio ou não. Meu avô pode ser que fique sabendo, dependendo de como ele irá me tratar.

O silêncio era de matar do outro lado da linha. Pude ouvi-lo colocando gelo em um copo.

Alex do meu lado me olhou pelo canto dos olhos enquanto manobrava para voltar a San Diego e pegar a estrada que nos levaria de volta para Los Angeles.

— Quem é ele? – Matti Nieminen voltou a falar.

E aqui eu poderia chocar o meu avô para ele nunca mais me perguntar nada a esse respeito, poderia contar a verdade ou ser vaga na resposta.

— O nome dele é Alexander. E é um cara que eu estou vendo. Considerando um relacionamento sério. – Respondi.

— Tem dez dias que você está na Califórnia e já está considerando um relacionamento sério com um... ator?

Pelo visto, alguém fez uma busca sobre a vida de Alex.

— Sim... e isso não é da conta de ninguém.

— É da minha conta!

— A partir do momento em que eu continuo a fazer o meu trabalho bem feito, Sr. Nieminen, com quem eu saio, converso ou durmo, não é de seu interesse, e nunca vai ser. Assim, o senhor, como Diretor-Geral, tem que resolver o problema maior que é alguém tentando me derrubar e usando funcionários dos portos para isso, e não com quem eu ando. Creio que já sou velha o bastante para saber se devo ou não fazer algo, e não será o senhor quem irá decidir a minha vida pessoal, por mim. Já fez isso na profissional, a pessoal é da minha única e exclusiva conta.

Alex dirigia em silêncio, de tempos e tempos olhava na minha direção, tentando ler a minha expressão, pois entender a conversa em finlandês que acontecia do lado dele era impossível.

Meu avô ficou em silêncio novamente.

— Quero o relatório dos problemas portuários na minha mesa, no primeiro horário.

— Estarão aí, senhor. Mais alguma coisa? – Perguntei friamente.

— Não, Katerina. Nada.

Ele encerrou a chamada sem se despedir, o que não era nenhuma novidade.

— Veredicto? – Alex me perguntou assim que tirei os fones.

— Minha vida pessoal é a minha conta, ele só vai saber do trabalho.

— Demorou tudo isso para dizer essas palavras?

— Não, essa é a sentença transitada em julgado, tive que defender a minha privacidade e a sua.

Minha? - Perguntou espantado.

— Ele já sabe quem você é, o que você faz... Cuidado. – Alertei.

— Estou mais preocupado com você...

— Eu vou ficar bem... já passei por coisa pior. – Garanti.

Alex não me respondeu nada, só pegou a minha mão e a apertou, descansando nossas mãos entrelaçadas em seu colo pelo resto da viagem.

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 - Deixando todos os problemas de lado. – Alex me tirou de meu quase cochilo. – O que vamos fazer hoje?

Discretamente esfreguei os olhos e tentei ver as horas.

Já eram quase nove da noite, o trânsito dentro de San Diego tinha nos atrasado demais.

— Não faço ideia.

— Você está com cara de quem vai desmaiar de sono a qualquer momento. – Comentou.

— Minha intenção, realmente.

— Ainda tem forças para um outro atraso?

— Vai te custar um jantar... e o café da manhã com panquecas amanhã! – Barganhei.

— Achei que o jantar fosse por sua conta, já que você tanto insistiu no almoço para ser tratada de forma igual.

— Na hora do almoço eu não estava morta de cansaço e com mil e um pensamentos rodando a minha cabeça!

— Justo. Muito justo! – Ele concordou comigo. – Volte a cochilar, com esse trânsito será mais uma hora de carro.

Por mais cansada que estivesse, não quis abandoná-lo sem ninguém para conversar, assim, tentei impor ao meu cérebro o mínimo de coerência para manter uma conversa.

— E vamos aonde mesmo?

— Comprar o nosso jantar.

— Outro achado seu dentro de L.A.? – Questionei.

— Pode-se dizer que sim.

— Resposta muito vaga... – Dei um empurrãozinho para conseguir mais informações.

— Do tipo que você jamais entraria para uma reunião.

— Quantos mais assim você conhece?

— Vamos dizer que eu não sou muito adepto da frescura de restaurantes 5 estrelas.

Mordi o lábio para não soltar uma piada... e, mais uma vez a enorme diferença entre nós se fez presente.

— Ficou calada! Está pensando em algo!

— Sim... no fato de que você literalmente vive para comer! Não é possível conhecer tantos restaurantes com comida boa como você conhece!

— Mas você nem comeu e já está falando que a comida é boa!

— Depois das panquecas, do restaurante de hoje no almoço, só pode ser! E eu começo a achar que você não gosta de restaurantes 5 estrelas não porque são cheios de frescura.

— E por que seria?

— Pouca comida no prato. – Falei séria.

Alex olhou o trânsito antes de olhar para mim e soltou.

— Está certíssima. Além do mais, péssimas recordações, ainda mais quando se namora uma modelo que não come absolutamente nada. Assim, prefiro restaurantes como esse que vou te levar agora.

— Pode ser comida para viagem? Definitivamente eu não tenho energias para ficar sentada em uma mesa e esperar para a comida chegar...

— Pode, sim... Cansadinha! – Ele afagou a minha bochecha e depois apertou a ponta do meu nariz.

E depois disso acabei ficando alerta, tentando guardar os nomes das ruas e caminho até o tal restaurante, assim, tentei focar nas placas, o que me deixou mais perdida ainda, ainda mais quando na minha frente eu só via luzes vermelhas.

— Em Londres não tem congestionamento? – Ele perguntou quando fechei os olhos para os faróis que batiam em meu rosto e me cegavam temporariamente.

— Claro que sim, e antes que solte outro comentário sarcástico, Helsinque também.

— Então, por que essa cara de entediada?

— Porque eu não conheço o caminho, e não faço ideia se ainda vai demorar, e como eu detesto ficar perguntando essas coisas estou tentando adivinhar.

— Sem sucesso algum. – Ele afirmou.

— Exatamente, não conheço isso aqui e ler todas essas placas e setas está me deixando maluca.

— Vai conhecer. Você só está aqui há dez dias... apesar de que eu não me importaria em ser o seu motorista sempre que precisasse...

— Quer trocar de profissão?

Ele riu.

— Não. Mas posso te garantir que, às vezes terei mais tempo livre do que você.

— Disso eu não tenho dúvidas, apesar de saber que você ainda vai trabalhar por meses a fio e talvez eu não te veja por muito tempo. – Emendei me lembrando que a gravação de um filme pode levar de três a seis meses dependendo do estúdio.

— Isso também é verdade. – Ele retrucou e voltou a sua atenção para o trânsito e nós dois caímos em um silêncio tranquilo, pelo menos para mim era, para Alex, nem tanto.

— Te incomoda? – Ele questionou.

— O que? – Não estava acompanhando o raciocínio dele.

— Eu ficando todo esse tempo trabalhando direto?

Fui pega de surpresa, não tinha pensado no aspecto total da coisa. E nem em outro fator... os personagens, os pares românticos, as fãs...

— Não pensei nisso. – Resolvi pela sinceridade.

— Sério?

— Sim... no final das contas, é só um personagem, não é?

— Ou você realmente é tranquila quanto isso ou ainda não parou para pensar em detalhes.

— Não parei para pensar...

Alex me olhou.

— Para te falar bem da verdade, eu nunca tinha conhecido alguém da sua profissão. Nunca. E deve ser por isso que eu nunca pensei que os atores são pessoas normais... têm uma vida normal, que talvez nem a mídia conheça. Parece bobo, mas nunca me interessei ao ponto de querer saber quem são as pessoas por trás das personagens que me cativaram, sei o nome deles, porém nunca fui atrás ao ponto de saber tudo da pessoa. Não é desmerecendo a sua profissão, acho que é só da minha cabeça... eu separo a personagem do ator... e, no momento em que a personagem está lá, na tela, eu só assisto ao filme ou série, acompanho o desenrolar da história ali e quando acaba, eu nunca saio procurando pela vida do(a) ator (atriz), querendo saber tudo, pois nunca me ocorreu como seria a vida por trás dos holofotes... será que fui clara? – Fiz uma careta diante da minha explicação confusa.

— Nenhum ator te fez querer saber tudo da vida dele?

— Não, não gosto disso, porque a mídia mente, as pessoas mentem... talvez por ordem do empresário, do assessor de imprensa, fingem ser algo que não são, não sei, mas sempre achei que em algumas horas tinham exagero demais, ou enrolação demais, falsidade demais. Nunca achei que as entrevistas são 100% verdade, até porque todo mundo tem direito à privacidade, assim, não procurei saber de nada.

— Mas você me disse que gostava do Brad Pitt, Tom Cruise....

— Sim, e assisti aos filmes deles... aos filmes, não às suas vidas... como eu disse, privacidade. Eu acho que todo mundo merece...

— Interessante ponto de vista.

— E raro... pelo que vejo nas redes sociais... tem gente que briga com outras por conta de famosos, por conta de pessoas que nem sabem que eles existem... é medonho e isso sempre é inflamado pela mídia, que quer vender a foto tirada em um momento íntimo o mais caro possível, ou talvez uma matéria exclusiva sobre a casa da pessoa, ou a família. É desnecessário e ainda tem gente que compra, que lê, mas é tudo sobre o lucro, exclusividade e uma história inédita, não é? Nunca sobre as pessoas e seu direito de ser quem eles são...

— A essência da mídia de fofocas. – Alex concordou comigo.

— Você passou por isso? Sendo que seus pais são famosos.

— Sim... quando eu era bem criança sempre tinha alguém nos seguindo, meus pais conseguiam driblar paparazzi sempre, mas quando a notícia espalhou de verdade, até na escola foi difícil... como você acabou de dizer, sem direito à privacidade.

— Deve ter sido horrível...

— Difícil foi saber quem era amigo e quem era interesseiro. Mas tudo passa.

— E você parece ter levado muito bem isso.

— Como você me falou sobre gostar do inverno e da chuva de Londres, ou eu aceitava e convivia com isso, ou aceitava e convivia com isso.

— E deu muito certo...

— Não na hora de convidar uma garota para o baile da escola...

— Ela te deu um fora?

— Não, ela e as amigas me disputaram como se eu fosse um troféu, não um ser humano. – Comentou e eu notei que tínhamos saído da avenida congestionada e entrado em uma rua um pouco afastada do centro.

— Eu sinto muito... – Murmurei, pois não tinha o que eu dizer ali. Nada adiantaria.

Alex desdenhou da história, como se o incidente do baile não tivesse sido nada, ou tivesse sido muito comum ao longo dos anos.

— Mas e você? Quantos deixou na fila do baile?

— Na Inglaterra não tem baile!

— Nem na formatura?

— Colei grau adiantada... não fui à festa, estava trabalhando.

— E quando que você se diverte?

Fiz uma careta.

— Entendi... quando você tem tempo. Tive sorte então.

— Convencido... se eu não tivesse dito sim, isso não estaria acontecendo.

— E você não estaria a beira de comer a melhor comida portuguesa fora de Portugal... – Alex apontou para o restaurante.

— Comida portuguesa?! Não acredito! – Pulei do carro igual a uma criança.

— Se eu soubesse que você iria ficar tão feliz assim, tinha te trazido aqui mais cedo. – Alex comentou assim que desceu do carro.

— Mais cedo?! Alex! – Encarei-o. – Não tinha como ser mais cedo!

Ele me guiou até a porta, abrindo-a e me esperando passar.

— Que cavalheiro. – Dei um beijinho nele.

— Já sabe o que vai pedir?

— Comida portuguesa? – Perguntei. - Eu como tudo!!

Alex começou a rir.

— Só quero ver. Quer trocar e comer aqui?

Eu estava exausta, mas não poderia jamais deixar um bom bacalhau esfriar.

— É... eu vou comer aqui.

— Difícil de acreditar que você é tão magrinha...

— Eu te disse, como de tudo e muito... por isso tenho que correr.

Fizemos nossos pedidos, e eu me dei o luxo de pedir tudo o que pedia quando ia à Portugal.

— Pelo visto, você conhece Portugal. – Alex começou o interrogatório.

— Amo o país, amo o povo, a língua, mas, principalmente a comida.

Principalmente a comida...— Alex me remendou rindo.

— E você parece que conhece também...

— Mas claro. Ondas gigantes. – Ele deu uma piscadinha para mim.

— Em Nazaré...

— Você já foi lá?!

— Sim... e morri de medo. Fiquei no Forte de São Miguel Arcanjo vendo.

— E quando foi?

— Você surfou aquilo?!!! Você definitivamente tem um parafuso a menos! – Comentei.

— E você, Katerina, chegou a duvidar disso?

— Esperava que você tivesse um pouco de mais de consideração com os seus pais.

— Bem... não vou dizer que a minha mãe é a maior fã dos meus hobbys.

— Mas e o seu pai?

— Ele fala para minha mãe me deixar divertir, que um dia eu paro.

— Imagino a cara que a sua mãe faz. 

— Vocês duas vão ter muito o que falar mal de mim.

— Com certeza... vamos mesmo. – Concordei.

A entrada chegou e, sem querer ofender ninguém, eu não consegui falar mais nada, o que Alex achou muito hilário.

— Ou você realmente gosta de comida portuguesa ou você está morrendo de fome.

— Os dois. – Afirmei.

Ele não estava em uma posição muito melhor, já que também já tinha terminado a entrada.

Veio o prato principal, nós comemos em silêncio e depois, bem, ele dispensou a sobremesa, já eu...

— Você comeu três pasteis de Belém lá dentro e ainda trouxe mais quatro? – Alex me perguntou espantado.

— Na nossa primeira conversa, lá no restaurante das Panquecas, eu te falei, sou movida à açúcar!

— Achei que você estava brincando.

— Quando eu falo sobre doces, nunca ache, é sempre verdade. – Afirmei.

— E ainda vai comer esses quatro hoje?

Olhei para a embalagem no meu colo.

— Não sei... quem sabe, a noite é uma criança! – Dei de ombros.

— E por que você comeu tão pouco no jantar de aniversário da minha mãe?

Fiz um beicinho...

— Já sei, estava com vergonha! – Alex ria da minha falta de explicação.

— Você não faz ideia... sabe como é... eu posso esquecer completamente as boas maneiras quando se trata de doces.

— Isso ia fazer a alegria do meu pai!

— Deu pra perceber. Ele comemorou o fato de que tanto eu quanto Pepper comermos doces... – Me lembrei da cena.

— Espero que no jantar de domingo, você não fique com vergonha.

— Não espere que eu vá dar show e comer toda a comida sozinha... – Estava começando a me arrepender de ter aceitado o convite, ainda mais agora que Alex iria ficar soltando piadinhas sobre a quantidade de doces que como.

— Ah, não, tem que sobrar alguma coisa pra mim...

Revirei meus olhos, definitivamente tinha sido uma péssima ideia ter aceitado o convite para esse jantar.

Nem parecia que tínhamos levado tanto tempo para chegar até o restaurante, ou talvez tenha sido nossa conversa, pois quando dei por mim, Alex estava manobrando na rua do meu apartamento e já abria a garagem.

— Creio que você não vai soltar esses doces... – Ele comentou sarcasticamente quando parou o carro ao lado do meu e me viu abraçadinha com a caixinha.

— Se você está questionando a minha capacidade de carregar tudo ao mesmo tempo. – Falei descendo do carro. – Saiba que eu posso fazer isso. – Abri a porta de trás, peguei minha bolsa e meus relatórios e ainda equilibrei a embalagem com meus preciosos pasteizinhos em cima de tudo. – Viu? – Perguntei ao passar por ele até o elevador.

Ele me alcançou com duas passadas e tomou as pastas de minha mão.

— Eu levo isso.

— Se insiste....

O elevador chegou e assim que entramos, Alex não perdeu a oportunidade de me atazanar.

— E aí, já decidiu se entra mais açúcar nesse organismo hoje?

— Vai depender até que horas eu vou ficar acordada. Tenho que ligar para o meu irmão... creio que Ian quer discutir a vinda da Olivia... depois vou tentar conversar com meus pais... apesar de que ainda é cedo para isso. – Mordi o lábio.

— Não corre o risco do seu pai aparecer aqui de surpresa não, corre?

— Ainda não... Mas em novembro sim... Tem Grande Prêmio dos EUA, em Austin... a viagem de avião é bem perto.

— E você vai? No Grande Prêmio? – Ele quis saber...

— Não me decidi ainda, mas por que o interesse? – Perguntei ao descer do elevador. – Quer ir?

— Nunca fui... seria interessante.

— Correria o risco de conhecer o meu pai e Ian ao mesmo tempo, em um território completamente neutro. – Comentei ao virar a chave.

— Isso é bom ou ruim?

— Se eles cismarem de te bater... bem, eles são estrangeiros por aqui... e você estaria em casa... acho que não fariam nada disso.

— Se você se decidir, me avise. – Alex passou por mim, carregando meus relatórios para meu escritório, eu, depois de deixar a embalagem na cozinha, fui brincar com meus cachorros. Achei que ele se juntaria a mim na sala, mas ele só parou, colocou a mão nos bolsos e disse.

— Vou te deixar sozinha hoje à noite.

Levantei a minha cabeça e o encarei. Estava dando como certa a sua presença, mas me lembrei que ele tem uma vida também. Tentei não demonstrar a minha decepção.

— Você tem essa ligação para fazer e, bem... eu te aluguei por quase toda a semana. E amanhã também vou fazer isso... – Ele dizia incerto, como se ele não quisesse me deixar só.

— E você tem coisas para fazer te esperando na sua casa. – Completei o raciocínio dele.

— É. Isso também.

— Tudo bem... que horas te vejo na praia? – Perguntei me levantando do chão.

— Não vou poder vir te buscar? Afinal, te prometi o café da manhã...

— Que eu vou pagar...

— Mas...

Interrompi.

— Você pagou o jantar Alex. Isso era a minha parte do acordo. Mas voltando ao assunto, que horas?

— Seis e meia?

Agradeci mentalmente o horário.

— Por mim tudo bem. – Respondi.  – Vou com você até a garagem, respondi ao acompanhá-lo até o elevador.

— Nada. Fique aqui, você está caindo de cansada. – Ele me abraçou forte. – Vai ficar bem sem mim?

Fingi pensar, mordi o lábio e perguntei...

— Não sei... será que sou capaz de encontrar as minhas coisas dentro desse apartamento? – Brinquei e roubei um beijo dele.

— Aproveita e guarde as minhas.

— Não vai levá-las?

— Não, vai que um dia eu não quero passar a noite sozinho e venho direto para cá...

Eu não deveria, mas gostei disso. Muito.

— Se está dizendo, eu não me importo.

— Sabia que não ia se importar... você não parece se dar muito bem com a solidão...

— Tenho dois cachorros, não fico sozinha! – Retruquei.

— Eles não conversam com você, Katerina... – Alex me puxou para mais perto.

— Vai desistir de ir embora? – Perguntei quando vi a hesitação nos olhos dele.

— Não me tente...

— Não estou te tentando... só perguntando.

— Se continuar a perguntar assim, te levo comigo! – Falou me puxando com ele, seus dedos enroscados no passador do cinto do meu jeans.

— E se eu resistir?

— Te jogo no meu ombro.

Levantei a sobrancelha, desdenhando do que ele havia falado.

— Ah, vai bancar a incrédula? – Questionou e em menos de dez segundos me jogou em seu ombro e me levou de volta para dentro do meu apartamento, só me soltando dentro do meu quarto, quando me jogou em cima da cama. – Você é levinha, apesar de comer tanto... – Deu um meio sorriso na minha direção.

Tentei esticar a minha mão para pegar um travesseiro e jogar nele, mas Alex saiu correndo. Corri atrás dele pelo apartamento, parecíamos duas crianças de cinco anos brincando de pique. A certa altura ele parou do nada e só me restou pular em suas costas e abraçá-lo pelo pescoço.

— Creio que sou mais pesada do que a sua mochila... – Falei em seu ouvido e beijei seu pescoço.

— Pronto, me decidi, vou te levar comigo. – E lá foi ele de volta para o elevador.

Tentei descer de suas costas, mas ele agarrou as minhas pernas, me prendendo ali.

— Me solta! – Pedi quando vi que o elevador estava chegando.

— Não. Tenho o direito de levar a minha mochila comigo. – Ele brincou.

— Eu vou chamar o Loki! – Ameacei e apontei para a porta do apartamento, onde meus dois cachorros estavam sentados.

— Alguém aqui não sabe perder... – Ele murmurou e me soltou.

— Uso todas as minhas armas!! – Falei convencida.

— Imagino que eu não tenha visto quase nenhuma... – Ele me encarou, seus olhos nunca deixando os meus lábios.

— Não, não viu... seja um bom menino e um dia, quem sabe, eu posso te mostrar. – Respondi. – O que você está esperando? – Olhei para ele, sei que ele me entenderia. – Minha permissão?

Alex não me respondeu com palavras, mas com ações. E que beijo fora esse? Eu sabia como tinha começado, mas até onde poderia nos levar... eu só poderia imaginar.

Interrompemos o beijo não por falta de ar, mas porque o elevador parou no andar e apitou. Alex me soltou muito contrariado e antes de entrar, sussurrou no meu ouvido.

— Você, Katerina Nieminen, será a minha ruína. – Me deu outro beijo e entrou. – Boa noite. Até daqui a pouco.

E, se as portas não tivessem fechado tão rápido, eu juro que teria puxado Alex pela blusa branca que ele usava e o arrastado para dentro do meu apartamento.

Precisei de quase cinco minutos para sair do lugar, tamanha fora a intensidade do beijo, mas assim que consegui fazer as minhas pernas me obedecerem, tive que me apressar, eu ainda tinha que fazer algumas coisinhas antes de cair na cama.

Minha primeira tarefa, apesar da hora, foi começar a lavar a roupa, separei tudo nas duas máquinas, era muita coisa, e só reparei que tinha roupa de Alex ali quando joguei duas camisas dentro da máquina onde coloquei as roupas brancas.

— Um ótimo começo. – Murmurei rindo. – Quem diria que um dia eu lavaria roupa de namorado meu!!

Com essa parte resolvida, dei uma conferida no estado do apartamento, era tarde, mas tinha coisa que precisava sim, ser arrumada. O chão estava teoricamente limpo, graças aos três robozinhos de limpeza que eu tenho, assim, não havia pelos de husky espalhado. Resolvi limpar o que precisava ao mesmo tempo em que conversava com meu irmão, isso se Ian já tivesse acordado em Londres, é claro. Troquei de roupa, aproveitando o ensejo e colocando a que passei o dia para lavar também e, quando comecei a limpar a casa, Ian me atendeu.

— E aí, sumido?? – Perguntei.

— Quantas horas são aí na Califórnia? – Foi desse jeito que ele me saudou.

— Onze e quinze.

— E o que você está fazendo para me ligar a essa hora? Chegando o trabalho?

— Mais ou menos... cheguei não tem quinze minutos de San Diego, como recebi o seu recado, resolvi tentar a sorte e te ligar.

— E como você nunca consegue conversar no telefone sem ocupar as suas mãos, presumo que esteja faxinando.

— Bem... sim. – Respondi ao mesmo tempo que xingava Ian mentalmente... por que meu irmão tinha que me conhecer tão bem?

— Por que não faz isso de manhã?

— Porque quero ir à praia. – Falei a verdade.

— Isso é motivo para começar a pagar e receber as apostas que fizemos. – Ele começou a rir.

— Não foi para saber das apostas que liguei para você... o que você tem de importante para me contar?

— Temos que conversar sobre a viagem da Olívia.

— Em quatro semanas ela vai estar aqui... – Falei feliz.

— Não vai te atrapalhar? Porque eu sei que você tem uma rotina louca e você conhece a minha filha... ela já fez até um roteiro para conhecer Los Angeles....

— Isso é ótimo, vou conhecer com ela, apesar de saber que são todos pontos turísticos lotados.

Ian remexeu em alguns papeis, pude escutar do telefone, mesmo que eu estivesse esfregando o banheiro.

— Ela quer ir na casa do Chris Evans, e na do RDJ... e quer tentar encontrar a Lady Gaga e a Meryl Streep.

— Não faço nem ideia de onde esse povo todo mora... E acho difícil, muito difícil, tropeçar em um deles por aqui... – Comentei.

— Bem isso vai ser problema de vocês duas... mas você não vai se importar se ela aparecer?

— Claro que não... ela disse isso antes de eu embarcar. Vou gostar de ter companhia. Você sabe que eu não suporto ficar sozinha...

— Se arranjasse um namorado ao invés de ser casada com o trabalho, não estaria sozinha. – Meu irmão foi curto e grosso.

— Quer que eu arranje um namorado e o traga para dentro de casa em tempo récorde?

— Não foi o que eu disse... apesar de que você jamais faria isso! – Ele riu.

Olhei para dentro do meu quarto e vi a mochila de Alex... Ah, se ele soubesse.

— Mas falo sério, Katerina. Você não pode se matar de trabalhar e ficar presa dentro de um apartamento na companhia de seus cachorros... tente viver... Los Angeles tem uma vida noturna agitada. São onze e meia aí e você tá faxinando o apartamento. Eu duvido que você vá para a praia amanhã, vai é voltar para o escritório! Sabe... eu não ficaria com esperanças de voltar à Londres nem tão cedo.

— Não tenho... – Respondi. E era verdade, agora, eu não queria voltar para Londres, não à trabalho. Poderia ir amanhã para ver minha família, mas à trabalho, não. Me mudar para lá de volta por conta de trabalho. Não mesmo.

— Um dia você volta... mas o povo quer te testar... falando em teste, o que você falou para o seu chefe que o deixou irado?

— Nada demais, só pedi que ele não tentasse controlar ainda mais a minha vida.

— Você disse isso? Porque não foi o que ele comentou.

— E o que ele falou?

— Que nunca esperava um ato de rebeldia vindo de você...

— Sou eu quem mando na minha vida, Ian... Nosso avô não tem nada a ver com isso. – Falei e meio sem querer preparei o terreno para a grande revelação.

— Demorou vinte e nove anos, mas você disse o que sempre precisou dizer... Tomou coragem, finalmente.

— Sim, eu tomei. – Dei um sorriso, pensando no motivo da minha coragem.

— Bem, KitKat... eu vou te deixar terminar de lavar esse banheiro aí... então Olívia pode ir...

— Sim... faça seu avô mandá-la no jato privado... tenho calafrios de pensar nela sozinha em um voo comercial por doze horas...

— Pode ter certeza de que a própria Olívia já conversou com ele.

— É mesmo?

— Sim... acho que você duas tomaram o mesmo chá da coragem hoje...

Isso explicava o humor do meu avô no telefonema de mais cedo.

— Deve ter sido. – Respondi. – Que orgulho da minha afilhada!

— É... mas não diga isso a ela.

— Estou falando com o pai dela, Olívia não precisa saber.

— Acho bom, pois ela está de castigo e sem celular e notebook no quarto, se você quiser conversar com ela mais tarde, ligue na linha fixa.

— Vou me lembrar disso. E Tuomas, Elena e Tanya?

— Tanya está no hospital, Elena ainda não acordou, Tuomas saiu ontem de noite e chegou com o dia raiando... bem sobrinho do Kim, mesmo.

Eu ri, meu irmão gêmeo era famoso por ter virado noites direto.

— E você? Pronto para mais um GP na próxima semana?

— Pronto para cumprir tabela, você quer dizer...

— Tentei soar otimista.

— Talvez na próxima temporada, mas não posso falar disso com você.

— Sei muito bem que não pode... mas aposto que dentro de algumas semanas vai falar...

— Extraoficialmente... Não vou tomar mais o seu tempo, porque você ainda tem que ir dormir... Se cuide aí, KitKat. Vamos nos falando sobre essa viagem da minha filha nas próximas semanas.

— Vocês também, dê um beijo nos meus sobrinhos por mim. – Falei e me despedi, podendo me concentrar totalmente no que tinha que fazer. Ou assim eu pensava, pois não se passaram cinco minutos e meu celular tocou. Atendi pelo fone de ouvido, então não sabia quem era.

— Será que você pode, pelo amor de Deus, colocar essa sua cara feia na tela? – Mel perguntou.

— Ou ela está extremamente ocupada e atendeu errado. – Pietra comentou.

— Estão erradas. Estou limpando o banheiro. O que vocês querem?

— Limpando o banheiro!? Deu ruim na festa? – Mel iniciou o interrogatório.

— Não, Alex só está na casa dele.

— Hoje é sexta, vocês não deveriam ter saído? – Sempre a Pietra...

— Passei o dia com ele. Alex me levou até San Diego... e como vou passar o dia de amanhã também, ele achou melhor me dar um tempinho... – Informei.

—  Nossa... isso é... – Mel procurou pelas palavras.

— Ele tem um clone? Estou precisando de um desses.... – Pietra brincou. – É sério, onde eu acho um desses para mim? Só aí na Califórnia?

— Não sendo o meu... eu até ajudo vocês!

— Mas falando no Bonitão da Propaganda de Perfume... como foi no aniversário da mãe dele??? Desde quarta que não temos notícias! – Pietra começou.

— Achei que tinham te matado e jogado você em um buraco no Mojave...

— Mel, pare de ser exagerada. E a festa foi... interessante. Minha sogra me alugou por quase uma hora.

— Meu DEUS!! Interrogatório da sogra, no dia do aniversário dela, na festa na casa dela... o que ela quis? - Mel se desesperou.

— Conversar sobre Alex e me agradecer por ter ido... basicamente ele andava meio sumido das festas em família desde o término com a ex.

— A que é amiga da sua irmã?

— A própria, Pietra.

— E mais o que ela falou? Contou os motivos? – Mel não era nem um pouco parecida com a vizinha fofoqueira que todo mundo tem...

— Os motivos não. Alex me disse que ela queria algo mais na carreira e a dele, aqui, não estava ajudando muito...

— Tá... parece que a sogra é gente boa... mas ainda é muito cedo para ter certeza, e o pai?

— Gente boa também... deu graças a Deus por eu comer que nem gente.

A Pietra riu.

— Deixa eles te verem por mais tempo e com muita fome... eu nunca me esqueci daquela vez que você comeu DOIS Subways de 30 cm, de uma vez!

— Por favor, sua Italiana Maluca, não comente isso! – Pedi.

— Um dia ele vai ter que ficar sabendo, e que não seja nos brindes do casamento... – Mel completou rindo muito.

— E como foi dormir na casa dos sogros? – Pietra perguntou cheia de segundas, terceiras e quartas intenções.

— Nada do que você está pensando aconteceu. – Informei.

— Você sempre foi devagar nesse quesito... – Ela murmurou. – Mas e ele? Mais alguma descrição que as propagandas não tenham nos dado.

— Se tem, fica só pra mim.

— Ui! Ela é ciumenta!! – Mel brincou.

— E nós sabemos o que isso significa! – Pietra cantarolou.

— KATERINA ESTÁ APAIXONADA DE VERDADE! – As duas falaram juntas.

— E pela velocidade em que tudo está acontecendo... eu acho que teremos uma surpresa no Natal.... – Pietra, tinha que ser, apostou.

— Podem parar!

— Não, Kate... você está verdadeiramente jogando no lixo tudo o que você jurou que jamais faria!! Então, o tal do Alexander Pierce é realmente especial. Me pergunto se eu terei que ir até LA para conhecê-lo ou você vai nos apresentar antes...

— Talvez, nada confirmado ainda, no GP dos EUA.

— Ela vai jogar o pobre na fogueira!!! – Mel gargalhou alto.

— Um pouquinho de payback não faz mal para ninguém.

— Esse relacionamento vai longe.... quero ser madrinha de um dos bebês!! – Pietra comentou.

Bebês?!! Tá louca? Esqueceu o remédio de novo?

— Não, sendo realista... você nunca ficou desse jeito por nenhum de seus dois namorados oficiais... talvez aquele menino na escola... mas ele voltou para a Alemanha e você nunca mais o viu.

— Qual era mesmo o nome dele? – Perguntei... eu me lembrava da carinha dele, já do nome...

— Nem vou falar nada, se até esqueceu o nome do pobre... – Mel comentou. – Mas voltando à vaca fria... o que vocês vão fazer amanhã?

— Bem... vamos aproveitar a praia, até onde conversamos.

— E? Katerina, eu te falei, eu trabalho com fatos... quero mais detalhes do seu dia.

— Pietra eu não sei... Ele quer me levar para conhecer a Los Angeles que turista não conhece...

— Quero fotos!!! Você como uma fotógrafa semiprofissional pode me mandar as melhores... um dia elas valerão muito!

— Mel não exagera! – Respondi e dei uma conferida no meu serviço, o banheiro estava um brinco. Faltava a cozinha e a área dos cachorros.

— Tudo bem... mas me manda as melhores. Vou confiar no seu bom gosto. Vou indo porque você ainda tem que dormir e o meu dia está só começando. Nos conte os detalhes do dia... se é que você vai dividir isso... – Melissa terminou me atazanando.

— Também me vou... você não se provou uma fofoqueira de primeira, então terei que pesquisar o motivo do término do seu namorado na internet... adoro um babado, você sabe como é... Nos falamos qualquer dia desses.

— Até, Pietra.

— Uma última pergunta, você tem biquíni, não tem?

E eu fiquei calada... porque não me lembrava de ter trazido os meus.

— MEU DEUS, KATERINA!!! VOCÊ É UM DESASTRE!! – Deu uma gargalhada e desligou o telefone.

Estava toda suja de água sanitária e desinfetante, afinal, esfregar o lugar onde meus cachorros adoram ficar requer todos os cuidados, impossível que eu entraria no meu closet pra procurar um biquíni.

— Tá aí uma coisa que eu vou ter que comprar aos montes... tomara que consiga tempo amanhã... ou na internet, quem sabe...

Uma hora depois, terminei a faxina, tomei um banho e foi só aí que fui ver se eu tinha ou não roupa de banho.

Minha sorte, eu tinha trazido! O que não quer dizer que eu estava livre da compra, ainda iria precisar comprar mais.

Antes de ir dormir, coloquei meu celular e o carregador portátil na carga, e programei o despertador para às seis horas. Meia hora seria o suficiente para me arrumar e foi quando eu vi a mensagem de Alex.

Boa noite, Kat... não esqueça a câmera amanhã...

Corri até o escritório, peguei a minha câmera e tomada para que te quero! Outra coisa que passaria a noite carregando.

— Acho que agora eu posso ir dormir... - Murmurei e, inconscientemente, abracei o travesseiro com que Alex dormira... – Como pode eu sentir a sua falta desse jeito, sendo que mal te conheço??


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Notas finais do capítulo

Bem é isso!
Obrigada a você que leu!
Até o próximo!
xoxo



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