Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 122
A Viagem


Notas iniciais do capítulo

Eu sei, tem muito tempo que eu não apareço por aqui... fora o bloqueio criativo pelo qual estou passando, o tempo anda escasso e o cansaço imenso.
Mas, chega de desculpas, e vamos à história!
Boa leitura!



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Levamos a tarde toda para arrumar as malas das meninas. Tuomas não deu todo esse trabalho, o que não quer dizer que, ao final do dia, ele não tivesse uma mala imensa pronta pra ser arrastada para o outro lado do mundo...

No jantar, que foi na casa de meus pais, ninguém estava acreditando que Ian e Tanya tinham liberado os filhos para viajarem sem eles.

— Os tempos estão mudados. – Brincou Kim.

— Só mesmo a Kat para conseguir levar os três de uma única vez para longe e nem escutar uma mísera reclamação dos pais. – Foi o que minha avó Claire disse.

Para todos parecia um verdadeiro milagre que meu irmão tivesse liberado os filhos assim tão facilmente, mas, bem no fundo, todo mundo sabia que essa era a melhor solução. Antes tê-los ocupados na Califórnia do que presos dentro de casa.

A noite foi repleta de conversas animadas, minha família fazia mais planos do que meus sobrinhos, cada um falou onde ele teriam que ir e o que deveriam fazer e só pela cara de Liv e Tuomas eu sabia que eles não estavam muito adeptos às ideias. Elena era a exceção, para ela todos os lugares estavam bons, pois ela não conhecia nenhum.

Combinei com Tanya que ela levaria os filhos até o aeroporto, primeiro, porque não queria tirar dela os últimos minutos ao lado dos três e, segundo, porque eu sabia que ela ainda teria uma lista de recomendações a passar aos filhos.

— Então, vocês embarcam que horas? – Foi a pergunta de meu pai, ele estava tentando bancar o desinteressado, contudo, para quem o conhecia, via que na verdade, não estava gostando de ver quatro membros da família se preparando para voar para o outro lado do globo.

— Às dez da manhã. Queremos chegar em Los Angeles ainda de dia. – Falei quando fui me despedir.

— E você vai tomar conta dos meus netos, não vai, KitKat?

— Claro, papai. Como sempre fiz e o senhor pode ficar despreocupado, garanto que Dona Amelia também vai supervisionar a estadia dos três com olhos de águia.

— Imagino que sim. Porém, sempre de olho neles, Katerina. – Tornou a falar de forma séria.

— Com certeza ficarei. E o senhor, trate de tentar reviver a McLaren, porque não quero ver os Papayas fechando o grid!

Meu pai só fez uma careta.

— Quem sabe no ano que vem. – Foi a resposta que ele me deu.

— Acho melhor eu começar a procurar uma equipe B que não me fará sofrer. – Brinquei.

— É, faça igual a sua sobrinha, que começou a torcer para a equipe quando ela começou a perder...

— Começo a achar que nós somos os problemas...

— Se é assim, podem torcer para quem está na nossa frente, pode escolher, têm várias equipes. – Disse meu pai em tom brincalhão.

Acompanhei a sua risada, que não durou muito, pois logo veio Elena, cantarolando, pulando e falando para quem quisesse ouvir que ela estava indo passar as férias na casa da täti e do setä.

— Ela não vai parar de falar nisso nem tão cedo. – Ele murmurou e foi pegar a neta mais nova no colo.

— E quem pararia? Eu sei que não. – Tentei limpar a barra da baixinha.

As despedidas continuaram e sempre com os mesmos conselhos de tomar conta dos três, de não os deixarem sozinhos e sempre supervisionar o que eles estavam comendo e fazendo. Alex e eu só concordávamos com um menear de cabeça.

Isso porque ainda tínhamos uma noite por aqui, nem queria saber como seriam as despedidas se estivéssemos partindo hoje.

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Às nove da manhã encontramos com Ian, Tanya e os três filhos no hangar. Os filhos estavam eufóricos, falando sem parar e quase sem conseguir conter a ansiedade, já os pais, só pelas suas feições eu sabia que eles queriam não ter concordado com essa ideia; que, por eles, os filhos ficariam na Inglaterra, onde poderiam ficar de olho e tomar conta, mesmo que desse um trabalho um pouco maior do que o normal.

Tive a vontade de perguntar se eles estavam querendo desistir da ideia, mas pensei melhor, porque, vindo do meu irmão tudo é possível, até cancelar uma viagem em cima da hora, assim, fiquei em terreno mais firme:

— Alguma recomendação especial?

Ian olhava para os filhos que agora tiravam uma foto juntos, coisa raríssima de acontecer de forma espontânea.

— Nada que você já não saiba. – Tanya respondeu, também sem tirar os olhos dos três. – Só tome conta deles, Kat, como se fossem seus. Sei que todo mundo disse isso ontem, mas é verdade. Como mãe, um pedaço enorme de mim está indo com você.

— Eu vou tomar conta deles, Tanya. Como sempre tomei. E se for amenizar a sua saudade, faço os três te ligarem todos os dias. É só marcar o horário.

— Acho uma boa ideia, mas não sei se todos concordarão. – Olhou especificamente para Tuomas.

— Creio que ele vai sim. Tuomas banca o independente, mas se ele realmente quisesse manter distância de todos, não estaria indo. No fundo, ele sabe, essas são as últimas férias de verão com a família. Quer fazer valer a pena.

— Que suas palavras se tornem verdade. – Disse minha cunhada. – Agora embarquem antes que eu comece a chorar e cisme de levar meus filhos de volta para casa.

Ian chamou os filhos e se despediu, mantendo uma fachada de pai durão que se quebrou na hora em que ele olhou para mim.

— São temporariamente seus filhos. Quero-os de volta em um mês, tão perfeitos quanto estão agora.

— Eles ficarão bem, Ian. Essas férias serão boas para eles e para vocês. E eu vou tomar conta muito bem. Eu e Alex. – Apontei para meu noivo que agora era o alvo de Elena que o fazia de cavalinho.

— Eu sei que vai, KitKat, mas nunca é demais avisar. Boa viagem de volta e boas férias.

— Obrigada. E bom descanso para vocês.

Foi a vez de Alex se despedir, ele bem que tentou fazer Elena embarcar comigo, mas a Pequena não quis descer de suas costas.

— Elena, respeite e obedeça aos seus tios, ou nunca mais você passará férias na Califórnia. – Tanya falou firme e a caçula desceu dos ombros de Alex, correu para a mãe, a abraçou e quando voltou para o meu lado, só falou:

— Eu amo muito vocês e vou sentir muita saudade!

E essa simples frase fez minha cunhada desmoronar de vez, tanto que eles nem esperaram que a porta fosse fechada para saírem do hangar.

Cada um escolheu o assento que quis e eu garanti que os três estivessem com os cintos afivelados corretamente quando nossa decolagem foi autorizada, algo que fez com que Tuomas revirasse os olhos, afinal, ele já era quase um adulto e não precisava de toda essa supervisão.

Voamos por um pedaço de Londres, Elena e Liv, que tinham se sentado na janela, iam apontado para os pontos turísticos que elas conseguiam reconhecer, até que tudo ficou longe demais. Foi nesse momento que avisaram que poderíamos desafivelar os cintos e bastou que isso acontecesse para que Alex simplesmente ficasse de pé e soltasse:

— E então, o que iremos fazer na Califórnia, alguém tem alguma sugestão?

Para que ele foi fazer isso! Cada um deles tinha mil e uma ideias diferentes, que no final foram devidamente anotadas em um tablet, para que, se desse tempo, fossem executadas. E uma delas me chamou atenção.

Ir a Las Vegas.

— Podem esquecer Las Vegas, se vocês pisarem lá sob a minha responsabilidade, eu vou ser morta e vão me fritar, amassar e fazer purê!

No meio da viagem, Elena descarregou, ajeite-a na cama que tem no fim do avião e a deixe dormindo. Tuomas foi o próximo que sucumbiu ao cansaço e ao ócio de uma viagem tão longa e foi dormir também, se ajeitando como quis no sofá. Somente Olivia permanecia acordada.

— Não vai descansar? – Alex perguntou a ela, depois de ir checar Elena.

— Estou ansiosa demais para conseguir dormir. – Confessou ficando vermelhinha.

— Tem mais além disso. – Meu noivo não comprou a resposta e nem a reação dela.

Olivia olhou para as próprias mãos e, antes de falar, respirou fundo.

— Tem sim, setä. Eu realmente queria muito fazer essa viagem, mas nunca achei que meus pais iriam permitir... sabe como o papai é. E agora eu nem consigo acreditar que estou efetivamente indo para a Califórnia para passar um mês com vocês! É surreal demais!!! Parece até um sonho, e eu estou morrendo de medo de acordar.

— Não é um sonho, Liv. É real e dentro de cinco horas, estará começando de vez.

Liv ficou ainda mais nervosa.

— Um conselho, Olivia, vá descansar, ou o fuso horário vai te pegar de jeito amanhã. – Falei com ela ao colocar uma caneca de chá de camomila na sua frente.

— Mas amanhã é domingo...

E você não vai querer fazer mais nada a não ser ficar dormindo em casa? – Alex questionou.

O rosto de Liv ficou ainda mais vermelho. Ela sabia que tinha caído na nossa armadilha e só balançou positivamente a cabeça.

Minha sobrinha ainda fez hora para dormir, mas, logo o chá fez efeito e o sono falou mais alto e ela foi se arrastando para o quarto, para se deitar ao lado da irmã mais nova.

Com os três dormindo, Alex se sentou do meu lado e pegou a minha mão na dele.

— Essa loucura vai dar certo, não vai?

— Com medo da sua ideia quando não dá mais para desistir, Surfista? – Brinquei com ele.

— Não estou com medo de tê-los trazido, me preocupo se eles terão as férias que acham que terão...

— Vai dar certo, Alex. Acredite em mim. – Apertei a sua mão na minha e depois beijei sua bochecha. – E aproveite esses momentos às sós, eles serão raros no próximo mês.

Ele só me puxou para o seu colo e me deu um beijo.

— Vai valer a pena. – Ele murmurou na minha orelha. – E, quem sabe, assim, você não começa a pensar nos nossos.

— Ou talvez nós dois entramos em acordo de que ter filhos é uma furada muito grande e que é melhor sermos só você, eu e nossos cachorros.

Alex deu uma risada.

— É, isso pode acontecer também...

— Em trinta e cinco dias saberemos qual será a opção que vai prevalecer. – Falei.

— Que fazer uma aposta?

— Nem pensar. Só vou curtir o momento... ou os momentos que estão por vir.

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 Faltando uma hora para o pouso acordei as meninas, já que as duas demoravam tanto quanto eu para “ligarem”. Não precisei fazer isso com Tuomas, Elena, sem cerimônia alguma, pulou no colo do irmão e disse que já estávamos chegando e que era para ele acordar.

Resmungando, nosso sobrinho se levantou e foi direto tomar uma xícara de café. Olivia que fazia um chá para ela, fez uma careta para o cheiro da bebida.

— Você não é novo demais para tomar isso? – Apontou com cara de nojo para a xícara de café.

— E você parece uma velha tomando essa quantidade de chá. – Retrucou o garoto.

Olivia ficou toda ofendida com o comentário, mas não retrucou, só virou de costas e veio se sentar do meu lado, ignorando o irmão como pode.

Elena, alheia a tudo isso, tinha se apossado do assento na janela ao lado de Alex e jurava que já dava para ver a cidade.

— Ainda não dá baixinha. – Alex falava todo paciente. – Estamos um pouco longe.

Mas ela continuava a dizer que sim.

Mais alguns minutos e finalmente era possível começar a ver os contornos de Los Angeles. Olivia, que tinha chegado de noite na primeira vez em que veio e, na segunda, estava cochilando, pediu para se sentar do meu lado e observar a paisagem.

E a cada metro que ficávamos mais perto, era possível ver que a animação das meninas aumentava. E eu tive muito trabalho para convencer Elena de que ela tinha que se sentar quando os procedimentos de aterrissagem foram iniciados.

Paramos no hangar e logo a fiscalização subiu a bordo para verificar passaportes e documentação. Levaram o dobro do tempo para darem o aval para nosso desembarque, tudo porque fizeram mil e uma perguntas sobre a estadia dos três menores conosco, chegando até mesmo a perguntarem aos três se eles nos conheciam, de onde e há quanto tempo.

Sem nenhum problema, mesmo tendo procurado por muitos, fomos liberados. As férias do trio começavam agora.

E o primeiro problema veio justamente em como carregar a quantidade de malas...

— Simples, amarra a Liv no teto e coloca as malas no lugar dela! – Tuomas deu essa brilhante ideia e Olivia respondeu com a seguinte pérola:

— Ou você pode ir a pé e arrastando a sua mala também! Admita é uma ideia muito melhor e vai sobrar muito mais espaço no carro!

Pelo visto teríamos que controlar as farpas trocadas entre os dois também...

Depois de um tempinho planejando, conseguimos ajeitar as malas e as crianças, ainda bem que deixaram o jipão no esperando, assim, pudemos usar o Hack do teto para ajeitar algumas das malas (para desespero de Olivia, já que as dela é que foram surfando ali; e alegria de Tuomas que ria das caras e bocas que a irmã do meio fazia).

Como o horário de verão já havia começado há um tempo e era quase verão propriamente dito, os dias estavam maiores, o que resultou em muito sol e calor no caminho.

— Na Inglaterra, o verão ainda não deu as caras com força, mas aqui parece que sempre está calor. – Olivia comentou. – Posso abrir a janela? Acho que seria bom para começar a tirar o mofo de tanta chuva!

Desligamos o ar-condicionado do carro e abrimos as janelas, a brisa marítima logo invadiu nossas narinas, bagunçando nossos cabelos e aumentando ainda mais a ansiedade das meninas.

Estranhamente, pegamos trânsito por todo o caminho, o que atrasou a nossa chegada e, para cada minuto parados no congestionamento, era uma mensagem recebida por um de nós, todas de destinatários bem certos, minha mãe, Tanya, minhas avós e, claro, Dona Amelia, que já estava nos intimando para o jantar de domingo, nas palavras dela: “quero meus netos emprestados do meu lado enquanto eles não enjoarem de mim!”

As praias pelas quais passamos estavam lotadas e o mar revolto, repleto de surfistas, chamava a atenção de meus sobrinhos.

— Uhm... tio, vamos continuar com as aulas de surfe? – Tuomas tirou seus fones de ouvido para, enfim, conversar conosco.

— Podemos. – Alex respondeu. – Resta saber se teremos companhia. – Ele deu um tapa no meu joelho e eu fingi que não era comigo.

— Só aceito cair da prancha se a tia me acompanhar! – Liv deu a opinião dela.

— Eu não vou cair da prancha, porque já sei surfar. E, também, porque o tio não vai me deixar, não é tio? – Elena perguntou toda animada, balançando as perninhas.

— Não, Lena, eu não vou deixar.

— Mas vai deixar a tia, né? A gente quer rir um pouco!

Olhei indignada para o banco de trás e minha sobrinha mais nova sorria abertamente.

— Pequena traidora! – Sibilei.

— É verão, tia, tudo mundo sabe que é a estação do ano que você menos gosta... então é a nossa hora de diversão e a sua de terror. – Olivia veio em defesa da irmã e, depois da minha encarada, só deu de ombros, mas o sorriso continuava ali.

— E nem adianta falar que não vai cair, tia... porque vai. Ninguém só com uma aula sai surfando como se fosse profissional. – Tuomas completou o raciocínio da irmã.

— E olha que até os profissionais caem... agora imagina o tombão que a tia vai tomar! Vai ser tão engraçado quanto o da Pietra! – Olivia deu corda e os três começaram a criar vários cenários onde eu caia da prancha e era arrastada para a praia. Um pior do que o outro, mas todos tinham algo em comum: a maneira vexatória na qual eu saía (ou era retirada, na pior das hipóteses) da água.

Óbvio que Alex entrou na conversa e contou com detalhes as vezes em que caí da prancha, aumentando alguns dos tombos. Os detalhes fizeram a alegria dos passageiros do banco de trás, que riam alto, ainda mais quando ele tentava imitar as minhas caretas.

Revirei meus olhos para as palhaçadas exageradas que eles faziam e decidi prestar atenção no trânsito, era a minha única saída...

O papo de surfe durou até em casa e continuou porta adentro, pois Alex mostrou para Tuomas a prancha que havia comprado para ele, o que causou um pequeno ciúme nas meninas.

Meu alívio é que Dona Amélia tinha vindo deixar meus filhotes peludos mais cedo e Thor, Loki e Stark estavam mais do que felizes em me ver, e, bem, ver Liv e Lena também.

Enquanto os meninos conversavam sobre pranchas no andar de baixo, ajudei Olivia a desfazer as malas e depois fui arrumar o quarto de Elena.

— Leninha, é aqui que você vai ficar. Vai dormir sozinha. – Comecei a explicar.

— Eu durmo sozinha em casa, täti.

— Eu sei, Lena, mas escuta a tia, por favor. – Pedi e recomecei a explicação. – Você vai ter este quarto só para si, e tem que me prometer que vai manter tudo arrumadinho. E, caso precise. – Peguei-a pela mão e levei até o corredor. – A tia e o tio estão naquele quarto ali, o último.

— Tudo bem. Vou manter tudo arrumado. Mas a senhora pode me fazer um favor? Deixa o abajur acesso? Tenho medo do escuro!

— Claro! Deixarei luz do corredor acessa e, não se esqueça, Thor, Loki e Stark estão sempre lá embaixo.

— Eu sei. Na verdade, eles estão sempre atrás da senhora, né?

— Quase sempre, acredito que agora ficarão junto com você. - Apontei para Stark que já rodeava os pezinhos de minha sobrinha e, quando ganhou um carinho, só começou a abanar o rabo.

— Agora me ajude a guardar as suas coisas.

Fomos guardando as roupas dela, porém, Elena pouco me ajudou, pois toda hora saía correndo e ia no quarto de Liv e voltava correndo para o quarto dela, animada falando sobre quais roupas ela usaria em qual passeio, mesmo que ela não soubesse aonde iria.

 Com a parte das meninas organizada, Tuomas era grande o suficiente para arrumar o próprio quarto, fiz o que tinha prometido para Tanya e coloquei os filhos em uma chamada de vídeo com ela.

Como havia pouco tempo em que os filhos haviam saído de Londres e de perto dela, os mais velhos não estavam assim tão emocionados em ver a mãe, já Elena, ela foi a melhor quando se despediu.

— Tchau, mamãe. Vou sentir saudades da senhora!

Vai, Leninha?

— Sim, mas ainda não estou sentindo não! Beijos!

Escutei o suspiro de Tanya do outro lado da tela e quando peguei o telefone para escutar as últimas recomendações, o que ela me falou foi algo totalmente diferente:

— Ela vai sentir... não está sentindo... carreguei essa bonequinha por quarenta semanas dentro da minha barriga para, nas primeiras férias longe de mim, escutar que ela “ainda não está sentindo saudades”. É dureza!

— Não seja tão dura com ela, Tanya. Elena só está empolgada demais com tudo o que ainda não fez. Te garanto que logo, logo, ela vai chamar por você e vai insistir para que te liguemos para te contar tudo o que ela viu, daquela maneira embolada e única que só ela sabe fazer. – Defendi minha sobrinha.

— Só quero ver. – Tanya suspirou. – Tome conta de meus filhos, Kat. E eu espero que essas férias passem bem rápido, quero meus rebentos do meu lado.

—-----------------------------   

 Nosso primeiro dia de férias foi exatamente um domingo. Elena, sempre ela, acordou ligada nos 220 volts e logo estava pulando em nossa cama, querendo saber o que iríamos fazer.

Täti! Setä! Bom dia!! Como estamos nos Estados Unidos eu só vou falar inglês! Acordem! O dia já amanheceu, já tem sol e nós estamos de férias, temos que aproveitar antes que comece a chover.

— Bom dia, Elena. – Obriguei-me a acordar e olhar na direção de minha sobrinha que pulava no pé da cama. – Primeiro, pare de pular na cama, não pode fazer isso.

— Tudo bem, parei. – Ela se jogou em cima de mim e ainda bem que eu estava quase escorada na cabeceira.

—  Agora, não precisa ficar desesperada para sair por estar com medo de chover, em Los Angeles quase não chove e quando acontece, é no inverno, assim, o sol vai brilhar por muito tempo lá fora.

— É mesmo? Não é igual à Inglaterra ou Finlândia que praticamente chove todos os dias, ou quase não se tem muitos dias super quentes?

— Sim, não é igual.

— NOSSA! A senhora não deve gostar, mas eu sei que vou adorar. E o que nós vamos fazer?

Peguei o celular na mesinha de cabeceira e olhei as horas, 06:30 da manhã.

— Que tal dormir mais um pouquinho? Você ainda deve estar cansada da viagem, depois podemos fazer o café da manhã. – Respondi.

— Não vamos comer panquecas?

— Podemos fazer as panquecas, mas ir na Dottie hoje, não é uma boa ideia, Leninha. – Alex entrou na conversa.

— Por quê? – Quis saber a menina que até tombou a cabeça. – Ela não trabalha aos domingos?

— Trabalhar ela trabalha, mas temos que evitar ir lá em dias de muito movimento, para que não fiquem tirando fotos do seu tio. – Expliquei.

— E por que tiram fotos do senhor? - A garotinha encarou Alex.

Alex me olhou, buscando ajuda na explicação.

— Porque ele é um ator, e por aqui tem um monte de gente que vive de tirar fotos de pessoas famosas como ele.

— E isso é um problema? Não seria mais fácil só pedir para não fazerem isso?

— Ah se fosse tão fácil! – Alex puxou a ponta do pé dela. – Pedir a gente até pede, sabe, Leninha, mas eles não escutam e continuam e tirar foto e como eu não quero que eles fiquem tirando fotos suas, não vamos àquela praia hoje.

— Então tem mais praias por aqui?

— Sim, tem várias e vamos em uma em que você vai poder surfar.

— Legal! Mas primeiro vamos dormir mais, certo?

— Exato. Assim, todo mundo vai estar bem descansado para ficar muito tempo dentro d’água.

Elena logo deixou meu colo e se deitou entre nós, enumerando tudo o que ela queria fazer na praia, falou por um tempo, contando nos dedos, até que depois de esquecer o primeiro item, acabou por cair no sono.

— Ela vai fazer isso todos os dias, não vai? – Alex perguntou depois que Elena se virou de lado e veio dormir me usando de travesseiro.

— Sim, ela vai. Isso se ela não aparecer de madrugada e quiser dormir aqui.

— Ainda bem que a cama é bem grande, porque nunca vi uma pessoa tão pequena ser tão espaçosa! – Ele reclamou.

— Acostume-se, Surfista. Isso é só o começo!


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Notas finais do capítulo

As férias só estão começando e eu espero não ficar tanto tempo sem postar...
Muito obrigada a você que chegou até aqui. Espero que tenha gostado!
Até o próximo capítulo!
xoxo



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