Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 117
Aniversário


Notas iniciais do capítulo

E chegou o aniversário do nosso casal favorito... sim, os pombinhos fazem aniversário no mesmo dia!
E o Alex tem uma notícia para dar para a Kat, será um bom presente ou não?
Boa leitura.



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E a data que eu tinha antecipado para Kim chegou oficialmente. Era meu aniversário e eu até tinha motivos para comemorar, tinha passado por muito no último ano e agora encontrava-me em um momento de paz.

Ainda deitada, com Alex dormindo do meu lado, permiti-me refletir sobre o que era ter trinta anos...

Eu não sentia nada de diferente. Tinha certeza de que minha aparência não tinha mudado bruscamente nas últimas seis horas. Mas sabia que a Katerina de hoje era muito diferente da Katerina de 10 anos atrás.

Suspirei. Eu não estava sentindo aquela urgência de completar uma lista de “Coisas que eu quero fazer antes de morrer” ou de jogar tudo para cima e procurar uma carreira nova ou até mesmo a necessidade de formar uma família.

Talvez, como Kim disse, eu era de fato sortuda por ter conquistado tanto durante os meus vinte anos... tudo bem que abri mão de muita coisa também, contudo, os últimos seis meses me deram boa parte desse tempo de volta.

Se dos vinte aos vinte e nove eu construí uma carreira de sucesso, foi nos últimos seis meses que a minha vida pessoal se tornou completa. E pensando assim, virei-me de lado e encarei o responsável por fazer a minha vida dar uma guinada de 180º, se tornar imprevisível e, ao mesmo tempo, tão certa.

Alex nem se mexia, dormindo sereno, virado para mim, uma mão debaixo do travesseiro e a outra meio estendida na minha direção. Suas feições, que nos últimos dias andaram tão cansadas, estavam relaxadas e ele parecia dormir sem nenhuma preocupação pendente.

Hoje também é o aniversário dele. Uma coincidência e tanto. Além de Kim, jamais esperei conhecer outra pessoa que fizesse aniversário no mesmo dia que eu. E aqui estava Alex... que tinha caído de paraquedas na minha vida de forma definitiva e irremediável.

Hyvää syntymäpäivää.— Murmurei contra seus lábios e depositei um beijo ali. – Você merece muito mais do que todas as amenidades que todos irão falar hoje com você. Te amo demais, meu Surfista Tatuado de Venice Beach. – Falei e delicadamente saí da cama, me enrolando em um roupão para poder descer até a cozinha e começar a preparar o nosso café da manhã, aproveitei e peguei meu celular e bastou que eu ligasse a wi-fi e fui inundada de mensagens.

Algumas eram simples, outras faziam piada com minha nova idade. Outras eram longas e carregadas de saudades.

Esse era efetivamente o primeiro aniversário que eu passava longe de meus pais. Tudo bem que houve vezes em que papai estava viajando com o circo da Fórmula 1 e não estava em casa para me dar um abraço ou fazer um café da manhã especial para Kim e eu. Mas eu nunca comemorei longe de pelo menos um dos dois e, nos últimos anos, nem longe de meus sobrinhos.

Algo que não aconteceria hoje e que justificava as mensagens longas e carregadas de sentimentos que recebi de meus pais, avós, Tanya e Ian, Liv, Tuomas e Elena.

Suspirei de saudade da minha família. Poderíamos estar separados por meio mundo, mas eu sabia que o sentimento que nos unia era mais forte do que qualquer distância.

Respondi a todas as mensagens que chegaram, sei que estas não seriam as únicas, viriam mais durante o dia e, com um sorriso no rosto e relembrando alguns momentos dos últimos aniversário, comecei a fazer o café da manhã, caprichando em alguns ingredientes.

Com pouco, Alex acordou e apareceu na porta da cozinha, ainda coçando a cabeça.

— Bom dia, aniversariante do dia! – Falei baixinho e fui até ele. E, como sempre, meu noivo estendeu os braços para me receber e, em um movimento rápido, me colocou sentada na ilha da cozinha e me roubou um beijo.

— Bom dia, Kat. Feliz aniversário! – Respondeu-me quando nos separamos. – Acordou cedo.

— Pois é. Deve ser coisa da idade. – Fiz piada.

— Se você está velha aos trinta. Eu estou o que com trinta e cinco?

— Caquético. – Respondi sem nem parar para pensar. – Mas fique tranquilo, você é o meu caquético preferido. – Roubei outro beijo dele e desci da bancada para terminar o café.

Alex balançou negativamente a cabeça e me seguiu para perto do fogão, vendo o que eu estava fazendo.

— Sem chá hoje? – Perguntou espantado.

— Sem chá... só chocolate quente, a receita da minha avó.

— Está saudosa, é? – Ele me cutucou nas costelas.

— Não tem como não estar. Era sempre assim que meu pai, ou minha mãe, me acordavam no dia do meu aniversário. Uma enorme caneca de chocolate quente com marshmallows e croissants.

— Não tem croissant por aqui.

— Não sei fazer isso, e nem faria se soubesse, mexer com massa folhada é complicado demais.

Nosso café ficou pronto pouco depois e Alex se propôs a arrumar a cozinha, já que eu estava um pouco atrasada.

— Qual é a sua agenda para hoje? – Perguntei a ele enquanto calçava os sapatos.

— Quer fazer algo especial?

— Só sondando, porque não faço ideia de como você gosta de comemorar o aniversário...

— Normalmente trabalhando. A última festa foi com trinta anos, depois dessa, deixa para o aniversário de cem.

Dei uma risada.

— Torço para você viver tudo isso. Mas não me respondeu.

— Reuniões e mais reuniões. Talvez mais do que você.

— Novos contratos?

— Talvez. São só conversas iniciais. De dou os detalhes de noite.

— Tudo bem. Se divirta no seu dia então, Surfista. – Despedi-me dele e corri para o carro.

Meu dia foi complicado, para ser boazinha, virou um caos logo que coloquei os pés no escritório e entre mil e uma ligações, reuniões, relatórios e problemas, consegui passar despercebida no quesito aniversário, mesmo que meus avós tenham me ligado de vídeo na hora do almoço para me desejarem um ótimo dia e que eu fosse logo para a Europa para comemorarmos.

Eu até iria para a Londres na próxima semana, dando uma carona para Vic que passaria as últimas semanas já na Inglaterra à espera do momento em que Sebastian fosse nos agraciar com a sua presença.

No final do expediente, quando eu já estava com tudo guardado, Amanda e Milena vieram me desejar Feliz Aniversário.

— Sabe, Chefa, - começou a adolescente. – nossa ideia era fazer uma comemoração aqui, mas não sabíamos se você iria gostar ou não, assim, só compramos um presente!

— Não precisava, mas agradeço a lembrança. – Falei ao receber o embrulho, que era um jogo de chá personalizado com as minhas iniciais. – E, sinceramente, nunca vi algo tão lindo! – Agradeci a cada uma com abraços, realmente agradecida pela bela surpresa.

Descemos juntas para a saída e eu ainda não tinha agradecido o suficiente as duas por terem se lembrado do meu dia.

Voltei para casa pensando em como eu poderia surpreender Alex. Nós não tínhamos combinado nada, contudo a ‘coincidência’ de fazermos aniversário no mesmo dia pedia lago especial.

Dei uma olhada rápida no painel do carro para saber as horas, era relativamente cedo e eu ainda teria tempo de dar uma passada no supermercado e comprar algo para um jantar especial...

Estava andando no corredor de vinhos, procurando a garrafa que Pietra tinha me indicado a comprar, depois de ter ligado para ela um tanto perdida diante de tantas escolhas e sem saber qual harmonizava melhor com a receita de peixe que iria fazer, quando escutei...

— Por que você nunca me deixa te fazer uma surpresa?

Muito sem graça, virei-me na direção da voz de Alex e vi que ele tinha um carrinho bem cheio de ingredientes que era para uma massa.

— Ainda estou esperando a resposta, Kat. – Ele fingiu estar bravo.

— Creio que tivemos a mesma ideia, porém não com a mesma receita. – Apontei com a cabeça para o carrinho que tinha na frente dele.

Alex estreitou os olhos, mas vi que ele analisava as minhas escolhas.

— Salmão?

Balancei positivamente a cabeça.

— Não gosta? – Questionei diante da sua expressão.

— Pensei nele também, mas aí me lembrei que não faço ideia de como preparar.

— Ah... então partiu para a escolha que nunca pode dar errado... a boa e velha massa?

Foi a vez de ele ficar sem graça.

— Não ia errar. Garanti.

— Nem você. – Ele me respondeu. – Mas estou curioso. – Ele deu um passo na minha direção.

— Com?

— Se você não bebe, como sabia que justamente esse vinho harmoniza muito bem com salmão?

— É por isso que é bom ter amigas que são sommeliers... na hora do aperto elas servem para isso.

Alex riu. E depois pegou uma outra garrafa de vinho que, diz ele, era para a massa.

— A pergunta que fica é: o que vamos efetivamente fazer hoje? – Ele questionou quando estávamos no caixa.

— Tiramos no par ou ímpar para escolher? – Sugeri.

— Uma solução muito adulta de sua parte. – Foi o comentário que ele deu.

Voltamos nossa atenção ao caixa e a atendente estava boquiaberta, segurando o pacote de massa sem passá-lo no leitor de código de barra, olhando fixamente para Alex.

Assim que meu noivo notou que era observado atentamente começou a ficar sem graça, muito sem graça.

— Não acredito. Alexander Pierce. Você é realmente de verdade. – Disse a moça ainda embasbacada.

Alex deu um de seus sorrisos educados, daquele tipo padrão de celebridades quando estão cercadas pelos fãs. Não que ele desgostasse dos fãs, ele só não era extremamente adepto à forma como todos pareciam olhar para ele como se ele fosse uma espécie de extraterrestre.

Meu. Deus. Ninguém vai acreditar. Ainda mais hoje. É seu aniversário, não é? – Continuou a moça, um pouco mais agitada dessa vez.

Alex confirmou a pergunta e a atendente deu pulinhos sentada atrás do caixa.

— Feliz aniversário! – Ela falou sorrindo abertamente. E desse sorriso eu não gostei, contudo Alex só agradeceu e depois de guardar as compras na sacola retornável, saiu de perto do caixa e foi em direção ao estacionamento.

Era a minha vez de passar as compras e a caixa ainda estava olhando para o caminho que Alex fizera, e quando se virou, suspirando para me atender, só soltou:

— Sortuda é a namorada dele. – Disse amargurada e voltou a ser profissional, me cumprimentando educadamente.

— Boa tarde. – Respondi e meu sotaque chamou a sua atenção, fazendo com que ela me olhasse, achando que poderia ser uma das muitas celebridades britânicas que andam por Los Angeles.

Eu vi em seus olhos a decepção quando ela viu que eu não era uma celebridade e, logo se voltou para a sua tarefa, porém, pouco depois, levantou a cabeça e me encarou. Primeiro com surpresa e, depois, com uma pitada de inveja.

Você é a namorada do Alex Pierce, não é? Ao menos era você quem estava ao lado dele no lançamento do carro. – Sua voz era fria.

Sem saber muito como agir – nunca tinha me passado pela cabeça que um dia eu seria questionada dessa maneira – apenas confirmei com um aceno de cabeça.

Vi que a mulher deu uma pequena espiada em mim, analisando a minha roupa, minha maquiagem e a mim como um todo, depois fez uma careta, aumentado, em seguida, a velocidade com a qual ela passava os produtos no leitor, como se quisesse que eu saísse de perto dela imediatamente.

Com aspereza disse o valor das compras e quando eu apresentei o cartão para o pagamento, ela murmurou:

— Deve ser dele.

Revirei meus olhos para a constatação errada e digitei a senha, para depois, terminar de guardar as compras nas sacolas.

Quando peguei todas as sacolas e estava a alguns passos do caixa, escutei o seu comentário, que talvez não era para que eu tivesse escutado:

— Aposto que é tudo cirurgia plástica. E aquele olho deve ser lente de contato colorida.

Ignorei os comentários e sai do supermercado, desejando no fundo que os mercados de Los Angeles fossem todos iguais aos de Londres que tem o caixa automático para que cada freguês passe e pague as suas compras sem precisar encarar um atendente.

Alex me esperava do lado do meu carro, ainda um tanto desconsertado.

— Demorou. - Foi o comentário dele, assim que cheguei perto da porta do carona.

— A sua fã ainda estava um tanto nas nuvens depois de te ver. – Brinquei e resolvi deixar de comentar o comportamento dela comigo.

— Bem, sobre isso...

— Não temos nada o que falar, Alex. São suas fãs, acompanham a sua carreira e vão sempre ficar assim quando te reconhecerem. – Acalmei-o. – E você não precisa ficar pisando em ovos com relação às reações deles, principalmente das mulheres.

— Você não vai dar nem um mínimo ataque de ciúmes? – Ele perguntou um tanto incerto.

— Preciso? – Retruquei.

— Não seria... normal?

Tive que rir.

— Alex, se eu for dar um ataque de ciúmes para cada mulher que chegar perto de você, nossa relação não vai dar certo. A fama e as fãs vêm junto com a sua carreira. Tenho que aceitá-las. E espero que nenhuma passe dos limites, porque aí sim, eu ficaria...

— Com ciúmes? – Ele perguntou, agora já rindo.

— Não diria ciúmes. Mas furiosa. Tudo tem limite, e espero que todos respeitem os seus. E, que você também respeite todos os limites. É uma via de mão dupla, não se esqueça disso. – Alertei como se falasse com uma criança.

— Sim, senhora! – Ele faltou pouco bater continência quando disse. – Te vejo em casa. – Falou e abriu a porta para mim.

— Obrigada. – Murmurei e entrei no carro.

Estranhamente Alex não quis apostar corrida comigo, ou até mesmo me ultrapassar e sair como um louco na minha frente, só para chegar antes de mim e dizer que, além de melhor motorista, era o expert das ruas de L.A. Ele simplesmente ficou atrás do meu carro por todo o caminho e eu podia jurar que, se fosse possível, ele estaria lendo as minhas expressões pelos retrovisores, só para saber se o que eu havia confirmado no estacionamento do supermercado era verdade.

E, ao pensar nisso, voltei a pensar no relacionamento que eu teria que ter com os fãs e as fãs dele.

Logicamente eu não agradaria a todos, teriam aqueles que ignorariam a minha existência, os que me criticariam por ser a namorada dele (o noivado não fora divulgado oficialmente) e teria os mais hardcore que me odiariam.

Claramente a moça do supermercado era da turma da terceira opção...

Ponderei sobre isso enquanto aguardava o semáforo ficar verde, tamborilei os dedos pelo couro do volante e mordi o lábio inferior, me concentrando nos meus sentimentos sobre isso.

Eu realmente falara a verdade à Alex?

Pensei na primeira vez em que alguém o reconheceu e eu estava perto, não vi nada demais na forma como as pessoas chegavam perto dele para pedir fotos e autógrafos, tudo bem que uma quis dar o telefone a ele, mas ao me ver, recuou. Depois no voo entre a Finlândia e a Itália. Também nada havia acontecido demais. E hoje.

A moça não fizera nada demais. Só sorriu muito abertamente. Achei exagero, todavia...

E se fosse eu no lugar dela? E se fosse eu encontrando com uma pessoa que eu admiro?

Aí me lembrei quando encontrei o Räikkönen em Austin. Eu pedi que ele tirasse uma foto comigo...

Dei outra olhada no sinal e este ainda estava vermelho, então, puxei meu celular do suporte e procurei pela foto em questão. Eu sorria abertamente na foto. Mais ou menos como a atendente sorrira para Alex.

Eu não poderia julgá-la, pois havia feito o mesmo.

O sinal abriu, joguei meu celular no banco do passageiro e me permiti abrir um sorriso.

Eu falara a verdade para Alex. Não tinha ciúmes, era a reação natural de qualquer pessoa. Desde que respeitassem os limites pessoais.

Mas aí me veio uma outra imagem à mente.

A reação de Alex quando eu pedi a foto ao Kimi. Ele ficara com ciúmes no dia... não falou nada, mas a expressão dele, durante aquele domingo e depois as piadas de que ele tinha que tomar cuidado com o finlandês deram todo o sentido às perguntas que ele me fizera.

Ele tinha ciúmes de mim e esperava que eu também tivesse, para que ele não se achasse possessivo...

Só que eu não tinha ciúmes das fãs. A reação era a mais normal possível. Mas não poderia dizer qual seria a minha reação quando eu o visse tendo um par romântico na tela...

—------------------ 

Chegamos em casa e antes mesmo de guardamos as compras, tiramos no par ou ímpar qual seria o prato do jantar.

Acabei ganhando e íamos de salmão. Guardei o que não iria precisar e corri para o quarto para tomar um banho rápido e colocar uma roupa mais confortável.

Enquanto estive fora, Alex preparou uma verdadeira mesa com direito a velas e porta vinho.

— Acho que estou mal arrumada. – Brinquei ao passar por ele que deu uma boa olhada para a minha escolha de roupas.

— Vou deixar você matar a saudade da sua banda preferida hoje. Só porque é o seu aniversário! – Referia-se à camiseta da Nightwish que eu usava.

— Muito obrigada. – Dei um beijo na sua bochecha e me preparei para começar a preparar o peixe.

Normalmente eu gosto de temperar o peixe com algumas horas de antecedência, o que claramente não aconteceria hoje. E, entre uma escolha de tempero e outra e o preparo dos acompanhamentos, fomos conversando.

— E como foram as suas reuniões? – Questionei assim que terminei o relato das minhas.

Alex colocou um pouco de vinho em uma taça, claramente fazendo hora para me responder e, quando tomou um gole, tentava esconder um sorriso.

— Devem ter sido boas, a julgar pela sua expressão...

— Foram bem produtivas.

Levantei uma sobrancelha para ele. Será que ele poderia ser mais específico!

— Vamos desenvolver a questão, por favor? – Pedi, já perdendo a paciência.

— Bem, o seu noivo aqui fechou contrato com quatro novos patrocinadores. Sendo dois vitalícios.

Deixei o garfo que usava para testar o ponto das batatas cair na água quente que se espalhou pelo cooktop, nem liguei pra isso e, com um pulo, abracei Alex.

— Isso é fantástico! – Exclamei animada.

Ele soltou a taça, colocando-a na bancada e aproveitou para me abraçar.

— Sim, é. – Respondeu ainda misterioso.

— O que você não está me contando? Quais são as exigências... se é que tem alguma.

— Não tem nenhuma exigência... a não ser algumas horas em estúdios para tirar fotos, gravar alguns comerciais... tudo o que você já sabe. Depois o lançamento da campanha.

Observava sua expressão, e era nítido que tinha algo mais... seus olhos tinham um brilho travesso. Assim, não me restou nada mais a não ser fazer a pergunta mais óbvia.

— Quais marcas?

Rolex. Adidas. Giorgio Armani e Calvin Klein.

Minha reação imediata foi ficar boquiaberta.

— Sendo que Rolex e Armani são as vitalícias.

A notícia era ainda melhor.

— Bem... agora você não vai mais precisar que eu saia para comprar ternos para você... – Comentei rindo.

— Isso é verdade. Mas não quero perder a minha personal stylist de vez.

— Ah, pode deixar que ela vai atacar toda vez que ela ver algo extremamente velho dentro de suas gavetas... como uma certa camisa do Seahawks...

— Eu não mexo nas suas camisas de rock.... deixa a do Seahawks quieta! – Ele me alertou.

— Não está mais aqui quem falou! – Levantei as mãos em sinal de paz e voltei-me para as panelas.

— Não vai perguntar nada das propagandas? – Ele deu o passo que nos separava e me abraçou pela cintura, apoiando o queixo em meu ombro.

— Você mesmo disse... horas de estúdio para fotos e filmagens.

— Não quer saber que tipos de fotos? – Ele tornou a me perguntar.

Juro que não entendi a pergunta e dei de ombros, me lembrando muito bem das fotos que ele tirou para a própria Rolex e que estavam na contracapa da revista que Milena estava lendo tantos meses atrás.

— Você é realmente muito calma, não? – Ele voltou àquele tom de brincadeira.

— Com o que? – Devolvi a questão, mas sem olhá-lo, meu noivo estava extremamente misterioso nessa noite.

Alex não me respondeu de primeira e resolveu que iria me ajudar. Acabei de preparar o jantar e coloquei na mesa já posta por ele.

Depois de brindarmos a nós, Alex voltou à questão das propagandas.

— E então, realmente não vai me questionar sobre as propagandas?

— Juro que não estou entendendo essa sua fixação pela minha reação! Reagi tão mal assim ao ver o seu rosto na propaganda da Porsche?

— Não. Não reagiu, Kat.

— Então não há motivos para você ficar tão... ansioso, quanto a minha reação.

— Nem se eu aparecer de boxer nos outdoors mundo afora? – Ele perguntou sério.

E foi aqui que eu travei.

Só de boxer.

Em outdoors.

No mundo.

Meu noivo só de roupa íntima para todo mundo ver?!

Eu comecei a tossir. Nem sabia o que estava sentido.

Surpresa, talvez?

Acho que sim.

Tomei um gole de água para tentar me recompor e quando cruzei os olhos com Alex, ele me olhava divertido e um sorriso de lado ornava suas feições.

— Você... vai... só... de... – Não consegui terminar sem ter outro ataque de tosse.

Ele confirmou com a cabeça, o sorriso se alargando.

E foi aqui que eu entendi, de vez, todo o papo dele no estacionamento do supermercado.

Eu sentia ciúmes dele?

Enquanto interagia inocentemente com fãs, não, absolutamente não.

Mas ele, seminu, em um outdoor era uma coisa completamente diferente. Porque... bem... caramba, todo mundo iria ver o que era só para que eu visse!

Pude sentir meu rosto corar, não era de vergonha. Era de puro ciúme mesmo.

Parecia tão... injusto! Certas imagens tinham que ser só minhas!!

— Kat... – Ele me chamou e o tom de sua voz era divertido.

Levantei um dedo, pedindo por um minuto. Ele inclinou a cabeça concordando e tomou outro gole de vinho, o sorriso nunca deixando suas feições.

Respirei fundo e olhei para a taça de vinho que estava na minha frente, que Alex tinha insistido tão veementemente que eu tomasse. E, até então, intocada.

Estiquei meu braço e peguei a taça, tomando todo o conteúdo de uma vez.

Eu estava precisando disso! Ah, eu estava.

O sorriso de Alex se transformou em risada, que ele tentava abafar depois que eu o encarei.

— E então, já pensou...

— Tinha que ser só de boxer? – Questionei bruscamente. Acho que o álcool tinha subido na velocidade de um carro de Fórmula 1.

Foi a vez dele de dar de ombros e depois soltou:

— É a Calvin Klein... o que você queria.

 A fachada calma e composta que eu levara tanto tempo para colocar em minhas feições se desmanchou e eu acabei fazendo um bico.

— Você não gostou... – Alex percebeu.

— Não é que eu não tenha gostado... – Tentei desfazer a impressão (correta) que ele tinha de mim agora. – É só que... é um tanto.... – Parei eu nem sabia por em palavras como eu me sentia ao perceber que o mundo inteiro iria ver o meu noivo só de boxer... e isso incluía minha família.  MEU PAI IA VER O GENRO SÓ DE CUECA!! MEU DEUS! E ao pensar nisso, peguei a garrafa de vinho e enchi a taça até quase a borda... se eu estivesse de ressaca amanhã (e isso era certo como dois mais dois são quatro!) a culpa era única e exclusivamente de Alexander.

— É um tanto... – Alex deu a volta na mesa e veio tirar a garrafa e a taça de perto de mim. Teve êxito com a garrafa, já a taça... metade já tinha ido para dentro e agora eu sabia, estava oficialmente bêbada. Que ótimo!

— Exagerado! Demais! – Comecei a tagarelar. – Não tem necessidade nenhuma que o mundo inteiro— destaquei – te veja praticamente sem roupas! Você parou para pensar que a minha família também verá essas... fotos.... o MEU PAI! – Levantei da mesa e ele teve que me segurar, porque acabei por cambalear. – Meu pai já não é lá o seu fã número 1, já não gosta de todas essas tatuagens que você tem e muito menos que você namore com a filha mais nova dele.... agora imagine, só imagine, o que ele vai falar... como ele vai reagir ao ver o genro... só de cueca em um outdoor por aí... porque ele vai te ver!!

— Kat... – Alex me chamou, mas agora minha língua estava destravada e eu tinha visto um cenário muito pior e, com os olhos arregalados e um tanto histérica, acabei por falar...

— Nossas sobrinhas vão te ver só de cueca.... como é que vou explicar isso para elas? Como?! – Eu estava prestes a chorar de desespero. – Mas fica pior! Por que eu tenho que dividir essa imagem sua com o mundo? Isso é injusto, Alex! Todas as mulheres do mundo vão te ver praticamente.... – Não terminei... meu ataque de ciúmes veio à tona e eu só via vermelho, eu não queria em hipótese alguma que a foto de meu noivo só de boxer fosse vinculada em nenhum outdoor, nenhuma capa ou contracapa ou recheio de revista nenhuma. Essa imagem era minha!Você não vai fazer isso!— Sibilei possessivamente.

Alex deu uma gargalhada alta e me abraçou.

— Isso não tem graça, você parou para pensar ao menos...

— Eu não vou fazer propaganda nenhuma só de boxer, Loira.

E toda a explosão que tive e passou rapidamente, tudo o que restou foi minha face vermelha escarlate, agora de vergonha.

— Não vai? – Murmurei.

Alex afastou nossos corpos, só para ver meu rosto. Desviei o olhar e abaixei o rosto, querendo poder me desmaterializar dali e me enfiar em um buraco, tamanha era a minha vergonha por conta do meu ataque de ciúmes.

— Não... não vou. Só estava brincando com você. Só queria saber como você reagiria caso isso acontecesse.

— Bem mal... – Falei sem graça.

— Do mesmo jeito que eu reagiria. – Alex comentou casualmente. – Só não sei sobre isso aqui. – Ele levantou a taça de vinho vazia.

— Estava difícil engolir a notícia... – Sentei-me na cadeira.

— É... eu percebi. – Ele riu de novo.

— Não é para rir.

— Ah, é sim. Eu te vi explodir de ciúmes e ainda se embebedar, porque você está um tantinho alta, em uma única noite.

Fiz uma careta para ele e olhei meu prato.

— Não tem graça... – Tornei a falar, ainda muito sem graça com a minha explosão.

— Serviu de aprendizado. – Ele puxou a cadeira e se sentou do meu lado.

Levantei uma sobrancelha e o olhei, estava entre o constrangida e o furiosa. Ele me devia uma agora.

— Sim, aprendi hoje que você pode suportar muito bem as fãs sendo abertamente amistosas... mas não pode nem pensar em me ver...

— Pode parar. – Cortei-o.

— É... você não pode nem pensar nisso.

— Não, não posso! – Confirmei com um biquinho.

— E saiba que eu não vou fazer...

Estreitei os meus olhos na sua direção, tentando ler a verdade em suas palavras e nas suas expressões.

— Até me ofereceram isso hoje.

Meu rosto tornou a pegar fogo, algo que deliciou Alexander e ele encostou a bochecha a minha e murmurou no meu ouvido:

— Não gosto desse tipo de foto. Não tem necessidade nenhuma de ter uma foto minha desse jeito por aí.

— Não, não tem. – A frase saiu sem querer e um tanto embolada. E, como estava sem freio, acabei por perguntar: - Mas como você disse não? Não se pode falar que não gosta de fazer algo, ainda mais com um contrato como esse.

— Ah... foi fácil e Lee odiou a minha resposta. – Ele disse todo feliz. – Falei que eu não gostava e que minha noiva gostaria muito menos.

— Você falou que eu não iria gostar?

— Foi a forma mais fácil de sair dessa sem magoar ninguém, até porque eu usei a psicologia reversa... inverti os papeis e coloquei as filhas dos representantes no meu lugar... ninguém pareceu muito amistoso em vê-las nessa situação.

Arregalei meus olhos. Era uma saída de mestre mesmo.

— Inteligente. - Comentei.

— Não é? E agora eu tenho um adendo em todos os meus contratos.

— Nada de foto só de cueca? – Tentei soar animada, mas saiu meio arrastado.

— Nada de cenas de nudez... não quero ter que explicar para meus sobrinhos certas imagens, nem para meus filhos...

Uma vozinha no meu interior estava exultante ao ouvir isso e eu deveria guardar esse sentimento só para mim, acontece que meu cérebro não conseguiu avisar minha boca e eu acabei por soltar:

— Acho ótimo que pense assim, não suportaria te ver do jeito que veio ao mundo em uma cena em um filme... não mesmo. Acho que abandonaria a sessão... ou era bem capaz de bater em uma possível atriz que estivesse contracenando com você.

Alex pegou o meu queixo e depositou um beijo em meus lábios, quando nos separamos, só comentou:

— Ciumenta. E acho que todas as vezes em que eu quiser que você seja além de sincera, vou colocar uma garrafa de vinho na sua frente....

Fiz um beicinho para o comentário.

— Isso vai cobrar o preço amanhã.... – Murmurei infeliz.

— Prometo tomar conta de você! – Ele falou e me deu outro beijo. – A propósito, você não me falou o que queria ganhar de aniversário...

— Não se preocupe com isso. Não preciso de nada. Mas você também não falou o que queria.... então estamos quites. – Devolvi.

— Você não comprou nada para mim? Duvido.

— Bem... comprei... está na garagem... acho que você vai gostar...

— Não me diga que é uma caixa de ferramentas cor de rosa!!

— Não, uma com detalhes do Capitão América... – Entrei na brincadeira.

— Acho que tenho que ver isso com meus próprios olhos. – Alex foi saindo de perto de mim e eu o puxei de volta.

— Amanhã... não tenho condições de descer os degraus até a garagem...

Meu noivo concordou comigo e me puxou para seu colo, aninhei-me feliz ali enquanto acabávamos de comer a sobremesa.

Relutantes, nos soltamos para arrumar a cozinha e, depois, acabamos a noite escorados um no outro, no sofá da sala, com nossos cachorros deitados aos nossos pés.

— Mas... – Recomecei o assunto, enquanto comia um bombom da caixa que Alex tinha comprado. – Você não disse. A campanha da Calvin Klein vai ser?

— Do perfume. – Ele me respondeu e roubou o restante do chocolate da minha mão. – Decepcionada?

Foi a minha vez de gargalhar.

— Nem um pouco. e, por favor, fique vestido nessa!

— Vou avisar para a produção que a minha noiva é ciumenta e não me quer descamisado por aí. – Piscou para mim.

— Acho bom mesmo. – Fiquei de joelhos e roubei um beijo dele. – Porque tem certas imagens que são só minhas... – Falei.


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Notas finais do capítulo

Bem, é isso. Espero que tenham gostado.
Agradeço a vocês que estão lendo e comentando a história, já está perto das 10 mil visualizações e isso é incrível! Jamais pensei que chegaria nesse número! Para agradecer no idioma da protagonista: Kiitos!
Até a próxima atualização.
xoxo



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