Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 101
Mau Gênio


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo para vocês.
Boa leitura.



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Meu pai nos esperava em seu escritório, minha mãe não tinha a melhor das expressões e Ian conversava com Tanya pelo telefone.

Pedi licença e entramos, Alex se sentou no sofá e eu me sentei entre ele e minha mãe. Ian tinha ocupado a outra poltrona que ficava em frente ao meu pai.

— Bem, Kat, vou começar com a notícia mais fácil. – Papai começou. – O julgamento começará na quarta-feira. Neville me informou na sexta-feira, tentou entrar em contato com você, porém, como a Califórnia estava passando pelos problemas de comunicação por conta da nevasca, não conseguiu.

Assenti. Não tinha muito mais o que eu poderia fazer.

— E ele quer conversar com você, na terça-feira pela manhã. Ao que parece surgiram fatos novos e, tanto ele, quanto a acusação, querem ter acesso antes do início dos trabalhos na Corte.

— O senhor passou tudo o que vem acontecendo para ele? – Questionei.

— Sim. Na verdade, Alexander me contou que Dempsey te fez uma visita na porta do escritório. E temos isso. – E aqui ele jogou a foto que fora colocada na porta de minha casa mais cedo. – É de quando?

— Sexta da semana passada. Estava no Restaurante da Dottie. Não reconheci ninguém lá dentro. As duas pessoas estavam grudadas no celular, pode ser qualquer uma delas, ou alguém do lado de fora.

— Os seguranças da empresa que tiraram ele de perto de você? – Meu pai continuou com o interrogatório.

— Sim. Mas eu estava a ponto de fazer um escândalo.

— Solicite as imagens das câmeras de segurança da portaria principal, por favor. Assim como quero as imagens das câmeras de segurança da sua casa. As câmeras lá ainda funcionam, sim?

— Claro. Em todas as casas, posso até baixar aqui no celular. – Confirmei.

Acessei o sistema da empresa de segurança e com menos de cinco minutos, tinha todas as imagens da câmera de hoje e dos últimos oito dias.

Meu ex andou passando mais tempo do que deveria na porta da minha casa. E o mais interessante. Ele não estava sozinho.

— Quem está do lado dele? – Minha mãe perguntou.

Papai pediu o celular e deu zoom da câmera. Depois entregou o celular para Ian e respondeu a minha mãe:

— O advogado de defesa de Cavendish, Diana. O mesmo que está defendendo o meu pai naquele processo que você moveu, por conta da agressão em Tuomas.

Voltei a olhar a imagem. E, bem, agora eu conhecia uma pessoa que estava dentro do restaurante.

Ele estava no restaurante da Dottie. Já estava lá quando cheguei.

Foi a vez de Alex ficar desconfortável, pois o Restaurante de Dottie não é um lugar famoso, é até bem simples para os padrões dos moradores ricos e milionários de LA.

— Quem falou para ele ficar de tocaia no restaurante? – Perguntei em voz alta.

E, ao mesmo tempo, ia pesquisando em meu cérebro quem mais sabia daquele lugar. Até que, de todas as pessoas, cheguei a um denominador comum.

Alex.

Fora ele quem me levara lá e frequentava o lugar desde criança. Contudo, não fora ele quem contara... não tinha como ser. Porém, havia uma pessoa que conhecia a localização. Uma não. Duas.

Suzanna e Mia.

Suzanna não faria nada disso, ela pode não gostar de mim, mas eu era insignificante para ela. Apesar de que deu para notar, no breve encontro que tivemos, que ela não gostou de mim, e essa impressão piorou depois que respondi às suas provocações de uma maneira bem direta. E, assim, seria fácil de Mia conseguir algumas informações sobre possíveis lugares onde eu frequentaria por conta de Alex.

E qual seria o melhor lugar senão onde Alex e Suzanna tinham terminado? Onde tinham tirado a primeira foto minha?

— Foi a Mia. – Murmurei. - E foi ela quem mandou as mensagens.

— Será que não foi a Suzanna?

— Não, Alex. O que a Suzanna tem a ganhar com isso? Nada. Ela pode não ter gostado de mim, mas eu sou um zero à esquerda para ela. Porém, Mia... ela tem a ganhar. Até porque, se eu perder o meu lugar na linha de sucessão, tudo volta para o papai. E se ele não assumir, como sabemos que ele não vai, todos os dividendos dos lucros anuais, seriam divididos entre Ian, Kim e Mia. Porque pelo menos um herdeiro tem que levar o dinheiro, está no estatuto da NT&S.

— Só te interrompendo, KitKat, quais mensagens?

— Recebi duas mensagens, papai. Uma na quarta e outra na quinta da semana passada. Todas duas dizendo que a minha hora estava chegando, que eu ia cair.

— Você ainda tem estas mensagens?

— Não. Apaguei e bloqueei o número.

— Não reconheceu de onde era? – Ian questionou.

— Sei que não era da Finlândia, da Inglaterra ou dos EUA. Mas, me parecia um celular via satélite ou talvez um pré-pago de algum lugar.

— Posso? – Estendeu a mão, pedindo o meu celular que estava no meu colo.

— Claro. – Desbloqueei o aparelho e passei para meu irmão. Ian foi dando alguns comandos com tela, até que falou.

— O número é de dos Emirados Árabes Unidos. Temos que saber a quem pertence, mas esse já é um começo.

— Emirados Árabes Unidos não é o lugar de nascimento do atual marido da Mia? – Retruquei.

— Não sei. Só vi o sujeito uma vez e nunca conversei com ele. – Disse meu irmão.

— Sim, ele é de lá. Em dezembro, quando vocês vieram para jantar aqui e a Mia chegou no final, acabou que conversamos um pouco, e ele falou de onde é.

— Não precisa mais perguntar quem é, Ian. – Falei sarcasticamente. – Vai ver que o número é até do seu cunhado.

Meu pai tinha uma expressão de desgosto. É claro que ele não gostava que os filhos se tratassem assim, porém, vindo de Mia, eu esperava qualquer coisa.

— Quanto será que pagaram a ela... – Ian começou rindo ironicamente.

— Já chega. – Minha mãe disse ríspida. – Até termos certeza, não se precisa comentar mais nada.

Ian e eu concordamos com a fala.

— Mais algum evento que queira nos contar. KitKat? – Meu pai voltou ao interrogatório.

— Não. Mais nada de anormal aconteceu.

— Mesmo você estando sozinha?

— Nada aconteceu, pai. A casa tem muros bem altos, tem alarme e temos três cachorros. Qualquer idiota que tentasse entrar de modo furtivo, seria descoberto ou pelos sensores de presença da casa, ou pelo alarme ou pelos ouvidos de Thor, Loki e Stark. E acredite em mim, papai. Eu nunca fico sozinha em casa. Sempre tem um do meu lado.

— A pergunta mais importante.

Preparei-me para o que quer que fosse, mas acabei assustada com a pergunta.

— Você está preparada para encarar todos eles, filha?

Olhei nos olhos de meu pai, enquanto pensava na resposta.

— Não. Não estou. – Fui sincera. – Preferiria que não tivesse que fazer isso, até porque sei que ainda vão atrás de mim... independentemente do resultado.

Meu pai assentiu acreditando nas minhas palavras. Ao meu lado, Alex se remexeu de maneira inquieta, e eu sabia o que se passava na cabeça dele. Meu noivo estava relutante em me deixar sozinha na Corte, pelo tempo em que o julgamento durasse.

— Você não vai sozinha ou ficar sozinha no salão do júri enquanto acontece o julgamento. Sempre vai ficar alguém com você.

— Não precisa, pai.

— Katerina, não é somente para te dar apoio moral que estaremos lá. Não vamos te deixar sozinha perto deles. Três tentativas de assassinato são suficientes, não acha? A proteção vai do momento em que você sair de casa, até quando você entrar novamente.

— Pai. – Tentei argumentar. – Não é preciso. Somente um alucinado tentaria algo dentro de um prédio lotado de seguranças e policiais. É insanidade.

— Ele tentou te matar dentro do prédio que tem o seu sobrenome na fachada, Kat. – Alex me relembrou.

— Tudo bem... alguém vai estar do meu lado. E em que vocês ajudam? Se quiserem me matar, não vão me empurrar das escadas. Virão com armas, e até onde sei, ninguém aqui tem treinamento de defesa em armas.

— E quem te falou que seremos nós quem vamos te defender? - Questionou calmamente meu pai.

Eu só não dei um pulo do sofá, porque tanto minha mãe, quanto Alex me seguraram.

— Desculpe-me? – Minha voz saiu mais alto do que eu esperava. – Eu não vou ter um segurança.

— Segurança, motorista, carro blindado. Vão te pegar na porta da sua casa e te deixar lá. E vigilância 24/7. – Meu pai me explicou.

Eu senti meu rosto esquentar e estava a ponto de explodir. Mais uma vez decidiam por mim.

— Eu não sou um bebê que tem que ser carregado por aí. Eu sei dirigir por Londres melhor do que todos dentro dessa sala. Eu sei me cuidar. E o mais importante. Eu odeio que decidam as coisas por mim. Todas as vezes que fazem isso, minha vida vira um inferno! – Sibilei, levantei do sofá e fui em direção à porta, minha intenção era claramente sair dali e ir para casa, e se fosse possível, deixar Alexander para dormir por aqui.

Estava quase na garagem quando Alex me alcançou e segurou meu pulso, apenas para me parar.

— Solte-me. – Sibilei.

— Kat, por favor, pense no que seu pai acabou de te dizer.

— Pensar?! Pensar, Alexander? Decidiram por mim! Tomaram todas as precauções, por mim. E ninguém se lembrou de me consultar! Novamente fazem as coisas pelas minhas costas. E você, acima de qualquer um aqui, deveria saber que eu odeio isso. Eu odeio que decidam por mim!! – Soltei meu braço e abri a porta da garagem. Alex me acompanhou e quando eu entrei no carro, que tinha ficado aberto, ele simplesmente tirou a chave da ignição e olhou para mim.

— Esse esquema de segurança não é só para você, Katerina. Vai ser a mesma coisa para seus sobrinhos. Toda ajuda é bem-vinda agora. Ninguém está seguro. Muito menos você, Tuomas, Olivia ou Elena. Ou você se esqueceu do que seu avô fez com Tuomas e Liv no ano passado?

— Eu não me esqueci. Não tem como esquecer aquilo.

— Então, antes de sair fazendo besteira, pense nos três que estão dormindo no segundo andar. Você andando com seguranças, irá simplesmente levar a seguinte mensagem: Se eu já estou protegida assim, imagine o restante da família.

Eu ainda via vermelho. Não tinha gostado nada da atitude dos três, e muito menos de que eu não controlaria a minha vida pelas próximas semanas.

— Se você não quer fazer isso por quem está preocupado com você, faça, ao menos, por seus sobrinhos. Mande esse recado. Avise que você e toda a sua família estão preparados para o que quer que eles venham a fazer.

Descruzei os braços e continuei a encarar meu noivo.

— Você sabe que é o certo a fazer...

— Eu não gosto de ser levada para lugares onde sei a localização. Eu não gosto de ter babás. E se vocês estão achando que nenhum do trio lá em cima vai entender o que se passando por aqui, estão redondamente enganados! Não foi assim que eu ensinei meus sobrinhos a viverem! E eu só quero ver o que vocês vão inventar.

Alex coçou a cabeça. Descrente de que algum deles iria notar a sutil mudança. Engano o dele, não só vão notar, como vão formular mil e uma teorias sobre o que está acontecendo.

— Pode me devolver a chave do carro, quero ir para casa, estou cansada. – Estendi a mão.

— A conversa não acabou, Kat.

— O que mais vão querer agora, que eu durma aqui?!

— Essa ideia passou pela cabeça do seu pai... mas preferimos que seus sobrinhos ficassem. Vamos ficar na nossa casa mesmo.

— Você vai dormir em qualquer lugar, menos no quarto, Alexander. – Murmurei ao passar por ele e seguir de volta para o escritório de meu pai. Ao fundo escutei o portão da garagem ser fechado e o carro ser trancado com alarme.

— Mais calma? – Foi tudo o que me perguntaram.

 Fuzilei meu pai com os olhos e me sentei ao lado de minha mãe. Alex, sabiamente, ficou parado na porta, bloqueando o caminho e bem longe de mim.

 - Não. Ainda descontente por saber que andam decidindo a minha vida pelas minhas costas. Achei que o tempo de marionete tinha acabado.

Meu pai não gostou do comentário. Contudo, ou fingiu que não ouviu, ou decidiu que não valeria brigar por tão pouco.

— Katerina. – Papai começou cansado. – Não estamos fazendo isso para te controlar. Mas para proteger seus sobrinhos e você.

E tinham apelado para meus sobrinhos novamente... parecia até brincadeira!

— Eu vou pensar neles. – Afirmei ainda bem mal-humorada. – Mas que fique o aviso, eu não quero que discutam a minha vida e tomem decisões que caibam a mim. Essa é a minha vida, e dela só eu tomo conta.

— Fico feliz que você tenha aceitado, Kat. É menos uma pessoa que temos que monitorar.

Eu não estava nada feliz com isso. Porém, como eu mesma acabei por perceber, não valia a briga. Era por coisa pouca e eu não queria me indispor ainda mais com minha família. Porém, “aceitado” era um tanto demais. Eu fui coagida a aceitar.

Depois disso, não tinha muito o que se falar. Apenas me passar os dados básicos dos seguranças e do motorista e os itinerários preparados, para que eu ficasse ciente sobre os caminhos que faríamos. 

Com todos liberados, me despedi de meus pais e Ian, indo para garagem, ainda sem trocar uma palavra com Alexander. Contudo, minha mãe me parou no meio do caminho, e queria conversar.

— Sim, mamãe?

— Não leve a ferro e fogo o que seu pai está fazendo. Ele, na verdade, todos nós, estamos preocupados com você.

— Eles não vão tentar me matar, mãe. Preferem me desestabilizar na frente de muitos.

— Sei disso. E por isso que você tem que mostrar quem manda, filha. Seus seguranças mostram que você não está com medo, apenas indicam que algo está para começar. E que você está mais do que preparada para eles.

— Duvido que dois ou três brutamontes passam alguma ideia que não seja medo... porém, decidi que não vou discutir com vocês. Vai ser perda de tempo.

— Não é perda de tempo, KitKat.

— Papai está decido. Ian também. Nem vou comentar dele – apontei para a garagem, onde Alex já estava. – porque a primeira coisa que ele conversou comigo foi sobre o julgamento. Tenho a impressão de que todos pensam que eu sou incapaz de me cuidar, de me manter de pé e composta, de conseguir ficar tranquila quando estou frente a frente com pessoas que não gostam de mim. Eu não sou feita de cristal, mãe. E a vida me ensinou muito nos últimos meses.

Minha mãe colocou uma mão em meu ombro e apenas disse:

— Quando você tiver filhos, vai entender a angústia de seu pai. Deus permita que não, mas caso aconteça de um deles vir a ser hospitalizado, você vai entender a minha preocupação. Quanto a Alexander, talvez ele seja realmente um tolo superprotetor, porém, entenda, você morreu na frente dele, Kat. Você simplesmente parou na frente dele. Creio que essa imagem ainda é forte demais para que ele fique tranquilo quando você ficar frente a frente com quem te fez tanto mal.

Levantei uma sobrancelha para minha mãe.

— Não sabia disso, não é?

— Não, não sabia.

— Pois bem. Eu nem quero imaginar a dor que ele sentiu. O sentimento de impotência... e, só para encerrar, porque sei que você quer ir para casa, não achamos que você é feita de cristal, KitKat. Apenas queremos ter a certeza de que, dessa vez, você vai sair andando desse encontro. Que dessa vez, tudo vai dar certo para o seu lado.

Assenti com a cabeça, poderia estar começando a entender o ponto de vista da minha mãe, mas a raiva que eu sentia por saber que havia decidido assuntos que eram do meu interesse, ainda não tinha se esvaído, assim, preferi ficar calada.

— Boa note, KitKat. Nos vemos amanhã?

— Se a senhora quiser dar uma passada lá em casa, é muito bem-vinda, como sempre! E boa noite, mamãe. – Dei um beijo na bochecha dela e fui para garagem, que já estava aberta.

Acabei no banco do carona, pois Alex tinha a chave do carro e decidiu por dirigir.

Apoiei minha cabeça no encosto e fechei os olhos. Estava me concentrando muito para não emitir nenhuma opinião sobre a reunião dessa noite, assim, preferi fingir que tinha uma enorme dor de cabeça.

Alex também não falou nada, e assim chegamos em casa. Só desci do carro quando ele já havia descido e, praticamente marchando de ódio, passei na cozinha, peguei uma garrafa de água e subi a escada para o segundo andar.

Tomei um banho demorado, engoli um remédio para dor de cabeça (que eu não tinha, mas me ajudaria a dormir com facilidade), me ajeitei na cama, antes mesmo de Alex entrar no quarto e apaguei a luz.

Virei de lado, de modo que eu não precisaria encará-lo, caso ele se deitasse antes que eu fosse induzida ao sono, e comecei a fazer exercícios de respiração para me acalmar.

Estava quase dormindo, naquele estado de pré sono em que você não sabe se está sonhando ou se esta é a realidade, quando a porta do quarto foi aberta e meu noivo – a quem eu deveria ter colocado para fora nesta noite. – entrou no quarto.

Como que por milagre, ele não acendeu a luz direta, só o abajur que fica ao lado da cama e depois de parar por alguns segundos perto de mim, seguiu para o banheiro.

Escutei a água do chuveiro, assim como seus murmúrios descontentes. E quando ele saiu do banheiro, deixando a luz acessa, simplesmente falou:

— Você não está dormindo e nós dois temos que conversar.

Mantive a minha posição e ignorei a sua fala.

— Kat, achei que tínhamos combinado em não irmos dormir brigados, ou sem resolver as coisas entre nós.

E foi aqui que eu acabei me sentando na cama e, ao acender a luz do quarto, encarei Alexander.

— E eu achei que tinha deixado bem claro para você que eu não gosto que tomem decisões por mim. – Sibilei friamente.

— É para o seu bem!

— Para o meu bem?! – Dei um pulo da cama, a raiva que vinha borbulhando dentro de mim finalmente explodiu. Se ele era o destinatário certo eu pouco me importava agora. – A última vez que falaram assim, eu fui mandada para meio mundo de distância!! Não venha com essa para cima de mim! Eu não sou uma criança que precisa de alguém para tomar as decisões para ela! Eu sou uma adulta e, a menos que tenham me interditado nas últimas vinte e quatro horas, ainda sou plenamente capaz de tomar decisões e fazer o que bem entendo, sem que ninguém tenha alguma coisa a ver com isso!! Eu faço o que quero da minha vida e ninguém vai ficar na minha frente! – Minha voz ia ficando cada segundo mais baixa e mais fria, por fim eu praticamente sibilava e a cada palavra que tinha a letra ‘r’ meu sotaque finlandês se pronunciava mais forte.

Alex, pego de surpresa pela minha súbita explosão deu um passo para trás, acontece que ele não é um homem que leva desaforos para casa, e muito menos aceita cair fora de uma briga, assim, notei o exato momento em que ele se decidiu a brigar comigo, pois sua posição mudou, de relaxado, apesar de preocupado, meu noivo ficou tenso, levantou o queixo e fechou a expressão, seus olhos sempre tão claros, estavam escuros e ele logo me respondeu:

—  Você clama que é independente, que sabe decidir por si, mas não tem a mínima ideia do que foi que aconteceu em dezembro. Você não estava acordada quando tudo explodiu, Katerina. Enquanto você estava em coma, sua família virou um pandemônio, a vida virou um inferno! Tive que escutar piadas de Matti, aturar policiais querendo saber o que eu fazia do seu lado, responder perguntas que eu nem sabia o motivo de estar sendo questionado. E, a parte mais interessante, dei de cara com a sua irmã na porta dessa casa, rindo da minha cara, rindo da situação, enquanto me chamava de fracassado e azarado.

Foi a minha vez de dar um passo para trás. Mia tinha aparecido aqui?!

— Não sabia da visitinha da sua adora irmã? – Ele foi sarcástico. – Pois é, Katerina, muita coisa que aconteceu na semana em que você ficou em coma não te foi contada. Nós combinamos que seria melhor se você não ficasse sabendo, assim não se preocuparia com outra coisa a não ser a sua recuperação... ou você achou que tudo foi um mar de rosas igual fizemos parecer no Natal? Estávamos, e estamos, preocupados com você, Katerina, mas parece que você acha que estamos querendo te controlar... não sei de onde você tirou a comparação de que todas as vezes que alguém tenta te ajudar, estamos te enviando para a forca. E só mais uma coisa, se você odiou tanto ter sido mandada para Los Angeles, por que não ficou aqui quando a sua avó te ofereceu o cargo no início de janeiro?

Confesso que a minha fúria até tinha se amansado quando ele falou sobre os problemas que enfrentou enquanto eu estava no hospital, estava a ponto de encerrar a discussão, porém, esse final me inflamou de novo.

— Você realmente me fez essa pergunta, Alexander? Você realmente me perguntou o motivo de eu ter voltado para Los Angeles? Porque se eu ouvi isso, quer dizer que você nunca ouviu uma palavra do que eu te disse!! – Explodi de vez e passei por ele, pegando um roupão, meu travesseiro e uma coberta e saí do quarto batendo a porta.

Desci a escada praguejando em finlandês, em alemão, sueco, português, em qualquer idioma que eu sabia falar.

Cheguei na sala, assustando meus cachorros, joguei o cobertor e o travesseiro de qualquer jeito no sofá e, xingando ainda mais alto, fui para a cozinha fazer um chá. Por todo o tempo em que água estava fervendo e depois enquanto o chá decantava, eu balançava minha cabeça com incredulidade. Ainda era inacreditável para mim que Alexander tinha me feito essa pergunta. Estava tão alterada, que quando fui pegar a xícara, acabei deixando-a cair no chão e o chá fervente espirrou em meu pé e em minha perna.

— EU MEREÇO!! – Gritei mais alto. – Quando que eu vou ter uma noite de paz? – Continuei a falar.

Peguei a vassoura e a pá para varrer os cacos, antes que eu pisasse e cortasse os pés e depois de tudo varrido, passei pano na cozinha. Minha vontade de tomar chá acabando no mesmo instante em que joguei o pano na máquina para lavá-lo. Voltei à cozinha só para jogar todo o chá, já frio, na pia e lavar o bule.

Quando voltei para a sala, com o intuito de dormir ali – não queria ter que arrumar toda uma cama com lençóis, fronhas e cobertores -, foi que notei o estrago que tinha acontecido no meu pé.

— Ótimo! Não estava precisando disso mesmo! – Falei frustrada e pensei onde iria colocar esse pé, já que tinha que colocá-lo na água fria... – Quer saber? Problema é dele se ele já estiver dormindo. Eu estava quieta até que ele começou com o papinho de que queria discutir a relação... Subi as escadas mancando, a queimadura começando a arder mais a cada passada. Cruzei o corredor e abri a porta sem cerimônia. Alex estava sentado na cama, com a cabeça apoiada nas mãos. Em outras circunstâncias essa posição me faria parar e me preocupar com ele, mas hoje eu o deixe como estava e fui para o banheiro.

Comecei a encher a banheira com água fria e procurar um pedaço de pano limpo que eu pudesse usar para quando eu tirasse o pé da água, assim como uma pomada cicatrizante.

Confesso que não estava medindo o nível dom barulho – e nem dos xingamentos -, enquanto procurava pelo que iria precisar, e isso deve ter chamado a atenção do ocupante do cômodo anexo. Pois, quando a banheira ficou cheia ao ponto que meu pé e o pedaço da minha perna que foram queimados pelo chá fervente ficassem submersos, e eu os mergulhei na água quase congelante, escutei Alex coçar a garganta. Pela direção do som, ele deveria estar na porta.

Agora, ainda mais enraivecida com ele, ignorei a sua maneira de chamar a minha atenção e me concentrei em esfriar a pele e determinar se era uma queimadura de primeiro ou segundo grau, estava torcendo para ser uma coisa mais simples, porém, a julgar pelo estado da pele do meu tornozelo, eu tinha ali uma queimadura de segundo grau.

— Perkele[1]. – Murmurei e me pus a esperar, rezando para que os quinze minutos passassem rapidamente para que eu pudesse tirar o pé da água fria e limpar a queimadura.

Como estava com um pé dentro da banheira e outro fora, decidi que poderia ir adiantando as coisas enquanto esperava, assim, me pus de pé e me estiquei toda para pegar o sabonete neutro – de bebê mesmo – que tenho guardado para certos tipos de emergências, como essa.

Estava quase conseguindo quando vi o braço de Alex passar perto de mim e pegar a embalagem cor de rosa e me entregar.

— Não precisava. – Falei entredentes.

Ele, mesmo assim, acabou pairando sobre mim e começou a olhar minha perna dentro da banheira e antes que ele viesse com mil e uma perguntas, que eu não estava nem um pouco a fim de responder, já fui cortando:

— Não é nada, pode voltar a dormir.

— Não estava dormindo. – Ele falou, bem mais calmo que eu, pelo visto a raiva dele vem e se esvai na mesma velocidade. – Estava pensando em como nós fomos de um casal apaixonado, para uma discussão desse tamanho em menos de doze horas.

Trinquei meus dentes para não falar nada, pois iria culpá-lo de qualquer forma. Porque isso tudo era culpa dele. Se ele tivesse ficado calado desde o início, nossa noite não teria virado esse lixo completo.

— Sabe, eu sei que tenho um mau gênio e sou até estourado... mas você tem que entender, Kat, que não é só você que tem que ficar na defensiva quando se trata desse julgamento. Não posso falar pelos seus pais e irmãos, mas posso falar por mim, eu não gosto da ideia de te ver perto de Cavendish novamente. Assim como não gostei quando você falou que Dempsey foi até o prédio da empresa em Los Angeles.

Continuei calada e agora mexia a minha perna para poder pegar água mais fria.

— Confesso que tive que me segurar quando bati em Cavendish naquela salinha e me arrependo de não ter tirado Dempsey do caminho, mas me lembrei que você não é adepta da violência e nem gostaria que eu fizesse algo assim.

A única coisa que fiz foi olhar para ele, sem mexer a cabeça já que agora ele estava sentado do meu lado.

— Assim, você tem o direito de estar nervosa, de não querer ir para a Corte, ou até mesmo não querer ouvir uma palavra sobre esse assunto. Eu te entendo quanto a isso. Passei por isso. Mas você não tem o direito de despejar a sua frustração em mim, ou no seu pai e seu irmão. Sei que quer uma válvula de escape, Kat, mas brigar? Você nunca foi de levantar a voz, nunca foi de sair batendo porta... Sei que a situação está complicada, você está ansiosa, mas, ao invés de brigar comigo ou, como agora, de me ignorar, converse comigo. Coloca tudo isso para fora de outra maneira...

Agora eu era 'Kat' e deveria trabalhar o meu mau gênio... ótimo. Revirei meus olhos e voltei a encarar o meu pé.

O tempo foi passando, e assim como a queimadura ia parando de arder, minha raiva foi cedendo, e eu fui começando a tomar consciência de que eu deveria estar parecendo uma garotinha mimada que tinha ouvido um ‘não’ pela primeira vez na vida.

Comecei a ficar com vergonha do meu comportamento. Afinal, não tinha desculpa pelo que eu havia feito, nem na casa de meus pais, e muito menos aqui.

Como Alex dissera, eu não sabia de todo o quadro do que aconteceu após eu ser atingida pelos disparos. Eu simplesmente me lembro de estar na sala e ouvir Cavendish confessando tudo o que fez contra mim e, depois, acordar no hospital com Elena pulando em cima da cama.

E tinha mais, eu não perguntei e, também, não fiquei sabendo como meu avô foi afastado da empresa. Eu não tinha ideia do que aconteceu no Conselho naquela tarde e no dia seguinte e, muito menos, como foi que minha avó Mina foi parar como CEO.

Havia uma lacuna de uma semana na minha vida e os únicos que sabiam de todos os detalhes eram os membros da minha família. As mesmas pessoas que, apesar de terem decido algo que tinha que envolver a minha opinião, sem a minha presença, estavam tentando me proteger.

Meu pai, minha mãe, meus irmãos, minhas cunhadas, meus avós, minhas amigas e Alex só estavam me blindando da pior parte. Eles receberam a ingrata tarefa de serem fortes, de resolverem os problemas e cuidarem de mim, ao mesmo tempo em que me deixaram no escuro para que eu não me preocupasse com nada.

Respirei fundo quando fiz essa constatação.

Quanta ingratidão de minha parte, ficar toda nervosinha quando eu não sabia dos verdadeiros motivos!

Levei minha cabeça em minhas mãos e comecei a respirar fundo.

Meu pai e Ian não mereceram a despedida fria que dei a eles. O mesmo com minha mãe.

E Alex não merecia ter escutado o que escutou, não merecia ter sido tratado como um pária por mim.

— Não sei quanto tempo mais você vai ficar nessa contemplação, Kat, mas eu quero te pedir desculpa pelo que disse. Não foi certo dizer o que disse sobre você voltar para Los Angeles. Você deixou muito claro que estava voltando por dois motivos. Por mim e para terminar o que começou no escritório. Eu não deveria ter duvidado da sua palavra, quando você já demonstrou várias vezes que me ama e quer ficar ao meu lado. - Ele pegou minha mão esquerda e passou o polegar por sobre o anel de noivado que ele me dera.

Não tirei a mão. Até porque, ele só me respondeu daquele jeito, porque eu comecei uma briga sem sentido. Alex só queria entender o meu silêncio, não o motivo, mas o que tanto me incomodava, quando disse que nós havíamos combinado nunca irmos dormir brigados... e eu fui e despejei todas as frustrações e raivas que estavam cozinhando dentro de mim, em cima dele.

Claro, não foi certo o que ele disse... mas eu também não fui muito justa, quando joguei na cara dele, mesmo que indiretamente, que eu não gostei de ser mandada para Los Angeles. Até porque, essa não é a primeira vez que eu falo isso. Alex já sabe da minha aversão à cidade – agora nem tanto mais, venho me acostumando aos poucos – e não precisa ser lembrado a cada vez que estou com raiva de algo, que não gosto da cidade onde ele nasceu e viveu por toda a sua vida.

E, estava ainda mais certo. Eu tive a escolha de sair de lá e voltar para Londres... e escolhi ficar lá. Não posso mais falar que fico com raiva de ter sido mandada para LA, quando eu tive a oportunidade para voltar para Europa e recusei!

— Perdoe-me. – Falei. – Eu não tinha o direito de te tratar assim. Foi muito infantil da minha parte. Além de que, não é você o culpado por tudo isso. Está muito longe de ser. Desculpe-me. E não vou dar a desculpa do mau gênio, porque, bem, eu não estourei com você por provocação...assim, não serve.

Ele só apertou a minha mão mais forte.   

— Você me promete que entendeu os motivos de eu ter contado para o seu pai tudo o que aconteceu com você em LA?

— Sim... – Respondi sem olhá-lo e parei para pensar, se os nossos papeis fossem trocados, eu teria feito exatamente a mesma coisa. – Eu entendo vocês. E, digo mais, não tenho o direito de ficar com raiva dessa situação, pois eu não sei o que aconteceu na totalidade. Eu... eu não faço ideia, na verdade. Não consigo nem conjecturar sobre como pode ter sido para meus pais, para você, a semana seguinte ao atentado. Espero que um ‘me desculpe’ possa remendar as coisas...

Alex virou o meu rosto para que eu o olhasse, e mirando os meus olhos disse:

— Um ‘desculpe-me’ será suficiente para você?

No fim das contas, nós dois estávamos errados, e ainda bem que percebemos isso antes que fosse tarde demais. Palavras ditas não podem ser recolhidas. A dor de uma frase dita no calor de uma discussão vai ser perpétua, pois, apesar de que algumas pessoas não escolhem o que vão falar, tudo o que é dito ali, ou é sincero demais, ou é feito para machucar. E, infelizmente, nessa nossa briga, foram as duas coisas, foi um rompante de sinceridade, mas também feito para machucar.

Se a briga foi isso, as desculpas foram mais do que sinceras também... afinal, a melhor coisa que fiz foi ter saído do quarto, assim Alex pode pensar no que disse, e, de alguma forma, as suas desculpas me fizeram refletir sobre o meu comportamento.

— Sim. São suficientes para mim. – Falei sinceramente. – De verdade, Alex, me desculpe. Eu não tinha que descontar em você, não quando você só queria me entender.

Ele me abraçou na hora e beijou o alto da minha cabeça. Essa era a nossa primeira grande briga, e já tinha deixado uma cicatriz bem grande para nos marcar.

— Então são suficientes para mim, Kat. – Ele falou ainda me abraçando. – Eu não devia ter falado o que falei. Me arrependi na hora em que vi a dor em seus olhos.

— Eu também não fui justa... creio que mereci. – Disse cansada.

Alex desfez o abraço e me encarou novamente. Creio que buscando em meus olhos o perdão... fiz o mesmo com ele, pois estava sinceramente arrependida. Ficamos assim por um tempo, até que ele me olhou com mais carinho do que já olhava e me abraçou com força.

— Seus lábios estão ficando roxos. Já não está na hora de tirar esse pé daí?

— Acho que até já passou da hora. – Falei e levantei a perna. Como eu temia, apareceu uma bolha na perna, não era nada grande e um pequeno curativo embebido em vaselina daria conta de ajudar com a cicatrização e hidratação do lugar.

Lavei a queimadura em toda a sua extensão, tomando todo o cuidado de não estourar a bolha. Alex me ajudou a me levantar e depois que eu sequei a perna com uma toalha limpa, ele analisou o local.

— O caiu aqui?

— Chá. A xícara escorregou da minha mão.

— Você não se machucou com os cacos?

— Não. O problema foi o chá, que tinha acabado de decantar e como eu faço tudo fervendo mesmo, deu nisso.

— Vá para o quarto, vou arrumar o banheiro.

— Não... eu posso...

— Kat... por favor.

Resignadamente fui para o quarto, levando comigo a toalha molhada para colocar sobre a perna, assim como tudo o que iria precisar para fazer o curativo.

Alex entrou no quarto pouco depois, já com outra toalha molhada.

— Vamos trocando por enquanto, até que você caia no sono.

— Tenho que enfaixar o tornozelo... para que essa bolha não estoure durante a noite.

— Precisa de algo?

— Já trouxe tudo. – Falei e mostrei a vaselina, a faixa cirúrgica e o esparadrapo.

— Enfeixe enquanto eu seguro a toalha aqui no seu pé.

— Tudo bem, só não deixe molhar a cama...

Acabei de enfaixar e ia pegar a toalha a mão de Alex quando ele me impediu.

— Vamos ficar assim por um tempo. Pelo menos até você se acostumar um pouco com a ardência.

— Não está ardendo tanto... só mais essa toalha e já podemos dormir. – Falei e me escorei na cabeceira.

Ficamos em silêncio por um bom tempo, e esse silêncio me fez pensar em uma frase que Alex havia dito logo no início de nossa conversa.

Como saímos do casal apaixonado para o casal brigado em tão pouco tempo?

— Não estamos mais brigados, Kat. – Alex quebrou o silêncio e eu me surpreendi que ele soubesse o que eu estava pensando.

— Sei que não... mas ainda me surpreende a velocidade como tudo aconteceu hoje.

— Eu espero que nós dois aprendamos com o que fizemos hoje, porque eu não quero mais brigar desse jeito com você.

— Eu também não. Nenhuma briga é boa, mas essa... creio que por ser a nossa primeira, doeu de verdade.

— Desculpe-me. – Ele sussurrou do pé da cama.

— Você também me desculpe. – Foi a minha resposta. – E pode tirar o pano. Já esquentou e não estou sentindo mais ardência. E vem pra cá. – Bati com a mão no travesseiro ao meu lado.

— Amanhã, antes de você ir para o escritório, vamos colocar mais um pano. – Alex falou saindo do banheiro onde tinha ido deixar a toalha molhada. E eu aproveitei o momento para passar uma pomada cicatrizante no pé.

— Sim, senhor, Doutor Pierce.

Ele revirou os olhos para minha brincadeira, mas pelo menos sorriu, o que era uma melhora e tanto, tendo em vista tudo o que havia acontecido nesta noite. E, assim que Alex se deitou do meu lado, me puxou para que eu ficasse com a cabeça em seu peito e que minha perna machucada ficasse para o alto, para que assim não corresse o risco de acontecer algo durante a noite.

— Boa noite, Kat. E, apesar de tudo o que eu disse, saiba que eu te amo.

— Eu sei disso, Alex. E eu também te amo. – Aconcheguei-me nele e fechei os olhos, tentando me concentrar somente no som de seu coração, e me esquecer de tudo o que me esperava nessa semana.

 

[1] Merda.


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Notas finais do capítulo

Bem, é isso!
Espero que tenham gostado!
Muito obrigada a quem leu até aqui!
Até a próxima atualização.
xoxo



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