Lar escrita por Saori


Capítulo 1
Um lar pode ser uma pessoa e não um lugar.


Notas iniciais do capítulo

Oi, venho aqui apresentar a vocês a minha primeira tedromeda. Espero que gostem e tenham uma boa leitura! ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/799198/chapter/1

Andrômeda era um espírito livre. Não por vontade própria, mas porque precisava ser. Muitos viam isso como uma virtude ou uma benção, mas a verdade era que, para ela, era um grande fardo. Às vezes, ela sentia falta do simples sentimento de pertencer a algum lugar.

Há muito tempo não se sentia uma Black. Não compactuava mais com os ideais extremistas de sua família e repugnava cada pensamento que encarasse o puro-sangue como soberano. Tampouco, considerava-se uma sonserina, uma vez que suas crenças já não se encaixavam mais em uma casa tão mesquinha e egoísta. Também não era mais uma boa irmã, afinal, fazia tempo que ela, Narcisa e Bellatrix não compartilhavam um momento divertido; ou um único sorriso sequer. Tudo era diferente de quando eram crianças. Acima de tudo, principalmente, reconhecia que estava longe de ser uma boa filha e que, a essa altura, apenas por bater de frente ou se omitir, já era uma grande decepção, a ovelha negra família, ainda que, por ora, ocultasse o seu maior segredo.

Ainda assim, Andrômeda era independente e forte. Ou, pelo menos, era o que os boatos diziam, correndo por meio de bocas curiosas que cochichavam nos corredores da escola. Por muito tempo, ela acreditou naquelas palavras. Ela precisava acreditar. Narcisa já não a olhava mais com os mesmos olhos desde que a vira com Ted, uma única vez. Bellatrix, por outro lado, já não falava com ela desde que questionara o fato da casa de sua família ser utilizada como um grande palco para matanças, um verdadeiro circo de horrores. Obviamente, ela não sabia de Ted, uma vez que Narcisa havia prometido para Andrômeda que não contaria nada, mesmo que não aprovasse o relacionamento.

Então, o que de tão bom havia em ser um espírito livre? Em não ter raízes e perder todos os seus vínculos? Ela certamente não compreendia. Era quase cruel, ter que ir para casa dia após dia, quando absolutamente ninguém ali ao menos se contentava com a sua presença. Era difícil viver em meio a um silêncio ensurdecedor, sem poder expressar seus pensamentos, porque eram considerados tolos, ultrapassados e errados. Viver tendo o silêncio como o seu melhor amigo.

Quando ela conheceu Ted, na aula de poções, não deu muita importância, embora ele se demonstrasse muito talentoso. Parecia apenas um nerd desastrado, que ameaçava quebrar cada frasco que tocava. Mesmo assim, aquilo lhe trouxe um pouco de diversão, embora ela não se esforçasse nem um pouco para ajudá-lo em seus momentos de quase tragédia, pois estava sempre ocupada demais tentando prender o riso.

Na segunda vez que se viram, foi após um jogo de quadribol da sonserina contra a lufa-lufa. Naquele dia, o tempo estava chuvoso e, depois de uma partida árdua, a sonserina conseguiu ser a grande campeã. Embora os alunos estivessem fazendo uma grande algazarra para comemorar aquela vitória, ela realmente não se sentia no clima. Talvez fosse culpa da chuva ou, talvez, apenas da sua personalidade complicada. A verdade era que sua cabeça estava em outro lugar, completamente distante, pensando sobre como, aos poucos, estava se distanciando cada vez mais de suas irmãs, que eram seus bens mais preciosos. No entanto, ela não era a única com a cabeça ocupada, já que fugiu para o seu refúgio de sempre, a Torre de Astronomia, e encontrou Ted lá, igualmente pensativo.

Por um momento, eles não trocaram palavras, apenas se olharam, em um sentimento cúmplice, como se dissessem um para o outro: “você não está sozinho”. Eles conversaram um pouco: assuntos bobos sobre a escola, a partida de quadribol e os deveres de casa. Nada de muita importância. Quando se despediram, Ted, desajeitado como o de costume, pisou em cheio em um dos pés de Andrômeda. Tratou-se de se desculpar de imediato, imaginando que ela ficaria brava, afinal, quem gostava de ser pisado daquela forma? Especialmente tratando-se de alguém da Sonserina, já que, em geral, não costumavam ser muito pacientes. No entanto, ao contrário do que ele esperava, ela caiu na gargalhada, como se ele tivesse contado uma piada. Aquela foi a primeira vez que Andrômeda Black riu para Edward Tonks. Não foi naquele momento que se apaixonaram, contudo, foi a partir dali que passaram a ver um ao outro com um olhar diferente. E, desde então, tornaram-se inseparáveis, mesmo que às escondidas.

Eles se apaixonaram aos poucos, em meio a um campo minado de uma batalha que Ted sabia que tinha poucas chances de vencer. Quase zero, para ser exato. Porque ele lia Andrômeda como ninguém. Bem o bastante para perceber que ela era como uma rosa, belíssima, mas repleta de espinhos. Ao mesmo tempo, era delicada, como as pétalas de uma flor. Ela era uma Black, uma sonserina. Ted, um nascido trouxa, um lufano. Embora não soubesse muito acerca da ideologia do puro-sangue, era inteligente o suficiente para saber não tinha chances com ela, e isso era tão certeiro quanto dois mais dois é igual a quatro. E estava tudo bem, Ted estava disposto a cultivar aquele sentimento e, de maneira egoísta, guardá-lo para si mesmo, como um presente.

Andrômeda, por outro lado, passou muito tempo lutando internamente por algo cuja resposta estava nítida. Ela amava Ted, era algo transparente, cristalino como a água. Pensara muitas vezes sobre como poderia manchar o nome dos Black; sobre como magoaria as suas irmãs e feriria o orgulho de seus pais. No entanto, estava cansada de ter que ser tudo o que queriam que ela fosse. Andrômeda só queria ser ela mesma, mesmo que aquilo significasse que seria a vilã da história. Por isso, ela criou toda coragem que tinha e, sob o teto alto da Torre de Astronomia, onde tudo de fato começou, ela o beijou, antes que sua mente confusa criasse arrependimentos inexistentes. Ted, inevitavelmente, surpreendeu-se com aquele ato repentino, é claro, e fez inúmeros questionamentos sobre sua família, os quais ela respondeu com total sinceridade. Ele merecia a verdade e, também, merecia saber que tudo o que sentia era recíproco.

A partir dali, ela soube. Já não era mais uma Black, uma sonserina, uma irmã ou uma filha. Era apenas Andrômeda, fazendo suas próprias escolhas pela primeira vez na vida. Vivendo a mercê de sua própria vontade. Certamente, no começo foi difícil. Especialmente por conta de suas irmãs, das quais era tão unida. Primeiro, distanciou-se de Bellatrix, por vê-la mergulhando cada vez mais fundo em princípios com os quais ela não compactuava. Em seguida, Narcisa, quando ela o viu com Ted, uma vez, quando estavam juntos e escondidos na escola. Mas já não ligava mais, porque, se suas irmãs realmente se importassem, ficariam felizes por ela. Porque Andrômeda estava mais feliz do que nunca.

Após um tempo, o espírito livre, a menina independente e forte percebeu que nunca se sentira tão sozinha. Ted ficou de coração partido em vê-la daquela forma. Inúmeras vezes, pegou-se pensando que não era bom o suficiente e, todas as vezes, Andrômeda amaldiçoava a si mesma por fazer aquelas ideias sequer passarem pela cabeça de alguém que era tão bom para ela. A pessoa mais importante da sua vida.

Despreocupada e perdida em meio aos pensamentos, ela folheou o livro que tinha em mãos, sem prestar muita atenção. Fazia aquilo apenas porque gostava de ouvir o som das folhas se movendo e, constantemente, repetia o mesmo ato. Quando ouviu a sequência sonora se repetir pela terceira vez, Ted voltou o seu olhar para Andrômeda, que parecia distante. O rapaz se levantou do canto em que estava, caminhou na direção dela e, apenas quando sentou-se de frente para a menina, ela finalmente o notou.

— O que houve? — perguntou Ted, a preocupação era evidente em seu tom de voz e, além disso, em seus olhos.

— Não é nada — respondeu a menina, com um pequeno sorriso em seus lábios. — Eu só estava pensando.

— Você... — a princípio, ele não terminou a fala. Ponderou por alguns segundos, como se precisasse medir as palavras que seriam ditas, enquanto ela o fitava com olhos extremamente curiosos. — Sente falta de casa?

Aquelas palavras, por algum motivo, a atingiram em seu âmago. Pegou-se pensativa por alguns minutos. Sabia exatamente sobre o que Ted estava falando, sobre a Mui Antiga e Nobre Casa Dos Black. Entretanto, por algum motivo, quando escutou a sua fala, não foi naquela casa de arquitetura invejável e estrutura luxuosa que ela pensou. Também não pensou em suas irmãs e, menos ainda, em seus pais. Por um breve momento, sua cabeça deu um nó. No entanto, rapidamente tudo fez sentido e um grande sentimento de pertencimento a invadiu e preencheu por completo. Após muito tempo, era como se tudo fizesse sentido.

— Não, Ted — ela falou, ao mesmo tempo em que acenava negativamente com a cabeça. — Você é a minha casa.

Ele não respondeu de imediato. Estava abobalhado demais enquanto um sorriso largo tomava conta do seu rosto.

Ela não pôde evitar e sorriu também. De repente, ele a abraçou, quase derrubando ambos no chão, e ela não demorou para retribuí-lo, envolvendo-o em seus braços finos, ao mesmo tempo em que tentava manter o equilíbrio. Só então ela percebeu, o tal espírito livre havia fincado raízes, como sempre desejou. Em Ted Tonks, Andrômeda encontrou o seu lar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Espero que tenham gostado. De qualquer modo, sintam-se à vontade para me dizer nos comentários. Até a próxima e obrigada por ler até o final! ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Lar" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.