A Quinta Sombra do Fogo escrita por Pandora


Capítulo 1
Seguindo em Frente


Notas iniciais do capítulo

Olá a todos e bem vindo ao primeiro capítulo da minha mais nova história ‘A Quinta Sombra do Fogo’. ^^
Primeiramente gostaria de dizer que a inspiração dessa história veio de diversos trabalhos com premissas similares. Me encantei com essa temática e sempre esperei que as outras obras se aprofundassem, mas como isso não aconteceu decidi começar minha própria história. Ela tratará de assuntos sérios relacionados ao universo Naruto com a pitada de humor que o anime sempre nos encantou.
Essa história terá como foco principal o Naruto e seu desenvolvimento em diversos assuntos. Haverá momentos que ele será o jovem bobo que todos somos familiarizados como também mostrará um lado dele que poucos conhecem. Eu mudei algumas coisas relacionadas aos personagens para adequar aos assuntos abordados na obra, mas sem prejudicar a essência dos mesmos.
Bom, espero que gostem.



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A sala estava silenciosa. As persianas fechadas, quase barravam totalmente os poucos resquícios de luz que ainda brilhavam do lado de fora. Fazendo com que sombras compridas e aterradoras se erguessem por detrás dos móveis. Para alguns, o clima da sala seria tenebroso e desconfortante, mas para outros, os elementos presentes contracenavam com o que acontecia ali.

Um homem de cabeleira branca e colete vermelho, jazia parado olhando para o estrado a sua frente. Repousado sobre ele, um velho pacifico dormia em um sono sem fim. Ninguém poderia ver, até mesmo os mais experientes nas artes da observação, não conseguiriam enxergar a ligeira lágrima que descia pela face do grande homem. Lágrima que não foi capaz de borrar a rica marca pintada em vermelho sobre sua bochecha.

Lembranças vieram em sua mente, algumas doces e outras nem tanto. Sua primeira vez juntos como um time. Sua primeira aula de treinamento. Sua primeira missão. Seus primeiros conselhos. Suas primeiras vitórias, mas também suas primeiras derrotas. Seus fracassos e arrependimentos. Décadas de histórias que agora eram como contos em um livro empoeirado. O homem olhou infeliz para o velho sensei que descansava sem nenhuma preocupação.

A culpa que ele sentia por não estar lá quando seu professor precisou, corroía-o por dentro. Assim como seu próprio aluno e sua esposa precisavam dele, e ele não estava lá por eles, ele não esteve lá pelo seu sensei. Se ao menos ele tivesse tido mais tempo... 

Seus pensamentos foram interrompidos com o abrir de uma porta e suáves pares de pés adentrarem a sala mortuária. O ninja não se virou para ver aqueles que haviam chegado, mas sabia exatamente quem eles eram e o que pretendiam com aquela visita.

— Não podiam ter esperado um pouco mais para fazer isso? — Quebrou o silêncio, o homem em dor.

— O tempo de luto deve chegar ao fim, Jiraiya. Quanto mais perdemos tempo, mais difícil será para Konoha. — Respondeu a senhora.

— Mesmo com o sensei morto, você ainda mantém essa fachada de pedra, Koharu. — Respondeu o ninja, olhando sobre o ombro para a senhora à sua esquerda.

Utatane Koharu era uma mulher severa, individual e de temperamento forte. Usava um quimono longo e simples, fechado por um obi, uma jaqueta e um cinto por cima. Essas vestimentas indicavam que ela era membro do alto conselho de Konoha. Seu cabelo puxado para trás, prendiam em um coque duplo bloqueado por um pino de cabelo com duas pérolas presas à lateral.

— Não seja insolente Jiraiya. Não confunda minha responsabilidade para com Konoha, e meu luto por Hiruzen. Estou tão triste quanto você, mas não podemos deixar que isso nos distraia agora.

— Vocês fizeram parte do mesmo time. Como pode...

— Acho que não precisamos disso, Jiraiya — interrompeu o acompanhante da conselheira antes que o homem pudesse responder.

O ninja nada mais disse, decidindo voltar-se para o estrado a sua frente.

— Agora, acredito que saiba porque viemos aqui.

Mitokado Homura era um senhor calmo que dificilmente mostraria algum semblante que não fosse neutro. Apesar de sua fachada sem expressão, de vez em quando, mantinha um olhar severo por trás de seus óculos de armação verde. Possui cabelos cinza, uma barba comprida e grisalha escondida em suas vestes. Era uma das pessoas mais influentes e membro do alto conselho de Konoha.

— Sei o que vocês vieram fazer aqui e a resposta é... NÃO! Não tomarei o lugar do sensei. Não tomarei o lugar do meu aluno!

— Você não tem escolha. Konohagakure precisa de um Hokage forte e você é o único que pode nos dar isso.

— Não posso fazer isso..— sussurrou, Jiraiya.

Os dois conselheiros estavam surpresos. Nem durante o ataque do nove-caudas, se lembravam de ver o ninja tão quebrado.

— Não sou como o sensei e nem como Minato. Eu na posição de Hokage é só uma questão de tempo até a vila entrar em caos. Vão atrás de outro.

— Então quem você sugere Jiraiya? — Perguntou, Homura. — Tsunade? Por mais apreço que tenhamos pela princesa lesma, não só por suas origens, mas também por suas habilidades, não a vemos como uma boa candidata ao cargo. Ela abandonou a vida de shinobi há muitos anos. Mesmo considerada a kunoichi mais poderosa do mundo e a maior ninja médica, suas habilidades de luta estão décadas atrofiadas e sua aptidão para medicina está retido pelo seu medo de sangue. Ela está perdida demais em sua dor para que possamos alcançá-la.

— Ou prefere que entreguemos de vez a aldeia para Orochimaru? O Sannin das cobras é o nukenin mais procurado no continente shinobi, ganhando até mesmo de Uchiha Itachi. Ele sempre almejou a posição e até invadiu a aldeia como forma de vingança por nunca tê-la conseguido. E olha onde isso nos levou, ele acabou tirando a vida do terceiro no processo.

—  Não diga o nome dele — sussurrou sombriamente o ninja de rank kage. Os nós de seus dedos ficaram brancos com tamanha força que os pressionava. Algo que não foi passado despercebido pelos idosos. — Não aqui…

Os dois conselheiros trocaram um pequeno olhar, antes de Koharu continuar.

— Dos três Densetsu no Sannin, você é o único que sobrou afiliado a Konoha. Você é o nosso ninja mais forte. Você é o mais adequado para pegar o chapéu no momento.

Jiraiya encarava o piso sem ao menos se virar para prestar os devidos respeitos aos membros anciões do conselho. Ele sabia que o que falavam era verdade. Ele era o último dos Sannin em Konoha. O último dos alunos do terceiro a honrá-lo e seguir seus ensinamentos. Seria sábio tomar o papel que ele sempre se negou a ter para si?

— O Daimyō do país do fogo já foi avisado da situação e viaja neste momento com destino a Konoha. Ele se propôs com sua delegação a nos ajudar nesta crise. Em três dias, quando ele chegar, precisaremos apresentar nomes para possíveis candidatos aptos para Hokage.

— E não há muitos ninjas renomados dentro das paredes de Konoha que estejam a altura de enfrentar Ryōtenbin no Ōnoki, o Terceiro Tsuchikage ou A o Yondaime Raikage de Kumogakure. — Complementou, Homura.

— Precisamos de alguém que seja respeitado e temido ao mesmo tempo. Uma figura que traga inspiração dentro e fora de nossas fileiras e faça com que nossos shinobis sigam-no de bom grado. Alguém que mostre o poder do que nossa vila é capaz.

— Essa invasão trouxe muitas perdas para Konoha. Não só humanas ou materiais. Mas abalou a fé e a confiança da população. Não podemos deixar que nos vejam com um aspecto de fraqueza. Temos que barrar todos que possam achar oportuno essa ocasião de pensarem que podem fazer o que bem entendem.

— Precisamos de alguém como você, Jiraiya. — Quase era possível sentir a amargura de Koharu ao término daquelas palavras. Se o ninja mais jovem percebeu ou não, nada manifestou.

Será que ele era esse ninja de que precisavam? Pensou, Jiraiya. Nos últimos anos, embora tenha passado mais tempo fora da vila do que dentro, serviu a ela com tudo que tinha. Até mesmo criou e administrou uma das teias de espionagens mais vastas do continente. Suas informações ajudaram tantas missões e salvou vidas mais que podia contar. Poderia abandonar tudo isso para se sentar na torre hokage?

No mesmo instante, algo lhe ocorreu. Ele não era o único, havia mais um que poderia se encaixar no papel. Alguém poderoso e que ainda tinha muito a percorrer. Ele não era o maior exemplo de respeito, mas sabia que com o tempo e esforço seria imbatível. Seu caminho seria difícil no começo, mas ele pegaria o jeito. Se houvesse alguém para levar o chapéu seria ele.

— Não tomarei o cargo do meu sensei e aluno — começou a dizer Jiraiya, depois de um tempo preso em pensamentos. — Mas conheço alguém em Konoha que pode pegar o chapéu. E prometo que ele se tornará o melhor Hokage que Konohagakure um dia poderia desejar. Isso eu posso garantir.

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Em uma terra muito longe no país do fogo. Através de amplas florestas com árvores gigantes e retorcidas. Havia uma vila ninja erguida em um vasto vale envolto de rios e córregos. Atrás de suas resistentes muralhas, Konohagakure era imponente para todos que tinham a oportunidade de visitá-la. Considerada a aldeia ninja mais forte do continente. Konoha se ergue na base de uma montanha conhecida como Monumento Hokage, no qual tem os rostos gravados de todos aqueles que ocuparam a residência do Hokage.

O Hokage é o líder de Konohagakure no Sato, a Vila Oculta da Folha. Reconhecido por sua população como o shinobi mais forte da aldeia. Somente quatro ninjas tiveram a honra de ganhar esse título até o momento. Sendo selecionados particularmente por suas ideologias e renome. Mas para a tristeza daquele povo, uma vez mais, logo seria escolhido um novo Hokage. O escolhido que tomará o nome de Godaime Hokage ou Quinta Sombra do Fogo, herdará o título e os deveres dos líderes que o antecederam.

Como era uma tradição para o povo ou um protocolo para os funcionários shinobi. O complexo da torre Hokage permanecia ‘fechado’ em respeito à falta de alguém com esse título. E esse período quando não possuíam um líder, era quando ocorria a cerimônia da chama apagada. Dentro do complexo, uma torre fina com um braseiro se erguia com vista para a praça do lado de fora. Quando um Hokage é escolhido para governar a aldeia, um fogo é acendido, e suas sombras simbolizam a retomada do poder da sombra do fogo. Permanecendo assim, até que o cargo fique vago novamente e suas chamas sejam extinguidas.

Sendo um dos eventos mais importantes do mundo, é através da chama que todos descobrem o alvorecer e o entardecer da era de um Hokage. E naquele dia, faziam quatro dias que a chama havia se apagado. Quatro dias que o mundo descobriu que Konoha havia perdido seu líder. Sarutobi Hiruzen, o Sandaime, foi o Hokage com o maior tempo no cargo. Suas décadas de reinado foram recheadas com muitos acontecimentos e reviravoltas. Entre suas principais realizações está a liderança sobre Konoha que lhe rendeu a vitória nas três guerras mundiais shinobis.

Um evento como esse se espalhava rapidamente como fogo em uma plantação. Enquanto havia pessoas que lamentavam a perda de uma das maiores figuras que buscaram pela paz entre as nações. Outros temiam pelo que poderia vir. As demais aldeias começaram a se mobilizar. Um ataque a Konoha não era facilmente saído em pune. Todos no continente aguardavam para ver o que a potência shinobi faria. O mundo não sentia uma ansiedade assim desde os eventos que levaram a Terceira Guerra Mundial Shinobi, quando a política mundial estava em sua época mais fragilizada. 

Era para esse braseiro que um jovem ninja olhava com demasiada tristeza. Já fazia quatro dias que trabalhava intensamente pela aldeia e mal tivera tempo para descansar. O ataque de Orochimaru destruiu inúmeros prédios, prejudicando muito a sua antiga infraestrutura. Todos os ninjas foram convocados para trabalhar em horários exaustivos, até a aposentadoria de muitos shinobis foi revogada para servir como mão de obra. Havia muito trabalho a ser feito e cada pessoa era necessária.

— Asuma-sensei, você está fazendo a fumaça vir em nossa direção de novo! — reclamou uma garota loira que aparentava não ter mais de treze anos.

— Ah. Desculpe Ino — respondeu o ninja, apagando com a sola da sandália a bituca acesa. — Então, como vocês têm estado crianças? Com a aldeia desse jeito, não tivemos muito tempo para nos encontrarmos.

O professor olhou para os três jovens no final da puberdade. Seu grupo consistia em genins quase recém saídos da academia. Ino que era a única menina do grupo, se destacava dos demais por seus cabelos loiros presos em um coque e suas roupas roxas bastante reveladoras. Antes que ela explodisse com seu professor, por tê-los chamado de crianças, outra voz se apressou.

— Entediado — grunhiu a voz abafada. — Porque temos que fazer esse trabalho chato?

— Concordo com Shikamaru. Porque temos que ficar entregando esses papéis pela vila? Isso não é trabalho de shinobi.

Sarutobi Asuma riu, olhando para os dois meninos do seu grupo. Enquanto Shikamaru permanecia com a cabeça abaixada sobre os braços, o outro garoto permaneceu sentado, não poupando os sons de prazer conforme devorava mais uma dos seus muitos sacos de salgadinho.

— Saibam que esses papéis são muito importantes. Eles são ordens que vêm lá de cima. Vocês estão fazendo um grande favor passando essas instruções para os nossos colegas ninjas.

— Ainda assim acho que isso é trabalho para civis.

— Deixa de ser preguiçoso, Shikamaru. Poderia ser bem pior... Melhor entregar ofícios do que participar da limpeza da vila — Ino revirou os olhos longe do parceiro. — Sensei, você tem alguma notícia sobre o Sasuke-kun? A última vez que soube dele, foi que ele havia sido transferido para o hospital, depois de sua luta contra aquele ruivo assustador da areia.

Asuma fez uma posse meditativa, enquanto desviava os olhos de sua aluna. Outra pessoa veio a sua mente e não era o Uchiha.

— Não ouvi nada sobre, Ino. Receio que você tenha que passar no hospital e perguntar quando estiver livre.

— E sobre o ninja que o salvou? Você tem alguma notícia sobre ele, Asuma-sensei? — perguntou Shikamaru, demonstrando o primeiro interesse na conversa até agora. — Tenho ouvido muito sobre ele desde a invasão. Ninguém disse seu nome, apenas que é jounin com máscara de raposa.

— Dizem que ele foi a causa da queda daquele monstro enorme que surgiu fora das paredes de Konoha — complementou Chōji, deixando o saco vazio de lado e apressando-se para abrir outro.

Chōji Akimichi é um garoto gentil, possuidor de um físico robusto. A primeira impressão que todos tiram dele à primeira vista é julgar seu consumo excessivo de comida. Mas isso é devido uma necessidade de seu clã para executar suas técnicas, uma vez que convertem as calorias em chakra. Seu protetor de testa, que indicava sua afiliação para com Konoha, foi moldado em uma forma que permitia que dois tufos de cabelo ficassem para fora de cada lado.

— Não sei muito mais que os outros shinobis — respondeu Asuma. — Sei apenas que ele estava sob as ordens do próprio Sandaime. Se quiserem mais informações comprem um livro bingo e tentem a sorte procurando.

Shikamaru levantou a cabeça não satisfeito com sua resposta. Já havia um tempo que ele sabia quando seu sensei não queria contar alguma coisa para eles. Os sinais mais claros quando isso acontecia era o desviar do olhar ou acender um cigarro apressadamente. O Nara prometeu mais tarde procurar no escritório do seu pai, algo sobre esse ninja misterioso.

— Bom dia, time Asuma — uma voz delicada, mas firme alcançou o grupo.

Todos se viraram para fitar uma jovem mulher a poucos metros de distância. De construção delgada, seus cabelos negros desgrenhado na altura dos ombros pelo vento só faziam com que um certo ninja a achasse ainda mais atraente. Mas o que se destacava eram seus olhos peculiares vermelhos, com um anel adicional neles.

— Bom dia, Kurenai-sensei — três vozes em coro, seguiram a da jōnin.

— Bom dia, Kurenai — respondeu Asuma.

Nenhum dos genin notaram, mas por um segundo, os olhos dos dois shinobis mais velhos se cruzaram misteriosamente.

— Kurenai-sensei onde estão Shino, Kiba e Hinata? — Ino perguntou procurando a sua volta. A rua em que estavam, estava repleta de transientes, mas nenhum que se assemelhava aos seus colegas de turma.

— Eles estão trabalhando com as equipes de limpeza. Com tudo que ocorreu, receio que nosso tempo habitual juntos como um time não volte acontecer pelos próximos dias.

— Então somos dois — falou Asuma. — Meu time e eu também não tivemos tempo para passarmos juntos.

Kurenai nada disse, mas um olhar de entendimento passou por seu rosto. Seus únicos pensamentos estavam fixos em um certo ninja que a quatro dias havia perdido o pai na invasão. Mesmo podendo tirar um tempo de folga, continuou trabalhando mais incansável e ininterrupto do que antes. Ela não pode deixar de se preocupar com seu bem estar mental. Ele nada havia dito sobre o assunto, o que a preocupava. Não era saudável guardar tudo para si. Uma hora a represa iria ruir e ela queria evitar a todo custo.

Passado alguns instantes entre conversas ocasionais. O grupo foi interrompido por uma sombra surgindo de lugar nenhum. Os dois Jōnin olharam atentamente para o ninja com vestimentas pretas e armadura cinza no peito e braceletes da mesma cor, além de luvas e sandálias abertas. Se por acaso não tivessem certeza sobre quem se tratava, a tatuagem no ombro esquerdo e a máscara em formato de gato o denunciou. O shinobi faz parte da divisão da Anbu que significa ‘Esquadrão Especial de Assassinato e Tática’. Uma especialização ninja cujos shinobis são escolhidos a dedo pelo próprio Hokage para fazer parte de seu esquadrão pessoal. Sua decisão, leva em conta, suas capacidades individuais e habilidades especiais. Tem como trabalho realizar missões especiais de alto nível, tais como assassinatos e torturas. Recebem ordens diretas do Hokage e somente a ele se submetem.

— Sarutobi Asuma e Yūhi Kurenai, vocês são convocados pelos membros do Alto Conselho de Konoha para uma reunião no prédio administrativo número um, na torre Hokage.

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O hospital de Konoha era um lugar agradável. Referência no país do Fogo, era muito procurado por pessoas de toda a nação. Sua arquitetura comprida e cheia de janelas, permite uma maior comodidade em todos os quartos com vista para os jardins. Localizado próximo ao centro administrativo da aldeia, foi a razão para que felizmente nenhum dano fosse causado em sua estrutura durante a invasão. Em dias comuns, raramente recebia mais do que os pacientes habituais, mas naquele momento, encontrava-se com a capacidade saturada devido ao número de feridos durante o ataque. Não havia mais quartos disponíveis e as pessoas descansavam em macas dispostas nos corredores, e de vez em quando, verificadas pelos funcionários que transitavam por ali.

Era em um desses quartos que um jovem ninja descansava. Seu rosto sereno, indicava que há muito dormia em um sono pesado. Qualquer um que pegasse seu prontuário, leria que ele estava para acordar a qualquer momento, mas nenhuma mudança houve nos últimos dias do seu estado atual.

Sentada ao seu lado em uma poltrona de couro desgastada pelos muitos anos de uso, uma jovem kunoichi começou a se mexer. Quando não estava com as equipes shinobis trabalhando na recuperação da vila, estava ali, naquele mesmo assento fazendo companhia para seu colega de time. Seus olhos fitaram o menino moreno com esperança de alguma melhora, mas suas expectativas logo caíram por terra. A única coisa que queria era poder ver seu Sasuke-kun bem e acordado novamente.

Ela voltou a olhar para os fios que ligavam o menino aos equipamentos hospitalares. Sua mão já estava no botão para chamar a enfermeira, mas lembrou do último aviso que recebeu. ‘Mais uma chamada sem motivo e será expulsa até que o paciente acorde. Temos mais enfermos além dele para tratar’.

Enfermeiras idiotas. Pensou, Sakura indignada. Ela ainda não entendia como puderam tratá-la assim, quando estava tão preocupada com seu Sasuke-kun. Não se importava muito com os outros pacientes, sua maior preocupação agora estava na saúde e bem estar de seu Sasuke.

Levantando do assento, Sakura pegou uma maçã da cestas de frutas em cima da mesa. Sem dinheiro para comprar um almoço melhor, ela começou a comer a fruta enquanto olhava pela janela. Era início da tarde em Konoha.

Sua concentração era tanta que Sakura, quase não notou o bater na porta e o arrastar que se seguiu quando alguém a abriu.

— Oi, Sakura.

A menina se virou da janela para encarar um garoto que havia entrado. Possuidor de cabelos e olhos negros que contracenavam com sua pela branca palida. Estava vestindo uma roupa casual que consiste em uma camisa de manga comprida com gola alta, calças combinando, e sandálias shinobi padrão. Era estranho sua semelhança com Sasuke apesar de tudo.

— Sai, quantas vezes tenho que dizer que aqui é um hospital. Vista pelo menos uma camisa que cubra todo seu corpo.

— Essa é minha roupa casual, quando não estou de serviço — respondeu Sai, passando a mão pela barra da camisa que chegava até um pouco acima do umbigo. — Não vejo qual é o problema disso.

— Então trate de achar outra. Não serei expulsa do lado do Sasuke-kun por sua causa ou dessas enfermeiras idiotas — gritou a menina.

Sai ignorou o ataque de Sakura, acostumado com essas explosões desnecessárias da garota. Calmamente caminhou pela sala até uma outra poltrona perto da parede oposta à cama.

— Vejo que não houve nenhuma melhora do Sasuke, hoje. Me pergunto até quando ele vai ficar assim…

Sakura encarou o companheiro de time. Desde que se juntaram ao time sete, ela achava Sai estranho. Era como se ele usasse uma fachada falsa todas as vezes que demonstra algum sentimento. Parecia tudo forjado e nada do que ela via no rosto dele era verdadeiro. Ela nunca admitiu, mas sentia muito medo do Sai no começo. Agora, ela só o achava estranho mesmo.

— Você está falando igual ao Kakashi-sensei.

— Falando em Kakashi-sensei, ele não vai vir hoje. Recebi uma mensagem de uma de suas invocações. Ele vai sair em uma missão.

— Típico do sensei fazer algo assim. Quando ele voltar vou falar umas boas para ele…

Sai aprendeu a muito tempo o temperamento problemático de Sakura. Ele sabia quando bloqueá-la assim que começava mais uma de suas sessões intermináveis de reclamação. Ao contrário do seu companheiro orgulhoso e metido, Sakura não contribuia em nada para o grupo. Perdera a conta de quantas vezes teve que salvá-la durante os exames chunin. Mesmo antes disso, durante suas missões anteriores aos exames. Sem habilidades descentes de luta e ninjutsu quase inexistente, ela era um peso morto que ele e Sasuke arrastaram para onde foram. Até a garota Yamanaka não era tão inútil, ela era uma vantagem, pois ainda possuía suas técnicas de clã. Ele estava tão proficiente em ignorá-la que quase perdeu sua pergunta.

— Sai, você já ouviu falar daquele ninja que nos salvou na floresta?

Sai encarou Sakura, atentamente. Ele se lembrou dos eventos no dia da invasão e do seu tempo tentando proteger Sasuke do ninja da areia. Ele mesmo teria morrido se sua luta não fosse interrompida por ele...

É claro que sabia quem era o ninja que os havia salvado. Todos os shinobis acima do rank genin saberiam dizer quem ele era. Até mesmo a maioria dos civis o reconheceriam. Suas proezas na anbu são excepcionais, igualadas talvez somente pelo mesmo nível de ninjas como seu sensei Hatake Kakashi ou o nukenin Uchiha Itachi. Ele era uma lenda e suas habilidades shinobis só se podiam comparar talvez com figuras como os Sannin e o recém falecido Sandaime Hokage.

— Ele já foi um ninja experiente da AMBU. Um dos mais fortes deles. Mas foi como jounin que ganhou sua reputação. Mundialmente apelidado de raposa. Ele era um shinobi a serviço pessoal do próprio terceiro e um eremita como o Sannin Jiraiya. Seu nome é Uzumaki Naruto.

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O país do Fogo era de uma beleza impressionante. Recheado de paisagens incríveis e uma biodiversidade de causar inveja, é uma nação próspera e rica em recursos. Tão rica, que foi palco de muitos conflitos com outros países ao longo das décadas. Muitos povos estavam indignados com a divisão inicial dos territórios e lutaram para adquirir maiores quantidades de terras. Um exemplo disso foi o país do vento que alegou precisar de mais áreas cultiváveis. Mesmo seu país sendo um dos maiores do continente, seu território era em sua maior parte coberto por desertos. Isso e outros motivos levaram ao início do que seria conhecido como a primeira guerra mundial shinobi, porém ninguém poderia saber que logo mais duas iriam suceder a primeira. Conflitos os quais contribuíram para que o país do Fogo surgisse como umas das nações mais poderosas do continente.

Seus vales e montanhas eram férteis e quase todos os tipos de culturas podiam ser cultivados. O que não podia ser produzido ali era importado de outros países aliados. Mas em sua maior parte, o país do Fogo era coberto por impressionantes florestas. Era em uma dessas florestas que um grupo de shinobis corria rumo ao sul.

O ninja que os liderava, guiava o grupo através da orla de uma das estradas mais importante do país. Esse caminho ligava a capital Keishi a Konohagakure. Para manter a descrição, os shinobis optaram por não utilizarem a estrada até chegarem a sua missão. O grupo consistia em uma dúzia de jōnin e alguns tokubetsu jōnin. A diferença entre as duas patentes é que o tokubetsu jōnin consiste em ninjas que, tem todo o treinamento jōnin e habilidade de nível jōnin em uma área específica. Já os jōnin são geralmente shinobi altamente experientes com grande habilidade individual que servem como capitães militares, capazes de usar pelo menos dois tipos de chakra elemental e proficientes em outras áreas shinobis.

O líder do grupo analisava tudo à sua volta e de vez em quando sinalizava ordens com as mãos para os outros. Difícil de não distingui-lo, sua cabeleira prata espetada se destacava dos demais, assim como sua máscara negra que cobria a parte inferior do rosto deixando apenas os olhos amostra. Olho! Apenas um olho era visível, o outro permanecia encoberto por um protetor de testa.

Mais alguns minutos pulando de galho em galho, bastou para o ninja parar olhando para a estrada à sua esquerda. Do seu colete shinobi de elite, retirou um pequeno mapa dobrado em quatro partes. Após uma análise minuciosa, voltou-se para a equipe que o esperava atentamente.

— Bom, pessoal. Parece que é aqui que iremos esperar por eles — quebrou o silêncio, o ninja de Konoha. — Kurenai, Asuma, Aoba quero que vocês três chequem o perímetro do lado esquerdo da estrada. Genma, Iwashi e Raidō ficam com o lado direito. O resto divide-se em dois grupos e olhem mais à frente e à retaguarda, dos dois lados. Quero essa área protegida o quanto antes.

Não bastou falar duas vezes para que os ninjas seguissem suas ordens. Kakashi observando seus companheiros saírem, sentou em um galho para assistir o caminho. Sem ter o que fazer enquanto esperava, retirou um livro de capa laranja e começou a ler. Ninguém estava perto para conseguir escutar, mas se estivessem, ouviriam risos pervertidos ecoando dali.

Não muito tempo depois, três ninjas faziam a varredura a duzentos metros da estrada. Kurenai e Asuma estavam um pouco mais distantes de Aoba. O tokubetsu jōnin analisava por de trás de seus óculos de sol de armação vermelha nas copas das árvores, enquanto os dois jōnins ficavam com a superfície. Calmamente vasculhavam o perímetro atentos para qualquer sinal de armadilhas, sejam elas de shinobis ou de bandidos civis comuns.

— Yamashiro, se importa de ir um pouco mais a frente? — Kurenai perguntou ao ninja. Um sutil aceno afirmativo e logo apertou o passo, sumindo entre as árvores.

— Agora pode começar a falar, Asuma — iniciou Kurenai, depois de conferir se estavam sozinhos.

— Agora não, Kurenai.

— Não me venha com isso. Nós dois sabemos que não pode mais adiar essa conversa. Se ela não acontecer, uma hora isso vai sair, e talvez seja muito pior. Prejudicando não só você, mas alguém próximo.

— O que você quer que eu diga? — Perguntou o ninja, parando sua caminhada, olhando para todas as direções menos para sua parceira.

— Quero que pare de trancafiar suas emoções. Você é incapaz de perceber, mas eu vejo como isso está te fazendo mal. Falar dos seus sentimentos e desabafar é melhor do que guardar para si.

— Se quer tanto saber se a morte do meu pai me chateia. Sim! Estou chateado. Nossa relação por anos foi o que podemos chamar de conturbada. Ele nunca teve tempo para sua família. A aldeia sempre vinha em primeiro lugar. Tive que deixar Konoha por anos para enfim entender o que significava ser Hokage. E quando começamos a nos dar bem de novo, ele morreu.

— Seu pai, o Sandaime-sama, fez o que achou ser certo. Dedicou sua vida a um propósito e pensou no bem dos outros, antes dele mesmo. Ele foi um herói, Asuma.

— Eu sei, ele foi… — sussurrou o shinobi, olhando para as próprias mãos. — Pode parecer ingrato da minha parte, mas eu esperava que ele fosse um pouco mais egoísta no final.

— Ele foi um shinobi da folha oculta. Se em algum momento ele pensou em como deixar esse mundo,  foi de uma forma honrosa e com algum significado.

— Eu entendo, só que ainda é difícil de aceitar.

— Sempre é... — confortou Kurenai, posicionando sua mão no rosto do parceiro.

Asuma olhou para a mulher à sua frente. Eles já haviam se encontrado mais vezes do que poderiam contar, mas essa era uma das raras ocasiões na qual ele olhava para Kurenai não como a kunoichi destemida de Konoha, mas para a mulher bela e atenciosa. 

— Pense em seu sobrinho. Seu pai era tudo para Konohamaru também. A morte dele deve estar sendo devastadora para ele. O que ele mais precisa agora é do tio para apoiá-lo nesse momento.

Asuma teve um momento de surpresa e realização, mas logo foi substituído por um sentimento de vergonha e culpa. Em sua dor, ele havia esquecido dos outros membros de sua família. Em especial, Konohamaru. Seu velho era tudo para seu sobrinho. Ele mal se lembrava quando essa obsessão de derrotar o terceiro começou. Mas sabia que por dentro seu pai amava quando seu neto aparecia para tirar ele, nem que por um instante, da ‘maldita papelada’.

— Todos temos direito de estar de luto, mas não deixe que isso consuma você. Uma lição que essa vida me ensinou é que depois de entrar, fica ainda mais difícil sair.

Um silêncio reconfortante surgiu entre eles. Somente os pássaros e as folhas das árvores agitadas pelos ventos pareciam certo reverberar. Kurenai olhou nos olhos de Asuma, mas ela sabia que sua mente estava longe. Levaria algum tempo para ele se adequar.

— Vamos! Temos que nos apressar em alcançar Aoba e relatar ao Kakashi.

— Kurenai, espere... — a kunoichi parou, virando-se para fitar Asuma. — Obrigado... por tudo.

Kakashi ainda estava sentado sobre o mesmo galho, lendo, quando as equipes começaram a voltar. Para o alívio geral, nenhum contratempo foi relatado. Tudo parecia estar relativamente bem. Vários dos shinobis, estavam em turnos de trinta e seis horas e queriam acima de tudo, uma noite de descanso merecida depois de tanto trabalho. E uma batalha não seria bem-vinda.

— Equipe Kurenai relatando a varredura do lado leste da estrada — surgiu uma voz, cuja presença não estava ali a alguns instantes.

A vinda repentina do grupo não abalou o shinobi no galho. Pelo contrário, sua atenção em momento nenhum deixou o livro. Apenas se moveu para virar mais uma das páginas ressecadas.

— Tudo limpo, nada com que se preocupar.

— Bom! Agora só esperar pelo Daimyō-sama. Algum sinal ? — Perguntou o ninja, voltando-se para a equipe cuja função era olhar um pouco mais a frente.

Um dos integrantes deu um passo à diante.

— Nada que tenhamos visto, senhor. Mas levando em conta as curvas da estrada, não deve demorar muito para aparecer.

— De acordo com seu cronograma de viagem, sua previsão de chegada é para algum momento a partir desse ponto — acrescentou Kakashi. — Voltem para suas posições e relatem se virem alguma coisa.

O grupo assentiu e se virou para partir.

— Ainda estou surpreso que estejam demorando tanto para chegar a Konoha. A viagem normal não dura mais que um dia e meio pela estrada.

— Esqueceu que isso é em uma velocidade média jōnin, Iwashi — interrompeu, Asuma. — Conhecendo o senhor do fogo como eu conheço. Ele viajará com classe, elegância e extremamente sobrecarregados. Não duvido que ele e sua esposa tenham trazido mais da metade da corte com eles.

— Os nobres são muito vaidosos — murmurou um shinobi, mas ao fundo do grupo.

— Não difame o Daimyō-sama — cortou Asuma bruscamente. — Ele pode não ser nosso Hokage, mas ainda continua sendo o senhor desse país.

Kakashi achou oportuno interromper, depois que viu o jovem tokubetsu jōnin se encolher com a resposta agressiva.

— Vão todos para suas posições e fiquem atentos. Caso alguma coisa dê errado, já sabem o que fazer.

Uma onda de acenos afirmativos foi ouvida e logo os shinobis voltaram a partir.

— Vejo que ainda há resquícios dos Doze Guardiões Ninja em você Assuma — sussurrou Kakashi só para o outro jōnin conseguir escutar.

— Pode ir na frente Kurenai e Aoba. Encontrarei vocês daqui a pouco.

Os dois ninjas assentiram e partiram para suas áreas designadas. Kurenai olhou uma última vez para trás antes que sua visão de Asuma sumisse entre as árvores.

— Difícil de esquecer quando se dedica quase uma década a eles, Kakashi.

— Sei muito bem o que isso significa… — respondeu, pensativamente. — A propósito, não precisava antagonizar o rapaz, Asuma. Ele é jovem, é natural cometer alguns erros.

— Eu exagerei. Eu era como ele, soltava comentários atrevidos e não ligava para as consequências — riu o ninja, lembrando de acontecimentos que só ele parecia reviver. — Acho que não tenho sido eu mesmo nos últimos dias.

— Entendo... Não sou o melhor para ter esses tipos de conversa, mas garanto que uma hora vai melhorar.

Um silêncio se iniciou entre os dois. Asuma decidiu sentar em um outro galho e começou a afiar uma de suas facas de trincheira com uma pedra de amolar.

— Você conseguiu, kakashi? Superar?

— Uma pequena parte de mim, sim. Mas uma grande parte, não!

— Como consegue conviver com isso?

— Suas sombras ainda me cobrem, mas tenho aprendido a viver com eles. Onde quer que estejam, eles não gostariam que eu acabasse assim. É isso que eu tenho feito. Tenho vivido...

Somente quando Kakashi começou a ficar entediado que um sinal de coruja foi escutado sobre os demais sons da floresta. Agora sozinho, voltou-se para o final da estrada para começar a ver uma movimentação. Uma espécie de comboio, composto por pessoas a pé, montados em cavalos, carroças e carruagens, percorria lentamente a faixa de pedra. Suas cores em diversos tons de vermelho tremeluziam ao vento, carregados por diferentes estandartes. O símbolo do país do fogo queimava com bastante louvor. Contabilizou uma média de mais de trezentas pessoas, além das que permaneceram escondidas nos transportes. Só havia duas pessoas que poderiam viajar tão grandiosamente em toda a Hi no Kuni. E uma delas havia morrido há quatro dias.

— Minha paz está prestes a acabar…


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Notas finais do capítulo

Este foi o primeiro capitulo, espero que tenham gostado. ^^
Até a próxima.



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