O Que Queima Em Nós - CIP escrita por Casais ImPossíveis


Capítulo 1
Capítulo 1 - O Que Queima Em Nós




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As vozes eufóricas dos adolescentes se misturavam dentro do ônibus cantando várias músicas de viagem. Todos estavam muito animados para passar algumas semanas bem agitadas no acampamento musical de verão New Concept agora que finalmente tinham chegado a idade mínima para ter essa experiência fantástica.

Quando o veículo estacionou, os novos campistas se atropelaram para descer e pegar suas bolsas mesmo que isso fosse inútil no momento já que nenhum deles sabia para onde levar, pois ainda não haviam sido designados para suas cabanas.

— Sejam muitíssimos bem-vindos ao New Concept, campistas. O meu nome é Shizuko, sou a diretora do acampamento e vou passar as instruções, então peço que ouçam atentamente para facilitar a compreensão e não ser necessário eu repetir. — disse uma linda mulher de traços asiáticos e cabelos longos e negros que desciam até pouco abaixo do ombro. — Os dormitórios dos rapazes ficam seguindo essa trilha do lado esquerdo, já os dormitórios das meninas ficam à direita. Nas portas de cada cabana tem uma lista com seus nomes, vocês não vão ter problemas para achar seus alojamentos, pois estão em ordem alfabética...

— Isso quer dizer que com certeza nós duas não vamos ficar na mesma cabana. — Julie resmungou no ouvido de Flynn.

— Ah, não se preocupe. Eu fujo pra te perturbar toda noite. — Flynn prometeu com seu sorrisinho convencido.

— Mané. — Julie respondeu rindo e voltando a prestar atenção em Shizuko.

— ...os monitores Ryan, Beatriz, Walter, Lena e Mariana. Depois do almoço vocês podem se inscrever para as atividades que começam a partir de amanhã. À noite teremos uma fogueira para que possamos nos enturmar melhor...

Enquanto todos os outros campistas prestavam atenção no discurso, Carrie Wilson batia o pé no chão impacientemente esperando Shizuko acabar para poder falar com ela sobre como conseguir uma cabana só para si e não ter que dividir seu oxigênio com “relé”.

Julie e Flynn tiveram o imenso prazer de estar perto o bastante para ver a diretora não dar a mínima para os apelos e tentativas de suborno de Carrie. E, é claro, ambas fizeram questão de rir alto para irritar ainda mais a princesinha da Dirty Candy.

>>> 

A fogueira já estava acessa, porém nem todos os campistas estavam ao redor dela. Nick aproveitou o tempo de esperar os outros chegarem para tocar uma música em seu violão, cuja a letra era estranhamente triste para seu ritmo animado, mas quem já estava por perto se juntou a ele para cantar Breakeven – The Script.

O círculo foi ficando maior e maior conforme os outros iam chegando. A última garota a aparecer foi Carrie e além de já estar atrasada, ela chegou reclamando de ter que andar no meio do mato e dizendo que seus sapatos eram bonitos demais para isso.

— Muito bem, pessoal. Agora que estamos todo aqui, vamos jogar um quebra gelo. — a diretora Shizuko disse alto, interrompendo o falatório dos campistas. — Quando eu apontar pra você, diga seu nome e faça um elogio para a pessoa que está bem na sua frente. Começando por... Você aí.

— Eu? — Carrie perguntou com desdém.

— Isso mesmo. — Shizuko confirmou com um sorriso doce, incentivando a garota a se enturmar mesmo que ela não parecesse querer.

— Meu nome é Carrie Wilson.

— Oi, Carrie. — os campistas disseram em couro.

Revirando os olhos a princesinha da Dirty Candy olhou para frente e percebeu algo que a deixou ainda menos a fim de participar daquela brincadeira estúpida: quem estava ali com os braços cruzados e uma leve careta de desgosto era Flynn.

— Faltou a segunda parte, senhorita Wilson. Diga alguma coisa legal pra sua colega. — a diretora mandou.

— Bom... Eu acho muito legal o quanto qualquer outra pessoa parece menos brega perto da minha querida coleguinha. — Carrie debochou com um sorriso cínico.

Flynn cerrou os punhos, mas manteve a postura ao dizer. — Muito obrigada, Carrie. Oi, pessoal. Eu sou a Flynn e gostaria de dizer o quanto eu admiro a minha querida coleguinha Carrie pela representatividade que ela traz à arte Drag nos figurinos dos shows dela. Aposto que seria um sucesso em Rupaul’s Drag Race.

— Ainda não era a sua vez, mas obrigada por participar. Vamos passar para o próximo... — Shizuko interviu antes que os ânimos acabassem ficando alterados ali.

Essa foi apenas a primeira implicância entre Carrie e Flynn naquele acampamento. Em cada atividade que tinham em comum, quando se topavam no caminho para os dormitórios ou qualquer oportunidade que tinham era motivo para jogar indiretas e discutir, os monitores e os instrutores já planejavam estratégias para mantê-las o mais longe possível, mas nada impediu que aquele momento acontecesse.

Era horário de almoço bem no meio da terceira semana de acampamento, as mesas do refeitório estavam cheias de campistas falantes e risonhos. Julie e Flynn estavam passando por entre as mesas para pegar suas bandejas e se servir, só não perceberam Carrie vindo pelo lado oposto até acabarem se topando.

— Olha por onde anda. — a garota de tranças resmungou.

— Olha você por onde anda. — a loira respondeu antes de dar um sorrisinho debochado. — Se bem que pelo seu estilo de roupas eu não devia desconsiderar a possibilidade de você ser cega mesmo. Nesse caso eu fico devendo um pedido de desculpas.

— Como você consegue ser tão insuportável? — Flynn replicou cerrando os punhos.

— É um dom. — Carrie ironizou, colocando uma mão sobre o peito.

— Chega. Julie, me dá uma melodia. — pediu entredentes.

— O que? Agora? — a tecladista perguntou com as sobrancelhas franzidas.

— É, de preferência.

Julie andou rápido tentando desviar dos colegas que começavam a se amontoar ao redor querendo de ver o circo pegar fogo, até alcançar um teclado que ficava no canto do grande salão e por fim conseguir flutuar os dedos pelas teclas e dar um ritmo para Flynn poder expressar todo o ódio que sentia por aquela loirinha irritante.

 

Só de sentir o seu cheiro

Eu já começo a me irritar

E essa sua cara de entojo

Não dá mesmo pra aturar

Você me estressa

Em cada mínimo detalhe

E eu fico tão de boa

Toda vez que você parte

 

Porque eu te odeio

Tanto que eu nem sei explicar

Até o dicionário

Fica sem termos pra expressar

Um ódio tão profundo

E bem maior que o mundo

Que só alguém como você pode causar

 

Carrie bufou e olhou para Nick com os olhos queimando de raiva. — Começa a tocar...

— Amor, não é melhor respirar fundo e... — o garoto até tentou apaziguar, mas logo foi interrompido com uma ordem expressa.

— Eu mandei tocar.

— Tá. — Nick suspirou conformado e começou a tocar sua guitarra no mesmo ritmo.

Carrie subiu em uma das mesas e cantou alto, com vontade.

 

Pois fique sabendo

Que esse sentimento é mutuo

Só de respirar

Você já me irrita, e muito

Eu não te suporto

E nem quero tentar

Longe de você

É onde sempre quero estar

 

Porque eu te odeio

Tanto que eu nem sei explicar

Até o dicionário

Fica sem termos pra expressar

Um ódio tão profundo

E bem maior que o mundo

Que só alguém como você pode causar

 

Flynn não se deixou intimidar pelo jeito performático e espalhafatoso da princesinha da Dirty Candy, só de olhar para Julie já ficou claro que ela deveria continuar tocando. E foi o que a tecladista fez, sendo acompanhada por dois garotos aleatórios que começou a tocar uma bateria e um baixo que também havia ali, e o próprio Nick também decidiu manter a palheta passeando pelas cordas da guitarra. Flynn subiu na mesa e ficou cara a cara com Carrie.

 

Sabe o que seria bom?

A gente combinar assim

Eu fico longe de você

E você fica de mim

 

Carrie riu e cantou.

 

Por mim fechou

Eu curti esse conceito

Viver sem olhar pra tua fuça

Pra mim soa tão perfeito

 

Então as duas cantaram com toda vontade, rodeando uma a outra em cima da mesa e se olhando profundamente nos olhos para não deixar dúvidas de que aquelas palavras vinham do fundo do coração.

 

Porque eu te odeio

Tanto que eu nem sei explicar

Até o dicionário

Fica sem termos pra expressar

Um ódio tão profundo

E bem maior que o mundo

Que só alguém como você pode causar

 

Porque eu te odeio

Tanto que eu nem sei explicar

Até o dicionário

Fica sem termos pra expressar

Um ódio tão profundo

E bem maior que o mundo

Que só alguém como você pode causar

 

Flynn repetiu. — Que só alguém como você pode causar.

Carrie também cantou sozinha, fazendo questão de estender a nota. — Só alguém com você pode causar.

Então as duas finalizaram juntas. — Eu te odeio.

 

Convenientemente, só quando a música acabou a diretora Shizuko surgiu, forçando-se entre o mar de campistas para chegar até as garotas e puxá-las de cima da mesa cada uma por um braço. — Chega! Já basta! Ódio é uma palavra feia e muito, muito forte.

— Mas... — ambas disseram ao mesmo tempo, mesmo que nenhuma delas soubesse o que poderiam dizer depois caso não fossem interrompidas.

— Shiu! Eu não quero saber. — Shizuko replicou incisiva. — Não queria uma cabana mais exclusiva, senhorita Wilson? Pois meus parabéns, você acabou de conseguir. Vocês duas vão pra Cabana do Isolamento e passar o resto da semana de castigo. Não vão fazer nenhuma atividade, não vão passear pelo acampamento, só vão sair da cabana para as refeições e sem interagir com ninguém além uma da outra até o fim do castigo ou até um pedido de desculpas sincero. Agora venham comigo, vocês vão pegar suas coisas e depois vou mostrar o novo alojamento de vocês.

— O que?! — Carrie exclamou de olhos arregalados, indignada. — Não! Não, não, não! Nem pensar! Eu me recuso a passar quatro dias olhando pra essa cara de tapada da Flynn. Aliás, me recuso a ficar cinco minutos, não! Um minuto. Olha só, eu acho que o meu pai, Trevor Wilson, não vai ficar nada feliz em saber que um absurdo desses aconteceu com a filhinha dele. Então eu reconsideraria essa péssima decisão se fosse você.

Shizuko riu e fez questão de se virar para olhar bem nos olhos de Carrie. — Parece que você tem dificuldade pra entender, então vou falar de forma bem clara. Eu não ligo pra quem é o seu papai, quanto dinheiro ele tem e quão podre é a educação que ele te deu. No New Concept você está sob minha direção e eu não me intimido com meninas mimadas.

— Diretora, eu sei que ela não tem modos, só que eu respeito muito a sua autoridade e acho que você faz um trabalho fantástico nesse acampamento, mas... Eu não posso dormir perto dessa demônia! — Flynn disse, empurrando a princesinha da Dirty Candy para argumentar com Shizuko. — E se ela sugar minha alma enquanto eu durmo? Eu só tenho uma e precisa dela.

A diretora precisou respirar bem fundo para não rir e acabar perdendo a pose séria que sempre mostrava para os campistas, só depois respondeu. — Eu já vi vocês duas brigando vezes o bastante pra saber que a senhorita também não é inocente nessa história. Agora andando, me sigam logo que eu tenho muita coisa pra fazer.

Tanto Carrie quanto Flynn suspiraram, aceitando a derrota e caminhando desanimadas atrás de Shizuko.

Não era exagero o título “Cabana do Isolamento”, de fato ficava muito longe do restante do acampamento e era bem menor que as demais. Enquanto os alojamentos comuns contavam com seis beliches por cabana e uma cômoda individual para cada campista aquele cubículo tinha só um beliche, um sofá-cama e um guarda-roupas de quatro porta pequeno e velho. Pelo menos tinha um banheiro, pois ter que descer todo o caminho de volta toda vez que precisassem fazer xixi seria uma verdadeira tortura.

Mas isso só tornava as coisas levemente menos ruins, pois uma já transformaria a vida da outra em um inferno o quanto pudessem.

>>> 

Era a segunda noite de castigo, Flynn estava com as mãos cerradas em punho depois de esperar por mais de uma hora Carrie sair do banheiro. E a voz da loira cantando lá dentro não a estava deixando mais calma, mesmo que não fosse de todo desagradável de ouvir.

— Será que dá pra sair logo daí? Eu preciso fazer xixi. — resmungou, dando um soco não tão forte para não despedaçar a porta de madeira muito velha.

— Eu tenho um processo, queridinha. — Carrie respondeu em tom de deboche. — Você saberia que se eu parar agora vou ter que começar do zero se você tivesse um processo. Mas a julgar pela sua pele, você não tem.

— A minha pele é ótima, eu só não sou fresca quinem você. — Flynn disse entredentes, depois meteu a mão na maçaneta e abriu. — Dane-se, eu to apertada.

— Que isso? — a princesinha da Dirty Candy exclamou indignada.

— Somos duas garotas, para de drama. — ela respondeu, revirando os olhos e jogando os dreds para trás dos ombros.

Carrie bufou e decidiu ignorar a presença dela, voltando a passar seu hidratante.

Flynn não queria ter feito isso, mas enquanto estava sentada no vazo acabou tendo os olhos atraídos para o corpo da loira só de calcinha e sutiã deslizando as mãos cheias de creme pelas pernas compridas.

Como uma garota tão insuportável como Carrie Wilson podia ser tão gost... Bonita?

Assim que percebeu o que estava fazendo Flynn se obrigou a olhar para o outro lado enquanto se estapeava mentalmente, depois terminou o que tinha que fazer o mais rápido que pode e saiu dali quase fugindo, mesmo que não houvesse de fato como fugir em uma cabaninha tão pequena.

Carrie saiu do banheiro mais de meia hora depois e sentou na parte de baixo do beliche, o mais longe que podia se ficar de sua “colega de quarto” que estava lendo um livro sentada no sofá-cama. Só para irritá-la, pegou seu diário e uma caneta e começou a bater com a caneta na capa dura, fingindo uma expressão pensativa, mas encarando-a de canto de olho só pelo prazer de vê-la perdendo a paciência pouco a pouco com aquele barulho repetitivo.

No entanto a rosto de Flynn mudou de repente para um sorriso maligno que fez Carrie encará-la menos discretamente, o que a permitiu acompanhar os movimentos dela quando foi até o guarda-roupa velho e se esticou para pegar uma mochila que estava na parte de cima.

Para uma garota não insuportável, Flynn até tinha pernas e um bumbum muito bonitos, dava para notar por ela estar usando um short curto de pijama. O que!? Porque estava pensando nisso?! Desviou os olhos rapidamente e balançou a cabeça. E assim acabou perdendo o que sua eterna rival estava fazendo.

Flynn voltou a se sentar no sofá-cama e tirou da mochila um pacote de salgadinho, pois ela sabia que Carrie não apenas odiava o cheiro como sentia quase aflição com o som de alguém mastigando coisas crocantes. Ela tinha mais dois pacotes e fez a princesinha da Dirty Candy se arrepender por ter provocado, mas não o bastante para pensar em não provocar de novo.

>>> 

Na quarta (e última) noite do castigo, Flynn tinha acabado de escovar os dentes e estava indo se deitar quando Carrie simplesmente ligou a luz e foi pegar o diário em meio a suas coisas.

— Ah, fala sério! Você teve o dia inteiro pra escrever já que não temos literalmente nada pra fazer aqui e você decide escrever logo agora. — resmungou indignada.

— Eu escrevo a hora que eu quiser. — Carrie respondeu com um sorriso cínico.

— Não escreve não. Apesar do seu papai fazer tudo que você quer, o resto do mundo não vai ficar à mercê da suas vontades. — Flynn ralhou indo até o interruptor e desligando a luz.

— Tenho direito de usar a luz, ela é tão minha quanto sua enquanto estivermos aqui. — a loira disse brava, também se aproximando do interruptor.

Um segundo depois a luz amarelada iluminou duas expressões furiosas a pouco mais de meio metro de distância.

— Exatamente. Enquanto estivermos aqui. Eu quero dormir logo pra acordar logo desse pesadelo onde sou obrigada a ficar presa com o ser mais irritante da face da Terra. — retrucou, voltando a mergulhá-las em escuridão.

— Não importa que horas a gente dormir, o tempo vai passar igual até a hora de acabar o nosso castigo. E eu escrevo no meu diário todo dia sem falta nos últimos onze anos. Não vai ser você que vai me impedir. — e o quarto voltou a clarear.

— É, mas você podia ter feito isso o dia inteiro e não fez porque não quis. Agora eu vou me deitar e essa luz vai ficar apagada. Ponto final.

— Não vai!

Claro que Carrie havia esperado para escrever àquela hora só para incomodar Flynn, no entanto ela esperava receber uns olhares irritados e bufos, não ser completamente contrariada como estava sendo. Não era comum à princesinha da Dirty Candy ser contrariada e aquilo estava deixando-a furiosa, mesmo estando errada. Até porque Flynn também fazia coisas só para irritá-la e errada por errada estavam as duas.

Essa disputa infantil de subir e descer o interruptor durou mais alguns minutos até que a luz fez um som esquisito e piscou um pouco antes de parar ligada. A fiação daquela cabana era muito antiga, afinal ela quase não era utilizada e trocar tudo geraria gastos “desnecessários” ao acampamento.

— Viu o que você fez? Quase queimou a lâmpada. — Flynn resmungou entredentes.

— Eu? Você que tá de frescurinha...

As duas começaram a falar ao mesmo tempo com uma voz atropelando a outra sem que nenhuma pudesse ser entendida até que ambas gritaram quase em uníssono. — Eu te odeio!

Tanto Carrie quanto Flynn estavam ofegantes e vermelhas de raiva, mas havia algo que queimava no olhar delas além de todo esse ódio, algo que fez suas bocas serem atraídas como imãs opostos e quando ambas perceberam já estavam se beijando com gana e furor, suas línguas se buscavam como se precisassem mais uma da outra do que de ar, as mãos de Flynn seguravam com força a cintura de Carrie enquanto as dela estavam em seu rosto.

Demorou um bom tempo para que elas se separassem para respirar, muito incrédulas, mas incrivelmente nem um pouco arrependidas de terem feito aquilo.

— Isso não significa que eu te odeio menos. — Flynn murmurou, olhando-a nos olhos.

Carrie jogou a cabeça para trás e riu, então tirou a blusinha do pijama e disse. — Ótimo.

>>> 

Na manhã seguinte assim que Carrie e Flynn chegaram no refeitório para tomar café, a diretora Shizuko se aproximou antes que elas tivessem tempo de sequer pegar as bandejas.

— Olá. Bom dia, belas moças. — cumprimentou-as com um sorriso divertido (e um tanto irritante). — Está com frio, senhorita Wilson?

A pergunta era por Carrie estar usando um suéter rosa bebê de gola alta e mangas longas quando o clima estava bem ameno, mais puxado para morno que para frio.

— Isso não é da sua conta. — a loira respondeu, sorrindo cínica para não acabar sorrindo de verdade.

— Ainda arisca. — Shizuko balançou a cabeça, atuando uma decepção caricata e cômica. — Espero que tenha aprendido mais do que aparenta nesses quatro dias de isolamento. E você também, senhorita Flynn. Então... As duas estão prontas pra pedir desculpas uma pra outra.

— Claro, eu começo. — Flynn murmurou em deboche. — Carrie, eu sinto muito mesmo por você ser uma pessoa tão insuportável que nos fez perder meia semana de atividades em um acampamento pra onde esperamos anos pra poder vir e que só acontece uma vez por ano. Foi mal mesmo.

— Não, eu que devo desculpas. — Carrie tomou o tom de deboche para si com tamanha maestria que parecia ter nascido para falar assim. — Sinto muito por você conseguir acabar até com a minha última gota refinada de paciência. Embora seja uma habilidade impressionante, eu tenho que admitir.

— Que adorável. — Shizuko ironizou, revirando sutilmente os olhos estreitos. — Eu acho que peguei leve demais com vocês duas. Meia semana? Que tipo de castigo é esse. Uma semana inteira é bem mais apropriado pra um tempo de castigo. E é isso que acabaram de ganhar, mais sete dias na Cabana do Isolamento.

— Ah, qual é? Tortura não é ilegal nesse país? — Flynn resmungou, não sendo tão sutil quanto a diretora em sua revirada de olhos.

— A escolha é sua, mas você vai ter muito trabalho pra esconder nossos corpos porque nós vamos acabar matando uma a outra se ficarmos mais um dia sequer juntas sem contato com mais ninguém, que dirá uma semana. Durar sete dias é uma missão impossível. — Carrie replicou misturando sarcasmo e indignação na voz.

— Acham que eu não tenho coração? Eu não sou um monstro, meninas. — Shizuko disse se fingindo de ofendida por um instante antes de voltar a sorrir. — Vocês tem quarenta minutos pra falar com seus respectivos amigos. Depois voltam a rotina de isolamento total. Começou a contar no momento que entraram aqui, então agora vocês trinta e três minutos e meio. Vão.

Carrie e Flynn varreram o refeitório com os olhos até encontrar em quais mesas seus grupos estavam e então seguiram para elas. Ambas estavam furiosas, embora ao mesmo tempo houvesse sorrisinhos lutando para se apossar de seus lábios, pois agora havia algo que queimava nelas tanto quanto o ódio profundo que nutriam uma pela outra.

Luxúria.


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Notas finais do capítulo

Gente... Não sei vocês, mas eeeu acho que a Carrie não escreveu no diário essa noite não hehehe



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