SPIN OFF - Carta Para Você escrita por Carol McGarrett


Capítulo 14
De DC à LA. De Agente Em Estágio Probatório à Agente Especial.(O Primeiro Ano de Sophie Com as Operações Especiais)


Notas iniciais do capítulo

Olha eu aqui de novo com a continuação da saga da Sophie.
Avisando que essa Oneshot (que poderia ser uma fic porque ficou imensa) é dividida em duas partes. A viagem dela até Los Angeles e depois uma rápida passagem pelo primeiro ano junto ao Escritório das Operações Especiais.
Antes que falem, não, eu não vou descrever casos, dá muito trabalho e eu não tenho tanta criatividade para criar a história, inventar 1001 suspeitos e fechar tudo, então, tenham paciência.
Boa leitura, está imenso, e eu vou usar da Regra #06 e não vou pedir desculpas!
Aproveitem!



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Foi uma loucura deixar D.C., não só porque finalmente eu saía debaixo das asas de meus pais, mas por conta de minha irmã e sobrinhos.

Kelly chorava copiosamente quando me abraçou, dizendo que iria sentir a minha falta e junto com ela, todas as crianças, que pensavem que eu estava me mudando para o outro lado do mundo e não do país.

— Eu também vou sentir a sua falta, Kells.

— Tem certeza de que não quer ir de avião? Assim você pode partir amanhã de noite e estará em LA em seis horas!

— Tenho. Eu vou precisar de um carro. – Afirmei.

Mas ela não se conformou e foi chorar abraçada a Henry, que estava parado perto do meu carro.

Tali e Victoria imitavam Kelly e choravam de dar dó. Parecia que eu ia para o corredor da morte e não para a Califórnia.

— Vocês vão poder me visitar. E então nós vamos à praia e visitar cada lugar que vocês quiserem. Até a Disney! – Prometi e nem assim elas pararam. Só agarraram o meu pescoço e pediram para que eu não fosse embora.

A pessoa mais fácil de me despedir foi Ziva.

— Se você demorar ainda mais, vai acabar não cruzando o país nesse carro a tempo. – Disse ao me abraçar.

— Também vou sentir a sua falta, tia Ziva! – Brinquei.

— Meu Deus, tem anos que você não me chama assim! - Ela deu uma risada.

— Despedidas, tia!

Depois vieram Ducky, Timmy (a quem eu chamei de Meu Ursão Azul!), Ellie, Nick, Abby (que quase me enforcou ao me abraçar e me deixou temporariamente com o ouvido apitando por ter gritado!), para então, sobrarem os três.

Tony, Papai e Mamãe.

Minha mãe estava chorando desde o dia em que voltei de Glynco, sabendo que agora eu atravessaria o país para ir trabalhar e ter a minha própria vida.

Ela me abraçou apertado, como há muito tempo não fazia e começou a murmurar algo, de início, eram apenas coisas sem sentido para mim, então eu prestei atenção no que ela falava, e percebi que ela citava cada um dos momentos em que passamos juntas. Alguns eu me lembrava, outros não. E foi quando eu comecei a chorar também.

— Vá, seja responsável, faça o que te mandarem, aprenda e se cuide. Estou te esperando para o Dia de Ação de Graças. - Disse e me deu um beijo na testa - claro que eu tive que me abaixar, pois além de ser bem mais alta que minha mãe, ainda estava de salto.

— Tudo bem, mamãe. E eu prometo que te ligo todos os dias para que a senhora saiba que tudo deu certo.

— Eu vou saber que tudo deu certo, Sophie. Sou a sua Chefe.

— Pois é. Não basta ser minha mãe, é a minha Chefe também. Toma conta de todos os aspectos da minha vida.

— Se eu fizesse isso, Miniatura. Você tinha estacionado aos 8 anos de idade.

Comecei a rir.

— A senhora não me aguentaria com eternos oito anos. Aposto meu salário nisso! – Dei um beijo na bochecha dela. – Te amo, mamãe. Obrigada por tudo.

— Pelo amor de Deus, avise onde está. Não me deixe ainda mais nervosa do que eu já estou.

— Aviso, tendo sinal de celular, eu aviso onde estou.

— Se não me avisar, Sophie, eu vou até a Califórnia para puxar a sua orelha.

E Deus, a MCRT e todo o Capitólio sabem que ela é bem capaz de fazer isso!

E veio a vez de me despedir de Tony.

— Peste Ruiva, não é porque você agora é uma novata na agência onde eu já sou o Agente Sênior há mais tempo do que você tem de idade que eu vou passar a te chamar pelo seu nome. Você será eternamente a Peste Ruiva, seja quando a família está reunida, seja quando as equipes colaborarem entre si.

— E você vai ser sempre o Meu Italiano de Araque Preferido! – Garanti a ele.

— Tome cuidado. Sua primeira incursão em Los Angeles terminou com você ferida. Nada de aprontar outra dessas.

— Isso eu não posso prometer. Sou parte de uma equipe agora e...

— Nós sempre trabalhamos em equipe. – Tony completou.

— Exato. – Dei um peteleco na ponta do nariz dele e ele retornou com um tapa no alto da minha cabeça.

— Se cuida, Sophie. E qualquer coisa que precisar, estou por aqui.

— A qualquer hora do dia e da noite?

— Mas é claro!

— Então se o pneu do carro furar, eu te ligo para você ir atrás de mim e trocá-lo!

Ele começou a rir.

— A qualquer hora, Peste Ruiva!

Até qualquer hora, Tony! – Abracei aquele a quem eu sempre considerei como meu irmão mais velho.

— Boa sorte na Califórnia!

— Obrigada! Cuide de meu pai para mim! - Pedi.

Tony só me deu uma piscada de olho.

E só faltava meu pai agora. Só que meu Marine Mal-Humorado tinha desaparecido e não tinha voltado.

— Mas cadê o papai? – Murmurei, procurando por ele.

Minha mãe que tinha voltado para o meu lado apenas começou a sibilar.

— Mas eu não acredito que ele vai fazer isso!

— Fazer o que? - Eu e Kelly perguntamos.

E mamãe só apontou para a porta, por onde saía papai, carregando aquela duffel bag mais velha do que eu no ombro.

— Pai?! – Kells se assustou.

Ele não falou nada, só caminhou até a traseira do meu carro e, aproveitando que o porta-malas ainda estava aberto, jogou sem cerimônia alguma a bolsa lá dentro, fechando a tampa com um estrondo que assustou Jack que brincava por ali.

— A Ruiva não vai conseguir dirigir os mais de quatro mil quilômetros em dois dias, se for sozinha. Assim eu vou reversar o volante com ela.

— Uhn... pai, não precisa. O senhor tem a equipe.

— Eu pedi folga. Vou com você. – Disse simplesmente e assumiu o volante.

— Jethro! – Minha mãe tentou chamá-lo de volta à realidade.

— Volto de avião, Jen. DiNozzo, você lidera até eu voltar. Ziva, controle seu marido. E Ruiva, entre no carro.

Acho que eu voltei a ter 10 anos para ele estar falando assim.

Dei outro abraço apertado em cada um dos membros da minha família e pulei para o banco do carona.

— Amo vocês, nos vemos no Dia de Ação de Graças, ou antes, vai saber! – Me despedi pela janela.

Vi cada membro da minha família começar a chorar, e não era diferente comigo.

— Vai chorar por todo o caminho? – Papai quis saber.

— Não sei... se o senhor tocar no assunto é bem possível. – Murmurei ao enxugar as lágrimas.

Ele deu uma risada e começou a falar em como iríamos dividir o volante.

Saímos da área de DC, entramos no estado da Pensilvânia, e antes que o dia terminasse, trocamos o motorista e de estado, estávamos no Tennessee.

— Sabe. – Falei uma certa hora, quando o sinal do rádio caiu, meu pai se recusava a ouvir as minhas músicas, creio que ele ainda estava traumatizado com o show da One Direction.

— Que foi, Ruiva? – Ele perguntou meio dormindo, meio acordado, já que ele tinha dirigido por quase seis horas direto.

— Deveríamos ter feito uma viagem como essa antes. Sair e cruzar o país a bordo de um carro tipicamente americano. Teria sido legal.

— E a sua mãe teria reclamado o tempo inteiro.

— Acho que não, desde que garantíssemos um hotel bom, onde ela pudesse passar a noite, ela não reclamaria.

— Está falando de hotéis porque está cansada? – Papai levantou a cabeça para me olhar.

— De jeito nenhum. Não estou dirigindo nem há duas horas. – Retruquei.

— Já está escurecendo, Ruiva, vai ficar com esses óculos até quando?

— Até quando eu tiver a certeza de que não tem nenhum raio de sol no oriente. Sabe como é... senão eu posso virar um monte de cinzas... – Brinquei.

Com o cair da noite, o movimento reduziu bastante e eu pude acelerar mais um pouco. Papai cochilava no banco do carona, então eu resolvi pisar um pouco mais e comecei a cantarolar uma música qualquer.

— Não se esqueça de que tem câmeras por toda a rodovia. E não precisa correr tanto, estamos dentro do prazo.

— O senhor não estava dormindo?! – Questionei e me permiti olhar na direção dele.

— Olhe para a estrada!

— Pai! Vai começar a cornetar como eu dirijo?

— Vou fazer o que?

— Vai começar a reclamar de como eu dirijo? – Corrigi.

— Não, mas acordei porque a rotação do motor ficou mais alta. O que, vindo da nossa família, indica que resolvemos tirar um atraso inexistente.

Mesmo assim eu não reduzi a velocidade.

— Estou ganhando tempo. Pela manhã vamos estar ou perto ou já em Arkansas. Aí eu vou dormir, mas antes eu bem que tomaria um banho... será que a gente acha um hotel só para um banho?

— Mas é filha da Jennifer Shepard mesmo! Preocupada com o banho! – Ele começou a rir.

— Vai dormir papai. Está tudo tranquilo por aqui. E não se assuste quando eu parar para abastecer.

— Sua arma de choque está aí?

— E a faca e o soco inglês e olha só... tenho ama de fogo também agora! – Respondi sarcasticamente, apontando para o porta-luvas.

— E pensar que você só vai precisar tirar o sapato de salto e arremessar na cabeça de quem quer for. – Ouvi outra reclamação, dessa vez por conta da minha escolha de sapatos!

— Para o senhor ver... ninguém nunca vai mexer comigo, afinal, estou armada da cabeça aos pés.

Ele desistiu de entrar em uma briga de palavras comigo e se ajeitou no banco do carona para dormir. Eu confesso que até cochilava, mas dormir ao ponto de roncar, isso eu não conseguia.

Comecei a ficar entediada com o silêncio e o pouco movimento na estrada, cruzamos com pouquíssimos carros, e a única animação era quando tinha uma praça de pedágio.

Parei para abastecer duas vezes, meu pai só levantava a cabeça para avisar que eu não estava sozinha dentro do carro e era só o carro estabilizar em uma determinada rotação e velocidade que ele voltava a dormir. Assim, resolvi por colocar alguma música, sabendo que meu pai não iria gostar de ouvir um pouco da miscelânea que era o meu gosto musical, coloquei um único fone de ouvido e deixei a playlist no aleatório, não raro, comecei a cantarolar algumas músicas.

Até que tocou o tema de Mulan, Reflection.

— E eu achando que a sua fase de ser fã da Mulan já tinha passado. – Meu pai falou e eu tomei tanto susto que quase bati no guardrail central.

— O senhor se lembra dessa música?

— Ruiva, eu vi esse desenho com você mais de cem vezes, cheguei a decorar as falas daquele dragão. O...

Mushu, papai. Nada de chamá-lo de “Muxoxo”!

— Que fim levou aquele seu bichinho de pelúcia?

Fingi não ter escutado a pergunta e voltei a murmurar a canção.

— Ele está na sua mala, não está?

Fiquei calada.

— Você não tem mais cinco anos para ficar carregando aquela coisa vermelha debaixo do braço.

— Eu não carrego o Mushu debaixo do braço! – Protestei.

— Então por que está levando aquela coisa?

— Respeite meu bichinho de pelúcia.

— Sophie... não desvie do assunto.

— Para me sentir em casa! – Soltei.

E no silêncio que se seguiu eu sabia que meu pai me analisava, mesmo no escuro. Então tive que explicar melhor.

— Aquele dragão me traz boas lembrança, apesar de que eu sei que não é o mesmo que a mamãe ganhou naquela barraca de tiro ao alvo, eu sempre me lembro daquele sábado. Foi divertido, fomos ao parque, depois almoçamos, compramos coisas para o balé, e ela me levou ao estaleiro pela primeira vez. Depois tem a festa de Halloween, as festas do pijama com a equipe, a semana que eu passei na casa do senhor e um monte de outros momentos... o Mushu me acompanha há vários anos, e como eu não tenho mais o Jet para poder me lembrar de casa, trouxe ele, e a Annia.

— Aquela boneca ainda está inteira?

— Sim... tive que mandar dar uma costurada nela, mas está inteira.

— E trouxe mais o que?

— Não trouxe todos os meus livros, mas os mais importantes estão na caixa que despachei. E trouxe as fotos, as muitas fotos que tenho de todos.

— E as miniaturas.

— Sim...

— Deixou seu quarto vazio.

— Praticamente. Mas eu achei algo e acabei por deixar lá, creio que o senhor vai gostar.

Ele me olhou atravessado.

— Me liga quando achar. – Pedi.

— Vou ver.

Mordi o lábio para não começar a rir, teria que pedir a minha mãe para gravar a reação dele quando visse o que eu deixei lá....

A madrugada ia alta, o sono começava a chegar, assim, abri um pouquinho o vidro para deixar o vento frio entrar e me acordar.

— Se quiser trocar.

— Estou bem, pai. É só para não embaçar o vidro.

Pelo som que meu pai fez, ele não acreditou na minha resposta.

Mais duas horas, e o dia começou a amanhecer, pelo vidro de trás... achei isso tão estranho. Mas tinha que me lembrar que agora o sol nasce no continente e se põe no mar, não o contrário. Estava precisando abastecer e, por sorte, achei um lugar onde tinha um posto de gasolina e uma pensão bem arrumadinha, já no estado do Arkansas. A Costa Leste ficava a cada quilômetro mais longe de nós. Assim, enquanto papai tomava o café da manhã, aluguei um quarto com o intuito de única e exclusivamente tomar um banho, até porque, depois de 10 horas de volante eu merecia.

Encontrei com meu pai na lanchonete e ele já tinha pedido o meu café.

— Pai, isso é quase um almoço e são seis e meia da manhã.

— Coma, não sabemos que horas vamos almoçar, se é que vamos.

Estava beliscando o ovo mexido quando meu celular tocou.

— Bom dia, mamãe! – Falei escondendo um bocejo.

— Bom dia, filhota! Dirigiu a noite inteira, hein?

— Sim... vou dormir agora.

— Se você conseguir. Como está indo a viagem?

— Bem, creio que demos uma adiantada boa durante a noite.

— Claro, a discípula nº 1 de Leroy Jethro Gibbs deve ter voado baixo.

— Só vim em uma velocidade constante.

Constantemente alta.

Não falei nada.

— Seu pai?

Virei a câmera do celular na direção de papai, que já estava no segundo copo de café e ele só grunhiu.

— Arrume essa câmera direito, Sophie. E entregue o aparelho para ele.

Fiz o que minha mãe mandou e fiquei esperando. Meu pai pegou o celular e só soltou:

— Mas você dormiu no quarto da Ruiva?

— Jethro!! – Ela reclamou injuriada.

— Já está com saudade da sua filha?

— Sabe que sim.

— Então tivesse deixado ela junto com a MCRT. – Ele disse simplesmente.

— Quando que você vai entender que eu não podia fazer isso?

— Você é a Madame Diretora, claro que podia! – Papai retrucou e eu escutei o sibilar de minha mãe pelo título de "Madame".

— Eu preocupada com o seu bem-estar e você jogando coisas que não estão sob o meu controle na minha cara, tenha um bom dia, Jethro. – E ela desligou brava de tudo.

—  Parabéns, agora ela vai arrancar a cabeça do primeiro que passar na frente dela. – Falei quando papai me entregou o telefone.

— Que DiNozzo fique esperto então.

Acabamos nosso café e voltamos para o carro.

— Rota de hoje, Arkansas, Oklahoma e Texas? - Papai perguntou já ligando o carro, fazendo o motor roncar alto e todo mundo ao redor olhar para nós.

— Para entrarmos no Novo México amanhã de manhã, cruzarmos o Arizona e fechar o dia em Los Angeles. – Confirmei ao ver o trajeto no aplicativo.

— Então vamos lá.

Papai, que tanto reclamou da rotação alta do motor durante a noite, estava fazendo o mesmo, e assim que ele estabilizou a velocidade, eu cochilei. Acontece que eu sou curiosa por natureza e nunca tinha passado por essa estrada, assim o meu descanso foi curtinho, pois eu queria aproveitar a paisagem.

— Já acordada? – Ele me perguntou ao me ver ajeitando o cabelo em um rabo de cavalo.

— Sim.

— Deveria descansar, vai tornar a dirigir de noite.

— Eu sei, mas eu nunca vim aqui... queria aproveitar a paisagem do meio-oeste americano.

— Você quem sabe.

Dei de ombros, abri a janela e, como se eu ainda fosse uma criança, apoiei minha cabeça em meus braços e fiquei olhando para fora.

—  Está parecendo um cachorro. – Papai comentou diante da cena.

— Eu sei... só falta colocar a língua para fora. Jet ficava assim. Farejando tudo. Latindo para as nuvens... saudades do meu Marine.

— Em Los Angeles você arruma outro. Em San Diego deve ter vários veteranos como ele.

— Tem que ver se onde eu vou morar, aceitam cachorros. Mas não é uma má ideia.

— E você não vai ficar sozinha.

— É... e na cabeça do senhor, terá sempre um Marine me protegendo, não?

Papai não falou nada, só se concentrou em dirigir e eu me voltei para a paisagem e quando dei por mim, deixamos Arkansas para trás e estávamos na terra de Ellie Bishop, Oklahoma.

— Quer revessar, pai? – Perguntei só porque vi ele tentar dar aquela esticada no joelho.

— Procure um posto, lá a gente troca.

Fiz o que ele me pediu.

— Em 40 km.

— Então aproveite a paisagem, porque quando se sentar aqui é olho na estrada.

Coloquei os pés em cima do painel e me ajeitei no banco do carona de modo a ver o céu.

Fizemos nossa parada, abastecemos o carro, comemos algo e logo voltamos para a estrada, assumi o volante e dessa vez coloquei um pouco de música.

— Nem comece. – Papai me alertou.

— Mas pai, te prometo, não vai ter nada que o senhor não goste.

— Eu não gosto de nada que você escuta, Sophie.

Me fiz de surda, mas abaixei o volume, deixando a música apenas como um ruído de fundo.

Passamos por alguns pontos turísticos estranhos, que, sem julgar ninguém, me fez pensar se as pessoas que estava tirando fotos ali eram normais...

E mais rápido do que eu teria previsto, estávamos entrando no Texas.

— Trouxe o seu chapéu de cowboy na mala, papai? – Perguntei quando ultrapassei uma enorme pickup que puxava um trailer de cavalos, no volante um homem com o maior chapéu de cowboy que eu já tinha visto. E eu não sabia dizer o que era mais chamativo, o chapéu ou a cor do carro.

— Espero que você tenha trazido o seu.

— O chapéu não, mas trouxe as botas, será que me deixam participar do rodeio sem chapéu?

— Pergunte lá, mas eu acho que não.

— Nem se eu sorrir?

— Sophie...

— Tudo bem... parei.

E o maior estado (e o mais extravagante na minha opinião) foi ficando para trás, e olha, eu vi cowboys para o resto da minha vida.

A certa altura, papai retornou para o volante, dizendo que preferia dirigir durante o dia, e eu ainda estava indignada com as roupas.

— Ruiva, eles são assim! – Papai tentou parar as minhas reclamações.

— Mas eu não vejo necessidade nenhuma das pessoas se vestirem desse jeito, quando não tem rodeio! Dentro da arena, tudo bem, entendível. Mas no dia-a-dia? Pelo amor de Deus!

Papai não me deu ouvidos e fez o impensável, aumentou o volume do som.

— Entendi, calando agora. – Falei, mas continuei a reclamar baixinho vendo o céu, até que...

— Ruiva! Hei, Ruiva, acorda!

— Eu! O que eu perdi? – Perguntei um tanto desorientada.

— Está na hora de trocar.

Me levantei do banco, olhando em volta. Estávamos em uma parada, papai comia algo.

— Onde arranjou isso? Estou com fome. E precisando de outro banho.

Meu pai, sem deixar de comer, apontou para a lanchonete. Tem um hotel ali, creio que te alugam um quarto para um banho.

Cocei a cabeça e olhei para a tela do celular. Já estávamos no Novo México.

— Por quanto tempo eu dormi? – Perguntei assustada, tentando descobrir pela quilometragem o tempo.

— Umas quatro horas.

— Isso tudo?

— Você virou a noite dirigindo, filha!

— Mesmo assim, pai! Não era para ter dormido tudo isso! – Reclamei.

Como sempre meu pai fez pouco caso das minhas reclamações e só apontou para o hotel.

Peguei minha bolsa de mão e fui tomar um banho, não me espanta que tinha tanta gente me olhando assustada, eu estava toda amassada, parecia que tinha saído de um voo de 24 horas e não um cochilo de quatro horas.

Tomei um banho, dei um jeito na minha cara de cansada e saí, sei que papai viria logo em seguida.

O banho de Marine dele durou exatos dez minutos, e eu não sei o porquê sempre me impressionava com isso!

— Já comeu algo? – Ele entrou na lanchonete me perguntando.

— Esperando ficar pronto.

— E o que você pediu?

— Um hamburguer duplo com refrigerante e fritas duplas.

— Resolveu comer agora?

— Tenho uma longa noite pela frente. E temos um pouco mais de 1.500 km para andar.

— Pelo que notei, a noite vai render, aqui é tudo reto. – Meu pai falou, e teve a audácia de roubar o meu lanche. Tive que pedir outro.

— Assim como o Arizona, o que vai nos economizar nas paradas, afinal não vamos forçar o carro. – Comentei. – As batatas não! – Chiei quando ele puxou o prato com elas.

— Lanche completo, o seu já está vindo aí.

Fiquei esperando longos dez minutos, até que trouxeram o meu pedido.

— Isso não foi justo! O senhor já tinha comido. – Reclamei quando saímos da lanchonete.

— Você conseguiu comer, não conseguiu?

— Sim, mas demorou. E eu estava morrendo de fome!

— Notei que estava, deu para escutar o seu estômago roncando. – Papai disse sem cerimônia alguma. – Já ligou para a sua mãe para avisá-la onde estamos?

— Vou ligar do carro. Ela vai querer falar com o senhor mesmo. – Comentei e antes que eu fechasse a boca, eis minha mãe me ligava.

— Oi, mãe! Já ia ligar para senhora.

— Ia mesmo ou isso é desculpa?

— É a verdade. Estávamos acabando de comer alguma coisa.

—  E estão aonde?

— Novo México. Quase na metade do estado.

— Quem estava dirigindo durante o dia?

— As últimas quatro horas o papai. Eu apaguei.

E minha mãe riu.

— O que não é novidade nenhuma. Tudo indo bem por aí?

— Sim. Tirando o fato de que o papai ou reclama de como eu dirijo, ou reclama dos meus sapatos ou das minhas músicas, estamos bem.  – Falei. – E a senhora está no viva-voz, portanto, os dois, comportem-se, falei olhando para meu pai.

Liguei o carro e minha mãe estava falando sobre o excesso de velocidade com a qual estávamos dirigindo... e olha que ela nem estava do nosso lado.

— Vocês estão indo rápido demais.

— A Ruiva tem prazo para se apresentar no QG, Jen. E não estamos correndo. – Ele disse e lançou uma olhada para o velocímetro, me dando um tapa na cabeça me indicando para diminuir.

Revirei meus olhos e apontando para o mapa indiquei que tínhamos que aproveitar, pois pegaríamos trânsito assim que a I-40 W encontrasse com a I-70 W que vinha de Las Vegas, já no estado da Califórnia.

— O que vocês dois tanto brigam? – Minha mãe perguntou.

Dei uma olhada para meu pai. Como ela poderia saber se não emitimos nenhum som?!

— Jethro! Sophie! Eu fiz uma pergunta.

— Ahn... A melhor rota para chegar em Los Angeles. Tem algumas alternativas fora da I-40 W que podem ser interessantes. – Inventei.

— E eu vou fingir que acredito nisso e que vocês não estavam discutindo sobre a velocidade que o carro está indo agora.

Eu juro, às vezes minha mãe me dá medo!

Mamãe ficou no telefone por um bom tempo, mesmo já estando duas horas na nossa frente em relação ao fuso horário, e, foi do nada que tudo ficou em silêncio.

— Mãe? – Chamei.

E nada.

— Ela dormiu? – Perguntei para meu pai.

— Parece que sim.

— Mamãe só nos ligou para que pudesse cair no sono?

— Não é algo muito diferente do que você fez quando foi para a Faculdade...

— É, pensando por esse lado.

E foi a nossa vez de ficar em silêncio, ou quase, já que as músicas da minha playlist tocavam baixinho.

A noite foi avançando, assim como a nossa distância percorrida. Sabendo que por aqui não tinha nenhum radar ou pedágio, pisei fundo e, antes da meia-noite, eu atravessei a fronteira entre o Novo México e o Arizona.

— Vamos ver até onde eu consigo ir. – Me desafiei e voltei a acelerar. As únicas companhias que eu tinha naquele momento eram os roncos de meu pai e as estrelas no céu.

A medida em que as horas passavam eu me vi começando a ficar nervosa, muito nervosa, em um estado tal que quase tive que parar o carro para poder respirar.

Sim, eu estava tendo um ataque de pânico.

E o motivo era simples.

Eu estava do outro lado do país. Em algumas horas, estaria por minha conta e risco. Longe de toda a segurança que sempre conheci, que sempre tive. E, começando no meu emprego dos sonhos, mas ainda algo completamente desconhecido.

Tentei repassar o meu treinamento na Geórgia, tentei me lembrar de cada coisa que vi.

E nada veio à minha mente.

Apertei o volante com força, levantei um pouco o pé do acelerador e mordi o lábio para não gritar.

Uma vozinha bem irritante começou a falar na minha cabeça, e dizia sempre a mesma frase.

— Eu não estava pronta. Jamais estaria. Por que não escolhi uma profissão mais “fácil”?

E, então, outra voz retrucava:

— Não existe profissão fácil.

Tentei me focar nas duas pessoas que eu conhecia que não eram agentes do NCIS, Kelly e Henry.

Não fora fácil para eles, eu bem lembrava. E eles conseguiram! Olhe onde Henry está hoje. Olhe o exemplo de Kelly, ela não só venceu em um ambiente dominado por homens (porque, querendo ou não, às Forças Armadas são um ambiente tipicamente masculino!), como foi mandada diversas vezes para fora do país e para a Califórnia. E fez tudo isso sendo mãe.

Respirei fundo e inventei um novo mantra.

Se a Kelly fez tudo isso, eu consigo também.

E repeti essa frase em cada idioma que eu sabia falar.

Horas depois – eu ainda repetia a frase sem parar – papai acordou, ou se mexeu no banco, não sei se ele estava acordado há muito tempo, e antes mesmo de abrir os olhos perguntou.

— Apesar de você ter dado uma diminuída no ritmo, creio que estamos...

— Arizona. Passei pela barreira estadual há um par de horas, não quis acordar o senhor.

— Ou estava concentrada demais em repetir a mesma frase por incontáveis vezes que se esqueceu de que tem que descansar e parar para comer.

— Tinha muito na cabeça. – Falei por fim e acelerei o carro.

— Vai dar certo, filha. É tudo muito novo e imprevisível, mas você vai se sair bem. Confio em você.

Não falei nada. Ainda remoía os incômodos pensamentos da madrugada.

— Filha pare o carro.

— Não.

— Sophie Shepard-Gibbs, pare esse carro agora!

Eu não podia fazer isso por um motivo bem simples. Eu tinha minha mente quase toda focada em dirigir, se eu parasse no acostamento, se eu desligasse o carro, todo o ataque de pânico que eu tive de madrugada voltaria.

E voltaria com tudo.

E não seria bonito.

Assim, continuei a acelerar, agora ainda mais rápido, para que o ronco do motor abafasse a voz de meu pai.

— Como a sua mãe diria, coloque isso para fora ou você vai se engasgar.

E foi só ele mencionar a minha mãe que minha garganta se fechou, eu pisei forte no freio, fazendo com que nós dois quase irmos de encontro com o para-brisa e antes que meu pai pudesse entender o que acontecia eu desci correndo do carro, e fui para a beirada da pista onde esvaziei o meu estômago.

Quando, enfim, meu pai veio para perto de mim, eu já estava sentada no chão, escorada na lateral do carro, minhas mãos tremiam e eu chorava copiosamente.

— Até que demorou para acontecer. – Foi o que ele falou ao se sentar do meu lado e me abraçar de lado.

Eu não conseguia falar mais nada.

— Você não vai estar sozinha, Ruiva. Nunca estará. Estaremos longe, é verdade, mas nunca te abandonaremos, e você vai notar que uma equipe é realmente uma família. Vai entender isso porque será parte de uma, não por ser a minha filha ou filha da Diretora, mas por ser uma agente como os demais.

Olhei para o meu pai, tentando perguntar que diferença isso fazia.

— Acredite em mim, filha, faz diferença. Lá em Washington você era a mascote da equipe, a sobrinha, a irmã caçula, aquela que todos queriam proteger. Agora você será igual a todos os seus companheiros.

— Como posso ser igual a alguém quando nem sei o que devo fazer? Eu... eu não vou ajudar em nada! – Murmurei.

— É aí que você se engana, Sophie. Cada pessoa que entra em uma equipe, só acrescenta, por mais que as outras, e ela mesma, pense que não sabe nada. Claro que vão te ensinar muita coisa, você vai observar muito também, porém, acredite em mim, Hetty não te escolheria se ela não soubesse do seu potencial.

Eu ainda estava cética quanto a isso. Não era possível que tinham me escolhido por minha capacidade. No fundo, eu comecei a achar que meu sobrenome realmente falara mais alto e, me ter na equipe não era uma questão de agregar talentos, mas garantir um acesso rápido à Direção do NCIS.

— Você é tão cética quanto a sua mãe. Onde estão os seus instintos, filha? Será que você não herdou nenhum pouquinho disso de mim?

— Começo a achar que não herdei nada de ninguém.

E foi aí que papai tirou um papel do bolso e me estendeu.

— Abra. – Instruiu.

Desconfiada, desdobrei o papel e nele estavam algumas notas, conceitos e avaliações, tudo pronto em uma tabela.

Li os nomes, Anthony DiNozzo, Caitlin Todd, Timothy McGee, Eleanor Bishop, Nicholas Torres, Ziva David, Jennifer Shepard, Leroy Jethro Gibbs e o meu, depois passei para as notas. Não comparei com as minhas, mas notei uma certa semelhança.

Apesar de algumas serem mais altas em alguns quesitos e outras mais baixas, todas traduziam a mesma coisa.

Não se aprende muito em um treinamento de 60 dias. Eles só te explicam como vai ser, você aprende é na prática.

Meu maior exemplo, minha mãe, ela não foi tão bem assim na prova de tiros, e olha como ela é uma maestra com a arma na mão. Meu pai foi bem mais ou menos no interrogatório... hoje basta olhar para o suspeito que a pessoa confessa todos os pecados de joelhos...

Tim, não foi tão bem no interrogatório, olha o que ele faz hoje.

Torres, péssimo em tocaias... hoje fica horas se precisar.

Ziva, tirou o mínimo para passar na coleta de evidências, faz isso de olhos fechados agora.

E a lista continuava.

— Ninguém saiu sabendo tudo do FLET-C, Sophie. Mas todos saem com o potencial para melhorar, para fazerem das fraquezas no treinamento virarem pontos fortes. – Papai apontou para a minha pior nota, operações sob disfarce, eu simplesmente praticamente entreguei quem eu era todas vezes. – Você vai melhorar em tudo isso aqui – apontou desde o teste de mira até capacidade de me tirar de situações complicadas. E quando você notar, estará se disfarçando sem nem notar.

Continuei olhando para as minhas notas e para as demais. Agora sim, comparando tudo e vendo até onde eles chegaram.

— Ainda acho que Hetty errou.

— Diga isso a ela e me conte daqui a alguns anos o que ela vai te dizer.

Balancei negativamente a minha cabeça.

— E não, você não vai desistir. Por um único motivo.

Levantei uma sobrancelha para ele.

— Você é orgulhosa demais para desistir de algo, Sophie. No fundo, você sabe, você vai conseguir.

— Ainda acho que erraram quando me entregaram a aprovação.

— Você está dizendo que Jackeline Sloane, Loretta Wade, Dwayne Pride, Kensi Blye, Stan Burley, Alexandra Quinn e Henrietta Lange estavam errados? Todos eles?

Tomei fôlego para responder.

— Não. Seus sobrenomes não têm nada a ver com isso, Sophie. Eles podem até te conhecerem, uns mais que outros, mas o certo é que ninguém colocaria uma pessoa despreparada para atuar em campo. Ninguém. Você tem mais capacidade do que acha que tem, filha. Muito mais. Só falta você descobrir isso dentro de você. – Mais pai disse e se levantou, me estendendo a mão para me ajudar.

Tudo o que eu fiz quando fiquei de pé foi abraçá-lo apertado.

— Eu também vou sentir sua falta, filha. Tanto em casa quanto dando pitaco nos casos.

Relutante, voltei para o carro, dessa vez papai assumiu o volante. Não falei mais nada, apenas fiquei observando o céu e pensando.

Pensando na minha vida até aqui e em toda a minha família e no que eu estava prestes a fazer.

Se eu não confiar em mim mesma, quem vai?

Outra respirada funda, bem funda, e comecei a respirar como alguém respira para se acalmar e à medida que eu conseguia me acalmar internamente, meu cérebro foi voltando a funcionar normalmente.  E eu tive a seguinte ideia.

— Ninguém nasce sabendo nada, nem a falar ou andar, mas aprendemos ao longo dos anos. É a mesma coisa, nas devidas proporções, ao que eu estava prestes a passar. Tombos vão existir, eu só não posso desistir, eu tenho que aprender com os erros para poder melhorar em tudo.

Me remexi no assento, até mesmo relaxando.

— Essa é a minha Ruiva. – Papai soltou.

— Eu não sei tudo, papai. Mas quero aprender o máximo que eu puder. E rápido.

— Procure aprender, Ruiva. Isso já basta. Tudo vem ao seu tempo.

— Não sou muito paciente para esperar pelo meu tempo... – Dei de ombros.

O restante da viagem foi tranquilo. E ao pôr do sol entrávamos em Los Angeles.

Liguei para minha mãe para avisar que tínhamos chegado sãos e salvos. Mamãe não podia conversar muito, estava aguardando pelo desfecho de uma operação e só pediu que eu enfiasse o papai no voo para D.C. o mais cedo possível, no dia seguinte.

— Acho que mamãe está sentindo falta do senhor. – Comentei assim que desliguei.

— E desde quando a sua mãe gosta de ficar sozinha, Ruiva?

É, isso também era verdade.

No outro dia, bem cedo, levei papai até o LAX onde me despedi dele, me segurei o máximo para não chorar ou dar outro ataque de pânico, mas tudo o que ele me falou e que me acalmou foi:

— Respira, Ruiva. Eu estou muito orgulhoso de quem você se tornou, filha.

E depois disso ele me deu um beijo na testa e se foi para a área de embarque, já eu voltei para o coração de Los Angeles.

Era hora de realmente virar uma Agente do NCIS.

Como eu já tinha estado no prédio, foi como ativar uma memória antiga, apenas dirigi o mais rápido que pude e logo estava parando o meu carrinho ao lado de Charlene (será que ainda era o mesmo carro?).

Peguei minha bolsa, minha mochila, respirei fundo e antes que pudesse tocar a campainha para anunciar a minha chegada, a porta foi aberta e a voz de Eric Beale se fez ouvir:

— Seja muito bem-vinda ao Escritório das Operações Especiais, Agente Shepard-Gibbs.

— Obrigada. – Falei em direção à câmera.

Eu sempre amei a vista que o Escritório de D.C. tem. O porto, o destroyer todo iluminado, mas não tem como negar que o prédio das Operações Especiais também tem o seu charme.

Passei pelo túnel e logo me vi no átrio, onde Hanna, Kensi, Deeks, Tio Callen (a quem eu devo passar a chamar só de Callen), Eric, Nell e Hetty me esperavam.

— Eu disse que de um jeito ou de outro você acabaria aqui em Los Angeles. – Hetty disse. – Seja muito bem-vinda, Senhorita Shepard-Gibbs, coloque suas coisas na mesa vaga e nos acompanhe, já temos um caso.

Cumprimentei a todos, corri até a mesa vaga e deixei minhas coisas lá, depois subi a escada até o segundo andar e acompanhei os demais até o MTAC daqui.

Eric e Nell nos deram as informações que precisávamos sobre o caso, quem era a vítima, onde morava, o que fazia, as ligações com possíveis suspeitos e depois de dividir as duplas – ou o trio e a dupla, acabei seguindo Callen e Sam.

— Bem... definitivamente estou ficando velho. Te conheci e você nem falava ainda e agora está aqui trabalhando comigo. – Tio Callen disse.

Com medo de ser sincera demais, apenas dei um sorriso.

— Vai assustar a Sophie, G. Para com essa crise de meia-idade. – Sam começou a rir. – Todos nós a conhecemos criança, ela veio nos ajudar e ainda estava na faculdade. Não somos nós que estamos ficando velhos, eles que estão começando cedo demais!

— Saída de mestre. – Comentei.

— Não é saída de mestre, Sophie. É a verdade.

— Eu que não vou discutir com vocês... – Pus panos quentes. Mesmo sabendo que era uma grande ironia que eu trabalhasse com o tio Callen... afinal, ele trabalhou com minha mãe por anos, trabalhou com meu pai em uma operação na Rússia e agora estava me aturando. Haja karma para aturar os dois e a filha deles. Definitivamente tio Callen foi realmente ruim na vida passada.

Ao fim do dia conseguimos resolver o caso, eu não tive lá uma participação impressionante, mas o que eu tinha que fazer, fiz direito.

Como comemoração ao caso resolvido e à minha chegada, todos resolveram ir à um karaokê bar. E eu fiquei impressionada ao ver Hetty cantando Bruce Springsteen.

Nem tão tarde assim, voltei para o hotel que seria a minha casa até que eu arranjasse um apartamento por aqui e eu nem tinha fechado a porta do quarto, quando meu celular tocou.

Era minha mãe. Em videochamada.

Ia atender com a piada de que eu sabia que ela estava sentindo a minha falta – aliás, era mais provável que eu estivesse sentindo mais a falta dela do que ela de mim – porém tudo o que eu ouvi foi a risada dela os grunhidos de meu pai.

— Mãe? – Chamei.

E ela continuava a rir, e muito, ao fundo meu pai tinha uma cara amarrada.

— Diga a ela, Jethro! Diga o que você vem xingando desde que chegou em casa.

— Papai? O que foi?

— Quando você disse que tinha deixado algo para trás, eu nunca imaginei que seria isso. Com tanta coisa para nos fazer lembrar de você, você me deixa o pôster daquela banda que você me obrigou a ir no show, Sophie?

É, ele achou o pôster da One Direction que eu deixei colado atrás da minha porta só para perturbar a paciência dele...

— Eu falei para o senhor que tinha deixado algo especial.

E ele saiu grunhindo ainda mais.

Minha mãe focou a câmera em si e começamos a conversar. Minutos depois, papai passou atrás dela, rasgando algo.

— Isso aqui vai para o lixo. Não vou deixar essa coisa dentro do quarto da Ruiva.

— O senhor rasgou o meu pôster?! – Gritei.

— Sim. – Foi a resposta monossilábica que recebi.

— Mas eu adorava aquilo!

— Já era.

— Tá, acho que posso sobreviver a isso. Mas a pergunta que não quer calar... o que o senhor estava fazendo dentro do meu quarto, às – conferi o relógio e fiz a conta do fuso-horário. – Duas da manhã?

Meu pai desconversou, olhou para o próprio pulso, e foi minha mãe quem respondeu:

— Brigando comigo por eu ter ido dormir lá, depois ficou sentado na sua escrivaninha olhando para o nada. Está com tanta saudade de você quanto eu.

— Eu acho que ganho... estou sentido mais falta de todos vocês do que vocês de mim.

E minha primeira noite sozinha, do outro lado do país, foi gasta ao telefone, conversando com meus pais, sobre meu emprego, sobre o que eu fiz de errado e de certo no primeiro caso que enfrentei e em como eu posso melhorar para que o pessoal passe a confiar nas minhas habilidades.

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UM ANO DEPOIS

Não vou dizer que tem sido fácil. Não, não tem. Para falar a verdade, tem sido bem difícil. Não falo do trabalho, apesar de tudo ainda ser bem novo para mim, eu realmente entendo o conceito de “família” quando se trata de equipe. E com essa família californiana que me adotou tão bem, eu sabia que nada daria errado. Poderia acontecer um ou outro deslize, contudo, no fim, o dia seria salvo.

Minha parte ruim era ficar longe da minha família.

E olha que eu conversava com todos eles, quase todos os dias.

E entre conversas, muito trabalho e achar um apartamento que fosse a minha cara, meu primeiro ano passou.

Eu ainda era a novata da equipe, desconfio que seria eternamente. Ainda dava uns deslizes e chamava Callen de tio, era sincera demais, porém, fazendo um balanço, eu fui uma boa agente em estágio probatório.

Tão boa que Hetty pessoalmente veio me dar as boas novas e minhas novas credenciais.

Agora eu era uma Agente Especial, assim como todos os outros. Assim como (quase) toda a minha família de Washington.

Já tinha liderado alguns casos, tinha até sido mandada como cobaia em um caso de tráfico de mulheres que começava dentro de uma base da Marinha, resumindo, tinha feito de tudo e sido de tudo.

Aos poucos eu pegava o jeito do trabalho, deixava minhas fraquezas e meus medos de lado e ia me transformando, da novata insegura à Agente Especial com uma tendência a falar de menos e agir demais (Oi papai, lembra que o senhor queria que eu tivesse herdado algo do senhor, então, foi isso!)

Salvei Deeks de levar um tiro, enquanto atuava como sniper da equipe, me disfarcei de Oficial da Marinha para descobrir um caso de tráfico de drogas e fui até modelo! Meu ano foi agitado.

Mas nada se compara a quando tivemos um caso que envolveu os escritórios de Nova Orleans, D.C. e LA... Meu Deus, que bagunça! E ficou dez vezes pior quando dividiram as equipes e eu caí com Sebastian e Tony.

— Eu me recuso a te chamar de Agente Especial. Seu sobrenome é comprido demais e você não é agente para mim, será sempre a Peste Ruiva.

— Desde que você não me apresente como Peste Ruiva, Italiano de Araque, qualquer coisa está valendo.

E o que Tony fez?

Em um deslize, na porta da casa de uma das nossas vítimas, me chamou de Peste Ruiva.

Ah, a vontade que eu tive de amarrá-lo no para-choque do carro e brincar de carrinho de bate-bate...

Claro que isso rendeu, rendeu pra caramba, até que voltamos para o escritório de D.C., nos bicando.

— É, eu senti falta disso! – Jimmy falou quando veio em abraçar.

— Mas o que Tony fez dessa vez? – Ziver perguntou.

— Me chamou de Peste Ruiva, ao invés de me identificar corretamente. A mãe da nossa vítima não entendeu nada! E ficou me olhando torto, além de ter perguntado mais de quinze vezes se eu realmente era uma agente do NCIS!

— Eu já falei, escorregou, Peste Ruiva! Te chamo assim há quase 20 anos.

— Os dois podem parar. Agora. O que descobriram? – Meu pai passou entre nós, nos dando aquele tapa bem forte, que ecoou na sala inteira, fazendo Deeks e Lassalle se encolherem.

Daí pra frente foi mais do mesmo. Uma semana com as três equipes trabalhando em conjunto rendeu boas risadas, muita dor de cabeça e trabalho. No final deu tudo certo. Ou quase, já que começaram a discutir quem tinha trabalhado mais (Torres, Deeks e Sebastian).

— O NCIS como um todo. – Minha mãe falou do alto da escada.

Ninguém discordou. Afinal ninguém queria perder o emprego.

E assim foi o meu ano de novata, coroado com uma das maiores caçadas que o NCIS já viu, repleto de bons momentos, de casos que eu queria esquecer, de pessoas que conheci e que queria saber como estão hoje. Cheio de boas histórias para contar e, claro, adição de mais um apelido na minha vasta coleção.

E não era Novata.

Bem longe disso.

Também não era ligado à minha família – apesar de que cada vez que eu me apresentava dentro de uma base naval, alguém fazia a ligação seja com minha mãe, meu pai e, pasmem, até mesmo com minha irmã!

O meu mais novo apelido era:

Senhorita Salto Alto.

Eu mereço. Até na Califórnia implicavam com meus sapatos!

— Não é que implicamos. – Sam disse quando olhei torto para a equipe no dia em que eu fui promovida à Agente Especial. – É só que...

— Na Califórnia se usa Converses, sapatos baixos, não saltos agulha e extremamente altos. – Deeks terminou a explicação.

— Eu não sou californiana e não vou mudar o meu estilo para me encaixar aqui. – Retruquei.

— Então aceite o apelido, Senhorita Salto Alto. – Callen falou e saiu rindo. – E só uma coisa, como foi “promovida” paga a rodada de hoje.

Eu só pude ficar olhando para minha família louca.

— Se chegar atrasada ganha outro apelido! – Kensi gritou do estacionamento.

Onde foi que eu vim parar meu Deus! – Murmurei e saí correndo – de salto – atrás deles. Afinal, eu não precisava de mais nenhum apelido constrangedor na minha vida!


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Notas finais do capítulo

Capítulo enorme e cheio de referências do passado da Sophie.
Espero que tenham gostado.
Não sei quando tem mais, só sei que segunda-feira, dia 20, estreia a 19ª temporada de NCIS e eu só queria dizer, depois de ver os sneak peeks #SalvemOVelho! #SalvemOGibbs!
Muito obrigada a você que leu!
Até o próximo capítulo!
xoxo



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