SPIN OFF - Carta Para Você escrita por Carol McGarrett


Capítulo 11
Sophie e a Peripécia em Los Angeles


Notas iniciais do capítulo

Eu nem sei se vocês se lembram do epílogo de Cartas, onde Jenny faz um resumo da vida de Sophie... pois bem, nesse resumo ela conta, por alto, uma aventura de Sophie em LA. E aqui eu desenvolvi a cena toda, com a presença de todos do escritório Das Operações Especiais.
Avisos: É uma fanfic pura, principalmente a parte final, mas era o que eu queria, poder desligar da realidade por meros minutos.
Espero que gostem!
Boa leitura.



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HOJE:

Passei pelas portas um tanto devagar, puxar a minha mala estava me fazendo sentir dor no ferimento. Fiquei na ponta dos pés e vi meu pai, comprando café na Starbucks do saguão. Andei sem fazer barulho e assim que parei atrás dele e vi que pedido ele estava fazendo, falei:

— A menos que eu tenha outra irmã, que não eu não conheço e que goste do mesmo estilo de chocolate quente que eu, creio que isso é para mim!! – E dei um beijo na bochecha dele. – Oi pai!!!

Ele me olhou de canto, com a sobrancelha levantada.

Hetty já deve ter contado a novidade. Então me fiz de sonsa.

— Então, é para mim??? – Perguntei com um sorriso. A barista nos olhava como se fôssemos extraterrestres.

Papai pegou o copo de café e o chocolate quente, pagou e depois foi andando para as portas. E eu o segui, arrastando a minha mala.

— O que aconteceu em Los Angeles?

— Eu pilotei uma Ferrari. – Comecei pela parte mais fácil.

— Eu quero saber uma parte bem específica.— Ele apontou para o lado direito de minha cintura.

— Achei que estava enganando o senhor... – Murmurei.

Papai parou em um local não tão cheio, se sentou em uma das cadeiras e me entregou o chocolate quente.

— Agora conte.

Infeliz, me sentei do lado dele e comecei a encarar a sereia deformada do copinho.

— Muita coisa aconteceu em quatro dias, e começou assim:

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QUATRO DIA ATRÁS

Estava no meio de um monitoramento de uma operação em Kandahar, tentando entender como as coisas tinham dado tão errado de uma hora para outra e o terrorista que os agentes no Oriente Médio tinham capturado agora estava morto, quando Cynthia apareceu no MTAC e me chamou, balancei a cabeça para que ela se sentasse do meu lado e me falasse o que precisava.

— Senhora, desculpe interromper, mas a Senhorita Lange está na linha de seu escritório e diz ser importantíssimo.

Achei estranho Hetty me ligando para pedir algo, a baixinha sempre resolve tudo por ela mesma.

Me levantei da cadeira e pedi que os técnicos me avisassem se algo novo acontecesse, eu tinha a obrigação de atender Hetty a qualquer horário, afinal, não tinha me esquecido de que ela ajudara a por fim em Svetlana tantos anos atrás.

Caminhei ao lado de Cynthia que foi me atualizando sobre os casos em aberto – eu estava presa no MTAC há quase vinte horas. – e assim que entrei em minha sala, coloquei a chamada no viva-voz e saudei Hetty.

— Olá, Hetty! Em que posso ajudá-la?

— Jennifer! Quanto tempo! Como vai a herdeira do NCIS?

— Realmente muito tempo, você não me dá a desculpa de poder voar para LA e fugir de Washington, Hetty. Sempre resolve tudo por aí. E Sophie está bem.

— Ouvi dizer que ela já está estagiando no Departamento de Defesa.

— Nem vou perguntar como essa notícia chegou aos seus ouvidos... – Comentei com um sorriso.

— Eu sempre sei de tudo, Diretora. Na verdade, de quase tudo.

Levantei uma sobrancelha ao me sentar na minha cadeira. Hetty dizendo isso. Novidade para mim.

— E do que você não sabe? – Indaguei.

Ela deu uma risada.

— Estamos enfrentando um caso incomum por aqui, nosso suspeito fala um idioma um tanto inusitado. Suaíli. E, ao procurar na lista de pessoas que falam este idioma no NCIS, seu nome é o único da lista.

Achei estranho que ninguém mais soubesse o idioma, ainda mais depois de tantos anos que eu ocupei a Direção.

— Nossa... eu?

E foi aqui que Hetty deu o pulo do gato.

— Presumo, Jenny que Sophie fale também... e como é recesso na Faculdade por conta das férias de primavera, creio que ela já está em casa e livre do estágio pelos próximos dias... ao invés de te sobrecarregar com páginas e páginas de conversas da internet, porque não me empresta a sua filha como tradutora? Um trabalho inofensivo, dentro escritório que não deve demorar. Ela estará de volta para o final de semana, e terá ajudado o NCIS, o que deve contar mais alguns pontos na avaliação final dela em Harvard.

Ponderei o que Hetty acabara de dizer... e não vi mal nenhum em mandar Sophie para Los Angeles. Ela conhecia a equipe. Já tinha dezenove anos e, sabia se virar muito bem.

— Vou mandá-la no primeiro voo, Hetty. Ela ficará feliz em ajudar o Escritório de vocês e ainda vai poder por o papo em dia com todos.

Ouvi a risada de Hetty.

— Cuidaremos bem dela, Jennifer. Não se preocupe, Sophie já faz parte da equipe. – E ela encerrou a chamada.

Na mesma hora liguei para Sophie que estava em casa, à toa.

— Sim, mamãe?

— Preciso que você arrume uma mala, você vai ajudar Hetty e a equipe de LA com uma tradução. Seu voo parte em três horas e quero que você passe aqui no Estaleiro antes de ir.

— Eu vou para LA?

— Sim, vai.

Sophie nem se despediu, foi logo desligando e, quarenta e cinco minutos depois, ela passava pulando pelas portas do meu escritório.

— E o que eu vou fazer lá?

— Trabalho de tradução, a mesma coisa que você faz no Departamento de Defesa.

— Só isso?

— Sim. Trabalho Burocrático e dentro do escritório. Vou avisar ao seu chefe de estágio o que você está fazendo para que ele coloque na sua ficha.

— Sim, senhora! Quantos dias?

— No máximo dois. – Avisei. – Aqui estão as suas passagens, te garanto que Hetty vai entrar em contato com você para conversar sobre como você chegará até o Escritório.

— Tudo bem. Dê um beijo no papai por mim. Ele não está lá embaixo. – Ela falou ao me abraçar e me dar um beijo na bochecha. – Te amo, mãe. Te vejo em dois dias. E vou deixar o meu carro aqui no estaleiro para não ter que deixar um rim no guichê do estacionamento do aeroporto.

— E como você vai para...

— De UBER!! – Ela gritou já da escada.

Na outa sala, escutei a risada e o comentário de Cynthia.

— Às vezes ela é mistura exata de todos os membros da MCRT.

Se alguém ou algo tivesse me avisado que esses dois dias virariam quatro e que minha filha iria entrar no meio de uma operação secreta, eu juro, teria prendido Sophie na autópsia.

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Eu nem podia acreditar na minha sorte. Eu estava indo para Los Angeles, para trabalhar com o pessoal de lá, vou poder curtir um pouquinho da cidade e escapar da estranha onda de frio que caiu sobre D.C. e congelou tudo em pleno abril!

Estava sentada de frente para o portão de embarque, ainda comemorando a minha sorte e tomando um chocolate quente para me esquentar quando meu celular tocou. Olhei o visor e não reconheci o número.

— Sim? – Atendi desconfiada.

— Senhorita Shepard-Gibbs! Que bom falar com você depois de todos esses anos!

— Ah! Oi, Senhorita Lange!

— Por favor, Hetty.

— Sim, Hetty. Minha mãe disse que tem algo para mim... já vai me mandar para começar a trabalhar no voo?

— Não... vamos dizer que a sua designação mudou... nada muito diferente. Conversaremos quando você chegar aqui no prédio.

— Claro. Eu vou...

E Hetty me cortou.

— Tem um carro te esperando no terceiro andar do estacionamento D do LAX. Você pode descer do elevador, e caminhar até a última vaga à sua esquerda, a chave está sob a roda traseira direita.

— Sim, senhora.

— O GPs já está programado para te trazer até o prédio, te encontro em cinco horas, Senhorita Shepard-Gibbs.

— Tudo bem... – Falei para a ligação encerrada.

Ajeitei a minha echarpe da Chanel que minha mãe tinha me dado de aniversário e, dando um ataque de ansiedade, comecei a bater o salto de minha bota no chão.

Cinquenta minutos depois estava decolando de uma D.C. completamente branca.

O voo foi tranquilo, sem ter muito o que fazer, coloquei meus fones de ouvido e dei play em uma de minhas inúmeras playlists, não sei quando cochilei, mas acordei com o avião tremendo por conta do trem de pouso já ter sido baixado.

Coloquei a poltrona na posição vertical, tirei os fones e pela janela vi o Pacífico brilhando ao longe. Era um verdadeiro dia de primavera, um contraste e tanto com a Costa Leste.

O avião encostou no portão, esperei os mais desesperados descerem e, tranquilamente me levantei, saí da aeronave agradecendo aos tripulantes e passei pela segurança em direção à esteira de bagagens. Dei sorte, acabei chegar e a minha mala aparecer na curva.

Agora eu tinha um objetivo. Achar o Estacionamento D do aeroporto.

Busquei pelo mapa do lugar no saguão principal, e tive que sorrir, Hetty pensava em tudo. Era o estacionamento mais próximo de onde eu estava.

Puxei minha malinha até o elevador e logo saí no terceiro andar.

Não tinha tantos carros assim por ali, e eu me vi procurando por um Challenger igual aos que são usados em D.C. e não encontrei nenhum. Parei mais ou menos no meio do caminho e tentei me lembrar das instruções de Hetty.

— O carro vai estar na última vaga à esquerda.

Só que na última vaga só tinha um carro. E aquilo me deixou confusa, porque não era um carro qualquer... não. Era uma bela Ferrari Califórnia T.

— Acho que eu devo estar no andar errado. – Rodei para ver se aquele era o prédio e o andar. Era.

— Eu vou.... aquela Ferrari é para mim? – Sem querer perguntei alto demais, para minha sorte não tinha mais ninguém no piso

Corri até o carro, dei uma olhada em volta e procurei pela chave no pneu traseiro direito. Ela estava ali.

— MEU DEUS!!! ISSO É SÉRIO? – Comecei a pular sem sair do lugar. – Eu. Vou. Dirigir... não. Eu vou PILOTAR uma Ferrari?!!!

Eu não gosto de selfies, não, eu não gosto, mas precisei tirar essa. Então, corri para a parte da frente do carro e tirei uma foto, apontando para o emblema mais famoso entre todos os pertencentes às marcas de carro e, claro, mandei a foto na hora para Tony, ele é o único que eu conheço que teria um infarto quando visse.

Olha o carro que a Hetty me emprestou!!!— Escrevi na legenda.

Depois, tratei de colocar a minha mala no minúsculo porta-malas e subi no banco do motorista.

— Ainda bem que eu falo italiano! – Comentei ao ver que todos os comandos de ajuste estavam no idioma nativo da marca.

Com tudo ajustado para a minha altura, vi um outro botãozinho que chamou a minha atenção, o para abaixar a capota e transformar o carro em um conversível.

Ponderei. O dia estava lindo lá fora, o que custava?

— Mas e meu cabelo? – Olhei para a cabeleira ruiva que estava solta e nem adiantava tentar prender em um rabo de cavalo, porque o vento iria soltar tudo.

E, vendo a echarpe no meu pescoço, tive uma ideia.

— Nada como dar uma voltinha no tempo e incorporar as mulheres dos anos 50! – Falei ao acabar de amarrar a echarpe na cabeça e colocar os óculos escuros.

Com esse “problema” resolvido, dei partida no carro e o som do ronco do motor ecoou por todo o andar.

— Eita... – Murmurei.

Devagar, engatei a primeira, e devagar pisei no acelerador. E a danada dei uma guinada para frente.

— Calma! É devagar! – Falei comigo mesma e retomei o controle do esportivo italiano. Saindo com maestria do terceiro piso, chamando atenção de todos quando atingi o térreo e parei atrás de um Toyota, para poder passar pela cancela do estacionamento.

Minha passagem foi autorizada sem que eu pagasse um centavo e, com a pista livre, pisei fundo no acelerador, fazendo meu corpo bater de encontro com o banco do motorista e meus cabelos voarem livres atrás de mim.

Me senti muito rica e importante, enquanto dirigia pelos 30km entre a saída do LAX e o centro de Los Angeles. O GPS me indicava o caminho, que eu não tive como apreciar a vista e o belo céu da Califórnia. Eu sabia que era lindo, pois já tinha visto, mas eu precisava me concentrar no trânsito que começava a ficar engarrafado, à medida que eu chegava na cidade.

Como não tinha ninguém para conversar, liguei o som do carro, conectando o meu Iphone e deixei a playlist no aleatório. E era tão aleatória que quando dei por mim, estava cantando Girls Just Wanna To Have Fun da Cindy Lauper, parada no sinal. E nem estava ligando muito até que escutei:

— Hei, Ruiva. Seu pai te deu esse carro porque você passou na Faculdade ou só porque você é bonita mesmo?

Sem pensar, virei a minha cabeça na direção da voz e vi um Mercedes Benz, também conversível, parado no meu lado e lá dentro três rapazes, da minha idade. Todos eles muito bonitinhos, mas eu não vim para LA para me divertir, vim para trabalhar, assim, soltei.

— Nenhuma das duas hipóteses, ele me deu esse carro por ser esperta e não cair no papo de caras gatos como vocês! – E acelerei deixando os três ocupantes do Mercedes de queixo caído.

Dez minutos depois, estacionava a Ferrari na vaga destinada a ela, voltei com a capota para o lugar, peguei minha bolsa, tranquei tudo e fui bater na campainha. Nem precisei me identificar, logo escutei Eric falando:

— Olá, Sophie! Seja bem-vinda! – E o portão foi aberto.

E eu vou te contar, nunca deixaria de me surpreender em como o NCIS transformou uma bela casa no estilo colonial espanhol em um quartel das Operações Especiais.

Passei pelo corredor até o átrio e logo vi a minha Chefe pelos próximos dias.

— Olá, Hetty! – Cumprimentei a ex-Agente da CIA e uma das mulheres mais poderosas do EUA.

— Senhorita Shepard-Gibbs, espero que tenha feito uma ótima viagem.

— Sim, senhora! E obrigada pela carona. – Estendi a chave da Ferrari.

— Oh, não! Fica sendo o seu carro enquanto estiver aqui.

Encarei a baixinha.

— Acredite em mim. Você vai precisar, afinal, não vai dormir aqui nesse escritório, não é? Só o Senhor Callen faz isso.

— Claro. – Respondi e fiquei pensando onde iria dormir... teria que ser um hotel com garagem... afinal não poderia deixar aquele carro em qualquer lugar. – E o que tenho que fazer? – Perguntei seguindo Hetty até uma sala atrás de seu escritório.

— Você, Sophie, vai nos ajudar no último caso.

Isso eu já sabia.

— Voltando para o Ensino Médio. – Ela completou.

E eu fiquei estática.

— Eu vou voltar para a Escola? Mas não é férias de Primavera aqui?

— Não nos Colégios Internos. E para um desses que você vai.

— E o que eu vou fazer?

— Uma coisa bem simples, além de traduzir os documentos que a Senhorita Jones vai te mandar, quero que você descubra quem é o fornecedor de drogas para os filhos desses Almirantes. – Ela me estendeu as fotos dos Almirantes e de seus filhos.

— Uhn... será que os Almirantes não irão me reconhecer... assim....

— Isso é o de menos, minha querida. Vamos te disfarçar. – Ela falou e me empurrou para dentro de um provador. – Comece com estas roupas. – Me entregou um par de ankle boots, jeans de lavagem clara e rasgados nos joelhos e para completar um cropped e um blazer.

Saí do provador e ela ficou me olhando.

— Senhorita Blye, ela vai se misturar com as demais filhas?

E vi Kensi chegando, antes de responder, me deu um tchauzinho.

— Com certeza, Hetty. Era isso que as meninas estavam usando. E como vai você, Sophie? – Ela me abraçou apertado.

— Bem... e um tanto perdida! – Confessei.

— A primeira missão infiltrada é assim mesmo! – Ela riu.

— Uhn... Hetty. – Nell chegou. E junto com ela Eric, Tio Callen, Deeks e Sam. – Creio que todos vão reconhecer a Sophie... a foto dela está em todos os lugares na internet... sabe como é, família badalada em D.C. – Ela brincou.

E Hetty, que estava com a cara enfiada em um armário, apenas disse:

— Duvido muito. – E me estendeu uma peruca lilás, daquelas de cosplay mesmo. – Não quando ela usa isso e isso. – Me entregou um par de lentes castanhas.

Fui para frente do espelho para prender o meu cabelo, de modo que nada aparecesse, nem um fiozinho. Com toda a minha cabeleira presa em uma rede, pus a peruca e depois de penteá-la e prendê-la de forma que nem um puxão a soltasse, lavei as mãos e coloquei as lentes. Precisei piscar para me acostumar com aquilo dentro dos meus olhos, mas assim que me acostumei, os abri e não reconheci a pessoa que me fitava.

— Nossa! – Murmurei.

— Ainda falta a maquiagem. – Nell me entregou a caixa com várias maquiagens dentro e começou a me orientar sobre o que eu estava prestes a fazer.

Em resumo eu seria a filha de um Almirante quatro estrelas e sua esposa herdeira de uma grande fortuna, quem interpretaria meus pais seriam Tio Callen e Kensi. E como eles estavam cansados do meu comportamento rebelde, resolveram me matricular em um Colégio Interno. Meu dever era me enturmar com os filhos de quatro Almirantes e tentar descobrir quem era o próximo alvo, bem como quem era o traficante dentro da escola e o grande dono do cartel do lado de fora.

Coisa pouca. Super tranquila.

Não, não era.

Acabei de me maquiar e agora sim, nem meu pai me reconheceria. E quando me virei, tanto Tio Callen quanto Kensi já estavam prontos.

— Uma família bem peculiar. – Sam brincou. – Toma conta dos dois, Sophie, porque creio que você tem mais responsabilidade correndo nas suas veias do que os dois juntos.

— Ô! – Foi tudo o que eu respondi.

Já Eric...

— Sabe, Sophie, você deveria pensar em começar a fazer cosplay... perucas coloridas ficam bem em você! – Disse ao me entregar o meu ponto, a tag que seria o meu localizador e um celular que só era rastreável pelo NCIS.

— E não se esqueça disso! – Nell me entregou um tablet e uma bolsa. – Todos os documentos que precisam ser traduzidos estão na nuvem. Só é possível o acesso desse tablet com a sua digital, Sophie. Na bolsa tem um notebook para você fingir que está estudando. Boa sorte.

— Obrigada. – Murmurei.

Pelo caminho até a tal escola, Kensi foi me dando os detalhes do caso e tudo o que eu precisava saber de verdade. Tio Callen apenas me olhava de tempos em tempos pelo retrovisor.

— Vai saber ser uma adolescente birrenta e mimada, Soph? – Ele quis saber.

— Posso tentar... vi muitas na escola para saber como agem...

— Só quero ver.

— E só uma pergunta.

— Que é? – Kensi falou.

— Até onde a Diretora do NCIS sabe sobre esse caso?

Os dois agentes que estavam no banco da frente se olharam e depois deram de ombros.

— Foi o que eu pensei....

Chegamos na escola e eu logo vi o motivo de ter que atuar como uma garota mimada... aquilo ali parecia ter saído de um episódio de Gossip Girl!!

— Meu Deus!! Que lugar é esse? – Falei antes que Tio Callen parasse o carro.

— Um lugar onde eu, particularmente, não deixaria a minha filha. – Foi a resposta que ele me deu. E foi o carro ser desligado que Kensi e ele entraram perfeitamente em seus papéis. Para me ajudar, tirei um chiclete da bolsa e comecei a mastigá-lo. Fazendo bolas ocasionalmente e deixando-as explodirem.

Kensi me deu uma olhada pelo canto do olho e depois um mínimo sorriso, traduzi como: você está no caminho certo.

A conversa na sala do diretor foi monótona, e eu continuei a mascar o chiclete até que isso fez com que Tio Callen se irritasse ao ponto dele me mandar parar. Não fiz isso e a tensão que precisávamos estava armada.

Sem dó ou despedidas, os dois me deixaram dentro da escola, e antes que o carro saísse da minha vista, fiz um sinal com o dedo do meio para eles. Logo escutei no meu comunicador:

— É assim que se começa. Você já é assunto nas redes sociais de seus futuros novos amigos. – Eric falou.

Eu usava o ponto como um earbud... fingindo que estava ouvindo música e assim que me virei, tinha um garoto, de quem, se eu ainda estivesse na escola, eu seria amiga fácil, afinal ele usava uma camisa do Baby Groot. E para me enturmar com as “Meninas Malvadas” fiz o que eu sempre detestei.

— Que foi? Nunca viu não, nerd?

Foi o que bastou para a patricinha mor chegar perto de mim. Eu tinha acabado de ser aceita no grupo dos riquinhos.

Não foi difícil descobrir como eles arranjavam as drogas, menos de três horas depois, a primeira rodada passou perto de mim. E eu fingi estar interessada.

Liam, um dos garotos que estava fumando, me indicou o vendedor.

— Liam... preciso de um nome! Como vou chamá-lo? Não quero chamar atenção para isso. – Apontei para o cigarro.

— Claro, Charlie. Erro meu. O nome dele é Mick.

— Obrigada!

A mensagem foi recebida no QG na mesma hora. Passei horas conversando com essa turma. Morrendo a cada segundo que uma besteira era dita, desejando profundamente sair dali, mas eu não podia.

E nessa história de fingir ser quem não sou, se passaram dois dias. E eu estava mais do que enturmada com os filhos dos Almirantes. E escutando cada plano bizarro que eles tinham para se livrarem dos pais.

Mick era um dos filhos e ele só deu um sorriso cínico para cima de mim quando perguntei como.

— Ora, Novata... você vai ver. Será emocionante. – Piscou para mim e passou o braço pelos meus ombros.

— Imagino que seja. – Disse.

E mais um dia se passou. Ao final da noite, dentro do meu dormitório, acabei de traduzir os documentos que Nell tinha me entregado. E percebi que ali estavam os reais planos para o assassinato dos quatro Almirantes. Que os traficantes estavam usando os filhos para conseguirem informações preciosas e, assim, eliminarem os principais nomes das operações de frotas na Costa Oeste, para poderem tomar o controle de dois porta-aviões e três torpedeiros.

— Eric... estou te mandando os documentos traduzidos agora! – Falei um tanto desesperada.

— Já recebi. – Ele me falou e foi logo chamando a equipe.

— Sophie! – Nell me chamou. – Um último e-mail. – Ela me enviou o documento.

Traduzi na hora e tive que conter um grito.

— Isso não é nada bom! – Falei.

— O que você tem aí? – Sam perguntou.

— O próximo alvo.

— Quem é? Precisamos mandar seguranças agora.

— Sou eu. Eles sabem quem eu sou...

— Sophie, arrume as suas coisas o mais rápido possível. Não podemos te tirar daí agora, ou será muito pior. Quero que você saia daí na hora do almoço.

— Sim, Sam.

— E nada de ficar olhando por sobre os ombros. Estamos te monitorando de longe e podemos chegar em um piscar de olhos.

— Tudo bem, Kensi.

— Qualquer coisa, nos chame. – Esse foi o tio Callen.

— Pode deixar.

Dizer que eu consegui dormir é exagero. Eu não preguei os olhos, a cada passo no corredor do andar, era um aumento no meu batimento cardíaco. Fiquei a noite inteira acordada, olhando para o teto, brincando com a faca que trouxe comigo.

Quando o dia começou a amanhecer, me levantei, guardei todas as minhas coisas, tomei todo o cuidado para que nada da missão pudesse ser roubado ou comprometido, tomei um banho, arrumei a peruca, refiz minha maquiagem com cuidado e fui bancar a estudante do ensino médio entediada com a vida e que queria se ver livre dos pais.

As primeiras aulas da manhã foram um tédio, realmente tediosas, eu achei que tinha ficado livre da física, da química e, principalmente da biologia. Mas parece que essas coisas vão me seguir até o fim da minha vida...

A cada dez minutos, Eric ou Nell me checavam e me davam as últimas informações a respeito da missão. Os quatro Almirantes estavam à salvo, Mick tinha sido detido, só faltavam dois pontos: O chefe do cartel e eu.

— Tudo vai dar certo! – Eric tentou se manter positivo. Porém, nem com toda a animação dos dois a sensação em meu estômago de que algo poderia dar errado desapareceu.

Na verdade, piorou.

Quando deu o intervalo do almoço, eu pedi licença para a turma.

— Vai para onde? – Me perguntaram.

Dei um sorriso misterioso e só mostrei o que eu tinha comprado de Mick. Todos entenderam errado, e foi só eu sair do alcance de suas vistas que eu corri.

— Nell... – Chamei-a.

— Sam e Callen estão te esperando no portão.

— Obrigada. Já dentro do quarto, peguei tudo e, depois de conferir se nada ficou para trás, saí à passos rápidos de dentro daquele local.

Fiquei muito aliviada ao ver a Charlene, ou o carro de Sam, nunca vou entender como as pessoas podem nomear os carros... mas enfim, não era o momento. Eu arremessei minha bolsa no banco de trás e pulei logo depois, quando Sam já estava arrancando o carro.

— Fez um bom trabalho lá dentro, Sophie.

— Obrigada, Tio Callen. – Respondi.

Sam sempre caía na gargalhada quando eu chamava o seu parceiro assim.

— Deu tudo certo no outro pedaço da operação? – Perguntei.

E os dois ficaram calados.

— Onde estão Densi?

— Há dois quarteirões de distância. – Eric informou. – Sam, você pode virar à direita e pegar um atalho por entre dois armazéns, o caminho está livre.

Só que Sam passou do caminho certo, porque estava tendo um atraso na nossa comunicação e pegou a rua errada.

E só percebemos isso quando começaram a atirar em nós.

— Eu não acredito, acabei de tirar o meu carro da oficina! – Sam falou ao ver Charlene ser metralhada.

— São três no nível da rua. – Tio Callen falou. – Fortemente armados.

— Me cobre, G! – Sam gritou e correu para outro ponto, tentando acertar um dos atiradores que estavam no nível da rua...

Foi aí que eu vi, tinha dois atiradores no alto dos prédios e eles não pensaram duas vezes ao começarem a atirar em Sam.

— Tio!! – Eu apontei.

Mas sem o backup de Kensi e Deeks, seria difícil.

— Fica abaixada, Sophie. Se algo te acontecer, será o seu pai me colocando sob a mira de um rifle! – Ele comentou e se ajoelhou. Eu me abaixe para me esconder, morrendo de raiva de ser um peso morto, enquanto Sam era o alvo.

Tio Callen trocou a perna de apoio e eu vi a arma reserva dele. Não pensei duas vezes e fazendo uso das aulinhas de tiro que tive tanto com papai, quanto com mamãe desde que fizera 14 anos, peguei a arma do coldre na panturrilha dele e saí de trás do carro.

A atenção dos dois snipers estavam direcionadas à Sam, assim, ninguém me viu, o que foi ótimo. Fiz a mira e dei o primeiro tiro, acertando a mão de um deles. O segundo travou a arma e Sam pode sair do fogo cruzado, acertando o segundo atirador.

Nessa hora, Kensi chegou, acertando na cabeça do atirador que eu já tinha acertado. Então voltei para a segurança do que um dia foi Charlene e comecei a atirar.

— Você quer que o seu pai e a sua mãe me matem? – Tio Callen ralhou comigo.

— Não vou ficar parada enquanto vocês são alvos por minha causa! – Retruquei e atirei em outro que estava nos acertando. Ele caiu, não sei se morreu.

O tiroteio continuou e eu já estava ficando sem balas no meu segundo cartucho.

— Parecem formigas! Não param de aparecer! – Deeks comentou.

— Sophie! Preciso da sua ajuda! – Kensi me chamou. – Distraia-os para lá, eu vou acertar o da metralhadora. Você vai ter dez segundos para correr até aquele tambor. Dê dois tiros de segurança enquanto corre e corra o mais rápido que puder, mesmo estando de saltos!

— Quando você mandar.

Kensi ficou em silêncio e me mandou prestar atenção.

— Quando a arma fizer o clique de fim de cartucho.

Meneei a cabeça concordando.

Escutei o clique, me levantei e corri, dei os dois tiros para me defender de um possível ataque e cheguei do outro lado, Kensi, por sua vez, acertou o cara, no meio da testa. Daí para o final foi fácil. Acertamos os demais e conseguimos prendê-los.

— Ruiva. Você é louca!! Mas eu gosto de você! Salvou a minha vida! – Sam veio me cumprimentar com o high five. E foi só quando eu levantei o braço para cumprimentá-lo que eu senti uma ardência na minha cintura. Olhei para baixo e vi que a minha blusa estava manchada de sangue.

— Isso não é bom... – Murmurei.

Kensi foi a primeira a querer olhar o que tinha acontecido comigo. Tio Callen já estava esperando o sniper no pescoço dele e Deeks só soltou:

— É agora que a Diretora Shepard mata todo mundo!

— Liga para ele não, Sophie. Deeks morre de medo da sua mãe. – Kensi me garantiu. – Foi só de raspão. Ela vai sobreviver, com uma cicatriz e uma excelente história para contar! – Disse sorrindo.

Por enquanto tudo o que eu pensava era que estava doendo pra caramba.

Só por precaução - e para salvar os empregos – me mandaram para o hospital. A ferida foi desinfetada e eu recebi um curativo, que teria que trocar toda vez que fosse tomar banho até que só restasse uma cicatriz rosada no local.

Voltamos para o prédio das Operações Especiais para sermos recebidos por Nell e Eric querendo saber se todos estavam bem.

— Sim. – Respondemos Deeks, Tio Callen, Kensi e eu.

— Não. Charlene vai voltar para a oficina.

— Pelo menos não explodiram ela dessa vez... – Eric comentou e ganhou uma encarada completa de presente, que o fez sair correndo.

Com pouco Hetty chegou, contando o desfecho do caso. Os Almirantes estavam seguros, os filhos foram avisados dos verdadeiros planos, os terroristas presos – outros no necrotério – e eu tinha uma passagem para casa, para o próximo dia. – afinal já era mais de nove da noite.

— Muito bem, todos receberam o direito de descanso. – Hetty falou e com um piscar de olhos, todos saíram correndo. – Já você, Senhorita Shepard-Gibbs, será a minha convidada por essa noite. Quero conversar com você. E pode ser a minha motorista também.

— Sim, senhora.

Quando cheguei no estacionamento, a turma estava toda lá.

— Não saíram correndo, por quê? – Indaguei.

— Não podemos deixar você ir embora sem nos despedirmos adequadamente! – Nell falou e me deu um abraço. – Aparece mais vezes. Foi divertido ter mais uma na equipe e equilibrar tudo por aqui!

— Peça às instâncias superiores! – Brinquei e retribuí o abraço.

E um por um eles se despediram de mim.

— Avisa para o Gibbs que isso aí é sua culpa. Você é tão louca e inconsequente quanto seus pais! – Tio Callen brincou.

— Vou falar... mas se vai diminuir o sermão que eu vou ganhar, não sei... – Dei de ombros.

Ele riu.

— Qualquer coisa pode fugir para cá que te damos cobertura. E um teto! – Kensi brincou e entrou no carro brigando com Deeks.

Já eu assumi o volante da Ferrari com Hetty do meu lado. Pelo caminho ela foi me contando algumas de suas aventuras pelo mundo da espionagem.

E durante o jantar, me deu algumas dicas de como deveria pegar na arma e fazer uma mira mais limpa, não que a minha técnica fosse ruim, ela só estava me ensinando a perfeição.

— Mas creio que isso vem com o tempo, porque está no seu sangue ser uma exímia atiradora. Seus pais são e sua irmã também.

Não falei nada, só concordei. Até porque absolutamente ninguém discorda de Henrietta Lange.

Na quinta-feira de manhã, Hetty tornou a me emprestar as chaves da Ferrari.

— Seu voo parte em cinco horas, acho que você pode aproveitar esse tempo e ir ver um pouco de Los Angeles.

— À bordo de uma Ferrari?! Creio que eu serei a atração turística! – Brinquei.

— Senhorita Shepard-Gibbs, acredite em mim quando falo, aproveite agora, porque você será disputada a tapa pelos chefes das equipes do NCIS daqui a alguns anos. Agora vá, vá passear por Los Angeles, só não se esqueça de parar esse carro na mesma vaga onde ele estava.

 - Sim, senhora! – Pulei para o banco do motorista e antes de dar a partida, tive que perguntar: - Uhn... Hetty. Minha mãe já sabe o que aconteceu?

A baixinha deu uma risada.

— Vai saber no exato instante em que você decolar de Los Angeles com destino à Dulles. Até lá, podemos deixar Jenny e Gibbs no escuro.

— Muito obrigada!

— Ninguém quer o Agente Gibbs chegando em LA igual a touro bravo, Sophie. Acredite em mim.

Não discordei, era bem capaz que meu pai viesse correndo para saber o que aconteceu comigo.

Assim, deixei a mansão de Hetty e fui passear um pouco por Los Angeles. Minha primeira parada, Santa Mônica! Clichê? Sim, mas eu não estava nem aí. Me sentei no píer, tomei um smoothie, fiquei vendo uns caras fazendo parkour por ali, um inclusive tomou um tombo que doeu em mim, depois parti para o Teatro Chinês para ver a Calçada da Fama. Tirando fotos de algumas estrelas para mostrar para Tony.

Quando se aproximou o meu horário de embarque, entrei no carro, baixei a capota, liguei a música no último volume, e ao som de Confident da Demi Lovato, me despedi de Los Angeles e da Califórnia, sabendo, estranhamente, que sentiria falta do calor e dos dias ensolarados daqui, já que em D.C. ainda nevava.

Acelerei tudo o que podia – e o que não podia também! – até o aeroporto, sentindo a brisa quente no meu rosto, que meus pais jamais soubessem disso! Aproveitei um semáforo vermelho e tirei uma selfie, ficou tão linda, com o inconfundível céu californiano e suas milhares de cores ao fundo contrastando com o azul do mar que eu sabia que usaria essa foto como foto de perfil por muito tempo!

No aeroporto, estacionei na vaga indicada por Hetty, me despedi da Ferrari e fui em direção à check in. Tive tratamento VIP e estranhei pra caramba, até porque fui escoltada até a sala de embarque VIP também. Toda sem jeito, me sentei em um cantinho e peguei meu exemplar surrado de Henrique V para ler. Estava concentrada no texto quando uma voz citou a minha passagem favorita:

“Once more unto the breach, dear friends, once more;

Or close the wall up with our English dead.

In peace there's nothing so becomes a man

As modest stillness and humility:

But when the blast of war blows in our ears,

Then imitate the action of the tiger;

Stiffen the sinews, summon up the blood,

Disguise fair nature with hard-favour'd rage;

Then lend the eye a terrible aspect;

Let pry through the portage of the head

Like the brass cannon; let the brow o'erwhelm it

As fearfully as doth a galled rock

O'erhang and jutty his confounded base,

Swill'd with the wild and wasteful ocean.

Now set the teeth and stretch the nostril wide,

Hold hard the breath and bend up every spirit

To his full height. On, on, you noblest English.

Whose blood is fet from fathers of war-proof!

Fathers that, like so many Alexanders,

Have in these parts from morn till even fought

And sheathed their swords for lack of argument:

Dishonour not your mothers; now attest

That those whom you call'd fathers did beget you.

Be copy now to men of grosser blood,

And teach them how to war. And you, good yeoman,

Whose limbs were made in England, show us here

The mettle of your pasture; let us swear

That you are worth your breeding; which I doubt not;

For there is none of you so mean and base,

That hath not noble lustre in your eyes.

I see you stand like greyhounds in the slips,

Straining upon the start. The game's afoot:

Follow your spirit, and upon this charge

Cry 'God for Harry, England, and Saint George!”

Olhei pra lá de espantada para quem citou todo esse pedaço de cabeça – eu sabia ele de cor, mas eu sou fascinada com esse livro! E com a atuação de Tom Hiddleston em The Hollow Crown. – assim levantei meu olhar para dar de cara com o próprio Tom Hiddleston.

Eu só não caí da cadeira, porque eu estava na do canto, meio escorada na parede, mas tenho certeza de que ele percebeu a minha surpresa.

— Me desculpe, eu só... bem. – E ele deu aquela risadinha tão característica dele e quase enfartei.

— Eu te entendo. É a minha parte favorita também. – Comentei por fim.

E se eu já tinha ficado surpresa com o fato de o Tom Hiddleston (GENTE O TOM HIDDLESTON!!) ter parado do meu lado de citado Shakespeare, eu fiquei pasma quando ele se sentou do meu lado e começou a conversar sobre o livro comigo. E eu não sei se foi no automático ou se ainda não tinha me dado conta de quem estava conversando comigo, só sei que discutimos (!!) sobre o livro até a hora do meu embarque.

Eu sei, coincidências não existem, meu pai tem uma regra bem clara sobre isso, mas como eu vou chamar o fato de que eu estava pegando um voo entre Los Angeles e Londres com escala em Dulles, - onde eu desceria – e, estava viajando de primeira classe... e, quando levantei a cabeça para ver quem se sentaria do meu lado vejo... Sim, Tom Hiddleston!

Ele deu uma risada e apenas soltou:

— Acho que teremos conversa até Londres...

— Ah... fico em D.C.. – Comentei sem graça.

— Não tem problema! – Disse depois de guardar a mala no compartimento acima dos assentos. – E então, onde paramos? – Perguntou sorrindo.

E eu passei todo o voo conversando sobre Shakespeare e mentalmente agradecendo a Ducky e a minha mãe por eles sempre terem me incentivado a ler os clássicos.

Poucos minutos antes da aterrissagem em D.C., eu tomei coragem e pedi à Hiddleston um autógrafo. Apesar de que a única coisa que eu tinha onde ele poderia escrever era justamente o meu livro.

— Será que você poderia me dar um autógrafo?  - Pedi sem graça.

— No seu livro?

— É o meu favorito... agora vai ser duplamente. – Falei sentindo o meu rosto começar a pegar fogo.

E ele pegou uma caneta e escreveu na contracapa do meu Henrique V as seguintes palavras (que eu só fui ler quando estava longe dele).

“Para a minha companheira de voo, que fez a espera e as quatro horas de voo entre Los Angeles e Washington passarem mais rápido. Continue sendo essa garota esperta e inteligente, Sophie. Espero que nos encontremos em outros voos pela vida.”

Tom Hiddleston.

E depois consegui uma foto! Emily vai ter um infarto quando eu mandar para ela!!

O avião parou no portão e como era escala e não conexão, ele não desceu, seguiria para Londres. Me despedi do mais inusitado e inesperado companheiro de voo, desejando a ele uma boa viagem.

E o que eu ganhei em troca?

Um abraço.

Além de um autógrafo eu tinha acabado de ganhar um abraço do Tom Hiddleston! Eu deveria ir mais vezes a Los Angeles!

Peguei minha bolsa, dei outro tchauzinho para ele e sai do avião, abraçadinha com o meu livro, pensando que toda essa viagem era um sonho bizarro... mas a dor que senti abaixo das minhas costelas me disse que era real. Muito real.

Dei uma risada, sozinha, enquanto esperava por minha mala... as pessoas do meu lado devem ter me achado maluca, mas quem liga?

Em quatro dias eu tinha: viajado sozinha para Los Angeles, pilotado uma Ferrari, sido uma agente infiltrada do NCIS sem ser agente do NCIS, tomado um tiro; tido algumas aulinhas com Hetty Lange, passeado por Los Angeles à bordo da mencionada Ferrari, encontrado e conversado com o Tom Hiddleston dentro do LAX e viajado de primeira classe sentada ao lado dele por quatro horas!!

Se isso não é enredo de algum sonho maluco meu, eu não sei o que é. Porque haja fanfic!

Minha mala apareceu, peguei a coitadinha e saí para saguão, tirando o celular do modo avião para poder chamar um UBER, quando vejo as seguintes mensagens:

Seu pai vai te pegar no aeroporto e te trazer direto para o Estaleiro.— Essa de mamãe.

Estou no café em frente à área de desembarque. – Papai.

Peste Ruiva, o que te disse sobre ter responsabilidades?— Tony, com coisa que ele era responsável.

Você quer nos matar do coração?? Como assim você tomou um tiro que entrou e saiu?— Abby, como sempre, exagerando.

Eu te ensinei melhor do que isso, Sophie. Eu te ensinei a desviar de tiros!— Ziva.

Ô Pimenta! Que história é essa de que você tomou um tiro na barriga?— Ellie e a história já estava ficando toda errada.

Você entrou em cirurgia?? Como está conseguindo andar?— Torres.

Minha criança, o que você aprontou em Los Angeles, porque cada hora chega uma informação diferente a seu respeito. Tudo está bem?— Tio Ducky

Hei, Mascote, o que aconteceu?? Você tomou um tiro no abdome e está internada em Los Angeles sem conseguir andar?— Essa era a de Jimmy e reunia cada uma das informações erradas!

E por último:

VOCÊ TÁ INTERNADA EM LOS ANGELES?— Kelly e a sua mania de aumentar o menor dos problemas em dez mil vezes!

Cocei a cabeça e tentei pensar em uma mensagem que acalmaria a todos, sem me encrencar em casa. Assim mandei.

Acabei de desembarcar. Esperando a minha mala. Encontrei com o Tom Hiddleston no aeroporto! Tenho até foto para provar!— Mandei a foto anexada. Não iria salvar a minha pele, mas colocaria todos, com a exceção de mamãe, papai e Kelly, discutindo outra coisa.

—---------------------------------

Metade do expediente e nada de Sophie ligar ou de Hetty dar uma posição quanto à missão. Comecei a ficar preocupada com a minha filha. Ela já estava fora há quatro dias e ontem não tinha dado notícias. Algo dentro de mim me alertou que Sophie não tinha sido só a tradutora... algo me dizia que a tinham colocado para fazer outra coisa. O que? Eu não fazia ideia.

Um pouco depois das cinco da tarde, meu telefone toca. O visor me indicou que era o número de Hetty.

— Boa tarde, Hetty!

— Diretora Shepard! Boa tarde!

— Alguma notícia da operação?

— Já está finalizada e sua filha já está voando de volta para casa.

— Ela fez um bom trabalho como tradutora? – Perguntei curiosa, em parte como mãe porque queria saber se Sophie realmente estava no caminho certo, e em parte como Diretora do NCIS, querendo saber se ela levava jeito para ser agente e, o mais importante, se tinha talento e vocação para isso.

— Melhor impossível. Sua menina realmente é a herdeira do NCIS. Tudo o que ela fez está no relatório que estou te enviando agora, Jenny. Muito obrigada por nos emprestar a sua filha. Nos falamos mais tarde. Um novo caso chegou. – E ela desligou.

Com pouco o relatório do caso chegou no meu e-mail e eu curiosa como só, abri.

Fui lendo o que cada um dos agentes escreveu. Até que...

Eu entrei em choque! Eu entrei desespero! Eu surtei na minha cadeira. Dei um grito tão alto que em trinta segundos Jethro passava pelas minhas portas correndo.

— Jen?

— Ela levou um tiro! – Murmurei.

— Quem?

Olhei para ele, sentia meus olhos quase saltando das órbitas, minha boca tinha secado, minha respiração estava superficial e eu tinha certeza que meus batimentos cardíacos passavam dos 200 por minuto.

E, claro, Jethro que sempre soube me ler tão bem, entendeu.

— Onde?

— Aqui diz que foi de raspão... – Apontei para a tela do meu computador, mas eu não conseguia fazer mais nada. Estava preocupada com o bem-estar da minha filha.

Jethro veio e ficou atrás de mim, tirando os meus óculos de meu rosto e lendo o relatório por ele mesmo. E assim que acabou, perguntou:

— Que horas ela chega?

— Em quatro horas. O voo dela acabou de decolar.

— Eu vou buscá-la no aeroporto. – Ele falou e saiu apressado da minha sala, consegui fazer meu corpo funcionar e fui atrás dele, e só de chamá-lo mais alto, toda a sala do esquadrão ouviu. Bem... já tinham ouvido o meu grito, pelas caras de assustados que todos tinham.

Eu não me dei o trabalho de explicar, mas vi que tanto Tony quanto Ziva prestavam atenção em nós... e que as fofocas começassem!

Três horas depois eu já tinha ouvido seis versões diferentes sobre o que tinha acontecido com Sophie, em uma delas ela estava no Programa de Proteção à Testemunha, tinha trocado de nome e agora estava no Canadá, com um novo rosto.

Haja telefone sem fio nesse prédio!

Jethro foi para o aeroporto e eu fiquei tentando ler o restante do relatório e tentando entender o que levou Sophie a entrar no meio do tiroteio com a arma reserva de Callen.

— É Sophie, você tem muito o que se explicar!

—-----------------------------

— Então foi isso. – Tomei fôlego depois de contar sobre o meu voo até aqui.

Meu pai que já tinha acabado de tomar o café, balançou negativamente a cabeça.

— É Ruiva, você vai nos matar antes da hora. – E se levantou, pegou a minha mala e saiu puxando. – Coloca o casaco, está nevando.

Fiz uma careta, e imediatamente senti falta do calor da Califórnia quando as portas do aeroporto de Dulles se abriram e uma rajada de vento ártico passou por elas.

Me encolhi dentro do sobretudo e arrumei a minha echarpe para me esquentar.

— Frio! – Murmurei e me encolhi debaixo do braço livre de meu pai, e quando ele me apertou, foi bem em cima do curativo. – Ui!

Ele desistiu de me abraçar pela cintura e passou para os ombros.

— Bem melhor. O carro tá muito longe?

— Logo ali.

Só que o “logo ali” dele não chegava nunca, assim como a primavera que não queria dar as caras em D.C. nem se pagássemos a ela.

Depois de andar por metade do estacionamento, eis que o carro de minha mãe aparece.

— O carro da mamãe?

— Não ia ser o seu, né Ruiva?

Ele colocou a minha mala no porta-malas e eu já tinha virado a chave para ligar o aquecedor.

— Mamãe me disse que vamos para o Estaleiro?

— Sim.

— Ninguém se deu o trabalho de explicar o que realmente aconteceu, né? Porque eu recebi uma mensagem mais louca que outra... – Mostrei o telefone.

— É porque você não ouviu a que você teve que se mudar para o Canadá depois de entrar para o Programa de Proteção à Testemunha e fazer uma mudança na face.

Olhei para o meu pai...

— O QUE?!

— Ruiva, só tem fofoqueiro naquele lugar!

— E o Tony é o maior deles! – Tive que rir e me arrependi na hora. – Eita...

Depois de penarmos por quase quarenta minutos, conseguimos chegar no Estaleiro. E eu nem tinha descido do elevador, fui cercada pela equipe, bem... isso depois que Abby que quase me sufoca e me mata de dor ao mesmo tempo.

Todos começaram a falar ao mesmo tempo, pareciam que todos tinham feito o download do software da Abby e despejavam três mil palavras por minuto. Para pôr ordem, papai teve que assobiar e mandá-los cada uma para sua mesa.

— Mas Gibbs! Eu não tenho uma mesa aqui!

— Abbs... – E a Cientista saiu correndo e se sentou na mesa de meu pai.

— Um de cada vez. – Pedi.

— Eu sou o Agente Sênior. Eu começo! – Tony tomou a frente e despejou o maior sermão que eu já ouvi vindo dele! DiNozzo falou por quase 15 minutos ininterruptos na minha cabeça.

Depois vieram Ziva – que ninguém brigou por ser a segunda, afinal ela tinha um clipe de papel na mão! – Abby, Tim, Ellie, Torres, Jimmy, Ducky e, por fim, minha mãe.

E que sermão que ela me deu. Daqueles que me faziam querer sair correndo e me esconder debaixo das cobertas, contudo eu não corri, fiquei ali, de pé, olhando para baixo enquanto ela falava. E ela falou muito, não que isso seja novidade, afinal Jennifer Shepard é conhecida por ter longos discursos, repletos de palavras difíceis.

Meu pai ficou estranhamente quieto, mesmo que ele já soubesse de tudo, ele não tinha me dado sermão nenhum.

E assim que todos terminaram de falar e me encaravam, tive que falar a única coisa lógica da noite:

— Sabe por que nada de ruim me aconteceu? Porque eu aprendi tudo isso com vocês, afinal, essa aqui não é a melhor equipe do NCIS à toa, não é?

E com isso eu desarmei qualquer réplica que poderia aparecer, inclusive a de papai.

Quando todos foram embora para suas casas e suas famílias, e, Kelly tinha desligado, depois de uma ligação de NOVENTA LONGOS MINUTOS, - isso porque ela estava a bordo do USS. Daniel Webster novamente! -  e ficamos só nós três, papai me abraçou apertado e disse:

— Nunca mais faça isso comigo, Ruiva, eu já não tenho mais idade para isso!

Eu não prometi que ficaria quieta, mas disse que tomaria cuidado e dei um beijo na bochecha do pai.

Mamãe me olhou feio... muito feio assim, só me restou fazer a mesma coisa com ela e, depois de dar um braço para mamãe e o outro para papai, falei, na maior cara de pau:

 - Vocês não podem dizer que não viram isso vindo, afinal, foram vocês quem me treinaram desde pequena!

Os dois me olharam de lado a caminho do elevador, como se eu tivesse acabado de falar uma blasfêmia.

— Como Hetty bem disse, está no sangue! E eu só estou começando! – Terminei.

Minha mãe olhou para cima, papai deu um suspiro cansado, mas no fundo, no fundo, eu sabia, e eles também, o NCIS era o meu futuro. E não tinha como eu escapar disso.

E eu nem queria escapar!


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Notas finais do capítulo

Alguns links importantes para quem quiser:
A bendita Ferrari Califórnia: https://revistacarro.com.br/ferrari-california-t-speciale-e-de-tirar-o-folego/
Tradução do trecho de Henrique V: https://www.greelane.com/pt/humanidades/literatura/best-speeches-from-henry-v-2713258 (É o Mais uma vez até a Violação)
E para quem quer ter uma ideia de como é ter Tom Hiddleston recitando esse trecho: https://www.youtube.com/watch?v=mKEA-l6sShM
Então, é isso.
Espero que tenham gostado!
Muito obrigada por lerem!
Até o próximo capítulo.
xoxo



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