Deixa eu te contar uma história escrita por GomesKaline


Capítulo 1
Capítulo 1




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Você já esteve em uma situação em que se pegou dizendo: O que eu fiz da minha vida?

Eu não sei qual sua resposta, mas eu sei que Aaron Hotchner esteve e eu vou te contar a história. Então pegue os lencinhos para enxugar as lágrimas e uma almofada para socar quando você estiver com raiva.

Como todos sabem Aaron e Haley eram casados. Eles tiveram um bom casamento até Haley não aguentar mais o trabalho de Aaron e resolver ir embora sem avisar. 

Isso ainda não é o ápice, isso é apenas o começo.

Aaron sabia que seu casamento não era dos melhores, mas ele tinha fé que as coisas iriam melhorar. Haley não pensava mais o mesmo, ela não tinha mais fé no casamento deles. Eu não posso culpá-la, lutar por algo que você não ver mais futuro é cansativo.

Não foi por causa de Haley que o casamento acabou, não foi porque ela foi embora. Foi por causa de uma série de coisas que os dois fizeram juntos que levou ao término. 

Com um mês fora de casa Haley pediu o divórcio. Aaron recebeu a intimação no escritório na frente de toda a sua equipe, mas a equipe não sabia o que era até Emily inocentemente perguntar o que era.

— Meu divórcio, eu fui intimado.- ele falou e saiu para procurar o buraco para se esconder.

Emily ficou arrasada por perguntar, ela sentiu que o humilhou. Todos sabiam que eles estavam passando por uma turbulência, mas a palavra divórcio não tinha aparecido.

Emily saiu atrás de Hotch disposta a oferecer sua cara a tapa para que pudesse tornar as coisas um pouco melhor. Mas por que ele respondeu? Por que ele não respondeu apenas "é particular" como fez da última vez que ela inocentemente se intrometeu?

— Hotch.- ela gritou, mas ele não virou - Hotch! - ele parou, virou, porém permanecendo calado - Desculpa, eu não tive a intenção de expor você daquela forma. Eu não sabia que você estava sendo intimado, eu pensava...

— Prentiss, - ele a interrompeu, Emily parou imediatamente esperando a repreensão por seu comportamento. Contudo o que aconteceu foi... - você não fez nada errado, você fez uma pergunta inocente e eu respondi. Se eu não quisesse que todo escritório soubesse, eu não teria respondido. Você não fez nada de errado.

O primeiro pensamento de Emily ao escutar a frase foi: Ele não está nada bem. Não era da natureza dela ser compreensivo com ela.

— Oh, okay... sinto muito.- então ela saiu e deixou ele ter seu momento.

Depois disso Aaron chafurdou. Ele não aceitava que seu casamento tivesse acabado, ele não aceitava essa derrota. Ele até conversou com Haley sobre fazer aconselhamento, mas ela não quis. Então Aaron chafurdou mais e mais. Ele passou a praticamente morar no escritório, ele deixou a barba crescer e as olheiras sob seus olhos eram permantes. E os músculos dorsais dele, oh Deus, estavam muito sobrecarregados de tanto que ele passava no estande de tiro.

Emily não aguentava vê-lo assim, e vendo que ninguém estava fazendo nada estava deixando ela irritada. Então ela fez sua missão animá-lo, ou pelo menos tirá-lo da lama que ele estava chafurdando.

Um dia, quando todos já tinham ido embora e só restavam ela e Hotch, ela pegou um arquivo qualquer e foi para o escritório dele.
— Hotch, pode me ajudar em algo?

Hotch olhou para cima surpreso ao encontrar Emily, ele pensava que estava sozinho. Ainda um pouco mais surpreso por ela está precisando da ajuda dele, ela nunca faz isso, quando ela precisa de ajuda ela geralmente vai até Dave . Quando ele vê que ela está com dúvidas, ele a ajuda no campo, mas é só isso.

— Sim, claro. O que te incomoda?

Então quando ela começou a expressar suas dúvidas, Hotch enrrugou as sobrancelhas, esse perfil até um Agente Especial entenderia sem dificuldades, ela era uma Agente Especial Supervisora, pelo amor de Deus!

Oh! Ele acabou de ter uma revelação. Ela estava tentando distraí-lo de sua miséria. Estava funcionando um pouco, ele gostou de ser útil. E quando ela saiu, ele agradeceu. Ela era uma boa pessoa.

— A qualquer hora.

Depois disso, Emily passou a ir todo final de expediente para o escritório dele para distraí-lo com algo. Com arquivos antigos, com dúvidas falsas, tinha noites que ela só dava boa noite e ia para casa.

Aaron passou por anseiar por esses momentos, não resolvia tudo, mas o ajudava.

Vendo que isso não era o suficiente, Emily resolveu usar outras armas. Primeiro ela começou a levar café e dunuts para ele de manhã cedo. Então passou a convidá-lo para um café pelo menos uma vez na semana. Ela estava conquistando espaço, ela ainda pensava duas vezes antes de agir com Hotch, ele ainda assustava um pouco. Tinha momentos que ela achava que ele a odiava. 

Um dia, enquanto eles tomavam café, Emily contou uma piada e ele riu, rápido, mas riu. Ela se sentiu orgulhosa, foi o primeiro riso real em meses, foi a primeira vez que ela o fez rir, ela poderia arriscar que foi a primeira vez que o viu fazer tal coisa.

Passou a ser rotina o café de manhã cedo, o café em uma parte aleatória do dia e as visitas no final do expediente se ele não estivessem em um caso.

Então querido leitor, escute com atenção, um dia Aaron a convidou para almoçar, ela ficou tão chocada com a proposta vindo dele, que ele pensava que ela estava rejeitando.

— Eu nunca rejeitaria uma oferta onde há comida envolvida. - ela disse por fim, então eles foram almoçar.

Depois desse teve muitos e muitos outros almoços, eles se tornaram grandes amigos, Aaron passou a participar das noites com a equipe, e ele acabou aceitando que seu casamento tinha chegado ao fim. 

Até aqui tudo bem. Deixe-me continuar.

Passando-se um ano desde o divórcio Aaron, Emily descobriu que seus sentimentos por Hotch eram mais que amizade. Ela quis arrancar seu próprio coração por sentir isso, ele era seu chefe, e também poderia ousar dizer que era seu melhor amigo. Ela conseguia fazê-lo sorrir, ele escutava o que ela tagarelava com atenção, ele não a fazia se sentir uma tonta quando ela tropeçava, quando derramava o café em si mesma ou quando se cortava com papel. Ela descobriu que ele era um cavalheiro, ele sempre puxava a porta para ela, carregava sua bolsa de viagem, passou a pagar por todas as refeições que faziam juntos.

Ela estava apaixonada, ela não tinha dúvida. 

Tola, ela disse para si mesma. Como você se apaixona por um homem quebrado, uma década mais velho e seu chefe?

Emily repetiu todos os dias para que não esquecesse, ele era impossível, inalcançável e ele nunca olharia para ela assim. Ela era uma pirralhada para ele. 

Ela passou mais um anos assim, se divertindo com ele e entrando depressiva quando chegava em  casa, porque ela estava apaixonada por ele. Tinha dias que olhar para ele fazia seu coração doer, olhar para o que ela nunca poderia ter. Ele estava há dois anos divorciado e não demonstrou nada além de amizade por ela. E uma noite que eles saíram para beber com a equipe e ela o viu flertar com uma mulher loira e dos olhos azuis, ela só queria ser queimada viva, ela achou que não seria pior do que seu amor não correspondido. 

Ela o evitou todos os dias depois disso, com desculpas esfarrapadas, dores de cabeça, que ela tinha cortado a cafeína, que ela não estava com fome, que ela tinha um encontro e até mesmo TPM. Ela só queria dar um tempo dele, ela não aguentava mais sentir como no ensino médio, apaixonada pelo cara do time de futebol e ela sendo a nerd feia e cheia de acnes. 
Então ela fez o que foi necessário para ajudar seu coração, ela queria dar um tempo a ele. Um tempo para parar de ser chutado, rasgado, perfurado e outras formas de ser machucado. Ela foi até Hotch com uma pasta na mão e jogou a em cima da mesa. Ela pediu férias. Ela nunca pensou que chegaria a tal ponto, mas ela só precisaria ficar longe dele. 

Só que... com toda a sua angústia, Emily não estava vendo com clareza. Ela só estava vendo o reflexo de seu próprio sentimento obscuro. Ela não via que ele estava triste por ela ter se afastado, que toda vez que ele abria a porta para ela, era porque queria arrancar um pequeno sorriso dela, que sua parte preferida do dia era quando eles estavam juntos, que ele se sentava ao lado dela na volta só para ela dormir no ombro dele. Ele estava apaixonado e ela não enxergava isso. E quando ele assinou suas férias sabendo que era para se afastar dele, ele quis socar a si mesmo, porque ele tinha certeza que a razão dela se afastar foi algo muito estúpido que ele fez.

Emily escolheu apenas trinta dias de férias, mas se ela quisesse evitar Aaron por dois anos, ela teria férias o suficiente para cobrir isso. Mas ela achou que trinta dias bastava. Enquanto ela resolveu sair do país para visitar seus pais, Aaron ficou mergulhado em uma depressão profunda. Ele começou o processo novamente de deixar a barba crescer, ele não dormia, quando ele não estava no escritório atolado em papelada, ele estava no estande de tiro ou em um bar. Sim, diferente de quando ele se divorciou com Haley, ele agora bebia praticamente todos os dia, sempre chegando de ressaca de manhã cedo. Ele passou a ser desatento em campo e quase foi morto por um Unsub com uma faca. Ele escutou Dave perguntar o que diabos ele estava fazendo, Derek dizer que ele estava sendo irresponsável e viu momentaneamente o olhar assustado de Spencer.

Mas ele só conseguia pensar em Emily, ele a tinha perdido. Perdido sua melhor amiga, e seu possível grande amor. Ele não viu mais significado naquele trabalho idiota que roubou seu casamento e sua segunda chance. Nesse cenário, estava faltando apenas uma semana para Emily concluir suas férias.

Adivinha para onde ele foi naquela noite? Se você respondeu casa está errado, mas se respondeu bar, acertou em cheio. Foi mais ou menos aqui que tudo começou a desmoronar.
Nesse dia ele encontrou Haley. Pode ver onde vai chegar, não é? Ele bebendo, ela bebendo, eles flertando bêbados é igual a...? Sim, sim, é igual a sexo com ex. Mas não ficou só nisso. Quando Aaron e Haley terminaram suas atividades no quarto estava chovendo forte, mas para surpresa e decepção de todos os envolvidos a campainha tocou. E adivinha só quem estava molhada, quebrada e praticamente desidratada de tanto chorar esperando na porta? Sim! Era Emily!

— Desculpa bater tão tarde, Hotch, mas eu precisava vir. Eu não aguento mais ficar socando sentimentos para debaixo do tapete e fingir que ele não estão lá...- as lágrimas dela se misturavam com a água que caía do cabelo molhado dela.

— Emily...- Hotch disse sabendo que não era uma boa hora para revelações. 

— Por favor deixa eu falar.- ela disse chorosa - Por dois anos, Aaron, por dois anos eu tenho sentimentos profundo por você, por dois anos te amei em segredo. Foi por isso que eu me afastei, eu sabia que não poderíamos acontecer, tínhamos uma amizade e você era meu chefe. Eu sabia que a natureza dos meus sentimentos iria arruinar um dos dois, então escolhi arruinar nossa amizade, ela era recente e não tinha muito valor para você, mas a unidade sim, ela era importante para você. Você viveu anos sem minha amizade, viveria agora também. Mas sem a unidade, eu não tenho certeza se você conseguiria viver sem ela. E bem,- ela baixou a cabeça para falar, ela não queria olhar nos olhos dele e ver que era verdade o que ela estava prestes a dizer- não é como se você tivesse sentimentos por mim também.

— Emily, me escute.- mas ela já estava sacudindo a cabeça.

— Eu tinha que te dizer isso, guardar tudo isso estava me matando. E não se preocupe com o constrangimento no trabalho, estarei dando entrada na minha transferência semana que vem.

— Não. Emily, por favor não faça isso. Eu também tenho...

E por um momento Emily teve esperança, mas foi bem, bem curto. Foi tirado dela quando ela escutou:

— Aaron?- uma voz familiar vindo de dentro - Quem é?

Então ela viu. Ela viu Haley usando a camisa de Aaron, o cabelo estava bagunçado e outras evidências de que eles tinham acabado de fazer sexo.

Emily se sentiu uma idiota. E com razão, qual mulher não se sentiria assim depois de ter rasgado o coração para ele e descobrir que ele não tinha desapegado da ex.

— Não é o que está pensando.- ele disse em pânico.

Ela deu um riso irônico.

— Não, claro que não, então você e sua ex não acabaram de dormir juntos?

— Sim, mas...- ele saiu do apartamento e fechou a porta não se importando com Haley - não estamos juntos.

— E o que isso diz sobre você? Quer saber, você não me deve explicação, é a sua vida. Mas, - ela engoliu o nó da sua garganta - eu estaria mentindo se dissesse que não tinha esperança. Que talvez você me dissesse que também tivesse sentimentos por mim, que não ligava para as regras e então finalmente iríamos acontecer. Isso é o que acontece com uma mulher que tem esperança, vive em uma tristeza profunda.

A vida poderia ser pior? A resposta é sim, eu vou te mostrar mais na frente.

— Mas agora tenho uma resposta, não fomos feitos para ficar juntos. Tenha uma boa vida, Aaron.

Depois que Emily foi embora, ele expulsou Haley. Sim, ele a mandou ir na chuva. Não o martirize, ele tinha acabado de partir o coração da mulher que ele amava, ainda tinha que aguentar seu próprio que estava muito quebrado. Pobre homem estúpido.

Na semana seguinte, Emily não teve tempo de entrar com o pedido de transferência graças a um caso que tomou duas semanas e mais outro que lhe tomou mais uma. Então Aaron recebeu uma ligação quanto estavam se preparando para subir.

Era Haley, ela ligou para dizer que estava grávida.

— De quem?- Dave perguntou chocado.

— Meu.- disse somente.

— Seu?! Como diabos isso aconteceu?!

Aaron olhou para Emily e ele não sabia que podia ver ainda mais dor do que naquela noite em que ela foi ao seu apartamento. Ele estava errado, ela podia carregar muito muita dor consigo e deixar escurecer seus olhos.

— Aconteceu algumas semanas atrás, no dia em que quase... - morri, era a palavra que ele ia usar - vocês sabem. Eu saí para beber e encontrei Haley. Então...

— Santo Deus, Aaron! Você não conhece um negócio chamado camisinha?- Dave gritou não se importando se pessoas do jatinho ou do outro lado do mundo escutavam.

— Nós usamos!- Aaron gritou de volta - Mas infelizmente as camisinhas estouram!

Vendo que Aaron já tinha problemas demais, Emily decidiu não pedir transferência, ela achou melhor adiar até o filho dele nascer.
Após duas semanas sabendo que iria ser o pai do filho de sua ex-mulher, Aaron não ficou depressivo, ele estava triste? Sim, mas não como nas outras vezes. Dessa vez ele ficou irritado, mal humorado, exigente e muito bruto. Emily viu que precisava entrar em ação. Ela comprou dois café e foi para o escritório dele. Eles não eram melhores amigos como antes, mas ela nunca lhe negaria ajuda, ela ainda o amava.

Ela entrou sem bater.

— Saia.- ele disse rudemente sem olhar para cima, mas ele sabia que era ela.

— Não.- ela disse simplesmente colocando o café na mesa e sentando na frente dele.

— Prentiss, saia enquanto eu estou sendo educado.

— Hotch, - ela usou o mesmo tom de desdém pronunciando o nome dele - eu já disse que isso não vai acontecer. Agora olhe para mim.- ele não fez - Droga, Aaron! Olhe para mim!

— O que você quer?- ele disse subindo finalmente o olhar. Ele estava fumegante de raiva.

— Haley está grávida e o que você está fazendo além de ser um idiota?

Ah, ela só pode está brincando!

— Você vai ser pai, Hotch, você não compreende isso?- ela falou com emoção - Ter um filho é uma benção e o que você estava fazendo sobre isso? Como está se sentindo sobre isso?

— Por que você se importa?- ele disse baixinho e grosseiro - E o que você está fazendo aqui? Você não ia embora?- ele pegou o café e bebeu, o líquido preto desceu queimando sua garganta.

— Eu me importo com você.- sua voz falhou no final. Essa frase quebrou um pouco da armadura dele - Um filho, Aaron, é um filho.- os olhos dela umideceram - Você devia está feliz, grato por ser capaz de procriar, por ter um pequeno de você que vai te chamar de pai. Você vai ser o herói dele, o exemplo dele. Quando ele estiver na escola ele vai dizer para todo mundo que seu pai é do FBI, vai dizer que tem o pai mais incrível. Já pensou nisso? Já pensou que se for um menino ele vai ter as suas covinhas e se for menina ela vai o teu sorriso que é totalmente estonteante?

Ela viu quando as palavras o tocaram, quando finalmente ele começou a entender. Ele não desviou os olhos dela. Ela abdicou da sua própria saúde mental para fazer ele se sentir melhor, é por isso que ele a amava.

— Haley também precisa de você.- dizer isso doeu mais do que ela imaginava - Quantas consultas você já foi com ela? - ela viu que a resposta era de nenhuma consulta - Ela precisa de você agora, porque ela com certeza está assustada. Ela vai chorar, se sentir desconfortável e sentirá dores também. Ela vai se sentir gorda e vai precisar que você diga que ela está linda como sempre foi. Ela vai precisar que faça massagem nos pés dela. Mas você está ocupado demais sendo um embuste e esse não é o Aaron doce que eu tive o prazer de conhecer. Meu Aaron não é esse cara grosseiro e mal humado.

Se ele não a amasse há anos, ele passaria a amá-la agora. Mesmo ela tendo externado seus sentimentos por ele, aqui está ela dizendo para ele ir para outra mulher porque ela precisava mais dele. Como ele deixou Emily escapar por entre os dedos? Porque ele não disse nada antes?

Meu Aaron, ela disse.

— Emily, você tem que me deixar explicar o que aconteceu naquela noite.

— Não, obrigada. Estou muito feliz em não saber detalhadamente o que você e Haley fizeram naquela noite.

— Não é isso.- ele disse tão suavemente que a assustou - Eu estava triste. Você estava me evitando, não estava mais falando comigo...

— Por favor, pare de falar. Não faça isso comigo. Não me deixe pensar que você sente algo por mim.

— Eu sinto. - ele pronunciou as palavras com toda sinceridade que conseguiu juntar - Acredite você ou não, mas há um tempo você é a última pessoa que penso antes de dormir e a primeira que penso quando acordo. Eu sinto saudades de conversar com você, de rir com você, de almoçar com você. Quando você se afastou foi doloroso e me dói saber que você pensava que nossa amizade não era importante para mim. Foi doloroso saber que perdi mais uma relação para esse trabalho. Ficar com Haley foi um escape, eu estava sofrendo por perder você.
— Para de falar, Aaron.

— Não! Você tem que escutar que você não é o único que está apaixonado há anos. Eu estou apaixonado por você, Emily, e ficar longe de você foi mais doloroso do que qualquer tiro que eu levei.

— Você vai ter um filho, dedique-se a ele. 

— Emily...

— Boa sorte, Aaron. Você vai ser um ótimo pai.

Não vamos acontecer, foi o que ela quis dizer.

Depois de ser desiludido por Emily, ele passou a dedicar-se a Haley e ao seu filho. Ele parou de ser rabugento, e passou a ser o Hotch normal. O chefe frio e habilidoso no trabalho e o homem bom e gentil fora dele. Aaron foi a todas as consultas possíveis com Haley, e quando ela tinha desejos ele fazia seu melhor para conseguir, mesmo que fosse 1:00h da manhã. Ele fez massagem nos pés dela quando ela reclamavam que eles a estavam matando. 

Era um menino. Eles iam ter um menino. 

Como os dois moravam em apartamento agora, eles concordaram que seria melhor Haley se mudar para o apartamento dele quando ela completou oito meses. 

Emily o observava de longe. Via a animação de Hotch quando se aproximava do nascimento. Via quando ele falava disse com os colegas de trabalho, dizendo que na noite anterior o bebê tinha chutado e ele tinha sentido. E claro, ele contou para todos que ia ter um menino. 

Uma certa noite, já se passava das nove, estavam só Hotch e Emily no escritório. Emily tentava terminar a papelada do dia seguinte para que talvez pudesse sair mais cedo no outro dia. Quando ela olhou para cima viu um Hotch atônito e ofegante. 

— O que aconteceu?- ela perguntou preocupada.

— Haley...- ele conseguiu dizer enquanto tentava e lembrar de como respirar.

Emily logo foi tomada por preocupação. Pensamentos horríveis passou pela sua cabeça, talvez tenha sido o trabalho ou sua infeliz vida que a fez pensar assim, tão pessimista.

— Ela entrou em trabalho de parto.- ele conseguiu sorrir.

— Oh meu Deus, Hotch!- Emily disse animada, como não poderia, era uma criança. - Quer que eu te leve ao hospital?

— Na verdade, quero sim.

Enquanto Emily levava Aaron para o hospital, ela sentiu seu coração apertar angustiadamente. Ela pensou que fosse a natureza ruim dela que a fez ter inveja do que eles estavam prestes a ter. Então ela tentou deixar para lá.

Quando Aaron estava na sala de parto tentando de alguma forma ajudar Haley colocar força, ele escutou algo que nunca iria esquecer:
— Pare! Não empurre, o cordão está enrolado no pescoço do bebê.

Os dois entraram em pânico. Quem não entraria? 

Dito isso, a médica disse que precisaria fazer uma cesariana, era o mais seguro a se fazer. Exceto que não era. 

Toda equipe já estava lá antes mesmo deles entrar na sala de parto, Emily havia avisado e lógico que todos apareceram. Eles olharam para cima para ver uma expressão preocupada e assustada no rosto de Hotch.

— O cordão está enrolado no pescoço do bebê, eles vão ter que fazer uma cesariana.

A angústia no coração de Emily aumentou, ela não gostou disso.

Enquanto esperavam, Aaron se isolou um pouco da equipe não muito distante, apenas uns dois metros. Ele estava sentado em um fileira de cadeira mais distante, cabeça baixa, o pé inquieto e sua preocupação era tão densa no ar que dava para apalpar se quisesse. Emily hesitou em se aproximar, porque você sabe, toda aquela coisa de abrir o coração, de dizer que nunca iam dar certo, torna tudo muito estranho. Mas ele precisava dela. E o que ela fez? Ela se aproximou e sentou ao lado dele. Ele não olhou quando ela sentou, ele já sabia que era ela. Emily não pensou muito antes de cobrir a mão dele com a dela. Ele também não olhou quando ela fez isso, apenas virou a mão deixando a palma para cima e entralaçou seu dedos nos dela. Eles ficaram assim até...

— Aaron Hotchner?- a médica chamou.

— Sim?- ele falou levantando e puxando Emily junto.

— Podemos conversar a sós?

O pânico se alastrou. Ela não estava com cara de boas notícias. 

Ele olhou para Emily e depois para médica.

— Ela pode nos acompanhar.- ele se referiu a Emily. 

— Como quiser.- a médica não ia tirar o seu apoio, ele iria precisar do máximo possível. Quando estavam em particular ela começou.- O bebê está bem.- os dois respiraram aliviado - Ele é muito saudável, está com o peso ideal é logo poderá ir para casa.

— E Haley?- ele perguntou, inconscientemente apertando a mão de Emily.

— A cirurgia teve complicações. Houve uma hemorragia e fizemos de tudo para conter. - ela fez uma pausa - Mas infelizmente não conseguimos conter. Ela não sobreviveu.
Ele parou de escutar depois disso. Ele só escutou uma microfonia e sentiu seu mundo girar. Ele não acreditou. Ele não acreditou que Haley estava morta. 

Emily gritou seu nome várias vezes, mas ele não escutou. Ele estava perdido. Parecia estar no fundo do poço, mais do que das outras vezes.

Haley está morta. E ele não parava de pensar que a culpa era dele. Foi por não conversar com Emily sobre seus sentimentos. Foi por agir sem maturidade e quase morrer. Foi por ir à um bar e ficar bêbado. Foi dormir com Haley. Se ele tivesse feito tudo diferente não estaria tão fundo nesse poço. Ele poderia está com Emily, ele não dormiria com Haley e ela não engravidaria, e ela não morreria.

O que eu fiz da minha vida? Era o que se repetia na cabeça dele.

— Aaron!- a voz de Emily finalmente chegou à seus ouvidos.

Ele não falou nada, apenas a olhou, sua boca tremulou e ele a puxou para um abraço, enterrou o rosto em seu pescoço e começou a chorar. Ela não disse nada, apenas tentou não chorar também enquanto acariciava as costas dele na intenção de acalmá-lo um pouco. E quando a médica perguntou se ele queria ver seu filho, ele disse que não.

Mas tarde, uma enfermeira foi até ele novamente e perguntou se ele não gostaria de vê-lo. Ele negou novamente. Emily já viu isso antes, transferência de raiva e culpa para o filho quando a mãe morria no parto. Mas ela jamais imaginou que Hotch fosse ser esse tipo de pessoa. Mas ela também não estava julgando ele.

— Você se importaria se eu fosse vê-lo? - Emily perguntou cautelosa e ele apenas deu um aceno de tanto faz.

E foi assim por quase duas semanas, Emily ia visitá-lo, ela dava mamadeira, ela dava banho, trocava, pegava no colo e às vezes até fazia ele dormir. Ela se certificou em saber como devia alimentá-lo sem o leite materno e quais outros cuidados deveriam ter. O bebê estava sem a mãe e como Aaron não estava querendo vê-lo nem pegá-lo, ela sentiu a obrigação de cuidar dele. Ele não tinha nome. Pobrezinho, Emily pensava.

Quando finalmente o levaram para casa, Emily perguntou a Hotch como iria chamá-lo. Ele não respondeu. Apenas saiu para o quarto dele.
O que ela ia fazer? Ele pensou. Ela não poderia deixar o bebê com Aaron, ele não estava preparado.

— Hotch?- ela bateu na porta e ele não respondeu - Aaron?- silêncio novamente - Eu queria saber se você se importaria se eu dormisse aqui esta noite, para te ajudar com o bebê.- ela acrescentou o último 'te ajudar' apenas parecer pocessiva com o bebê, afinal ela não era nada dele. - Eu posso ficar no sofá.

— Tudo bem.- ela escutou ele dizer.

— E Aaron? - ela acrescentou, um pouco relutante.

— Sim, Emily. 

— Eu tenho que ir até o estacionamento, deixei minha bolsa no seu carro... - ela faz uma pausa, pensando se era uma boa idéia acrescentar as palavras, como posso dizer, que são "sensíveis" no momento - Você vai ficar bem aqui... sozinho.... com o bebê? - ela fechou os olhos fazendo uma careta, esperando uma resposta grossa e mal humorada que ele tem dado a todos.

— Eu vou ficar bem.

E quando ela saiu, ela fez uma oração silenciosa para que o recém nascido dormindo, permanecesse dormindo. Ela foi ao carro e voltou o mais rápido possível. Em seguida ela tomou banho e ajustou o alarme no celular para alimentar o bebê na madrugada. Felizmente dia seguinte seria domingo, isso dar mais tempo para ela e o pequeno garotinho, e mais tempo para ela tentar fazer com que Aaron pelo menos segure seu filho, ela sente que esse é o primeiro passo para ele superar, pelo menos um pouco, porque ninguém nunca supera a morte de alguém querido. E ela não podia cuidar dele o tempo todo, de qualquer maneira.

Depois do banho ela foi até ele novamente. 

— Aaron? - ela bate sutilmente com as dobras do dedo indicador na porta. Ele não respondeu. Então ela arrisca. Ela leva os dedos até a maçaneta e a gira. Aberta, bingo! Com a porta agora aberta, ela pode ver a figura dele sentado e curvado na cama. Ela já havia tomado banho. - Ei. - diz ela suavemente tocando o ombro dele quando aproximou. Ele pulou um pouco, não esperando a companhia dela.

— Ei. - ele força um sorriso, não com dentes, é claro, ele não tem ânimos para um sorriso assim - precisa de alguma coisa?

Ela senta relutante ao lado dele, mantendo um espaço entre eles.

— Você não quer comer alguma coisa? Tenho certeza que você não almoçou.

Ele levanta uma sobrancelha divertida.

— Você está cozinhando? - ele sabe que a cozinha não é o seu forte.

Ela ri.

— Não, claro que não. Foi por isso que vim atrás de você para começar. - ele olha para ela com sorriso, esse parece ser verdadeiro - Sabe, porque é você que sabe cozinhar, mas se não quiser, tudo bem, eu sobrevivo uma noite sem jantar, certamente não é a primeira e nem será a última.

Ele riu um pouco, só um pouco, das divagações dela.

— Tudo bem, mas eu não estou com vontade de cozinhar. O que acha de uma pizza? - ele carinhosamente e inocentemente pousa a mão no joelho dela.

— Pizza é uma boa ideia.

— Com cerveja ou refrigerante?

— Refrigerante. Cerveja não é uma boa ideia, sabe, eu tenho que levantar de madrugada para alimentar o....

— Refrigerante então. - ele não a deixou terminar.

Enquanto eles jantavam pizza com refrigerante, quase parecia com os velhos tempos, quando eles saiam frequentemente, mas nada era como antes. O bebê no quarto é uma prova disso. Ela conseguiu arrancar risos e sorrisos aqui e ali dele. Depois de Emily lavar a louça mínima, por insistência dela, eles foram assistir um pouco de TV. Aaron já havia levado travesseiro e cobertas para ela, nas quais eles acabaram juntos debaixo delas enquanto assistiam algo na televisão. 

Quando terminaram com a TV, ambos exausto, eles decidiram que era hora de dormir. Aaron por duas vezes insistiu em ficar no sofá para ela ficar com a cama dele, ela negou, ele não ficou surpreso com isso.

Aaron dormia confortável em sua cama quando foi acordado por um choro de bebê. Ele abriu os olhos no escuro e respirou fundo na cama, mas então o choro cessou. As sobrancelhas dele enrugaram, até que ele se lembrou, Emily. Ela fez isso.

Por algum motivo ele levantou e ficou parado em frente a porta fechada. Ele colocou a orelha um pouco mais perto da porta e que ouviu fez seu coração alegrar e aperta ao mesmo tempo. Emily falava com o bebê.

— Você é um garoto forte, sabia disso? Sim, você é. E você já tem todo o meu respeito e ocupa um grande lugar no meu coração. - Hotch não viu, mais o bebê pareceu se aninhar a ela ainda mais - Você tem saudades da mamãe, não é? Eu percebo isso pelo jeito que você chora. Ela era uma boa mulher, e não tenho dúvidas que ela te amava. - ela respirou profundamente - Seu pai também sente falta dela. E falando sobre seu pai, não se preocupe, eu também não tenho dúvidas que ele te ama.

Do lado de fora do quarto, Aaron sente seu olhos queimarem, as palavras dela tendo um grande feito sobre ele.

— Ele é uma cara bom. Ele foi meu melhor amigo por um tempo, mas aí as coisas ficaram complicadas. Então se eu fosse você, eu não escolheria crescer, o mundo é cruel quando você não é mais uma criança. Sabe o que eu mais gosto no seu pai? - ela fez uma pausa, como se esperasse que ele respondesse - As covinhas dele. Espero que tenha elas também. - ele terminou a mamadeira - Bom garoto, comeu tudo. - ela o colocou na vertical e o pegou contra o peito, e o colocou para arrotar - Sabe garoto, - ela falou em um tom divertido - foi bom conversar com você, você é um bom ouvinte. - ela respirou fundo, não pela primeira vez - Eu realmente gostaria de te chamar por um nome, "garoto" é muito impessoal, não acha? - e como se ele estivesse respondido, ela continua - É, também achei que você pensava assim. Agora, o que você acha de voltar a dormir? 

Aaron tomou isso como uma deixa para sair, ele sabia que Emily saíria logo e não queria ser pego, afinal ele escutou a conversa privada dela com o bebê.

Na manhã seguinte, as palavras de Emily ainda ressoavam na cabeça dele. Eles tomavam café quando ele finalmente disse:

— Jack.

— O quê? - ela diz, não tendo certeza se escutou algum som saindo dele.

— Eu e Haley concordamos em chamá-lo de Jack. Jackson, para que pudéssemos chamar de Jack.

Emily vendo sua progressão com o filho, ela não se conteu e foi até o outro lado da mesa onde ele estava sentado. 

— Vem cá. - ela estava com os braços abertos para recebê-lo. Ele não recusou, e de bom grado a envolveu pela cintura quando ela passou o braços ao redor de seu pescoço.

Mais tarde naquele dia, Emily decidiu aumentar um pouco a aposta. Ela estava sentada no sofá quando Aaron passava, provavelmente para ir à cozinha.

— Ei, - ela o chamou e ele olhou - precisamos conversar.

Aaron engoliu um nó, geralmente essas palavras nunca vem acompanhado de algo bom. Ela deu um tapinha no sofá ao lado dela e ele recebeu isso como um convite para sentar. Ele ficou quieto esperando que ela voltasse a falar.

— Você gosta de mim, não gosta? 

— Emily, onde você quer...

— Apenas responda a pergunta, Aaron. 

— Sim, eu gosto de você. - ele responde suave e sincero.

Ela parou e respirou um pouco, então pegou a mão dele e entralaçou na dela.

— Eu sei que nossa amizade não é a mesma de antes, mas mesmo assim... - ela cobriu as mãos entrelaçadas com sua mão livre - você faria algo por mim?

— Sim. Faria qualquer coisa por você.

— Isso é uma promessa? - pergunta ela apreensiva, quase apelativa.

— Sim.

— Fique aqui, eu já volto. - ela levantou e desapareceu no corredor.

Quando ela voltou, estava com Jack nos braços. Ela sentou novamente ao lado de Aaron.
— Você pode segurar seu filho?

— Emily...

— Você prometeu. - apontou ela.

— Você me encurralou. - acusou ele.

— Por favor, Aaron. 

Ao olhar para ele, ela percebeu que tinha pegado ele. Apesar de aparentemente não está de acordo, ele gosta da reputação de que quase nunca quebra uma promessa, e ele não queria perder mais pontos com ela.

Emily se aproximou mais dele e o ajudou com o bebê, dizendo como devia deixar os braços e como segurar a cabeça.

Aaron logo foi invadido por todos os sentimentos que ele evitou nas últimas semanas. Ele olhou para o filho e perguntou como algo tão pequeno pode tirar dele tanto amor. Olhando para Jack, Aaron se perguntou porque ele estava culpando o filho pela morte de sua mãe. Ele praticamente amaldiçoou o nascimento do seu filho com esse sentimento, o garotinho nos seus braços não tinha culpa e muito menos intenção de levar sua mãe desse mundo.

— Ele tem dedos tão pequenos. - Aaron diz maravilhado.

Emily já estava lutando contra as lágrimas enquanto olhava os dois. Ela sabia que esse era o primeiro grande passo para que Aaron afastasse toda a atribuição de culpa ao filho.

Depois disso Emily o ensinou as outras coisas necessárias para cuidar de Jack. Como alimentação, troca de fralda, banho, os horários de dormir... essas coisas.

Ao longo dos dias, semanas e até meses, Emily recebia uma ou duas ligações de Aaron, às vezes um pouco desesperado, às vezes muito desesperado. Como a primeira vez que ele deu banho nele sem ela. Ele ligou para ela dizendo que não conseguia, que Jack era tão pequeno e suas mãos tão grande, que ele tinha medo de quebrá-lo. Ela arquivou isso para poder rir depois, essa seria uma história engraçada futuramente.

Também teve a primeira noite deles sem ela. Jack chorou muito e Aaron um homem sem experiência, quase chorou junto.

— Acho que ele sente sua falta. - ele disse  a ela enquanto tentava fezer Jack parar de chorar - Além das enfermeiras, você foi a única que deu colo para ele. Ele sente sua falta.

— Isso é bobagem. - zombou ela - Segure ele na posição vertical contra o peito, segure a cabeça e o bumbum. Viu, simples. - ela disse quando o choro de Jack parou. Alguns segundos depois ele estava chorando de novo.

— Emily...- seu era de desespero.

— Tudo bem, estou indo. Meu apartamento não é muito longe do seu, de qualquer maneira.

E quando ela chegou e o pegou nos braços, Jack parou de chorar quase imediatamente. Ela começou a falar com ele e ele foi acalmando, e logo depois dormindo.

— Você é boa com ele. - Aaron segundos depois de ela colocar Jack no berço.

— Você também.

Quando Jack tinha dois meses, em um dia não especifico, o garotinho acordou o pai várias vezes com choros escandalosos, Aaron se perguntou como uma criatura tão pequena podia fazer sons tão alto e ensurdecedor. Então ele fez a única coisa que estava programado a fazer.

— Prentiss. - Emily atendeu o telefone ainda morta de sono.

— Oi, sou eu. Desculpa te acordar, mas acho que tem algo de errado com Jack, ele já acordou pelo menos quatro vezes com choros estridentes, eu não sei o que fazer.

Emily em um segundo já estava desperta, levantando da cama e procurando algo para substituir seu pijama. 

— Eu já estou a caminho.

Aaron atendeu a porta com Jack nos braços, e quando Emily olhou para o garotinho soube exatamente o que estava acontecendo.

— Ele está com cólica.

— Como você faz isso? - ele perguntou boquiaberto - Você olha para ele e recebe uma resposta divina?

Ela riu. 

— Acho que é coisa de mulher, afinal tudo em nós gira em torno da maternidade. - ela disse enquanto pegava Jack e o levava para o quarto. 

Chegando ao quarto ela coloca ele no trocador fraldas e começou a movimentar as perninhas dele como se andasse de bicicleta, em seguida massageando a barriga dele cuidadosamente, nunca deixando de falar com ele. Jack começou a sorrir olhando para Emily, parte porque ele gostava muito da morena em sua frente e parte porque ele estava soltando gases, aliviando a pressão na barriga.

— Você é natural, sabia?

— O que você quer dizer? - ela perguntou olhando ligeiramente para ele e voltou para Jack novamente, continuando a massagem.

— Você é natural, como mãe, eu quero dizer. Você pensa nisso?

— Sim. - ela olha para ele com um sorriso - Mas eu precisaria de um parceiro - ela não ousa olhar para ele - e isso leva tempo para conseguir. Eu não tenho esse tempo, não estou ficando mais jovem, meu relógio biológico está parando, em alguns anos não poderei mais gerar um filho.

— Sinto muito.

— Não sinta. Não é culpa sua. Tire sua camisa. - ela simplesmente diz.

— O quê?

— Apenas tire, Aaron. - diz ela com seu jeito mandona de sempre -  Tire e sente na cadeira de balanço. - ela estava tirando a pequena camisetinha que Jack vestia, depois ela o pegou e o levou até Aaron - Coloque a barriguinha dele contra sua pele, vai ajuda-lo a dormir. - Aaron fez o que ela disse - Pele com pele será bom para ele. Eu vou deixar vocês sozinhos, te espero no sofá.

Depois que Jack dormiu, Aaron a encontrou onde ela disse que estaria. Sentada com os pés dobrados no sofá e os braços cruzados sob o peito, fazendo exatamente nada, parecia perdida em pensamentos. 

— Obrigado, eu não sei o que faria sem você.

— Tenho certeza que você encontraria um jeito.

Ela tinha uma fé nele que ele nunca entenderia.

Ele sentou ao lado dela, perto demais para ser platônico. Então ele segurou o queixo dela e virou seu rosto para ela olhá-lo, segundos depois ele estava se inclinando e juntando os lábios dele nos dela em um beijo casto, ela resistiu no começo, mas logo se deixou levar, ela queria isso a tanto tempo que não podia fazer nada além de devolver. 

— Aaron...

— Eu sei. - ele já sabia o que ela ia falar - Eu sei que a morte de Haley é recente, mas não estávamos comprometidos.

— Parece errado.

— Eu também sei disso, e sei que algumas pessoas também achariam. Podemos manter isso em segredo por enquanto.

— O fato de ter que esconder parece mais errado ainda.

— Mais não meteríamos em segredo de qualquer maneira? - ele estava certo e ela sabia, ele ainda era o chefe dela - Eu gosto de você, e gosto de acreditar que você também gosta de mim. - ela não fala nada, apenas toca o rosto dele - Você gostaria de tentar?

— Sim, eu gostaria disso. - ela sorriu.

Foi assim que eles iniciaram uma nova fase de suas vidas.

Emily sempre teve o trabalho de mostrar fotos de Haley para Jack, desde de quando ele era um bebê, ela queria que ele se lembrasse da sua mãe. 

Essa parte da história que vou contar, é minha parte favorita, acho que pode ser a sua também.

Quando Jack tinha um pouco mais de um ano e estava aprendendo a falar, ele e Emily estavam no quarto de Aaron, havia fotos espalhada por toda a cama, eles faziam o que sempre faziam, Jack olhava atentamente para Emily enquanto ela explicava as histórias das fotografias.

— Essa é sua mamãe no dia do casamento dela. Ela não está linda?

— Mamãe! - Jack gritou animado e Emily sorriu, era a primeira vez que ela escutava ele dizer a palavra. Ela viu ele chamar várias outras, principalmente papai, mas nunca essa.

— Isso mesmo, querido, é a mamãe.

— Mamãe! - ele gritou de novo, mas então ela percebeu que ele não olhava para fotografia em sua mão, mas sim uma específica espalhada na cama, uma dela e de Aaron.

— Não, querido, essa é a mamãe. Aquela sou eu.

Ele bateu com as duas mãozinhas naquela foto específica que eles tiraram no parque em um piquenique. 

— Mamãe. - ele disse novamente.

Os olhos de Emily encheram de lágrimas. Ela não sabe como ele chegou a essa conclusão, mas ele chegou. Aaron entrou no quarto, apenas para ver uma Emily prestes a chorar.

— O que há de errado? - ele perguntou preocupado.

— Jack me chamou de mamãe. - ela levantou rapidamente e foi para o banheiro, ela já estava chorando. Aaron a seguiu.

— Emily? - ele abriu a porta e viu ela com as mão na pia, a cabeça curvada e ela chorava.

— Desculpa. - ela levou a mão à boca para abafar o soluço - Desculpa por isso, eu nunca pedi que ele me chamasse assim, eu não estou querendo tomar o lugar de Haley, é por isso que sempre mostro aquelas fotos para ele, eu não sei como ele chegou a isso.

— Ei, está tudo bem, eu não estou chateado com você. - mas as palavras dele pareciam não ter efeito sobre ela. Ele se aproximou dela e segurou os dois ombros dela - Emily, olhe para mim. Eu sei que Haley é a mãe dele e tenha certeza, eu não vou deixar Jack esquecer isso. Mas você também é. - isso fez com que ela olhasse para ele - Você esteve com ele desde o início, você o alimentou, trocou fraldas, deu banho, deu colo, cuidou dele incontáveis vezes quando ele estava doente... o que eu quero dizer é que você fez tudo que uma mãe faria. Ele tem sorte de ter você, nós temos sorte de ter você.
— Mas não está certo, Aaron, eu sou apenas sua namorada, ele não pode me considerar uma mãe, namoradas vão embora.

Ele sorriu.

— Bem, acho que podemos resolver isso. - ele a deixa no banheiro e sai para o quarto. Ela escuta ele abrir um gaveta e procurar algo. Quando ele volta, ele trás uma caixinha na mão. Ele abre e ela vê um anel - Estava pensando em fazer algo especial, mas o que seria mais especial do que Jack chamando você de mãe?

— Aaron... - as palavras faltaram, os olhos enchendo novamente.

— Você quer passar o resto da vista com dois garotos que são louco por você?

— Aaron, você tem certeza? Estamos juntos somente há um ano.

— Isso é um não?

— Sim.

— Sim? 

— Não. - ela ri por causa da pequena confusão - É claro que eu aceito. - ela se aproxima dele e fica nas pontas dos pés para beijá-lo - Bem, isso torna as coisas mais fáceis para mim. - ele a olha com sobrancelhas interrogativas. É a vez dela de sair e procurar algo em uma gaveta no quarto. Ela volta com uma mão escondida nas costas e depois de alguns segundos ela entrega para ele. É um teste de gravidez. Um teste de gravidez positivo. 

— Você... você está grávida? Como? Quando? - ele está chocado, mas o sorriso não deixa seu rosto.

— Eu descobri hoje. - disse sorrindo - Fiz o teste pouco antes de você chegar em casa. Eu fiquei nervosa, não sabia como te contar, a última vez é carregado de lembranças ruins e não tinha certeza se você queria passar por isso de novo.

— Oh meu Deus, Emily! Vamos ter um filho! - ele a abraçou. 

— Sim. - ela sorriu e riu da alegria dele, com certeza ela se enganou quanto a reação dele - Lembre-se de acrescentar no seu currículo "especialista em estourar camisinha" - o peito dele tremeu em uma risada.

— Eu te amo. - ele disse beijando a têmpora dela.

— Eu também te amo.

Esses são apenas alguns momentos que escolhi para contar essa história, existe mais, talvez algum conte a vocês.  E quanto a Aaron e Emily, é claro que eles são felizes, mas eles não são perfeitos. Claro que eles tem discussões e brigas, claro que tinha dias que eles não trocavam uma palavra um com o outro, porque eles são teimosos, claro que teve dias que eles se perguntaram se fizeram a escolha certa e é claro que no final eles sempre conseguiam resolver, eles se amam demais para deixar o outro escapar.


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