Os dias seguintes foram uma sucessão de preparativos para o retorno à Inglaterra a qual envolvia logísticas de esconderijo, a alta médica de Bucky, além de efetivamente viajar por horas. Wanda ficara absolutamente proibida de ajudar a carregar caixas e demais equipamentos, novos e antigos, para a Quinjet, o que levou a algumas horas de ócio ao final da viagem.

Em dado momento, caminhando pelos arredores enquanto murmurava canções de ninar Sokovianas e acariciava a barriga coberta por um longo vestido, Wanda percebeu a capa dourada de Visão esvoaçando em direção à nave, e rapidamente o seguiu para encontrá-lo no convés, observando um espaço específico que Wanda não pôde evitar de perguntar:

— O que tem aí? – Ao ver que não havia nada, acrescentou: – Ou o que deveria ter aí?

Ela passou um dos braços ao redor da cintura de Visão, olhando para o cinza do painel enquanto aguardava uma resposta. O sintozóide fez um retângulo com os dedos, e disse:

— Os rapazes me contaram que havia um adesivo na Quinjet anterior, perdida na batalha de Sokovia, a qual possuía os dizeres “Jarvis é meu co-piloto”. – Ele novamente fez o símbolo com a ponta do dedo, dessa vez mais devagar. – Seu irmão disse algo que me chamou a atenção quando estive naquele plano astral.

Wanda arqueou as sobrancelhas, olhando em sua direção.

— Eu sempre achei que Ultron era meu pai, porém Pietro chamou atenção para minha visão limitada de família. E disse que Tony Stark se assemelhava mais a um pai que Ultron.

A menção a Tony Stark fez um frio correr a espinha de Wanda, do pescoço até o final da coluna, seguido de um tremor por todo seu corpo. Tony era o homem cuja briga com Steve ocasionara em sua prisão; contudo, Visão não teria motivos para mentir para ela, e, se Pietro dissera isso, certamente era sem a intenção de machucá-la, pois era mais do que óbvio que eles conversariam sobre isso posteriormente. Portanto, antes que Visão notasse seu desconforto, ela elevou as pontas dos lábios em um sorriso.

— Você sabe que não vamos sumir para sempre.

— Se for necessário, nós vamos.

Havia determinação na voz de Visão ao dizer aquelas palavras. Wanda manteve a expressão séria por um instante após escutá-las, e, em seguida, deu um sorriso de canto de boca.

— Não vamos ser reféns para sempre de Tratados que outras pessoas decidiram por nós. Nossos filhos também não. – Ela engoliu em seco. – Um dia, vamos voltar para casa e conversar com Tony novamente. Posso garantir isso.

Visão sorriu sem mostrar os dentes, aproximando-se de Wanda e beijando sua testa. Esta, por sua vez, franziu o nariz em sua direção e riu baixinho, movendo a mão para baixo e entrelaçando seus dedos com os de Visão. Um raio de sol da manhã, quase de madrugada, considerando a hora, entrava pelo vidro frontal e iluminava seus rostos, forçando a moça a fechar os olhos e esconder a face por trás do braço do sintozóide, em igual momento que os mesmos feixes de luz tornavam o brilho da joia da mente ainda mais claro, refletindo no convés e provocando uma áurea mágica por toda a Quinjet.

James “Bucky” Barnes ingressou na nave devagar, temendo atrapalhar o momento, e até pensou em dar meia volta e retornar depois, contudo, Visão virou o rosto em sua direção e sorriu da maneira mais aconchegante possível, para não o deixar ainda mais desconfortável.

— Melhor ir se acostumando. – Wanda gargalhou quando ele terminou de falar. – Pergunte à Natasha o que ela acha sobre isso.

— Vou culpar o Steve por não querer me congelar por pelo menos um século. – Bucky deu em resposta um sorriso sem jeito e balançou a cabeça devagar. – Mas sinto que vou me acostumar rápido com as suas demonstrações públicas de afeto.

— Precisam de ajuda com alguma coisa para a nave?

Wanda se desvencilhou do abraço com dificuldade, e caminhou na direção do novo colega de equipe.

— Não, dona gravidinha, você não pode carregar peso e sabe bem disso. – Disse Bucky. – Em verdade, eu vim chamá-los porque o Rei T’Challa gostaria de se despedir.

O casal deixou a nave na companhia do soldado, seguindo por um amplo espaço até chegar na entrada do castelo; o rei de Wakanda conversava com Steve, abraçando-o em seguida.

— Obrigado por terem vindo. – T’Challa sorriu, pondo as duas mãos ao redor dos ombros de Steve.

— Sou eu quem precisa agradecer por tanto, meu amigo. – Steve balançou a cabeça. – Obrigado por nos receberem tão bem, pelas acomodações... – Com o canto dos olhos, viu Wanda, Visão e Bucky se aproximarem. – ... E pelos cuidados com a minha equipe. Com os meus amigos. – Acrescentou.

— Foi um prazer ajudar. – Respondeu ele enquanto abraçava Natasha, que estava ao lado de Steve com um sorriso no rosto.

Shuri, a princesa do país, se aproximou de Bucky e deu dois tapinhas em seu braço de metal.

— Volte periodicamente para fazermos uma revisão nesse braço. Não é todo dia que eu faço um braço zero quilômetro assim.

Contrariamente ao antigo, o braço de Bucky possuía listras douradas intercaladas com o metal cinza escuro, mostrando ser diferente do antigo, completamente cinza com uma estrela vermelha. Wanda apenas o vira uma vez pessoalmente, durante a briga no aeroporto da Alemanha, até encontrá-lo novamente em Wakanda, e, portanto, não lembrava totalmente dele naquela época, apesar de ter a lembrança vívida de uma estrela escarlate destacada um pouco abaixo do ombro.

— Cuidem-se. – T’Challa abraçou Wanda com cuidado, e pediu a uma das Dora Milaje que trouxesse um pequeno pacote embrulhado com uma fita dourada. – Há um presente para as crianças e um para a mamãe, também.

Wanda abriu o embrulho para encontrar duas roupinhas de cores distintas com estampas infantis, e um sabonete grande, para diversos usos, o qual possuía um aroma delicioso que ela conseguia sentir de longe. Ela sorriu na direção de T’Challa enquanto este se despedia de Visão.

— Muito obrigada pelo carinho. – A moça colocou o presente dentro de uma bolsa onde também levava o totem em formato de urso e algumas lembranças que comprara no país.

— Procurem-nos se houver qualquer complicação, e podemos pensar em marcar um acompanhamento para o seu parto. – O rei de Wakanda tinha o olhar sereno na direção dela, mantando a tranquilidade durante toda sua fala. – Estamos sempre à disposição.

Wanda assentiu enquanto retornava para a Quinjet e se ajeitava para uma viagem que conseguiu ser ainda mais tranquila que a viagem de ida.

~.~

Viajar é um dos maiores prazeres da vida, mas nada se compara à sensação de retornar após um longo período fora.

Quando a Quinjet pousou nos fundos da casa e a gigante porta enfim se abriu, Wanda saiu como se atravessasse o portal do paraíso, praticamente flutuando – e apenas não literalmente o fazendo pelo cansaço tomando conta de seu corpo – até a casa. Abriu a porta e sentiu o cheiro de poeira, feliz por finalmente estar de volta.

Enquanto os demais retiravam o carregamento da nave, Wanda subiu as escadas até o sótão, observando o quarto dos bebês. Agora, sabiam que eram duas crianças, dois meninos; talvez precisassem de mais um berço, ou não, os dois se dariam bem dividindo um berço nos primeiros anos de vida. Se aproximou da cômoda e passou os dedos sobre a madeira, percebendo uma fina camada de poeira enquanto seu sorriso se alargava.

Era bom estar de volta.