O cartão de Monica restava sobre a mesa de cabeceira do quarto dividido por Wanda e Visão horas mais tarde.

A foto da mãe de Wanda também estava próxima, abaixo da lâmpada acesa de um abajur. Visão tomara um cuidado absurdo para não amassar a foto no caminho da casa na Inglaterra até Wakanda, principalmente pela falta de bolsos em seu uniforme original; felizmente não tivera grandes problemas no transporte, e valera a pena pelo olhar gentil dela para a foto quando ocasionalmente movia as pupilas do rosto de Visão para o pedaço de papel fotográfico. Ele pensava em comprar uma câmera, para poder registrar todos os passos da gravidez e do nascimento das crianças e deixá-las a salvo em um lugar físico além de sua memória robótica, incapaz de esquecer.

Wanda tirou a maquiagem com um lenço demaquilante deixado por Natasha sobre a pia do banheiro – curiosamente, ela não aguardava a chegada deles, como ambos tinham pensado, e provavelmente estava descansando junto dos colegas –, além de trocar o longo vestido por uma camisola larga que não exatamente realçava muitas partes do seu corpo. Naquele momento, todavia, certamente o conforto era mais importante.

Visão tinha em suas mãos um livro enquanto deitado sobre o lado esquerdo da cama. Pacientemente aguardava por Wanda enquanto corria os olhos por complexas falas sobre a engenharia de Wakanda, aspectos físicos do vibranium e do que ele era capaz de fazer – apesar de que “filhos” certamente não era algo previsto no livro. Seus olhos logo saíram das palavras organizadas em longas frases e se embaralharam com a linda vista de Wanda, deitando na cama ao seu lado sob o fino lençol. Em todo lugar que ela chegava, o cômodo automaticamente se iluminava com seu lindo sorriso. Mesmo cansada e com as dores da gestação, Wanda continuava sorrindo, e aquilo enchia o coração de Visão de alegria.

— Está confortável? – Perguntou Visão ao que ela se aninhou em seu braço.

— Uhum... – Murmurou Wanda em resposta. – O que está lendo?

O rosto dela estava encaixado entre o ombro e o início do pescoço do sintozóide, e ela gentilmente acariciava a extensão de seu antebraço com a ponta dos dedos.

— Algo sobre tecnologias em Wakanda e usos do vibranium. – Visão fechou o livro e o girou. – A tecnologia dos wakandianos é incrível, Wanda. Você não imagina o que o vibranium é capaz de fazer.

— Ah, pode ter certeza que eu imagino. – Disse ela com uma calorosa risada, acompanhada por Visão.

Um confortável silêncio sucedeu, e Visão, aproveitando da situação, moveu um braço para levantar o queixo de Wanda em sua direção para suavemente beijar-lhe o lábio superior. Foi um beijo calmo, delicado, e ela, surpresa, arregalou os olhos antes de fechá-los pelo átimo de duração do gesto. Após, se encolheu, escondendo o rosto no pijama o qual Visão vestia.

— Está tímida? – Sussurrou ele com um sorriso, que Wanda respondeu mexendo a cabeça afirmativamente. – Isso é muito fofo.

Wanda segurou fortemente o tecido da blusa dele antes de levantar a cabeça sem aviso e beijá-lo, as maçãs do rosto queimando quando ele prontamente respondeu ao ato. As mãos habilidosas dele acariciavam os cabelos compridos de Wanda e suas costas, vez ou outra acariciando a barriga levemente.

— Vizh. – Ela o parou depois de alguns instantes para buscar um pouco de ar.

— Desculpe, Wanda.

— Está tudo bem. – Wanda disse e sorriu. – Posso fazer uma pergunta?

— Claro.

Ela fez uma breve pausa.

— Quando fizemos o ultrassom... Você disse que já sabia. Sobre serem gêmeos. – Uma nova pausa. – Como?

Dessa vez, foi Visão quem se manteve um longo tempo em silêncio. Não havia barulhos do lado de fora, e a luz do quarto não estava exatamente forte, provocando uma sensação agradável de penumbra. Ele abriu a boca uma, duas vezes, sem emitir qualquer som, antes de fechá-la e repensar sua resposta. Wanda calmamente aguardou, recostando-se no travesseiro e sentindo os olhinhos ficarem pesados.

A resposta dele começou a embalar seu sono:

— Eu realmente não sei, Wanda. Eu apenas sabia. – Apesar de confusa, a resposta era verdadeira. – Lembro de sentir os corações dos bebês e desconfiar de serem dois, mas, de alguma maneira, a resposta simplesmente veio para mim. Quando discutimos o nome, imaginei algumas vezes dizer que seriam dois, todavia, por não ter quaisquer evidências, optei por não falar.

Wanda fazia força para manter os olhos abertos, os quais lentamente fecharam quando ela lembrou da conversa com Natasha. A honestidade nas palavras de Visão era impressionante, mais uma maneira de fazê-la se sentir culpada por ainda esconder seus pesadelos.

— Então eu... Wanda?

Ao notar que ela havia dormido, em uma posição confortável para ela e a barriga, Visão sorriu, beijando o topo de sua cabeça e se ajeitando para descansar ao lado dela.

~.~

Na tarde seguinte, os cinco membros dos Vingadores Ocultos caminhavam por um longo corredor no laboratório do Palácio, quatro deles sem saber exatamente para onde iam. Steve Rogers os liderava, caminhando alguns passos à frente enquanto falava algo para T’Challa, elegantemente vestido em duas peças de roupa pretas.

— Obrigada por nos receber aqui, Alteza. – Steve aumentou um pouco o tom de voz. – Em nome da equipe, eu agradeço.

— O prazer é todo nosso, Steve. – O sotaque carregado de T’Challa era charmoso, e ele possuía um lindo sorriso enquanto dava um tapinha nas costas do Capitão América.

Natasha cruzou os braços sobre o peito.

— Para onde estamos indo? – Questionou ela.

Wanda e Visão se entreolharam, porém, assim como Sam, permaneceram em silêncio. Steve olhou para trás e sorriu sem mostrar os dentes.

— Visitar um velho amigo. – Respondeu, enfim.

Dando um passo à frente, Wanda segurou o braço de Natasha, e deixou os demais passarem para ter um rápido momento à sós com ela. Mais cedo, durante o café, acabaram se desencontrando e não foi possível conversarem.

— O que foi, Wandinha? – Perguntou, colocando a mão esquerda sobre o braço de Wanda. – Alguma coisa errada? Está cansada? Desculpa esse passeio do Steve.

Wanda rapidamente negou com a cabeça.

— Não, não. Está tudo ótimo. Só tinha uma pergunta.

— E qual seria?

Caminhando pelo corredor, Wanda fez um esforço para lembrar de detalhes do cartão de visitas de Monica Rambeau.

— Existe alguma ramificação da SHIELD, chamada SWORD?

Natasha coçou o queixo.

— Não que eu saiba, Wanda. E olha que estou na SHIELD há muitos anos, já.

Wanda assentiu, parecendo um pouco chateada.

— Mas eu posso perguntar ao Clint! – Natasha rapidamente acrescentou. – Porém o que causou essa curiosidade?

— Nada! – A outra respondeu. – Absolutamente nada.

Quando chegaram ao laboratório, Wanda percebeu uma figura conhecida sentada sobre uma estreita maca. Bucky Barnes sorriu para seus colegas quando recebeu um abraço caloroso de Steve Rogers. Wanda e ele se viram apenas uma vez, durante a batalha do aeroporto na Alemanha. O rosto dele, ainda abatido, se iluminara ao vê-los, e seus olhos adquiriram um aspecto de surpresa ao ver a barriga de Wanda.

— Você está grávida? – Ele perguntou, recebendo uma resposta afirmativa dela.

— Steve, o que você fez? – Perguntou Bucky, olhando diretamente para ele.

O Capitão América sorriu.

— Olha, não fui eu, não.

Bucky correu os olhos para Sam, parado ao seu lado.

— Não olha para mim. – Sam encolheu os ombros.

Desesperado, procurou por Natasha, que gargalhou.

— Eu realmente não tenho como ter sido a responsável.

Por fim, encontrou seu olhar com o de Visão, que concordou com a cabeça enquanto segurava a barriga de Wanda.

— Eu durmo por alguns meses, e vocês aumentam tanto assim a equipe? – Bucky falou em seguida. – Acho melhor me congelarem mais um tempo.

Todos riram enquanto T’Challa se aproximava.

— Vou deixá-los um tempo com o senhor Barnes. Mas, antes... – Ele esticou o braço, entregando uma folha de papel para Steve. – Saíram os resultados das análises que nos pediram. O símbolo no drone é de uma equipe denominada SWORD. Vocês possuem algum conhecimento sobre essa organização?

Os olhos de Natasha saíram da folha de papel e foram de encontro à Wanda, que engoliu em seco.

Eles não poderiam contar ainda sobre o que acontecera.