Love is blue escrita por Lola


Capítulo 6
Capítulo 6 - Altos e baixos


Notas iniciais do capítulo

Oi meu povo, bão?
Primeiro meus agradecimentos a quem leu e comentou o cap anterior, me deixa feliz até.
Segundo, esse cap aqui funciona como uma ponte pra segunda temporada. Quis resumir como eu imagino que Sara se sentiu a maior parte do tempo nesse primeiro ano, precisando lidar com casos difíceis, a indiferença de Grissom, a solidão em um novo emprego e cidade. Pra mim isso é o mais importante a ser destacado nessa parte da história.
Bom, vamos pro cap então hehe
Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/798892/chapter/6

Capítulo 6 – “Picos e vales”

O café que a ti passei não esfriou,

Está cá dentro, quente, vivo

Cheirando a saudade, a dor, a amor, a ti.

E a xícara ainda espera o pouso de teus lábios, e

Pergunta-me todo final de tarde

Começo de manhã, fim de terça, quinta infinita

Se vens, se ficas, se estás, se és.

Meu coração te guarda com carinho

E quer viver em paz, contíguo, contigo.

Thiago Venâncio.

 

            - Causa da morte: asfixia.

A pequena palavra ficou pairando entre os peritos no necrotério. Grissom olhou brevemente para o rosto de Sara, que se encontrava claramente contraído com a confirmação de Dr. Robbins. Franziu as sobrancelhas em sinal de desentendimento – não entendia porque a mulher estava reagindo daquela forma – eles já tinham uma ideia de que a causa da morte era aquela.

— O ferimento na cabeça? – Sara indagou, com os olhos fixos na mulher que se encontrava sobre a mesa do necrotério.

— Pós-morte. Provavelmente resultante de quando rolou as escadas.

Mais silêncio. Grissom continuava olhando para Sara sob seus óculos.

— Tomei a liberdade de tirar algumas tomografias – o senhor de cabelos muito brancos e ralos, caminhou com certa dificuldade até um grande painel atrás de onde estavam analisando o corpo, indicando várias imagens em um quadro iluminado – o que vocês conseguem ver?

Sara não se moveu, com lábios crispados, e ainda de atenção fixa para o corpo desfalecido da jovem sobre a mesa, respondeu quase em um sussurro inaudível: - Homicídio.

(...)

— Você está bem?

— Estou ótima, Grissom. – Sara respondeu de forma tão fria quanto o tempo estava fazendo lá fora. Forçou um sorriso meio irônico com o canto dos lábios, ignorando os olhos profundamente azuis e pesados que seus supervisor direcionava para ela. Aqueles mesmos olhos que já não transmitiam mais as mesmas descargas de euforia de tempos antes. Eles eram cortantes de mais, imparciais de mais, indiferentes.

— Tem certeza que consegue lidar com isso?

Mais palavras objetivas, sem significado algum para os ouvidos de Sara.

— Não se preocupe Grissom – a mulher estava terminando de retirar o jaleco que usará dentro do necrotério – não vou deixar que meus sentimentos atrapalhem no andamento do caso.

Sem muitas delongas, a morena saiu da sala.

Grissom a acompanhou com os olhos, não exatamente surpreso com o comportamento de Sara, mas talvez bastante desconfortável e apreensivo por não saber como lidar com aquilo. Logo uma fala proferida pela mesma veio viva em sua mente: “Eu queria ser como você Grissom, eu queria não sentir nada.”

Fechou os olhos brevemente e suspirou. Já sentira tanto, de formas tão violentas, que depois de um tempo, seu coração já estava desanimado demais, calejado e ferido, para continuar se importando tanto. O homem de olhos profundamente azuis, por conta própria levantou algumas barreiras muito firmes ao redor de seu coração, sem arrependimentos.

//

Tempos gélidos sopravam sobre os desertos de Las Vegas. A cidade do pecado estava para entrar na época do ano que mais recebia turistas – Natal e Ano Novo. Junto da imensidão de pessoas atraídas pela vontade em arriscar a sorte nos vários cassinos, também vinham noites cada vez mais frias e escuras para a cidade. E não era apenas o clima que recebia tais atributos. Todo o trabalho da polícia parecia ficar mais intenso nessa época, era quase impossível passar mais de dois dias sem alguma ocorrência envolvendo a interrupção de uma vida.

Era uma realidade cruel e triste que diariamente era esfregada e empurrada para a vida dos investigadores do laboratório criminal de Las Vegas. Não era possível fingir desconhecimento sobre a onda de mortes que o fim de ano trazia junto de si. Tantas explicações científicas poderiam ser aplicadas, quanto simplesmente aceitar sem entender. Uma época marcada por grandes festas, regadas por muitas bebidas alcoólicas, não poderiam levar pessoas a caminhos muito diferentes. O exagero e falta de controle, eram um grave defeito humano. A incidência de casos de batidas de carros, junto de brigas domésticas, somadas a acidentes, desentendimentos – competiam fortemente com aquele outro grupo de pessoas que buscava fazer do fim de ano, algo agradável e cheio de vida.

— Terra para Sara Sidle.

A morena piscou algumas vezes, enquanto Nick estava diante de si, sorridente como sempre, estralando os dedos diante seus olhos. Forçou um pequeno sorriso amarelo.

— Hey, garotão – ela depositou sobre a mesinha da sala de descanso seu copo de café, já frio pela demora em beber – hoje não é seu dia de folga?

— Até 1 hora atrás sim – o texano sorridente deu a volta até o outro lado da sala, e começou a encher dois copos de café – Mas o Grissom me bipou sobre um caso que vocês estão trabalhando –

— Ele fez isso? – o tom de Sara saiu nitidamente aborrecido, enquanto interrompia a fala do amigo – eu disse que podia lidar com isso sozinha.

— Você conhece o Grissom, Sara... – ele se voltou para ela, lhe entregando uma nova xícara de café quente – ele também disse que não iria poder te ajudar com o caso porque está terminando as nossas avaliações de fim de ano...

— Imagino.

— Vamos lá, eu sei que gosta de trabalhar sozinha, mas olhe pelo lado positivo – tomou um pouco de seu café, fazendo uma careta ao sentir o gosto em sua língua – acho que se esqueceram do açúcar novamente –

— Lado positivo? – Sara indagou meio impaciente.

— Amanhã é Natal Sara, quanto mais ajuda você tiver, mais rápido terminaremos o trabalho e vamos poder comemorar.

A morena refletiu amargamente as palavras de Nick, tentando encontrar exatamente o que ela tinha para comemorar. Balançou a cabeça levemente, não era hora para aquele tipo de reflexão.

— Ok – tomou um gole de seu café, que já começava a esfriar novamente.

— Vamos lá, me atualize...

— Bom, estou aqui esperando por um mandado, Brass já foi atrás disso faz um tempo – Sara pegou a pasta do caso que estava logo a sua frente, na mesa de descanso. Entregou para Nick. Dentro daquela pasta se encontravam várias fotos da vítima – fotos estas que não precisava rever. As imagens estavam muito bem cravadas em sua mente – o mandado é para obtermos o DNA do marido.

O jovem perito analisou atentamente o conteúdo em suas mãos, lendo também o relatório do legista e sobre a perícia da cena do crime. – Deixa eu ver se eu entendi... – seu rosto se contraiu de forma aborrecida, uma expressão muito parecida com a usada por Sara no necrotério – Vanessa Jackson foi encontrada aos pés da escada em sua casa, e seu marido acionou a emergência, alegando que a mesma havia caído...

— Certo.

— No entanto, a causa da morte foi identificada como asfixia, e o ferimento na cabeça era pós-morte...

Sara balançou a cabeça levemente, em sinal de concordância.

— Além disso, várias foram as tomografias indicando traumas de longa data, em várias regiões do corpo, especialmente no crânio... – a voz de Nick foi sumindo gradativamente, seu tom era irritadiço – Que filho da puta, Sara!

— Não sei qual eram suas expectativas sobre o trabalho, mas pelo que pode ver, não tem muito mistério.

— É claro que ele a matou e depois a jogou da escada para se livrar da culpa.

— Não, Nick. Não vamos nos esquecer que, de acordo com o Santo Grissom, não podemos fazer inferências – seu tom pingava sarcasmos e escorria por toda a sala – precisamos seguir as evidências.

O perito a encarou em silêncio, nitidamente aborrecido. Aqueles eram os típicos casos responsáveis por estragar o dia de qualquer um.

— Droga, Sara...

— Brass já deve estar chegando com o mandado para o DNA do marido, Josh – seu tom se manteve neutro, buscando cumprir com sua promessa em não deixar que seus sentimentos atrapalhassem o andamento do caso – eu coletei algumas amostras de DNA sob as unhas da vítima –

Um celular começou a tocar, interrompendo a conversa. Era o de Sara. Rapidamente ela atendeu e desligou, sorrindo fracamente – Temos um mandado.

— Então vamos pegar esse desgraçado.

Sara sentiu um leve calor aquecer as bordas do seu coração. Nada muito grande, mas estava se sentindo melhor por Nick estar ali com ela, e ver que ele também se importava.

//

Havia sido uma rápida “visita”. Sara e Nick, acompanharam Jim Brass até a casa de Josh Jackson. Foram recebidos de forma hostil e comprometedora. O homem de aparência delicada por trás de seus grossos óculos de grau, mudou de humor tão bruscamente que, para os peritos, aquilo era prova suficiente de sua culpa. Quando soube sobre a investigação estar levando em conta que ele era um suspeito, e não um marido atencioso que acabara de perder a esposa, seus comportamentos agressivos vieram à tona.

— Quem vocês pensam que são para vir até a minha casa me acusar de matar minha própria esposa!

— Eu sou o capitão Jim Brass, e esses são os criminalistas Nick Stokes e Sara Sidle – seu tom era incisivo como de costume – e temos um madado.

— Vou ligar para o meu advogado! Vocês pensam que podem –

— Nós podemos – Jim abanou a pequena folha de papel diante os olhos do homem irritado a sua frente – e caso você não colabore, será um prazer adiantar a sua ida a delegacia para recolhermos o seu DNA lá mesmo, e quem sabe, já ficar por lá.

O olhar que se formou em Josh era assustador, e por um momento Sara sentiu seu coração doer. Olhar para aquele homem diante de si, lhe trazia tantas lembranças dolorosas, lembranças que estava sempre tentando empurrar para algum lugar muito profundo dentro de si.

— Acho melhor o senhor já ligar para o seu advogado – Nick deu um passo a frente, tendo em mãos um pequeno recipiente laranja com um cotonete em sua extremidade – porque nós dois sabemos o que vamos descobrir com isso...

— Vamos lá, abre logo a boca pra que possamos terminar logo com isso.

Josh não se moveu, ficou parado encarando as pessoas em sua porta. Abril a boca minimamente por fim, enquanto segurava no batente da porta com mais força que a necessária. Era nítida uma veia que pulsava em sua têmpora, deixando claro toda sua irritação.

— Muito obrigado por colaborar conosco – o tom de Brass era quase cômico – o senhor não deve se ausentar da cidade, e pode aguardar o nosso retorno.

Sem esperar duas vezes o homem apenas disse, antes de bater a porta: - Vocês vão se arrepender!

— Bom... – o detetive se virou, caminhando de volta para seu carro – tenho um forte palpite aqui comigo...

— Todos temos – Sara advertiu, ainda sentindo aquele sentimentos de desconforto rondar seu coração.

(...)

            Voltaram para o laboratório, e logo deixaram a amostra de DNA com Greg, para ser analisada o mais rápido possível.

— Hey, vamos conseguir pegar aquele idiota, Sara... – Nick apertou o ombro da amiga levemente, percebendo expressões tristes marcarem seu rosto.

— Nós dois sabemos – seu tom não era animado, beirava quase a piedade – não temos nada que comprove realmente que ele a matou – piscou rapidamente, enquanto tentava colocar as ideias no lugar – mesmo que o exame de DNA dê positivo, ele era o marido dela, o advogado vai alegar que é óbvio haverem vestígios de contato... e não havia mais nenhum sinal no corpo, que indicasse que ela relutou, é como se ela simplesmente houvesse deixado que ele... – as palavras ficaram presas em sua garganta.

— Olha Sara, lembra do que Jim nos disse dentro do carro? Sobre as várias idas a hospitais, os barulhos e gritarias que os visinhos relataram ouvir vindo da casa? – o jovem também estava começando a se chatear com tudo aquilo, pois sabia que sua parceira estava certa. Mas precisam se agarrar em alguma coisa – Podemos tentar investigar um pouco mais sobre isso... Quem sabe ela não se abriu pra alguém antes de morrer, e contou sobre os abusos que sofria...

Foi como receber um soco no estômago, ela pensou. Quando estava dentro do carro com Brass e Nick, e recebeu as atualizações do capitão. Idas a hospitais, gritos... Aquilo tudo era familiar e doloroso de mais para ela. Não cultiva grandes esperanças – em casos como aquele, somente quando a vitima prestava queixas diretas era possível se tomar alguma providência, e naquele caso em específico, a vítima estava morta.

— Vamos lá Sara, preciso daquela mulher confiante aqui comigo – Nick sorriu para ela, sacudindo levemente seus ombros – Porque você não vai até a sala do Grissom atualizá-lo sobre o caso, enquanto eu vou ver se consigo alguma coisa com aquelas idas aos hospitais junto de Brass.

Grissom. Aquele nome e aqueles olhos.

— Certo – Sara forçou um sorriso, que mesmo difícil de nascer em seus lábios, foi sincero – Obrigada.

O amigo sorriu mais forte para a amiga, sem dizer nada. Ele já havia percebido como casos daquele tipo afetavam Sara, e estar ali por ela era o mínimo que ele poderia fazer.

//

Leves batidinhas em sua porta.

— Hey, Sara.

— Tem um minuto?

— Claro – Grissom indicou com a mão a cadeira a sua frente, a mulher se aproximou, mas não sentou – Notícias sobre o caso?

— Conseguimos uma amostra do DNA do marido, e Greg já está analisando.

— Onde está Nick?

— Foi ver se conseguia algumas informações sobre umas idas da família a hospitais – Sara falava tudo de forma bastante direta e sem grandes emoções, além de que mantinha seus olhos fixos em algum lugar na mesa do supervisor, jamais em seus olhos ou face – vim apenas atualizá-lo sobre isso.

Grissom manteve seu silêncio, procurando os olhos de Sara, que pareciam completamente perdidos. Seu coração se incomodou, era nítido que a mulher o estava evitando. Nos últimos tempos não haviam se visto muito, apenas no trabalho. Ele tinha sempre tantas coisas para fazer, o cargo de supervisor o consumia completamente, além de sua curiosidade e envolvimento com seu trabalho, que o tornavam quase inteiramente alheio as pessoas ao seu redor. E Sara... Bom, Sara podia ser bastante emocional, com uma personalidade forte e reativa demais as vezes.

— E mesmo que o exame de DNA seja positivo, não temos nada concreto que nos ajude a comprovar que ele a matou – o tom foi amargo.

— Bom... Não podemos ir além do que as evidências nos apresentam.

— Claro que não – finalmente ela olhou para cima, e deixou que ele a encarasse nos olhos, mesmo que apenas por poucos segundos, vendo a raiva que habitava seu interior. Era como se ela o estivesse desafiando.

— Olha, Sara... – Grissom soltou a caneta que tinha em mãos sobre a mesa, e com um pontinho de impaciência em sua voz, continuou sua fala: - Sei que casos assim mexem com a gente, mas não podemos deixar que eles nos consumam toda vez que aparecerem... Dessa forma –

— Não se preocupe, Grissom – ela cortou sua palavras, ouvir aquele discurso novamente a estava quebrando mais – não estou sendo consumida ou deixando minha objetividade ser prejudicada – sorriu, incrivelmente – são apenas vítimas de mais um caso.

— Com licença.

Grissom olhou para trás de Sara, esta que se virou, encontrando Greg parado a porta. Interrompidos no melhor momento.

— Diga Greg – pediu o supervisor.

— Trouxe a análise do DNA que foi encontrava de baixo das unhas da vítima de Sara, comparadas com a amostra do marido – ele entrou um pouco mais na sala, ficando ao lado da amiga – e adivinhem?

— Combinam – Sara disse.

— Sim – o jovem de cabelos espetados entregou uma folha para Sara.

— Bom... – a morena ergueu os olhos uma última vez para Grissom, que a observava – Apenas mais uma vítima – arqueou as sobrancelhas, e lhe lançou um olhar tão cortante como uma faca recém afiada – Vou avisar o Nick e pedir que Brass traga o marido para depor... – terminando sua fala, saiu do escritório, deixando Greg e Grissom sozinhos a vendo partir.

//

— Esses idiotas, quem eles pensam que são para me trazerem até aqui como se eu fosse um assassino!

— Preciso que você se acalme.

Sara e Nick que vinham pelo corredor até a sala de interrogatório, presenciaram toda a cena de Josh destilando sua indignação em seu advogado.

— Como você me pede para ter calma? Por um acaso está do lado deles?

— Boa tarde, senhor Jackson – Nick disse ao chegar perto de onde Josh e seu advogado estavam – poderiam nos acompanhar, por favor.

O homem olhou irritado para Nick e Sara, obviamente descontrolado.

— Vocês duas, esperem aqui – foi somente nesse momento que os peritos se atentaram para a presença de duas garotinhas sentadas próximo de onde estavam – vejam se conseguem se comportar até eu voltar.

Sara olhou para Nick, que logo entendeu aquele olhar. Observaram enquanto Josh e seu advogado iam para a sala de interrogatório, e depois as duas meninas que também seguiam o pai com os olhos.

— Você não acha que... – começou Nick.

— Eu não quero nem pensar – Sara desviou o olhar das duas garotinhas, seguindo para o mesmo lugar que seu suspeito. Nick a seguiu.

(...)

— Vamos direto ao ponto – Brass estava sentado de frente para Josh, com as mãos cruzadas sobre a mesa, expressões ameaçadoras no rosto – muito inteligente da sua parte matar sua esposa e fingir um acidente –

— Eu não matei minha esposa!

— Então porque encontramos seu DNA embaixo das unhas de sua esposa? E nem venha com essa desculpa esfarrapada de que vocês eram marido e mulher...

— Capitão, infelizmente isso não prova nada – disse o advogado de Josh.

Sara se encontrava sentada ao lado de Brass, enquanto Nick se manteve de pé próximo a porta da pequena sala. Ambos se olharam ou ouvirem a alegação do advogado.

— O que foi que aconteceu? Vocês tiveram uma briga, e acabou exagerando na força ao demonstrar seu amor apertando o pescoço da vítima, e depois a jogou das escadas pra finalizar? – Sara falou tudo em uma única respiração, inclinando seu corpo levemente para a direção de Josh.

Por trás dos óculos, algo brilhou nos olhos do marido da vítima, um brilho que ninguém deixou passar despercebido – Escuta aqui sua vadia...

— Veja bem como você fala com ela, senhor Jackson – alertou Brass.

— Se bem que, levando em conta a rotina que sua esposa levava, talvez a morte tenha sido o melhor pra ela... – Sara continuou.

O advogado de Josh lhe sussurrou algo ao pé do ouvido. Poucas palavras que fizeram o homem não ceder as provocações da perita.

— Sabe o que eu acho que aconteceu? – Brass começou: - Que vocês estavam ali, se preparando para um jantar, e por uma infelicidade você bebeu de mais, senhor Jackson... e o que era para ser apenas mais um dia de violência seguida de uma visita ao hospital, acabou terminando um pouco diferente dessa vez.

— Temos informações sobre suas várias idas a emergência com sua esposa – Nick entrou na conversa – além de vários relatos sobre gritos vindos de sua casa...

— Ir ao médico e ter algumas discussões não é crime – argumentou o advogado.

Sara o encarou perplexa – Mas violência doméstica é! – Sua mão tremia, e uma forte dor de cabeça começou a despontar.

— De acordo com o legista, a causa da morte de sua esposa foi asfixia, e não causada pela queda da escada – Nick colocou sobre a mesa algumas fotos do pescoço da vítima, mostrando fortes escoriações na pele – e também encontramos vários indícios de pancadas infligidas a um longo período de tempo, típicas de abuso.

— Não tenho culpa se ela era desastrada – disse Josh.

— Se vocês não têm mais nada além de DNA contra meu cliente – começou o advogado – algo que comprove que ele foi o responsável pela morte dela...

— Eu não acredito no que estou ouvindo! – Sara levantou-se bruscamente de onde estava sentada, inclinou-se sobre a mesa e apontou o dedo indicador bem no meio da cara de Josh – todos nessa sala sabem que foi você... Me diga, como você se sente sendo um abusador? E como você se sente defendendo um canalha como esse? – se virou para o advogado.

— Sara, acalme-se... – Nick a puxou suavemente pelo ombro.

Sara se desvencilhou do aperto de Nick, indo diretamente para a porta e saindo para o corredor.

Passou a mão pelos cabelos nervosamente, fechando os olhos e pressionando os dedos sobre eles com mais força que a necessária. Quando os abriu, pode ver Grissom, encarando-a do batente da porta que dava para a sala de espelhos. Seu olhar a reprovava, ao mesmo tempo em que a deixava mais irritada por vê-lo ali.

Em um gesto de mãos, pedindo que ele não falasse nada, saiu pelo corredor, sentando-se nas cadeiras que ali se encontravam. Respirou profundamente, tentando conter uma bola de sentimentos que a sufocavam profundamente. Quando se deu conta, pode ver as duas filhas de Josh a encarando. As observou, pensando em como era triste aquelas crianças perderem a mãe tão cedo e de forma tão brusca. Lembrou de quando era criança.

— Espera... – falou quase em um sussurro. Olhou mais atentamente para as garotas a sua frente, tentando captar o que estava de errado naquela cena.

As duas pequenas não deviam ter mais que 8 anos de idade, talvez um ou dois anos de diferença uma com a outra. A que parecia ser a mais velha, abraçava a menor lhe passando o braço sobre os ombros, enquanto esta última se mantinha encarando o chão fixamente. De repente o coração de Sara falhou uma pequena batida, ao notar um leve arroxeado em torno de um dos olhos da menor.

— O que houve com ela? – Sara se aproximou, agachando de frente para as duas meninas – O que houve no rosto dela? – tentou forçar um tom menos exasperado.

Nenhuma delas respondeu. A mais nova pareceu encolher cada vez mais nos braços da irmã, que olhava para Sara assustada.

— Hey, olhem... – a perita não acreditava no que estava vendo – eu quero ajudar vocês duas, certo? – a morena pousou sua mão na perna de uma delas, que se assustou mediante ao toque – foi o pai de vocês quem fez isso? – apontou para o olho levemente arroxeado.

— O que você pensa que está falando com as minhas filhas! – Josh veio como um louco para perto de onde Sara estava com suas filhas.

A perita se levantou, e pode ver que atrás dele estavam Nick, Brass, Grissom e o advogado.

— Vamos embora daqui, agora – ele puxou as filhas pelo braço, forçando-as se levantar.

— Já não bastava agredir a sua mulher, também agride as filhas? – Sara praticamente gritou, e todos que estavam perto a olharam tristemente.

— Sara... – a voz de Grissom chegou até seus ouvidos. Ele estava se aproximando dela, pronto para repreendê-la.

— Vocês querem saber? – ela ergueu os braços em sinal de rendição – Eu desisto, façam como achar melhor – virou-se e saiu.

Nick trocou um rápido olhar com Grissom, e também se retirou cabisbaixo.

//

Já iria completar um ano que Sara se mudou para Vegas, e tudo aquilo que pensou ser a vida naquele lugar, caiu por terra. Sentia-se exausta, não apenas pelos longos turnos duplos e triplos que fazia – mas devido as várias expectativas frustradas que encontrou no caminho. Amava seu trabalho, amava seus colegas, mas tinha sérias dificuldades em lidar com a falta de empatia que o mundo vinha apresentando. E tinha Grissom. Onde foi que ela perdeu aquele cara legal que conheceu em San Francisco, ou que a ajudou encontrar um apartamento quando se mudou? Ele estava sempre tão ocupado, focado em algum projeto científico novo, que não conseguia ver nada ao seu redor. Eles eram amigos, se viam todos os dias, mas o companheirismo estava por um fio. Tudo o que ele sabia fazer era manter os olhos fixos em seu microscópio e esquecer-se do resto do mundo. Não que havia criado grandes expectativas sobre ele, ou eles. Havia algo dentro dela que acendia sempre que se perdia na imensidão azul que eram os seus olhos, mas ultimamente, tudo que acontecia se resumia a um mar de decepções.

Não entendia porque parecia que apenas ela se importava. De todos no laboratório, ela era a única a se afetar tanto com os comportamentos do supervisor. Todos pareciam estar tão habituados ao jeito antissocial do homem, que não se incomodavam mais – se é que um dia se incomodaram. E por que ela se importava tanto?

Eram tantas as altas e baixas que estava precisando aprender a lidar naqueles últimos meses, que parecia até estar presa em uma das montanhas-russas de Grissom. “Picos e vales”, pensou consigo mesma, enquanto ajeitava suas coisas no vestiário para ir embora. No dia seguinte seria Natal, e não conseguia se animar. Era uma época que sempre a fazia se lembrar das bebedeiras de seu pai e as brigas seguidas de gritos com sua mãe.

— Tudo bem? – aquela voz tão familiar, a retirou de seus pensamentos.

Grissom estava parado no vão da porta, olhando sério para ela. Sara evitou seus olhos.

— Olha Grissom... – Sara se levantou de onde estava sentada, fechando seu armário – se você veio até aqui para chamar minha atenção, tudo bem –

— Não estou aqui por isso – ele sorriu pra ela, um sorriso de canto de boca, suave como sua voz – Já está de saída?

Sara olhou para ele finalmente, estranhando a falta de “rala” por parte do supervisor – Estou sim.

— Hum.

O homem ficou em silêncio, observando atentamente a mulher. Ela era sua amiga, se preocupava com ela, mas precisava fazer o seu trabalho, e não podia deixar que em todos os casos Sara se torna-se tão emocional. Ela precisava frear sua personalidade e impulsos, antes que acabasse prejudicando algum caso ou pior, a si mesma.

— Não podemos salvar a todos, você sabe.

— Não, não podemos – mesmo que ele sorrisse para ela, a morena não conseguiu retribuir o gesto – mas ainda estou tentando fazer melhor do que apenas ignorar.

— Bom... – ele sabia que aquela era uma (in)direta para ele, mesmo que não concordando – amanhã é Natal – ele fez um pequeno bico com os lábios, movimentou as sobrancelhas, claramente desconfortável – isso é pra você.

Sara olhou para Grissom, que lhe estendia um pequeno embrulho quadrado. Desconfiada, ela pegou o embrulho, e rapidamente o abril.

— Não precisava – foi apenas o que ela pode e conseguiu dizer. Não estava esperando aquele gesto. Esperava qualquer tipo de lição de moral, mas não um presente de Natal.

— Para você ter algo de diferente para ler em suas folgas, além de histórias policiais.

Sem esperar uma resposta, ele saiu do vestiário. Sara ficou olhando para o lugar onde segundos antes Grissom esteve. Depois olhou para baixo e leu o nome que estava escrito em letras coloridas na capa do livro que ganhou: “Entomologia para curiosos”.

E pela primeira vez naquele dia, sorriu de verdade.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Love is blue" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.