Pokémon - Odisséia escrita por Golden Boy
Notas iniciais do capítulo
Oi! Como vai você, caro leitor? Espero que bem. Estou adorando escrever isso.
Athena retornou Gothitelle para a pokébola pela primeira vez naquele ano. Ela encarou as unhas roídas por um instante antes de se decidir. Seria fácil demais dar as costas e voltar para casa. Seria uma caminhada solitária até Icirrus.
E Athena nunca foi fã de coisas fáceis demais. Como toda boa ex-criança prodígio, ela era orgulhosa demais para se dar por vencida.
Ela subiu os degraus chamuscados e entrou no ginásio menos de um minuto depois de Amin ter passado por ali.
N sangrava. Seu corpo estava caído perto da estátua de um Hyedreigon, numa posição bizarra. Flutuando acima dele, uma sombra escura como uma noite sem luar e assustadora como a ira de um homem gentil. Darkrai olhou por cima do ombro, e seus olhos azuis gelaram a espinha de Athena.
Ele segurava uma esfera verde, e a quebrou com a força de uma mão. Quando os cacos metálicos bateram no chão do ginásio, Athena percebeu que aquilo era uma pokébola.
— O que você quer? — perguntou Athena. Por um instante, ela pensou que poderia falar por telepatia com ele. E quando não conseguiu, sentiu a água gelada que a mãe jogava em seu rosto quando falhava.
O pokémon mítico não respondeu. Ele flutou até o fundo da sala e desapareceu nas sombras da arquibancada. Quando Athena teve certeza de que ele não voltaria, correu até N.
— É melhor você não estar morto, seu merda. — rangeu a mulher. Ela desabotoou a camisa de manga comprida do garoto, e tateou costela por costela. Três quebradas. E pela posição, o tornozelo esquerdo também.
N abriu um sorriso vermelho sem abrir os olhos.
— Vem sempre aqui, Mar… — Athena pressionou uma das costelas quebradas para que ele parasse de falar.
— Não somos amigos. Eu estou te ajudando porque eu não conseguiria dormir se te deixasse morrer.
Athena estancou o sangramento na cabeça de N com um pedaço de pano que carregava na mochila, e pegou seu celular.
— Os médicos da cidade também estão dormindo?
N assentiu.
— Nós esperamos até que todos os pacientes do hospital estivessem bem. Não somos burros.
— Há quanto tempo vocês planejam isso..?
— Quatro meses.
Athena usou a lanterna do celular para checar a dilatação das pupilas.
— Você vai sair daqui preso. Sabe disso, não sabe?
N não respondeu. Ele abriu os olhos e cuspiu sangue para o lado. O barulho de uma máquina desligando foi ouvido, e então passos. Recrutas da Plasma saíram correndo pela porta do ginásio, fugindo pela cidade. Dezenas deles. Athena ficou na mesma posição, exausta pela última hora.
— Você lembra de quando começamos a nossa jornada?
A cabeça de N repousava sobre as pernas de Athena enquanto ela fazia pressão no corte em sua testa. Era um corte profundo, e ele iria precisar de pontos.
Mas era muito sangue. As roupas brancas da mulher estavam vermelhas e pesadas. Mesmo tendo feito enfermagem na Universidade de Castelia, ela nunca havia trabalhado com isso. Nunca havia visto tanto sangue.
— Fique acordado. — disse ela, quando percebeu os olhos de N se perdendo. Eram azuis, como os de Darkrai.
— Então converse comigo.
— Eu lembro. Você tinha um Woobat, não tinha? — N balançou a cabeça para cima e para baixo. — Não se mexa tanto.
— Quando nós… nos tornamos inimigos?
— Quando você decidiu ouvir seu pai. — Athena ergueu os olhos para ver o que pareciam ser os últimos recrutas correndo para fora. Em breve, seria Asher e Amin. Ela se perguntava se Ghetsis havia sido pego. Se sim, era o fim da Plasma.
N tentou rir, e começou a tossir. Athena fechou o rosto. Se ele estivesse com um sangramento interno…
— Ouvir ele? Eu nunca o ouvi, Athena. Eu só cansei de lutar por causas perdidas.
— E agora luta pelo que? A captura de pokémon míticos?
— Meios para um fim. A libertação.
— Você raptou uma criança, N.
Ele tossiu mais um pouco.
— Eu vou morrer, Mar… — ele parou, e se corrigiu. — Athena. Eu vou morrer, Athena?
— Não. — ela respondeu — você vai sobreviver. E será julgado pelos seus crimes. — Um instante depois, ela acrescentou: — E não somos inimigos.
—O-O-O-
Quando Amin chegou ao laboratório 3, Asher estava sozinho.
— O que houve com seu rosto?
Asher não respondeu. Continuou encarando seu tênis, com as mãos enfiadas dentro do casaco vermelho.
— Eles te machucaram, não foi? — O pulso de Amin continuava acelerado. Os fios de cabelo grudados na testa pelo suor e sua respiração ofegante denotavam sua pressa. Mesmo assim, ele se forçou a parecer calmo para o irmão mais novo. Envolveu-o com seus braços e ficou naquela posição até que ela não estivesse mais confortável. Ferris também se uniu ao abraço.
O tempo dessa demonstração de carinho fraternal foi suficiente para que a notícia da chegada de Amin fosse comunicada a todo o esconderijo, e a ordem oficial de Ghetsis foi a de fuga. Ele ainda não sabia que Darkrai havia fugido, e por isso seu humor era o melhor possível.
Quando descobriu, já à bordo de um helicóptero com Rudy, ele teve vontade de quebrar as próprias costelas com as mãos. Se não estivesse numa altitude de 900m, ele socaria algo.
—O-O-O-
— Óculos finos, roupa branca e cara de má?
— Cara de má? Acho que sim… — respondeu Amin, coçando atrás da cabeça. Ela parecia mais desolada do que má.
— Então é ela. O nome dela é Athena. Ela é minha amiga.
Ainda existiam preocupações e medos no fundo da mente de Amin, mas, por hora, ter Asher seguro era o suficiente. Ele teria tempo para se preocupar com todo o resto depois.
Foi um baque voltar ao salão do ginásio e ver Athena toda coberta de vermelho. Haviam respingos em seu rosto, e seu sobretudo branco mais parecia um pano usado numa cirurgia.
Amin pediu para que Ferris levasse Asher para casa, e então correu até Athena. O pokémon dragão pegou Asher no colo e num bater de asas se impulsionou para fora do prédio e depois para o céu.
— Liga pra emergência, meu celular está sem sinal. — Ela disse.
— Você tá bem?
— Sim, o sangue é todo dele. — Athena ajeitou a postura, e puxou o torso de N para mais perto do seu. Ela continuou fazendo pressão, e deu dois tapinhas no rosto dele para que ele continuasse acordado.
— Esse cara é seu amigo por acaso?
— Isso importa? — Athena levantou os olhos para encarar Amin, sem parar de estancar o sangue.
— Ele é um… criminoso. Deixe ele aí. Posso te dar carona para casa.
— Eu não preciso de carona. Eu preciso que você pegue o seu celular e ligue para a emergência. Pode fazer isso?
Amin ergueu uma sobrancelha antes de atender o pedido. E vinte minutos depois, N estava a caminho do hospital.
—O-O-O-
Himiko Ryumaru chorou ao abraçar seus netos porque tivera pesadelos com a morte dos dois. Ver os dois irmãos juntos depois da semana que passaram era uma bênção, e bênçãos devem ser comemoradas.
Foi uma noite de festa na residência dos Ryumaru, com direito a todos os pokémon fora de suas pokébolas e um jantar no quintal para que todos ficassem juntos.
Uma ceia linda sob as estrelas, proporcionada pelo calor humano de uma família unida. Sophie e Percy foram muito bem recebidos e acolhidos. O sol se pôs cedo, e um brilho laranja e dourado iluminou as folhas da árvore solitária que cresceu junto com Amin naquele quintal. O cheiro salgado da comida inundou o ar e por um momento Asher sentiu com plenitude o que significava estar vivo.
Eles comeram juntos e passaram horas digerindo a comida e as histórias. Asher contou sobre Will e sobre sua batalha contra Brycen, e escondeu tudo sobre o encontro com N e o verdadeiro motivo do ferimento em sua bochecha. Disse que havia tropeçado, e Athena fizera o curativo. Para sua avó, aquilo bastava. Mas Amin ficou com uma pulga atrás da orelha, e se certificou de que perguntaria mais sobre aquilo no futuro.
Quando os restos de comida esfriaram, e os cubos de gelo derreteram, Asher olhou para Sophie e se lembrou da captura dela. A memória de Will fotografando aquele encontro o atingiu como uma flecha.
— Então, Ashy — chamou Himiko, colocando uma mecha de cabelo do garoto atrás da orelha — onde está Will agora?
Ele não soube o que responder.
Uma boa parte dos pensamentos que ele teve depois do jantar foram sobre Will. Sobre o suco de caixinha que ele tomava todos os dias, a forma que ele jogava o cabelo lisíssimo para o lado, e como ele sempre sorria ao dar bom dia.
—O-O-O-
Asher retirou o curativo da bochecha com cuidado. A fita puxou a pele de seu rosto antes de se desgrudar por completo. Ele olhou o ferimento vermelho e inchado, uma laceração do tamanho de uma maçã. Aquilo deixaria uma cicatriz.
Lavou o rosto, passando sabão com cuidado na ferida aberta, e se secou com uma toalha de papel. Poderia ter usado uma toalha de verdade, mas achou que o algodão irritaria o machucado.
Então, enxergou seu rosto. O metal em seu antebraço parecia mais pesado agora. Passou a mão pelo cabelo, e sorriu. Seu rosto ardeu com o movimento súbito, e ele desceu as escadas para a sala.
— Amanhã, venha comigo ao mercado. Preciso de ajuda para carregar as sacolas. — pediu sua avó. Ela estava sentada no sofá com as pernas esticadas num banco almofadado.
Asher assentiu, e se sentou ao lado dela. Deixou que a cabeça caísse em seu ombro, e depois em seu colo. Ela passou a mão na testa dele, e encarou o ferimento com carinho.
— Quedas não deixam machucados como esse, querido…
Ele fechou os olhos.
— Daichi já se deitou? — perguntou, com a voz embargada.
— Sim. Cavou um buraco ainda agora, mas está com a cabeça pra fora. Acho que está esperando um boa noite seu.
— E Sophie?
— Coloquei um colchão ao lado da sua cama para ela e para Percy.
— Obrigado, vó.
— Não há de quê, querido.
Um intervalo. Um momento singelo de carinho e silêncio, com a luz da televisão muda iluminando o rosto de Asher. Himiko viu pelos ameaçando crescer em seu buço, e uma pequena mancha vermelha em sua testa.
— Vó…
— Sim, meu bem?
— O que é o amor?
— É o bem querer. A companhia despropositada, a palavra que acalenta… — ela parou o cafuné e puxou o rosto de Asher para cima, para que ele a olhasse nos olhos. — mas existem muitos jeitos de amar, querido. De qual você está falando?
— Não sei…
— Tudo bem. Quando souber, pode me dizer. E se nunca souber, tudo bem também.
Asher ficou naquele colo por mais alguns minutos. Era bom estar em casa. Bom ser amado.
Depois, ele foi até o quintal. Se sentou na grama na frente do buraco de Daichi e limpou as escamas de sua cabeça com uma escova.
— Agora que você é grande, o trabalho é maior! Não dá pra te escovar inteiro toda noite, Daichi!
O Gabite se ergueu com cautela, e deitou a cabeça nas pernas cruzadas de seu treinador. Então, olhou para ele com o rosto de um Lillipup faminto. Era quase um Baby-Doll Eyes.
— Tudo bem, tudo bem. Mas só hoje! E você não pode dormir num buraco, se não vai se sujar todo de novo!
—O-O-O-
Asher se deitou na cama e no momento em que fechou os olhos, Sophie subiu ao seu lado e se aninhou entre seu torso e seu braço. Sua lã era macia e quente, então ele não se importou.
Alguns minutos depois, Percy subiu também. Ele se sentou ao pé da cama, e ficou com as pernas e os braços cruzados ali. Fechou os olhos, mas antes que caísse no sono, Asher o puxou para perto. E Percy, um pokémon nascido de um ovo naquele mesmo ano, capturado por uma treinadora que não o queria, se sentiu pela primeira vez acolhido.
Antes que Asher finalmente adormecesse, Daichi cutucou seu ombro. Ele abriu um olho só, e viu seu Gabite segurando um travesseiro e pedindo para deitar ao seu lado.
— Não tem espaço, Daichi — Asher protestou, baixinho. Mas o pokémon dragão não se deu por vencido. Pegou Sophie pela boca com cuidado e a jogou em cima de Percy, do outro lado de Asher. Então, colocou o travesseiro ao lado de seu treinador e subiu na cama. A madeira rangeu, e Sophie empurrou a garra afiada de Percy para o lado. Daichi se ajeitou uma vez mais e depois de quase um minuto de remexidas e sufocos, eles dormiram.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Espero que tenham gostado :)