Arranjos & Desarranjos escrita por Lily Masen, Shalashaska


Capítulo 4
Prazer & Conflito


Notas iniciais do capítulo

Alô, alô, hoje é a Lily Masen por aqui. Como vocês tão?
O capítulo de hoje saiu atrasadinho (acabamos agora mesmo), por isso não vou me estender muito por aqui (pra dizer que a gente publicou certo e no domingo, hahahahah).
Espero que vocês gostem do capítulo de hoje, têm tudo que vocês tem direito: tiro, porrada e bomba e..... sem-vergonhice. Beijão e, se tudo der certo, até o próximo domingo ♥.
Ah, pra terceira parte do capítulo fiz uma playlist procês com a ajuda do pessoal que participa do grupinho do Telegram (se você não participa e quer fazer parte é só pedir o link na dm), em especial a Angel ♥♥♥
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O cansaço pesava as pálpebras de Michael Caine, embora ele considerasse difícil cair no sono durante aquela tarde. Uma incômoda tosse acompanhava-lhe, quem sabe causada pela sua má alimentação ou pelo frio da noite em que foi convocado a tocar o piano às pressas em um baile. 

Lembrava-se de ter visto Aurora na festa e isso não o surpreendia. Ela era uma senhorita meiga e de uma família com posses, ouviu falar. Os Wintergarden. Era esperado que ela debutasse logo, comparecesse a eventos sociais e conseguisse um casamento vantajoso com um homem gentil. A moça não o viu entre os músicos durante a festa, pois o salão estava cheio e havia gente mais interessante para conversar. Ele considerava isso bom. Não ver e não conversar com Michael a pouparia de constrangimentos desnecessários.

A tosse subiu de novo à sua garganta. Quem sabe não fosse somente o frio afinal, e sim uma maldição de família — pois seu detestável pai falecera de tuberculose — ou então por seu vício pelo maldito cigarro. O fato é que ele não podia sequer cogitar dormir, pois era dia de acertar o aluguel.

E ele mal tinha um trocado para cobrir as duas prestações que faltavam.

O assoalho do quarto rangia e as paredes não tinham a isolação térmica perfeita, permitindo o frio e a umidade frequentemente fazerem-lhe companhia. No entanto, a pensão tinha um piano na sala comum, o que servia para Michael treinar quase todos os dias. Outro benefício era que o dono da pensão mantinha-se deveras tolerante com seus atrasos frequentes e ele não poderia exigir nada mais do velho. Só não podia chegar a terceira prestação sem pagar.

Estava esperando o pagamento da festa e torcia que acertassem a quantia devida até o fim da tarde. Para cobrir o restante, Michael debruçara-se na diminuta escrivaninha de seus aposentos para executar seu segundo ofício: Escrever. Não considerava-se brilhante, mas seu serviço era decente e sua letra, ao contrário da sua vida caótica, era elegante e facilmente legível. O difícil, porém, era competir com nomes mais famosos em Londres e um jornal de fofocas deveras popular. Assim, Caine cobrava barato e seus trabalhos eram menores.

Cartas encomendadas para pessoas distantes. Declarações carregadas de sentimentos e lascívia, geralmente entregues por amantes que não pretendiam cumprir com as promessas de amor. Rompimentos ora resignados, ora violentos. 

Não era sua atividade favorita escrever sobre encomenda, mas havia certo charme e dignidade naquilo. Agradava-lhe imaginar cada carta como um pedaço desconhecido de si, ou então um personagem que só existia nos rascunhos bem guardados no fundo da gaveta. Caso todas as cartas fossem aprovadas pelos solicitantes — e somando o valor da apresentação de piano — ele teria o suficiente para finalmente quitar sua dívida de dois meses. Só faltaria o terceiro mês, sem falar que naquela noite teria que se contentar com um naco de pão do dia anterior ou então se arrastaria para as asas bondosas do padre Ward.

A última carta já estava pela metade. Era uma nota de falecimento de um parente e o cliente encomendou-lhe algo sensível e pesaroso, embora tais sentimentos não fossem exatamente verdadeiros. O morto não teria um sepultamento muito cerimonioso, nem mesmo muito cheio, então Caine se viu na obrigação de escrever algo que ao menos honrasse o espírito que deixara o corpo.

Seu contratempo para realizar tal tarefa era Frederik Strawell, sentado à sua frente. Quando soube de sua visita inesperada, deixou o quarto para atendê-lo na área comum da pensão — uma saleta pobre cujo móvel de maior valor era o piano, e que mantinha as portas e janelas abertas na tentativa de atrair mais clientes. Não era raro as pessoas comerem ali, fato que fazia as pessoas confundirem o local com um restaurante barato, até que finalmente o dono da pensão passou a servir café da tarde.

Era melhor falar com o empresário ali, pois além de não existir espaço o suficiente para acomodá-lo com conforto em seu quarto, Michael também não gostava de deixar outros testemunharem seu espaço privado.

Imaginava, no entanto, que tinha sido uma má ideia. Apesar de não haver mais ninguém no recinto, o pianista temia que mais algum par de ouvidos escutasse aquela história absurda de Frederik. Os dois se conheciam devido a vida noturna que levavam e Michael verdadeiramente apreciava a companhia ocasional do rapaz, que tinha um carisma inegável e sempre alguma anedota para contar. Frederik era um jovem cheio de dinheiro e sorte; até mesmo uma cicatriz na maçã do rosto parecia aumentar seu charme pessoal. Também não era completamente estúpido, então Michael esperava que um dia ele afinal amadurecesse nas suas viagens ao exterior.

Mas lá estava ele, escutando um plano surreal de Frederik fisgar a atenção de alguma debutante — não para si, e sim para Henry Dashwood. O objetivo era casá-lo o mais breve possível para que Henry imediatamente se tornasse a opção mais segura e atraente para o título de Conde de Stormhold. E, já que Salazar Roffman não se dignou a nem mesmo ouvir tal epopéia, Frederik bem poderia contar com a ajuda do pianista na busca de uma moça.

Estava desesperado, Michael concluiu com razão.

Com sono mais uma vez pesando suas pálpebras, ele piscou demoradamente e tentou ao máximo não ser tão ácido. Falhou de maneira deplorável:

— Você não seria tão baixo.

Frederik soltou um estalo irritado com a língua.

— Está falando como se eu fosse sequestrar uma moça e forçá-la a se casar com Henry.

— Você vai?

— Francamente, Michael!

O pianista deu de ombros. Sua satisfação era ter um cigarro de qualidade entre os dedos, prova de que Strawell ao menos lhe trazia algo mais do que problemas.

— Só estou checando.

— E eu estou pedindo apenas uma sugestão, seu grande tolo. O ideal é que meu primo case-se nesta temporada social, e ele ainda não foi a um mísero baile.

— Senhor Strawell… — Michael fez força para que sua língua obedecesse a vontade de ser didático, um tom que não conseguiria manter por muito tempo. A diferença de idade de ambos não costumava interferir em suas conversas, mas naquele momento ele mais era um irmão mais velho a falar com uma criança deveras travessa. — Como bem sabe, eu trabalho no clube de Anthony Hartridge e faço bicos na área em que certamente um conde não se dignaria a comparecer. Conheço criadas, pobres e putas. E nenhuma delas daria o status que Henry precisa para garantir o título.

— E você também toca o maldito piano em festas aristocráticas e bem conhece boas famílias. — Frederik inspirou fundo, depois massageou as próprias têmporas. O cansaço dele de súbito provocou irritação em Michael, que por si já estava exausto demais para lidar com dramas da alta sociedade. — De novo, eu estou só pedindo uma sugestão porque estou desesperado demais para…

O pianista elevou a voz em quase uma oitava acima de seu tom habitual.

— Para que? Para não receber um título e herdar terras, propriedades e uma soma de dinheiro capaz de sustentar três gerações seguintes?

— Para não perder minha liberdade. — respondeu, como se fosse demasiado óbvio. — Muito me admira esse seu falatório moralista.

— Moral? Eu sou pobre, Strawell. — Ele deu uma longa tragada no cigarro, por um instante desejoso em tomar um gole de álcool forte. Só um whisky irlandês para lhe dar coragem de suportar a conversa. Soltou o ar levemente, na direção oposta do rosto do outro. — Não me venha falar de moral quando eu tive que entregá-la aos cães para pagar o aluguel. Eu digo que não, não conheço nenhuma candidata apta a se entregar a um casamento infeliz com o seu pobre primo.

Frederik apagou o próprio cigarro, já no fim, e lhe ofereceu uma expressão debochada. Ergueu uma de suas sobrancelhas, nada convencido com o argumento.

— Todas essas moças já estão desfilando para fisgar um marido que lhes conceda conforto e sossego, tudo o que Henry pode dar a elas. Não fale como se eu tivesse a intenção de levá-las como ovelhas para o abate.

— Conforto e sossego são o mínimo que essas jovens precisam. Estou pensando no coração ainda partido de Henry Dashwood, coisa que você está desesperado demais para enxergar. Ele não merece um relacionamento forçado somente para que você não herde um título, o mínimo de responsabilidade e rios de dinheiro.

A ira incendiou os olhos escuros de Frederik. Se não fosse a data de pagar o aluguel e se Michael não estivesse em uma situação tão precária e urgente, quem sabe o pianista tivesse maior tolerância com os assuntos frívolos de seu amigo viajante e endinheirado. Entretanto, estava exaurido, impaciente e com uma tosse maldita no fundo da garganta, incapaz de conter o veneno incômodo da verdade em suas palavras.

O primo de Strawell, Henry, precisava de mais tempo para remendar o luto em seu coração. Frederik precisava crescer e ver que não deveria forçar esquemas na vida de outras pessoas apenas para que sua vontade fosse atendida.

Após um intervalo em silêncio, Frederik encarou-lhe fundo: — Não é sobre o título, nem sobre responsabilidade. Já lhe disse, é sobre minha liberdade e você muito bem entende disso. — Depois sorriu, sua expressão escorrendo escárnio. — Se de fato prezasse mais a responsabilidade à liberdade, teria finalmente se fixado a um emprego decente, mas não. Prefere viver como está, sem saber quando será chutado da pensão apenas porque se diverte demais com a bebida e as putas.

Michael Caine anuiu, pensando. Apagou o cigarro no cinzeiro, depois se levantou com paciência. Talvez Frederik tenha até chamado-lhe pelo nome em um tom arrependido, mas ele não ouviu. Metódico, Michael ergueu as mangas da camisa no antebraço e acertou o punho no queixo dele.

A força aplicada foi tanta que mesmo o corpo alto e atlético de Frederik foi arremessado para trás, levando a cadeira junto. Antes que pudesse se levantar, Michael andou em sua direção e puxou-lhe pela gola da camisa, desalinhando o lenço que compunha suas vestes elegantes, para então enfiar outro soco em seu rosto.

A movimentação não passou despercebida. Enquanto Michael e Frederik trocavam murros e se empurravam, algumas pessoas do lado de fora se aproximaram para conferir o que estava acontecendo. O cinzeiro, as cinzas e os tocos de cigarro já tinham voado da mesa. Michael estava ciente de que logo também viria o dono da pensão, ávido por evitar que a briga danificasse algo mais do que duas cadeiras e um quadro. Era só uma questão de tempo.

E ele provavelmente seria expulso.

Frederik afastou-se de repente, passando a mão no dorso do nariz para checar se estava quebrado, ao passo em que Michael sentia sangue verter pelas suas narinas e em algum ponto em sua testa. Ele passou as costas das mãos no rosto para se limpar, sentindo um gosto metálico invadir seus lábios.

Mas nada disso importava. Não sentia a dor dos golpes que recebera, nem o calor do sangue que lhe escapava. As memórias de sua infância repleta de privações e trabalho árduo — e ingrato — inflamavam sua cólera. E agora, já adulto, o que ele era? Um homem sem posses, com nenhum controle sobre seus vícios. Seus olhos azuis fulguravam em puro ódio quando deu um passo à frente e apontou para o rapaz:

— Você é um cão, Strawell. O mesmo tipo de cão ao qual eu tenho que entregar a dita moral por um pedaço de pão. — Nada foi dito aos gritos, embora ele ardesse em gritar até suas cordas vocais arrebentarem. Sabia que no fundo não seriam gritos que colocariam um pouco mais de juízo e discernimento na cabeça de Frederik. Seria a verdade que faria isso e talvez nem ela reparasse o estrago que uma vida cheia de regalias causara na cabeça dele. — A sua liberdade é ir e vir de um barco a outro, de país a outro, e voltar sabendo que tem um teto, alimento e criados só porque você teve a conveniência de nascer em um berço de ouro. A minha liberdade é tomar uma garrafa de vinho barato e apagar por algumas horas, o suficiente pra não pensar nas minhas misérias. — Ele inspirou fundo, entre a tosse e o sangue. — Meu senso de responsabilidade é não arrastar mais ninguém comigo.

— Isso não é sobre eu e você ou sobre nossas diferenças sociais.

— Você está certíssimo. É sobre você e sua completa incapacidade de pensar em alguém além de si mesmo. Já se questionou o que Henry deseja, afinal? 

A respiração de Frederik era irregular e ele lutava para recuperar o ritmo, apoiado agora na parede.

— O que ele deseja está além do poder de qualquer um.

Michael estreitou os olhos, enojado com o cinismo e falta do mínimo de sensibilidade. Henry Dashwood era um viúvo quieto e pouco sociável, cuja única alegria estava enterrada há sete palmos do chão. O que ele mais desejava, obviamente, era a esposa em seus braços de novo. Um milagre. Ouvir Frederik falar de tamanho sofrimento com displicência provocava-lhe asco.

— Então cresça e aprenda a lidar com infortúnios.

— Igual a você?

Outra onda de ira atravessou seu corpo, deixando-o trêmulo. Michael esticou e dobrou os dedos, ciente da dor nos punhos e como ficaria ainda pior depois que a raiva abandonasse seus músculos. O que impediu-lhe de desferir mais um soco em Strawell foi o receio de quebrar a mão e deste modo perder seus sustento.

— A diferença entre nós é que somente um dos dois miseráveis tem dinheiro no bolso para pegar pelos próprios vícios. — respondeu, por fim. — Ao menos finja se importar com a felicidade de seu primo e qualquer moça que cruze o caminho dele.

As pessoas que testemunharam a confusão da rua foram se afastando, talvez por não pressentirem mais cenas de agressão ou talvez por sentirem urgência de fofocar o ocorrido para outros. Será que estariam na página da frente da Whistledown’s Society Papers? Aproveitando os segundos de silêncio, Frederik enfim acertou o compasso de sua respiração e caminhou pela saleta, levantando a pequena mesa que haviam derrubado.

— Eu posso ser um cão, Michael. Mas sou um cão leal. — Tirou um pequeno saco de moedas do bolso interno do casaco e o jogou em cima da mesa. — Eu não sou nenhum exemplo e Stormhold somente sofreria comigo. Eu quero Henry feliz, e o condado em boas mãos.

O pianista engoliu seco, pois um misto de emoções confundiam seus sentidos. Estava aliviado por ouvir da boca de Frederik que sim, ele se preocupava com o primo. Parecia sincero, mas… Michael já tinha ouvido muitas coisas da boca do rapaz. 

E estava também indeciso sobre aceitar ou não aquele dinheiro. O tilintar das moedas o fez lembrar das dívidas, mas a tensão entre eles — somado a seu orgulho — impelia-o a negar a oferta.

— Se resolva com o seu primo, Frederik. — Sua voz saiu rouca. — Ele precisa do seu apoio, não do seu desespero em empurrá-lo a um matrimônio.

— Eu sei, inferno. Eu sei. Mas eu ainda desejo minha liberdade esnobe e quero que ninguém mais além de mim sofra qualquer consequência das minhas atitudes fúteis e impulsividade. Não um condado inteiro.

— Você sabe que pode ser melhor que isso.

O olhar deles se cruzou em um pensamento não dito e deveras doloroso. Ambos podiam ser melhores do que eram; Caine poderia ser mais do que um pianista alcoólatra endividado, Strawell poderia ser mais do que um rapaz rico e irresponsável. Mas não eram.

— Eu só nasci com sorte, — o rapaz disse. — Nós sabemos disso. 

Depois deu de ombros, recompondo-se. Ajeitou as roupas, mais uma vez tateou o nariz e evitou um grunhido de dor enquanto caminhava em direção a saída. Michael fechou as pálpebras por alguns segundos, irritado pela briga, pelas dívidas e pela verdade que também lhe roía os ossos. 

— Leve o dinheiro com você.

Frederik virou-se, mas não demonstrou intenção de recolher a quantia que depositara na mesa. Não lhe faria falta, é claro. E este fato somente lembrou o pianista de como os dois eram tão diferentes, embora as semelhanças existissem.

— Anthony convidou-lhe para a próxima sexta-feira, noite de apostas. — limitou-se a responder. — Apareça no maldito horário marcado para tocar e esteja minimamente sóbrio.

E partiu.

Levou minutos inteiros para Michael aliviar a pressão que fazia nos punhos fechados. Sua boca estava travada de ira, enquanto seu corpo ainda jazia anestesiado em cólera. Juntou a bolsa de moedas com um gesto súbito e, arrumando minimamente sua aparência, procurou o dono da pensão para lhe pagar os xelins do aluguel — todas as prestações — e mais um pence inteiro pela confusão. O velho não reclamou, na realidade, até esboçou um comentário tolo de como permitiria mais brigas, caso o pagamento fosse o mesmo.

Ele simplesmente subiu as escadarias até seu quarto e desabou na cama, infeliz. Fedia a cigarro, suas roupas estavam desalinhadas e sujas de sangue, e precisava urgentemente de um gole de álcool, o mais barato. Ao menos dormiria o quanto seu corpo precisasse, sem que cobranças assaltassem seu sono.

Só os pesadelos.

O clima estava ameno e os jardins pareciam um bom lugar para um passeio, especialmente pela manhã, quando estava mais cheio. Claire se sentou em um banquinho de madeira branco, admirando a paisagem e, embora preferisse cores mais fechadas, optara por um vestido verde-água. Os cabelos castanhos estavam soltos e balançavam com a brisa suave, decorados apenas com uma presilha delicada que pertencia à mãe. Aquele era um dos seus momentos favoritos do dia, quando brincava com o irmão de adivinhar o que as pessoas diziam com base em suas feições, como costumavam fazer quando eram crianças e só se preocupavam com joelhos ralados e escoriações.

— “Oh, não, você manchou o meu vestido de seda francesa. Francesa!” — Jude riu, dublando uma moça de postura altiva e nariz empinado que discutia com um comerciante. Ela gesticulava amplamente com as mãos, direcionando-as ora para o vestido, ora para o homem.

— “O quê? Essa porcaria? Francesa?” — Claire resmungou, imitando as caretas do comerciante, que parecia um tanto quanto irritado com a mulher. — “O meu chá parece mais caro que esse tecido!”

— Veja aquele. “Pelo amor de Deus, será que seus olhos são só um enfeite?” — um homem desatento trombara com um rapazote e, como se não bastasse, pusera a culpa no pobre coitado.

— “Decerto que não é para olhar para sua cara feia que eles servem!”

Ele gargalhou, virando-se para encarar os olhos da irmã mais nova, que inconscientemente cruzara as pernas e distraía-se balançando o pé que ficara longe do chão. Assim como ela, Jude era mais alto que boa parte dos homens ingleses, conferindo-lhe uma aparência intimidante de uma utilidade imensurável: os tributos sempre lhe eram pagos no prazo e ninguém ousava questionar suas ordens na baronia.

— Pare com isso, não é educado. — exigiu, pousando sua mão sobre o joelho de Claire, antes de soltar um longo suspiro. Assim como ela, ele não tinha o menor prazer em voltar a trazer à tona um assunto tão desagradável. — Nós precisamos conversar.

Ela os descruzou prontamente, ciente de que seu hábito não era bem visto dentre seu próprio círculo social, mas sabia que não era sobre isso que ele queria falar. Embora fosse bom em lidar com a plebe e com os serviçais, o irmão era péssimo em demonstrar sutileza ao tocar em assuntos delicados, e estava estampado em seu rosto que ele não sabia como dar início ao tópico.

— Você não é mais tão jovem — começou, um tanto constrangido, mas a cada palavra proferida, sua postura tornava-se mais firme e resoluta. — Muitas garotas mais novas e instruídas que você debutam a cada ano, Claire. Você precisa se casar.

— Jude, eu…

— Você tem alguém em mente?

Ele interrompeu, inclinando-se na direção dela, visivelmente interessado. Sem sombra de dúvidas, amava a irmã e, por isso, permitira que ela permanecesse fora dos bailes de debutantes por tantos anos. No entanto, agora temia que a concorrência roubasse da garota a chance de conseguir um marido decente o suficiente para manter a honra de sua família. Poucos anos a separavam de ser considerada uma solteirona pela alta sociedade e, por extensão, praticamente “incasável”

— Não, mas…

Ela pensou no que poderia dizer para que o irmão a deixasse em paz por mais alguns anos, mas mentir não lhe faria nenhum bem. Perderia a confiança de Jude a troco de nada, pois não teria pretendente algum ao qual pudesse apresentá-lo. Quis compartilhar com o irmão as esperanças que nutria em relação a um certo cavalheiro, mas tampouco aquilo a ajudaria. Por fim, preferiu deixar a frase morrer em seus lábios, sem uma continuação.

— Ah, certo. — disse, num tom decepcionado que logo disfarçou com um sorriso largo. — Bem, você tem até o final do ano…

— Você sabe que eu quero me casar por amor — ela sussurrou, olhando para o chão. Ele odiava vê-la assim, teve vontade de lhe oferecer quantos anos ela precisasse para encontrar a sua metade, mas não era assim que as coisas funcionavam. Ele não poderia sucumbir aos seus olhos marejados ou ao seu semblante entristecido por mais um ano. Especialmente quando sabia que, se o falecido barão ainda estivesse vivo, o debute da irmã não teria sido adiado sequer por um mês.

— Quero encontrar… — Claire continuou, mas logo foi interrompida por Jude.

— Seu par perfeito, eu sei — completou. — Mas eu não gostaria de confiar apenas na sorte, afinal, quais as chances de achar um homem decente que aprove os seus gostos pessoais?

A irmã o ouviu em silêncio. Ela sabia que havia razão por trás das palavras dele, mas não compreendia. Teve vontade de discutir e brigar, acusá-lo de destruir a sua vida, dizer que o odiava — embora fosse uma mentira — e que, se ele a amasse, não a sujeitaria a uma vida infeliz. Mas nada o machucaria mais que seu desprezo, por isso ela virou o rosto e se levantou, sem ousar proferir uma palavra contra Jude.

Contrariando os seus próprios sentimentos, ele finalizou: — Como eu dizia, você tem até o final do ano para escolher um pretendente, ou eu o farei por você.

Batidas soaram através da porta de madeira branca da residência dos de Loughrey. Jasper estava trancado no escritório, debruçado sobre os registros financeiros das propriedades da família e, aparentemente não estava esperando por ninguém, ou estaria ao seu lado na sala de estar, Madelyn supôs, uma vez que o irmão era de uma pontualidade impecável. Ela arrumou os cabelos negros e alisou o vestido azul-claro que ressaltava seus olhos, estava mais perfumada que um jardim inteiro e o rouge em suas bochechas era avermelhado, diferente dos tons de rosa que normalmente marcavam seu rosto — mas, de alguma forma, ela conseguia fazer com que todo seu esforço parecesse natural, como se sequer estivesse esperando pela visita do rapaz que enfeitava a soleira da sua porta.

— Rose, peça que todos os criados permaneçam em seus aposentos até segunda ordem, por favor. — Madelyn sussurrou, com um sorriso. — Eu abro a porta. 

Ela atravessou o vestíbulo despretensiosamente e, fingindo surpresa, revelou o rosto por trás das batidas que ressoaram há poucos minutos. 

— Oh, você veio. — disse, pedindo-lhe que entrasse. 

— Parece-me surpresa. — assumiu, examinando-a com seu olhar aquilino. 

Que sorte a sua, ele viera fardado. Madelyn tinha um fraco por homens fardados, especialmente os de má reputação. Ele lhe parecia uma convocação ao perigo, com sua postura altiva e sorriso prepotente. Um desafio.

— Bem, foi um convite pouco convencional. — admitiu, oferecendo espaço para que ele avançasse na direção do cômodo principal.

— Foi exatamente por isso que eu o aceitei, Lady de Loughrey. — Killian estreitou os olhos escuros como o breu, fixando-os na garota à sua frente com a intensidade de mil sóis. — Deixou-me intrigado.

— Estou certa de que o foi o chá da tarde que o convenceu. — Ela riu, virando-se na direção do longo corredor à direita. 

Um olhar bastou para que ele entendesse que ela pedia que ele a seguisse, no entanto, ele nunca se encontrara com uma dama da alta sociedade desta forma. Ao menos não uma dama que pudesse ser demasiadamente afetada pela ofensa de tê-lo como única companhia. 

— Senhorita, não há mais ninguém neste cômodo. — alertou, mantendo-se a uma distância segura da garota. — Eu não gostaria que sua reputação fosse posta à prova. 

— Quão… nobre da sua parte. — Madelyn se voltou para ele, aproximando-se mais do que seria apropriado para qualquer moça, tivesse ela ou não uma aliança nos dedos. 

Em seu rosto, a decepção era evidente. Algo que o rapaz não compreendera bem. Ele se questionou se havia dito algum despautério, embora soubesse que não tinha sido nada além de um perfeito cavalheiro desde que se fizera presente e — sentiu a necessidade de esclarecer — que não fora sem esforço de sua parte. Por algum tempo, ela não disse nada, apenas o encarou com os braços cruzados sobre o peito, enquanto seu olhar parecia capaz de transfixá-lo — como se esperasse que ele mesmo reconhecesse seu erro e o remediasse — mas diante da estupidez do tão aclamado soldado, Madelyn finalmente abriu os lábios.

— Eu não esperava isso de você, general. 

— O que esperava, senhorita? — Killian estalou a língua, vencido pela própria curiosidade. — Se me permite saber. 

— Algo como o lobo mau, espreitando em busca de uma oportunidade como esta. — Ela olhou ao seu redor, indicando o cômodo vazio com as mãos espalmadas.

— Isso faz de você a chapeuzinho vermelho? — Ele riu, aproximando-se, agora sem hesitar. — A donzela em perigo?

— Por Deus, não! — disse, como se o rapaz a tivesse insultado profundamente. — Mocinhas são incautas e desamparadas, sempre esperando que alguém as salve. Eu não preciso de um herói, general Gallagher.

— Está bem. — Ele passou a mão pelos cabelos cor de fogo, com um sorriso divertido no rosto. — Mas… se eu sou o lobo mau, quem é você?

— Eu diria que… a bruxa?

Por um segundo, ele pareceu surpreso. Uma dama normalmente não se descreveria desta forma, mas logo percebeu que havia sentido na sua escolha incomum. Delas não era exigido retidão, decoro e tampouco precisavam de permissão para agir. 

— Então somos ambos vilões?

— Ao que parece, sim. — Madelyn riu. — De toda forma, você deveria se preocupar mais com a sua reputação. Como eu disse antes, eu gostaria de… verificar a confiabilidade de certos boatos acerca de sua imagem pública.

Ela desviou a sua atenção do homem de olhos escuros para o corredor à sua direita. Desta vez, ele a seguiu sem pestanejar.

— Ah, sim. Você estava particularmente interessada em minha reputação, eu me lembro. — ele comentou, descobrindo-se no meio de uma grande biblioteca. 

Algumas mesas ocupavam o centro do aposento e, uma delas, em especial, acumulava uma pilha de livros sobre pintura de paisagens. Um passatempo estranho para uma garota como Madelyn, ele imaginou, mas havia um certo apelo em tanta dualidade. Ele deu um passo em direção à garota de olhos azuis como o oceano, mergulhando dentro deles. O perfume de jasmim preenchia o ambiente, intenso, inebriante e doce. Convidativo

— Há algum boato em especial que a senhorita gostaria de… apurar? — Ele deu um passo à frente, na direção de Madelyn, mas ela se afastou. 

Ela andava suavemente, como uma pluma a flutuar, carregada pela brisa: — Eu ouvi dizer que você foi pego na biblioteca do palácio com uma das criadas. — disse, fingindo espanto, enquanto escorregava a ponta dos dedos pelas lombadas dos livros. — É verdade?

— Bem, sim, mas…

— Aí está algo que eu gostaria de confirmar. — Virou-se novamente para ele, de costas contra uma das mesas de mogno. 

Sua risada tinha um timbre suave, como música aos seus ouvidos e — embora fossem frios como o gelo, seus olhos azuis queimavam mais que as brasas do cabelo de Killian, ou que os seus olhos umbrosos. Ela apoiou os braços sobre a madeira, erguendo o próprio corpo como se não pesasse mais que uma pena. Madelyn soltou os grampos do cabelo, deixando que os cabelos lisos se estendessem por suas costas, como uma cortina negra e espessa. Ela inclinou a cabeça para trás, de forma que sua pele alva brilhasse sob a luz suave que atravessava as janelas largas da biblioteca, chamando a atenção do general para si. Então, ela abriu as pernas suavemente, com um sorriso provocante. 

— Não é a Biblioteca Real, mas ouvi dizer que os soldados sabem… aproveitar os recursos disponíveis.

Ele não precisou pensar duas vezes. Seus lábios foram de encontro à pele exposta, enquanto suas mãos habilidosas a desprendiam do vestido. O general escorregou o tecido pelo corpo estreito de Madelyn com a velocidade de um soldado em fuga, como se sua própria vida estivesse em perigo. A garota sorriu, oferecendo-lhe um beijo selvagem, intenso e… experiente. Uma habilidade que não deveria compor o repertório de uma dama como ela, mas pela qual o rapaz sentia-se terrivelmente grato. Ela desabotoou os botões dourados facilmente, arrancando o casaco vermelho que cobria os músculos pelos quais seus olhos tanto ansiavam. Suas mãos percorreram seu torso, prontas para arrancar o tecido delicado e transparente que agia como a última barreira entre a sua pele e a dele.

— Não tão rápido, senhorita. — Ele puxou os cabelos lisos de Madelyn para trás, preenchendo seu pescoço com milhares de beijos. — Sejamos um pouco mais… democráticos.

Killian sorriu, erguendo-a da mesa de mogno e pressionando-a contra a madeira, de costas para si: — Agora é a sua vez.

Ele afastou as mechas negras da sua nuca, expondo-a. Seus lábios traçavam uma linha imaginária de um ombro ao outro, enquanto seus dedos a libertavam dos laços do espartilho. 

— Rápido, general, ou perderá a sua vez. — brincou, tornando a virar-se para ele ao mesmo tempo que o espartilho deslizava pelas suas costas. 

Agora, não perdera tempo. Logo, as roupas de Killian pintaram o chão da biblioteca de vermelho e azul, assim como a chemise bege de Madelyn, que já não cumpria mais a sua função de proteção. Os beijos quentes pareciam capazes de incendiar ambos os corpos, ofegantes e totalmente investidos no ato. Aparentemente, os boatos eram verdadeiros. O general era deveras habilidoso com sua espada. Quanto à Lady de Loughrey, não existiam boatos que o tivessem preparado para a verdadeira natureza do chá da tarde que lhe fora oferecido e, sem dúvidas, ela não mentira quando dissera que ele jamais provara um tão esplêndido quanto este. 

Madelyn prendeu os fios flamejantes entre seus dedos, puxando a cabeça dele para trás com força: — O que você acha de… hmmm… apimentar as coisas? — sugeriu, arquejando enquanto as mãos dele trabalhavam incansavelmente.

— Parece-me ótimo. — Killian sorriu, entregue à curiosidade. Ela ainda o intrigava, como um quebra-cabeça com uma peça perdida, ou um cálculo sem solução.

Ele não esperara uma recepção tão calorosa de Londres, afinal, embora fosse um homem de posses, a realidade de sua concepção jamais mudaria. Ele não possuía títulos ou heranças monumentais — como o palácio de Blenheim, residência do duque de Marlborough — e, se realmente estava sendo sincero, sequer saberia como gerir uma propriedade tão grande quanto essa. O general não via no casamento uma forma de ascensão, sentia-se satisfeito em seu posto e com seus ganhos. No entanto, sabia que se tencionasse buscar uma jovem de uma linhagem nobre e antiga — como forma de “diluir” o seu sangue bastardo, como muitas vezes o aconselharam — só o encontraria nas famílias falidas e decadentes. Portanto, não conseguia deixar de se perguntar o que fazia na biblioteca de uma das casas mais influentes da Inglaterra.

— Perfeito. — Madelyn concordou, arfando enquanto eles se moviam ritmicamente, tão próximos quanto a física permitiria. Então, ela arrumou a postura, assumindo um tom autoritário. — Agora, ajoelhe-se para a sua rainha. 

O general se afastou, mostrando um sorriso sensual: — Como quiser, Vossa Alteza. 

Ele lambeu os lábios, descendo sobre os próprios joelhos. Suas mãos apertavam as coxas da nobre com força, enquanto ela se arquejava, gemendo suavemente.

— Você… não pare. — exigiu, segurando os cabelos ruivos do rapaz, puxando-o contra o seu corpo como se ainda não tivesse tido o suficiente dele em si.

Se ele fosse uma dama, sua mãe o teria alertado sobre homens como Madelyn. Lascivos, manipuladores e voluptuosos — basicamente demônios da luxúria — eles achavam que o mundo girava em torno de seu próprio prazer e tratavam com descaso o futuro daquelas com quem se envolviam. No entanto, quando ela jogava, apostava com a própria reputação, visto que boatos sobre o envolvimento dos dois pouco o afetariam. Um ato corajoso, sem dúvidas, e muito mais nobre que os dos íncubos que ameaçavam a honra de moças descuidadas e crédulas.

— Vamos para o quarto, general. — Ela sorriu sugestivamente, acariciando-lhe os ombros desnudos.

Killian sentiu o corpo tremer sob o toque elétrico da jovem, enquanto um calafrio delicioso percorreu sua espinha. Sem um segundo sequer de hesitação, ele concordou, levantando-se. Ele balançou a cabeça suavemente, como se ainda não acreditasse na cena que se desenrolava à sua frente e, então, mordeu o lábio inferior. Que se dane, a vida é curta e regras foram feitas para serem quebradas. E, bem, não era como se ele realmente tivesse muito a perder, ao contrário da senhorita que se contorcia sob seus dedos. Sem mais um segundo de hesitação, ele a ergueu da mesa de mogno, as mãos firmes a prendiam no lugar, enquanto as pernas de Madelyn envolviam-lhe o tronco.

— Suba as escadas. — sussurrou, envolvendo-o em um beijo faminto, impaciente. 

As mãos dela percorriam toda a extensão das costas do general, marcando o seu nome na pele do general com uma miríade de toques, ora suaves, ora atrevidos. A cada degrau, a sua tentação parecia mais perto de transbordar. Madelyn era como o mar revolto durante uma tempestade, e ele, a pobre embarcação que lutava para sobreviver ao temporal. Mas, bastou-lhe pôr os pés no piso nivelado novamente, para que se percebesse naufragado, dominado pela tormenta. Killian nunca fora tão grato pelo treinamento que tivera no exército, ou não teria sobrado-lhe disposição para empurrar as costas da garota contra a parede e satisfazer os seus desejos. O som que ela exprimia era suave e sensual, excitante. Enquanto o ritmo do ruído molhado das costas suadas contra a parede se intensificava, o volume de ambos fazia o mesmo.

— Será que vocês poderiam gemer mais baixo? — Jasper gritou, massageando as têmporas, ainda que soubesse que a irmã não o escutaria.

— Segunda porta à direita. — murmurou, incapaz de manter o seu rosto longe do dele por tempo o suficiente para montar uma frase completa. 

— Espero que pareçamos menos clamorosos de lá. — disse, movendo-se para o quarto em passos largos e ansiosos. 

— Não se preocupe com isso. — Madelyn assegurou, com um sorriso relaxado. — A propriedade é grande e, você conhece o ditado, os incomodados que se retirem. 

Assim que seus pés cruzaram a soleira, o general a atirou na cama de dossel, cobrindo o corpo estreito da garota com o seu. Contrariando as normas da sociedade, ela tinha uma certa familiaridade com as formas masculina e feminina e, dentre elas, a de Killian facilmente alavancara-se a uma posição de destaque. Com um movimento rápido e eficiente, ela trocou de posição, subjugando-o. As mãos dele presas sob as suas, os dedos entrelaçados, apertando-se. Ele a sorvia com a voracidade de um animal selvagem, desesperado e insaciável.

— Quem é a sua rainha? — Madelyn sorriu, levantando-se. 

Você, Majestade. 

Ele a viu pegar algo de uma caixa de madeira, mas tudo que o seu olhar treinado conseguiu perceber foi a cor preta, tecido talvez. Perguntou-se o que ela estava planejando, mas — como um bom súdito, permaneceu calado — aguardando o seu veredito.

— Muito bem. — disse, cobrindo seus olhos com uma faixa de tecido e roubando-lhe a visão. Pelos sons, ele soube que ela voltara a vasculhar a caixa.

— Você vai gostar. — ela prometeu, antes de voltar para a cama.

Madelyn passou uma das pernas sobre o tronco dele, montando-o como um garanhão. Apoiada sobre os joelhos, ela pegou uma tira de couro que assemelhava-se a um cinto e prendeu o pulso de Killian à cabeceira da cama, tomando-o de sobressalto.

— Você é impressionante. — ele disse, divertido.

Sua curiosidade vencia a sua sensatez, numa batalha que já começara perdida. Afinal, juízo nunca fora uma de suas virtudes.

— É a minha vez de mostrar-lhe minhas… habilidades.

Ela começou beijando-lhe o pescoço, suave e lentamente, descendo para a clavícula, marcando-lhe o peitoral bem definido. Ela tocou as cicatrizes que marcavam a barriga do general com cuidado, acariciando-as. Será que as tinha conseguido em combate, perguntou-se, pareciam frutos de lesões profundas e dolorosas. Madelyn gostava de soldados, das histórias por trás de suas marcas, dos seus corpos e do vigor que possuíam. 

A cada centímetro que seus lábios se aproximavam do tesouro que era tão veementemente negado às nobres solteiras, Killian tornava-se mais rijo. Sua língua se movia com destreza, enquanto ele arquejava sob seu toque experiente.

— Eu… Uau. — Ele gargalhou, extenuado. — Uau.

A nobre arrancou a venda de seus olhos, acariciando-lhe o rosto. Ele tinha um olhar intenso e penetrante, feições bem definidas e um queixo proeminente. Algumas sardas manchavam suas bochechas, ela percebeu ao se aproximar o suficiente de Killian para que seus narizes se tocassem, como num beijo de esquimó. Então, perguntou:

— Está satisfeito?

— Não. — ele foi rápido em responder, mas não teve a mesma sorte ao tentar envolvê-la. O rapaz tentou se erguer, mas tudo o que conseguiu foi balançar a cabeceira da cama. Um soldado condecorado imobilizado de uma forma tão esdrúxula… pelos céus, o que seus colegas diriam, se soubessem?

— Eu fico por cima. — ela concordou, com uma gargalhada, num sussurro que só fora escutado graças à proximidade de seus rostos.

Seus cabelos negros deslizavam sobre o rosto do general enquanto ela se abaixava para envolvê-lo em mais um beijo e, logo em seguida, ele já não era mais capaz de imaginar lugar melhor para estar preso.

Madelyn conseguira ainda mais que o esperado daquela noite. Ele fora muito melhor do que ela imaginara, e não eram muitos os homens capazes de satisfazer uma mulher como ela. Um demônio da luxúria, como Killian pensara. Com um sorriso emplastrado no rosto, ela vestiu o robe de seda, servindo-se de uma dose do seu uísque favorito em comemoração. Era típico que conseguisse o que desejava e com ele não fora diferente, mas ainda assim, algo sobre o general a deslumbrava. Afinal, ele era um lobo deliciosamente mau e ela não era de fato uma donzela indefesa.


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram? Estamos sempre ansiosas pra ler a opinião de vocês.
Beijão ♥



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