Prelúdio para o Amor escrita por G_Namo


Capítulo 13
capitolo tredicesimo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/79853/chapter/13

- CAPITOLO TREDICESIMO -

― Naruto? ― era bastante óbvio que a pessoa parada na sua porta era o loiro, mas essa não foi a intenção da pergunta e os dois sabiam muito bem disso, ou pelo menos ele esperava que o cara soubesse... Mas pensando melhor...

― Eu mesmo ― respondeu ele com aquele sorriso bobo de sempre. Sasori teve que se conter para não revirar os olhos, bem que ele disse.

― O que você quer? ― ainda estava cedo para os caras virem jogar cartas ou qualquer coisa do gênero.

― Blé, é que eu to sem nada pra fazer, e ficar sozinho lá no apartamento é chato, e o Sasuke não quer abrir a porta... ― então ele veio aqui pra passar o tempo ― sei lá, o cara é meio zoado vo te contar, se tranca na casa dele, às vezes por dias cara, não sai, só ele e aquele piano ― ele agora começava a rir da sua própria piada.

― Você é que é zoado Naruto, olha as merdas que você fala...

O loiro gritou e apontou para o ruivo como se o acusasse de algum crime, o que fez com que Sasori tampasse os ouvidos para abafar o grito do amigo e ao mesmo tempo uma careta aparecer no seu rosto.

― Não so não, to certo!

― Ta, ta... Entra aí ― ficar com ele gritando na sua porta não era a melhor idéia, principalmente se sua vizinha estivesse de mau humor e viesse reclamar depois, Sakura quando brava podia ser um tanto... Intimidadora. E ele também não tinha nada melhor pra fazer.

― Quem chegar no sofá primeiro escolhe o filme! ― o amigo saiu gritando em direção a sala de TV, Sasori meio que riu e seguiu atrás, só que andando.

― Caraca meu, vai começar a passar Chuck daqui a pouco ― anunciou assim que ligou a TV, apontando para a imagem do canal interativo.

― O seriado?

― Nem velho! O filme, o filme! ― disse como se fosse a coisa mais obvia no mundo ― o do boneco assassino velho!

― Ah... Faz tempo que vi esse filme... ― os dois se acomodaram no sofá e esperaram o filme começar, a inquietação de Naruto irritando um pouco o ruivo.

― Que foi Naruto? ― finalmente perguntou.

― Hn... Sasori... Vamo sacanear o Gaara? ― conhecia bem aquela expressão, quando Naruto estava tramando alguma sacanagem ele sempre ficava com aquela cara, e por acaso ele sempre costumava ter essas idéias quando Sasori estava por perto e também quando nenhum deles tinha o que fazer... E... Sacanear seu primo mais novo parecia ser uma idéia tão divertida praquela tarde monótona.

― Qual a sua idéia?

― Você ainda tem aquele seu boneco?

― Depende. Se for o que eu estou pensando... ― ele olhou pra tela da TV, um boneco maluco correndo atrás de alguém.

― Esse mesmo ― confirmou o loiro e depois rindo ao olhar para a tela.

― Então eu tenho sim, vou lá pegar.

― Vou usar o seu telefone enquanto isso.

x

Ah... Como era bom acabar de fazer tudo e ainda ter a tarde livre.

Fazia algum tempo desde que Gaara tivera uma tarde, durante os dias da semana, que ele não tivesse nada o que fazer, chegava a ser estranho.

Foi até a sala assim que escutou o telefone tocar.

― Alô?

― Gaara! ― impossível não reconhecer aquela voz, afastou o telefone um pouco da orelha.

― Naruto... Você precisa de alguma coisa? ― perguntou-se se ele havia descoberto os pêssegos que ele havia recebido da irmã.

― O que tem com todo mundo hoje? Parece que o povo acha que eu só quero coisas! O que tem de errado em ligar pra um amigo, to certo! ― ele realmente deveria aprender a controlar o tom de voz.

― O que você quer Naruto? ― perguntou novamente sem dar muita importância pelo comentário dramático anterior, escutou o amigo bufar do outro lado da linha e depois tornar a falar na mesma voz empolgada.

― Achei que você ia querer saber que acabou de começar a passar Chuck o Boneco Assassino na TV, no canal 72! Daí como eu lembrei que você não tinha visto, achei que você ia gostar velho! ― fale de mudança repentina de humor, Naruto podia ser pior do que uma grávida nesse departamento.

― Ah... Obrigado, vou assistir então, até mais ― afastou mais ainda o telefone quando o amigo se despediu num grito e desligou o aparelho, indo para a sala e ligando a TV. Bem, nada como assistir um filme quando não se tem nada pra fazer.

Ou você pode sacanear alguém também, outra escolha.

x

― Neji, Neji... Neji! ― meu Deus, ela ia deixá-lo maluco!

Neji passou a mão pelo rosto frustrado, ele só queria um pouco de paz e sossego pelo amor de uma divindade superior!

― Neji! ― sentiu uma veia saltar quando ela começou a cutucá-lo, tornando impossível ignorá-la.

― Sim... Anko... ― finalmente respondeu rangendo os dentes para conter a falta de paciência.

― Me leva pra passear de barco em Otaru?

Sua expressão incrédula impossível de esconder fazendo-a rir.

― O que? ― perguntou como se não tivesse escutado direito a pergunta.

― Eu perguntei se você não quer me levar pra passear de barco em Otaru ― o jeito que ela cantou as palavras "passear de barco em Otaru" deixando-o mais incrédulo ainda.

...

― E ai, vamos? ― num pulo ela já estava na porta vestindo o casaco e pegando a bolsa, Neji, contudo, continuou sentado olhando-a, como se alguém o tivesse pausado.

― Que foi? Viu um fantasma foi?

― Anko, eu não vou te levar pra passear de barco em Otaru ― finalmente disse, sua voz saindo exatamente como a idéia soava em sua cabeça, uma verdadeira loucura.

― Ah, você vai sim, a não ser que você queira que eu fique te azucrinando o dia todo e bem, digo seis coisas; festa, Neji, Smirnoff, fotos, mico e humilhante.

― Você não...

― Claro que sim! Achei que você me conhecia melhor Neji ― olhou-o com uma expressão de falsa surpresa ― então, vamos indo? ― sorriu.

Tacar sua cabeça contra a parede parecia ser uma idéia muito tentadora. Levantou-se derrotado, pegou as chaves de casa, a carteira e o casaco. Isso não ia acabar bem.

x

― Mas eu ainda não entendi. Como é que a gente vai abrir a porta da casa do cara? ― perguntou ele confuso, não estava entendendo, o plano era entrar pela varanda da vizinha, mas ela parecia que estava fora.

― Eu já falei pra você não se preocupar, eu tenho meus meios ― sussurrou de volta o ruivo, abrindo uma coisa preta que mais parecia um estojo de artes e tirando um objeto pontudo de dentro e outro igual só que menor.

― Que porcaria é isso? ― tornou a perguntar o outro, tentando examinar os objetos de perto ― caralho!

― Shh!

― não precisava ter batido na minha cabeça porra ― reclamou massageando o lugar atingido.

― Pronto ― anunciou virando a maçaneta.

― você é um gênio Sasori! Estranho e meio gay, mas um gênio velho, to certo! ― disse entrando, nem ao menos notando o par de olhos fuzilando a sua cabeça por trás.

― agora, me da aí ― pediu, estavam bem na entrada do apartamento, dava pra ver a sala, o sofá e o morador do apartamento que estava sentado.

Sem nem pensar duas vezes, Sasori deu o embrulho para Naruto.

― Eu vo no cinco... Um... Dois... Dois e meio... Três...

― Vai logo seu imbecil! ― sussurrou naquela voz gritada.

― Ta. Fui!

x

Ela estava dez minutos atrasada, tinha perdido a hora e o trem tinha saído quando ela finalmente conseguiu chegar à estação, estava tentando ligar para a casa de Sasuke, mas ninguém parecia atender ao telefone, então ela estava um tanto nervosa. Não costumava chegar atrasada e já havia reparado que seu cliente era bastante pontual, não gostava de se atrasar, nem um pouco.

A estação de trem e o apartamento de Sasuke não eram muito longe um do outro, se você fosse de táxi, mas nenhum dos táxis parecia querer parar para socorrer uma pobre fisioterapeuta atrasada, a coitada teve que ir correndo, o que a fez perder mais dez minutos e quando ela finalmente chegou em frente ao portão, parou para recuperar o fôlego e olhou no relógio, já estava vinte minutos atrasada e a vergonha tomou conta de si.

Digitou o código de visitas no painel e entrou, correu até o elevador e apertou o botão de número oito. Correu mais uma vez para a porta e tocou a campainha, repassando a explicação do atraso mais uma vez na cabeça, para que não parecesse inventada e que fosse rápida de falar também.

― Me Des... ― começou e logo parou quando viu que a pessoa que havia aberto a porta não era Sasuke, tampouco tinha cabelos escuros, de fato, não era nem um homem.

― Você deve ser a fisioterapeuta, não é? ― perguntou ela ajeitando os óculos, aquele ar de superioridade incomodando um pouco Shizune.

― Sim, Shizune, muito prazer... Hmm...?

― Karin, bem, já estou de saída mesmo ― Shizune cumprimentou Sasuke que veio até a porta, pelo menos ele não parecia aborrecido ― cuidado só pra não atrasar sempre querida ― se não tivesse recebido a boa educação que teve de seus pais, ela provavelmente já teria pulado no pescoço da mulher, principalmente assim que ela beijou a bochecha de Sasuke e saiu rebolando até o elevador. Shizune respirou fundo, não era nada, nem conhecia a mulher direito, olhou para Sasuke e sorriu.

― Sinto muito por chegar atrasada, tive algumas inconveniências... ― desculpou-se.

― Não se preocupe, não ia fazer nada hoje mesmo... ― ele disse, uma sobrancelha levantada enquanto olhava para a porta do elevador, não entendendo muito bem o que tinha acontecido ― vamos?

x

― Vai começar a chover ― comentou Anko assim que notou as nuvens acinzentadas que sobrevoavam o céu por onde ela e Neji navegavam em seu pequeno barquinho alugado no porto de Otaru, de ultima hora.

― Sério mesmo Anko? ― o tom sarcástico na voz do Hyuuga fazendo com que ela mostrasse a língua pra ele assim que o mesmo virou as costas.

― Tem uma ilha aqui perto e a gente pode parar por lá pra fazer uma horinha até a chuva passar! ― escutou a mulher dizer entusiasmada. Ele sabia, sabia que ia acontecer alguma coisa assim, nada que envolvia Anko era apenas "um simples passeio de barco" ou "um passeio no zoológico" e afins ― só têm um problema ― o comentário ganhando a atenção do homem, e o que seria esse problema?

― Que é...?

― Eu esqueci minha carteira! ― e começou a rir.

― Agradeça que eu trouxe a minha, o problema é que o meu cartão venceu anteontem e ainda não recebi o novo, mas tenho dinheiro suficiente ― estava orgulhoso de si mesmo, isso que dava ser irresponsável, não gostava de se ver dependente de alguém, não que ele estivesse reclamando do fato de Anko depender dele, ele só não gostava da idéia dele depender dela.

Por via das dúvidas resolveu contar o dinheiro. Colocou o barquinho no piloto automático em direção a ilha e tirou a carteira do bolso.

― Ah!

― Que foi? ― olhou para os lados a procura de alguma coisa.

― Deixa que eu conto o dinheiro, você já vai pagar tudo e é o mínimo que eu posso fazer! ― ele logo colocou o bolinho de dinheiro atrás de si assim que ela veio em sua direção.

― Não tem problema, eu conto o dinheiro, não se preocupe ― disse. O braço com o dinheiro ainda em suas costas numa tentativa de protegê-lo da vista da mulher.

― Nada disso, eu insisto! ― e foi exatamente como nos programas de documentários da vida selvagem que Neji costumava assistir no Discovery Channel, Anko veio para cima dele da mesma maneira que uma cobra quando vai dar o bote, em outra situação a cena até que teria sido cômica.

No caso, como ele era o coelho (trilha de pensamentos da vida selvagem) e coelhos são excelentes saltadores, bastou um pulo e Neji já estava sobre o banco do barco e seu braço erguido segurando o dinheiro, como a estatua da liberdade segura uma tocha em Nova Iorque. Só que era o Neji num barco segurando uma bolota de dinheiro.

Voltando à vida não tão selvagem dos seres humanos, é claro que a diferença de altura entre os dois era bastante grande e variava entre seus vinte centímetros, ou seja, ela não ia conseguir mesmo aquele dinheiro.

Mas é como os jogadores de futebol americanos costumam dizer; "não olhe para a bola!", no caso o dinheiro, porque quando eles conseguiram distinguir aquele barulho irritante e toscamente alto, a gaivota já havia fisgado o dinheiro da mão de Neji e voava na direção contraria do barco.

...

...

― He... He... Acho que eu vou ali na outra ponta do barco... ― disse ela meio nervosa saindo de fininho.

― Anko... ― ela até sentiu um calafrio quando ele a chamou naquele tom de voz grave e baixo, o tom de voz que você provavelmente usa quando não esta muito feliz. E Neji não estava nem um pouco feliz.

x

O fato de ela ter tomado essa decisão não tinha absolutamente nada haver com o Naruto... Ou pelo menos era isso o que ela estava se falando há horas. A decisão estava tomada, a única coisa que faltava era a coragem.

Que era a parte mais difícil de todas, realmente, ela não sabia e nem ao menos tinha idéia de qual seria a reação de Shikamaru e isso era o que mais a assustava.

Olhou para o painel dos botões no elevador, o botão de numero sete encarando-a com a mesma intensidade que ela o encarava, sem se mexer, como um predador estuda sua vitima (convenhamos, aquilo era um botão e ela dormira na sala por causa da falta de sono e com a TV ligada no Animal Planet), estava começando a fazer pouco senso e isso não podia ser boa noticia. Fechou os olhos e apertou o botão, pronto, parte do problema resolvido.

Mais um minuto para ela sair do elevador, mais meio para ela chegar à porta e cinco segundos para ela gritar consigo mesma por estar sendo tão ridícula e tocar a campainha.

― Ino? ― olhou cuidadosamente para Shikamaru, como seu cabelo estava bagunçado e seus pijamas amassados, indicando que ele não saíra da cama há muito tempo. Essa era a decisão certa, não é mesmo?

― Posso entrar? ― perguntou, não reparando na expressão surpresa que passou pelo rosto do moreno. Ino sendo educada e pedindo para entrar? Isso era novo. Não respondeu, mas saiu de frente da porta e foi até a cozinha, estava preparando seu café afinal de contas.

― Quer café? ― perguntou servindo sua própria xícara e sentando.

― Não obrigada... ― olhou para o chão, escutando mais uma vez as palavras ensaiadas passearem por sua cabeça. Não que fosse uma coisa difícil de dizer, nem algo novo, já havia passado uma ou duas situações parecidas antes, mas seu nervosismo parecia extremo, talvez porque ela realmente quisesse escutar a reação verdadeira dele.

― Hn... Algum problema? Se quiser sentar...

― Shikamaru ― começou, seu tom serio, ele a olhou com curiosidade ― eu acho que a gente tem que terminar.

x

Esse filme era meio estranho, o gênero falava que era terror, mas tinham algumas partes em que era meio engraçado, como uma comedia de terror. Só que não fazia muito sentido, terror e ao mesmo tempo engraçado? Isso era novo para ele. Tudo em tudo, ele estava achando o filme legal, assim pra passar à tarde.

Novo e inesperado também foi quando ele ouviu um barulho e em seguida um vulto apareceu em sua sala, um estardalhaço, pedaços de porcelana voando para todos os lados, sua mão apertando o braço do sofá como um gato e uma única forma, uma cabeça de porcelana, particularmente parecida com a cabeça que se mostrava na tela, ficou parada em um angulo absurdamente bizarro em sua sala de estar.

...

Levantou.

Eu digo e confirmo que quem quer que fosse que aparecesse na frente de Gaara nesse instante escutaria tudo, tudo menos o que a pessoa esperava escutar. Bem, na verdade, dependendo da pessoa (referindo-se a casos loiros e ruivos) talvez nem tanto.

Num escancaraço sua porta abriu, batendo com tanta força na parede que o vidro da janela do corredor até fez barulho, viu um rastro de porta se fechando em direção as escadas. Encarou a porta de maneira que quem olhasse pensaria que ele era capaz de fazer buracos com os olhos. Caminhou sem pressa em direção a porta.

Ele estava bravo.

Muito bravo.

Sua caminhada sendo interceptada pelo barulhinho do elevador e depois uma chuva de rosa claro e azul marinho, assim que ninguém menos do que Hyuuga Hinata saiu detrás das portas em seu uniforme de bale, desajeitadamente carregando sua bolsa do treino, levemente rosada dos exercícios, seus cabelos bagunçados e o coque fora do lugar. Engraçado ele ter reparado em tudo isso em menos de quatro segundos.

― A-A-Ah! G-Gaara! ― exclamou.

Vamos ser bem detalhados, certo? O balão infla, infla, infla, infla e chega ao ponto extremo onde ele esta prestes a explodir, a criancinha marota sorri contente e se prepara pra pisar no balão e causar o maior estorvo. A criancinha número dois, em toda sua glória de ingenuidade pega o balão do chão, desenrola o nó e sem nem se tocar do que realmente está fazendo, desinfla o balão, todo, todo, todo o ar saindo, até não sobrar sequer um átomo de oxigênio.

― Hinata ― cumprimenta lembrando-se do dia anterior, a situação é no mínimo um pouco embaraçadora, deve ser pelo menos, não tem muita certeza.

― B-Boa tarde... ― ela diz sem jeito, pergunta-se se ela pode estar pensando a mesma coisa que ele, o vermelho de seu rosto duplicando e entregando-a sem ele ter que fazer o mínimo de esforço, sim, ela está.

― Boa tarde ― responde no seu tom monótono, observando com olhos calculadores todos os movimentos dela, como suas mãos ficam encostando continuamente e seus olhos passeiam por todos os lados do corredor e param menos nos dele, sabe que seus lábios estão levemente curvados. Ela faz uma reverencia rápida e se despede, entrando em sua casa apressadamente.

Ele não repara nas caras desapontadas pela pequena abertura da porta das escadas e vira em direção ao seu apartamento, nem se lembrando que há minutos atrás ele estava preparado para assassinar alguém.

x

― Ah, ta bom, você não quer café mesmo? ― respondeu perguntando em seguida, levantando-se para pegar mais uma xícara de café.

― Hm? ― é o que ele diz quando olha em sua direção e provavelmente vê a expressão desacreditada em seu rosto.

Essa não era a reação que ela esperava. Não era essa, pelo menos, a que ela queria ver.

― Como assim "ah, ta bom"? ― gritou. Sua voz saindo tão aguda que irritou até ela.

― Ah, ta bom ― disse mais uma vez com o mesmo ar descontraído, mas um pouco entediado dessa vez.

― Eu entendi seu imbecil! Não sou retardada! ― gritou mais uma vez ― então é assim, sua namorada vem, termina com você, nunca mais vai aparecer por aqui, nunca mais vocês vão ficar juntos ― talvez ela estivesse exagerando, mas não estava nem ai ― nunca mais vai dormir com você e tudo o que você tem pra dizer é "ah, ta bom"? ― encarou-o como se duvidasse que ele respondesse.

― É... Acho que sim, disse isso não foi? ― o que ele fez, e meio que se arrependeu depois que viu o jeito como ela olhou pra ele, mas o que ele devia ter respondido então? Cara, que problemático, pensou tapando os ouvidos assim que ela gritou pela terceira vez.

Ele nem teve muito tempo de fazer alguma coisa, porque quando viu que ela tinha começado a chorar no segundo seguinte um punho fazia contato com seu rosto e uma dor dos infernos se espalhava e ele caiu da cadeira, o barulho das suas costas fazendo contato com o chão causando um silêncio de meros segundos na cozinha.

― Shikamaru! Seu filho da mãe! ― ah é mesmo, tinha esquecido que ele estava jogando videogame na sala... E com toda essa gritaria, devia ter vindo pra checar se estava tudo bem ― você é meu amigo velho, mas não posso deixar passar essa! ― e logo ele estava puxando Ino pelo braço e os dois desapareceram. Ele continuou deitado de costas para o chão e com as pernas ainda apoiadas no banco, cara, isso tava doendo pra caralho... Suspirou, ia ter que levantar daqui a pouco... É, daqui a pouco só... Que problemático...

x

O mal humor de Neji era compreensível, o bom humor de Anko é que não era.

Os dois corriam pela chuva no meio daquelas pequenas ruelas na ilha em que estacionaram, agora já de noite o que queria dizer que eles precisavam de um lugar pra ficar. O problema? Uma gaivota tinha comido o dinheiro dos dois. Eles estavam sem dinheiro? Não, Anko por sorte tinha encontrado umas notas no seu bolso. Isso dava para eles ficarem em um hotel? Sim. Um hotel bom? O que você acha?

E foi assim que os dois acabaram num hotel do outro lado da ilha, no meio de um matagal suspeito.

― Boa noite! ― chamou Anko entusiasmada assim que entrou na pensão.

― Shh! Não precisa gritar Anko... -―disse Neji meio rabugento, sei lá quem podia aparecer nesse lugar.

― Que nada, deixa de ser um mala Neji! ― ela foi até o balcão da recepção e começou a apertar o sininho, logo em seguida uma senhora apareceu, fazendo um sorriso aparecer nos lábios de Anko e algo distorcido em Neji. A mulher aparentava ter uns setenta (se não mais) anos, era baixinha, usava um vestido florido desbotado e seu rosto estava coberto com o que parecia ser fuligem.

― Boa noite ― ela disse numa voz que o lembrou bastante de uma gralha e fazendo uma pequena reverencia ela sorriu, para a infelicidade de Neji que notou a falta dos dois primeiros dentes da mulher.

Anko provavelmente, ou não, notou a inquietação do companheiro e lhe deu uma cotovelada.

― Nós gostaríamos de um quarto para esta noite, por favor!

― Certo, os jovens hoje em dia viajam juntos antes de casar não é mesmo? ― comentou para ninguém em particular enquanto procurava as chaves no balcão ― aqui, um segundo queridos, vou pegar as roupas de cama, estão na lavanderia aqui atrás.

Não esperaram muito e logo a senhora entregou o jogo de cama nas mãos de Neji e seguiu em direção ao corredor, Anko, um tanto saltitante, logo atrás. Não prestou muita atenção ao seu redor, talvez se tivesse prestado atenção ele teria saído correndo e dormido no barco, como planejava fazer desde o começo quando se depararam com a falta de dinheiro, invés disso inspecionou o jogo de cama em suas mãos, era azul, com manchas cinza, provavelmente o sabão em pó, mas pelo menos parecia relativamente limpo, como se tivesse acabado de sair da máquina, depois de anos de uso... Nem queria imaginar o que havia dormido com esses lençóis antes...

― É aqui ― anunciou ela parando em frente a uma porta azul de madeira ― tenham uma boa noite.

― Boa noite vovó! ― se despediu a mulher pegando as chaves e abrindo a porta. Neji apenas cumprimentou com a cabeça e seguiu atrás de Anko.

Estamos com o espírito descritivo hoje, então entraremos em alguns detalhes. O quarto tinha apenas um meio de iluminação que eram duas lâmpadas que ficavam encostadas na parede, sendo que uma delas estava falha e ficava acendendo e apagando, o papel de parede, notou tentando ser positivo; deveria ter sido um dia um papel de parede até que bonito, devia ter sido vermelho, mas agora estava mais para um coral, tinham alguns desenhos que ele não conseguia distinguir e estava rasgado em algumas partes, o chão era coberto por um carpete bege e para seu horror, ele notou manchas no chão que preferiu pensar que fossem manchas de vinho, que bom que ele perdeu a fome, pelo menos não ia ter que gastar dinheiro comprando comida. Até aí até que era meio aceitável, até ele notar o colchão de casal, sim, um colchão, porque não tinha cama, no chão, todo encardido e com dois travesseiros em cima. E pra que diabos tinha um cano no meio do quarto?

Anko ganhou sua atenção quando as risadas da mulher finalmente penetraram o seu sistema, tirando-o de seu choque de horrores. Olhou para a colega um tanto indignado enquanto ela segurava sua barriga de tanto rir.

O que podia ser agora? Tinha um casal de ratos morando no quarto? Não que ele duvidasse muito disso...

― Que foi?

― Tem... T-Tem... Tem uma privada no quarto! ― ela apontou para "a coisa" ao lado da cama e não conseguindo se segurar mais, agachou e começou a rir descontroladamente, de fato tinha uma privada no quarto, bem ao lado do colchão, uma privada de porcelana azul absolutamente destruída e sem a tampa, tão suja quanto o rosto cheio de fuligem da senhora na recepção.

Neji não sabia nem mais o que pensar direito.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Prelúdio para o Amor" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.