Não deve ser tão difícil assim, Elena pensou, mas ainda não encontrara as palavras certas. Se é que havia palavras certas, afinal de contas. A coisa toda saiu atrapalhada, ela gaguejou, se contradisse em algum momento, com certeza, e durante todo o tempo em que falou, ficou de cabeça baixa, sem ter coragem de encará-lo.

— Desculpa, eu não entendi nada do que você falou — ele disse e parecia mesmo confuso, enquanto a olhava, de cenho franzido.

— A gente, nós, eu e você... a gente não... isso não...

— Você tá me dando o fora, é isso? — Ele elevou um pouco o tom de voz, não o suficiente para chamar a atenção das pessoas ao redor, mas o bastante para fazer Elena levantar a cabeça e vê-lo pegar o lenço e passá-lo de uma mão para outra depois largá-lo de volta na mesa. — Você tá me dando o fora. Posso pelo menos saber por quê?

Ele estava irritado, claro, e por que não ficaria? Tecnicamente, não tinha feito nada de errado, mesmo assim... Elena respirou fundo. Não podia se acovardar, tinha que levar aquilo até o final. Literalmente.

— As coisas entre nós não podem dar certo, Luís.

— Estavam dando até agora, o que mudou?

— Nós somos muito diferentes, eu não posso ficar com você.

Mais uma vez, Luís apanhou o guardanapo, fez que ia limpar a boca, mas apenas o amassou entre os dedos, talvez imaginando que era seu pescoço, Elena pensou. Ele estava com raiva, não esperava aquilo, eles nunca esperam, levar um fora não é algo que figure na lista de preocupações de um homem como Luís Filipe, insegurança não é um dos problemas com os quais ele tinha que lidar.

— Você não pode ou não quer? Porque se você não quiser, eu entendo, não vou insistir, nem brigar, nem obrigar você a gostar de mim, mas não poder? Como assim, você não pode ficar comigo?

— Não quero te magoar, você é um cara maravilhoso, sem dúvida, aliás, você é até bom demais pra ser verdade.

— Como é que é?

— O que a gente teve até agora foi muito bom, foi legal, eu gostei de te conhecer, de ficar com você e tudo, mas não posso me apegar a um relacionamento que não vai durar, eu realmente não posso.

— Como você sabe que não vai durar?

— Você não vai ficar interessado em mim por muito tempo.

— Você não acredita que eu gosto de você?

Elena respirou fundo. Como dizer aquilo sem parecer que 1) ela queria forçar alguma coisa, 2) ferir os sentimentos dele. Talvez não houvesse uma saída. Ela cobrava honestidade das pessoas com quem se relacionava, o mínimo que devia a elas era dar o mesmo em retorno.

— Acredito que você gosta de mim, agora, mas é algo de momento, efêmero. Não é o tipo de relação que eu quero pra minha vida. Olha, não estou culpando você por nada, você não fez nada de errado, não me deu falsas esperanças, nem nada do tipo, eu sempre soube o que estava fazendo e é por isso que estou terminando, não quero ter que lidar com um coração partido, não tenho tempo pra esse tipo de drama. Você é um cara incrível, de verdade, e nós dois sabemos que homens como você não levam mulheres como eu a sério.

Elena esperou que ele respondesse, mas não houve réplica. Luís passou a mão pelo cabelo, tomou um gole d’água e se recostou na cadeira, balançando a cabeça, como se estivesse diante de um evento inacreditável.

— Sinto muito, Luís, eu...

— O que você quer dizer exatamente com um homem como eu? Só pra eu saber o que tem de errado comigo.

— Não tem nada de errado, nada de errado com você.

— Você apenas não gosta de mim, então?

— Não, não é isso.

— Elena, há dois dias estava tudo bem, nós saímos juntos, você se divertiu; a gente se falou pelo telefone, trocamos mensagens e você não deu o menor sinal de que havia algum problema, e do nada você resolve terminar tudo sem me dar uma explicação racional.

— Vamos combinar que eu não sou obrigada a dar nenhuma explicação — Elena disparou, soando mais rude do que pretendia. O caso estava tomando uma proporção maior do que ela queria, e o que tanto tentou evitar, estava acontecendo: uma DR. — Fala sério, quanto tempo você acha que isso iria durar? Quanto tempo até você resolver que não está interessado num relacionamento com uma mãe solteira? Estou poupando nós dois de aborrecimentos no futuro. Será que você não entende isso?

Luís abriu a boca, mas acabou não dizendo nada. Elena parecia tão decida que qualquer que fosse seu argumento, seria refutado em dois segundos. Ele não entendia a reação, não entendia os motivos, nem aquele ar de desconfiança com que Elena o tratava. Se sentir inseguro no começo de um relacionamento era normal, mas ela estava além de insegurança.

— Nós podemos, hm, ser amigos — ela arriscou, embora achasse ridículo propor tal coisa naquele momento.

— Claro, vamos ser amigos, sim. — Era a primeira vez, desde que o conhecera, que o via tão irritado; por um segundo, Elena se arrependeu, mas não demorou a voltar a si e se convencer que estava fazendo a coisa certa. Luís acenou para o garçom e pediu a conta.

— Luís...

— Olha, eu aceito a sua decisão, ok? Não concordo, não entendo, mas aceito.

Depois de pagar a conta, ele se levantou, vestiu o paletó, murmurou umas poucas palavras de despedida e foi embora. Elena ficou ainda um instante sentada no restaurante. Ele estava chateado, mas não podia se preocupar demais com Luís, sua prioridade era ela mesma e o filho. Luís Filipe era adulto o suficiente para cuidar de si próprio e logo ele nem sequer se lembraria de sua existência.