Lua Cheia escrita por DiegoT


Capítulo 3
Terceira Noite de Lua Cheia




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/798413/chapter/3

A tempestade caiu com a força que prometia, postes foram derrubados,a estrada na montanha, que leva até a casa de Tsukino está intransitável, as ruas cobertas de neve, alguns moradores começam a limpar o telhado e jogar sal nas calçadas
De todos na vila uma pessoa foi mais afetada, o dono das ovelhas não acredita quando vê o cativeiro aberto, ele corre para o centro e tropeça em alguma coisa, caindo no chão. Seus olhos se arregalam, um pedaço do focinho de uma ovelha está saindo da neve.
Dando um grito o homem começa a cavar com as mãos, descobrindo o cadáver do animal.
Na casa Tsukino se espreguiça, ela varou a noite trabalhando.
— Ahhhhh! Agora só falta a cena final, eu termino mais tarde.
Ela se levanta da cadeira, sentindo dor no pescoço, decide tomar banho, nada melhor que uma banheira para aliviar a dor muscular..
Nua e dentro da água a moça testa o celular, ainda sem sinal de Wi-Fi e sem linha telefônica ela consegue sinal oscilante, o suficiente para descobrir uma mensagem de voz de seu editor, já sabendo o que vai ouvir e sem clima para broncas ela decide ignorar por ora e acessa a internet.
No Google ela pesquisa sobre Hokkaido e mortes, logo abre a página do noticiário local “Polícia emite alerta de urso”, interessada ela segue lendo.
“Na noite de ontem algumas ovelhas foram mortas perto da vila, esse é o segundo ataque consecutivo, para preocupação dos moradores as ovelhas foram mortas perto da vila, enquanto que o primeiro ataque ocorreu ao pé da montanha”.
Tsukino solta um suspiro aliviada e coloca o celular de lado “ele está mais próximo da vila, seja como for um urso não vai invadir uma casa”.
Do lado de fora da casa a neve soterrou a ovelha morta, seguindo quinhentos metros a velha cabana está de pé, alguém acendeu a lareira.
As horas passam, a polícia local procura por rastros de ursos, mas a tempestade da noite anterior apagou qualquer pegada que pudesse ser encontrada.
Tsukino sai da casa, ela anda até a cabaninha do gerador, ela desliga o aparelho,abre uma lata de querosene e começa a encher o tanque do gerador, ainda falta muito para as doze horas terminarem, mas ela não que ficar no escuro a noite.
Ao terminar a autora para na frente da casa, com muito frio ela se abraça e olha em volta, nada além de neve, caminhando mais um pouco ela vai até seu carro, igualmente coberto pela alvura e estende o olhar para a estrada.
Pela primeira vez Tsukino se dá conta do quanto está isolada, é impossível descer a pé ou de carro.
— Deveria ter comprado sal, uns cinco quilos de sal.
Tentando rir, ela volta para dentro de casa, fecha a porta e a tranca por dentro, é aí que ouve o rádio de ondas curtas.
— 338, aqui é a polícia câmbio! 338 aqui é a polícia câmbio.
Tsukino reconhece a voz e corre até o rádio, o atendendo tal qual uma adolescente atende o telefone.
— Oi Kobayashi, aqui é Tsukino, câmbio.
— Senhorita Tsukino, estou ligando para saber se está tudo bem. Câmbio
Ela fala consigo mesma: "é um policial em serviço, lógico que vai ser formal".
— Parece que temos um urso, câmbio.
— Parece que sim, como está o acesso a sua casa, câmbio.
— Obstruído pela neve, câmbio.
— A polícia possui um trenó de neve, se precisar de nós chame, câmbio.
— Muito obrigada, Kobayashi, tenho uma dúvida, câmbio.
— Pode falar, câmbio.
— Ursos não hibernam no inverno, câmbio
— …
— Kobayashi?
— Sim… os ursos costumam hibernar no inverno, acredita-se que esse pode ser uma exceção. Câmbio.
— Ou seja, um urso rebelde, devo procurar um animal de jaqueta de couro andando em uma moto. Câmbio.
Os dois começam a rir.
— Eu não me preocuparia com ursos, a tempestade da noite passada o caminho montanha acima ficou mais difícil, o animal deve ir na direção do bosque ou dar a volta na montanha, para região verde de onde saiu, câmbio.
— Acho que vou ficar isolada mais uns dias, não vou conseguir sair nem se eu quiser. Tudo bem se chamá-lo uma vez por dia, para conversar? Câmbio.
— Será um prazer conversar com minha autora preferida. Câmbio.
— Sua autora preferida precisa terminar o mangá, câmbio desligo.
— Estou ansioso para o final, câmbio desligo.
Tsukino tira o grosso casaco de inverno e sobe as escadas, indo ao seu escritório.
A lua começa a nascer, de dentro da velha cabana um homem grita de dor, completamente nu ele rola pelo chão, ouve seus ossos estralarem, suas mãos e pés crescem,tornando-se paras. seus joelhos viram para trás, assumindo a anatomia de um quadrúpede, sua coluna estica e cresce, arqueando a criatura, que se cobre de pêlos cinza. Um focinho cresce no que antes era um nariz e uma boca.
O lobisomem sai calmamente da cabana e uiva para a lua.
Tsukino está no meio do último capítulo quando ouve o uivo, sua coluna gela ao perceber o quão perto está da criatura, a garota olha pela janela, tentando ver alguma coisa, quando ouve um segundo uivo, dessa vez mais perto.
Ela sai do escritório correndo, o segundo andar de sua casa é composto pelo quarto, o escritório e um banheiro, no andar de baixo a sala, cozinha e um lavabo.
Tsukino desce as escadas correndo, vai para cozinha, onde verifica se a porta está trancada, é uma porta antiga, de madeira maciça, idêntica a porta da sala, que ela corre para conferir.
A autora olha pela janela perto da porta, avista seu carro coberto de gelo e mais nada, na janela lateral, perto de um sofá ela pode ver algumas árvores ao longe, muita neve em um caminho irregular, a luz da lua cheia ilumina parcialmente a noite.
Alguma coisa está errada, ela não sabe o que é, não enxerga nada de diferente, mas alguma coisa está estranha, é aí que ela nota, alguma coisa cinza, parada perto de uma árvore.
O lobisomem sente o cheiro do medo, ele urra e investe contra a casa.
Tsukino ouve o uivo da besta, seu sangue gela, suas pernas congelam, fica incapaz de se mover quando a criatura investe contra a janela.
O vidro da janela estoura com o peso da criatura, que tenta escalar a parede, paralisada de medo Tsukino consegue gritar, a adrenalina invade seus músculos e a garota fica de pé, a tempo de ver o lobisomem tentando passar pela janela.
Felizmente Tsukino escolheu uma casa antiga, construída com material de primeira qualidade, as várias hastes de ferro, que ornamentam a janela impedem o lobisomem de entrar, a criatura força o corpo, entortando o ferro, não o suficiente para quebrar. O animal se afasta.
Tsukino corre para o rádio de ondas curtas
— 338 chamando a polícia! 338 chamando a polícia! Câmbio
Ela ouve um estrondo, o Lobisomem investe contra a porta da frente.
— 338 chamando a polícia, Câmbio
— Polícia falando, câmbio - era uma voz diferente, parecia ser de um jovem.
— Kobayashi!
— O sargento Kobayashi está na casa dele,isso é uma emergência? câmbio.
O lobisomem uiva antes de investir novamente contra a porta, fazendo o primeiro rombo.
O jovem policial ouve o uivo da criatura, seguido pelo grito apavorado da garota “Socorro! Estou na casa da montanha”.
— Senhora! Está aí! Câmbio!
O rádio transmite apenas um uivo, dessa vez muito alto..
O jovem policial dá o alerta, veste seu casaco, se arma com um rifle e corre até o trator de neve, rumo a casa na montanha.
Tsukino sobe as escadas, ela se tranca no quarto, arrasta sua cama para perto da porta.
No andar de baixo o lobisomem termina de destruir a porta, entrando de quatro, como um animal caçado ele fareja o chão e uiva, ao sentir o cheiro de sua presa.
Tsukino arranca o colchão de sua cama, junta sua força e levanta o estrado, o colocando contra a porta.
O lobisomem caminha até a escada, ele cheira o primeiro degrau, experimenta uma pata e tira, ainda inseguro tenta mais uma vez, até ganhar confiança.
Sentindo todos os músculos do seu corpo doer, Tsukino arrasta uma cômoda de madeira contra a porta e cai sentada, inteira coberta de suor.
O lobisomem sobe as escadas desengonçado, seu olfato o leva até o quarto, mais um uivo e ele investe contra a porta.
Tsukino grita,ela não acredita no que está acontecendo, juntando forças procura no armário alguma coisa para se defender, só encontra sapatos de neve e cabides.
O lobisomem investe mais uma vez, a cômoda treme com o peso da criatura, que arranha a madeira com suas patas, arrancando pedaços da madeira.
Dentro do armário Tsukino encontra um velho trenó de neve, sem maiores esperanças o quebra e arranca uma das hastes que o faz deslizar no gelo.
A criatura abre um rombo na porta, seu corpo termina de destruir a madeira ao redor, o estrado da cama se rompe como se fosse isopor.
O peso do monstro é suficiente para destruir a cômoda, que se esparrama pelo chão.
Tsukino tira uma foto com flash da criatura, que fica cega por um segundo, o suficiente para dar sua primeira e possivelmente última investida contra a criatura.
Se jogando contra o monstro ela perfura o olho do lobisomem com a haste do trenó de neve, o lobisomem solta um grunhido e recua ele nunca fora ferido assim, Tsukino tem tempo suficiente para se trancar no armário.
O lobisomem cambaleia assustado no hall superior, o pedaço de madeira ainda está em seu olho, as tentativas de tirá-lo com a pata só o machucam mais, ele urra num misto de raiva e dor, chacoalhando a cabeça, o pedaço de madeira começa a se desalojar da cavidade ocular.
Assustado o monstro exita, quando ouve um barulho do lado de fora.
O policial estaciona o trator de neve perto da entrada, ao ver a porta destruída ele desce do trenó engatilhando o rifle.
— Aqui é a polícia, quem estiver aí dentro se apresente.
Tsukino escuta o policial e grita desesperada.
O jovem policial corre até a casa, quando o lobisomem salta pela porta sobre ele, o devorando, com o impacto ele solta a arma, a munição cai pela neve, o lobisomem o devora vivo.
Tsukino chora desesperada dentro do armário.
O Lobisomem se afasta, satisfeito, mas ferido, naquela noite ele perdeu mais do que ganhou, seu instinto diz para se afastar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Lua Cheia" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.