Lua Cheia escrita por DiegoT


Capítulo 1
Primeiro dia da lua cheia




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Hokkaido, extremo norte do Japão
Primeiro dia da lua cheia

Tsukino Sakura dirige sua USV por uma estrada bucólica, a neve começa a se acumular na estrada, tornando a jornada um pouco perigosa, nada que escape do controle de uma motorista atenta e cuidadosa.
No banco de trás as duas únicas malas, uma grande, com peças de roupas e outras coisas, uma menor com material de trabalho.
“Bad Moon Rising”, cantada pelo grupo Creedance Clearwater revival pulsa pelos autofalantes do carro: Don´t go around tonight/Well, it´s bound to take your life/There´s a bad moon on the rise (Não saia esta noite/Bem, está prestes a tirar sua vida/Tem uma lua ruim nascendo).
Tsukino parece não ouvir a letra da música, ela está mais concentrada no horizonte, onde uma tempestade parece se formar atrás de uma montanha.
Ela para o carro ao lado de uma mercearia e posto de gasolina, desliga o carro e a música junto, ao descer um homem, (muito velho para ser um moço e muito jovem para ser um senhor) se aproxima.
— Boa tarde, está vindo uma nevasca, posso colocar correntes em seus pneus.
— Por favor, pago ao senhor?
— Pague a minha irmã, lá no caixa.
Tsukino adentra a pequena mercearia, o ambiente rústico não diminui o frio que sente, mesmo com o pesado casaco vermelho sangue que usa, a jovem (por volta dos 30 anos) escolhe alguns mantimentos, ignorando a notícia da televisão.
Na tela uma mulher chora, segurando a foto de sua filha, com duas tarjas pretas, uma em cada canto superior.
— Já faz um mês que minha filha foi encontrada morta, a polícia ainda não descobriu quem fez isso.
— A senhora tem alguma posição oficial?
Todos dizem que foi um urso, mas onde ele está? Uma fera dessas não atacaria outras pessoas? Não houve nenhuma morte, nem de animais. Eu quero justiça!
A repórter se volta para câmera e começa a dizer alguma coisa sobre os ataques do mês passado, como cessaram subitamente.
Tsukino coloca suas compras no balcão e espera paciente enquanto aquela mulher soma o valor com uma calculadora.
— Também tem as correntes nos pneus do meu carro.
— Não recebemos muitos turistas por aqui.
— Não sou turista, tenho uma casa na montanha.
— Conheço todo mundo da cidade.
— Tem um ano que não venho, meu caseiro abre a casa de vez em quando…
— Tome cuidado, vai vir uma tempestade de neve nos próximos dias, vai ficar isolada.
— É tudo o que eu preciso.
Aquela mulher olha sem entender, Tsukino paga a conta.
— Trabalho, vim por causa do isolamento, Tóquio é muito barulhenta.
— Você não está mais em Tóquio
A mulher olha diretamente para os olhos de Tsukino, constrangendo nossa protagonista, seu tom de voz soou como um aviso terrível.
A jovem de vermelho abraça seus pacotes e envergonhada deixa a pequena loja, do lado de fora o homem abre a porta traseira, facilitando com que ela deixe suas compras.
Tsukino solta um tímido “obrigada”, sobe no carro e dirige rumo à montanha.
O caminho até sua casa é de difícil acesso, a estrada não é pavimentada e a neve faz tudo ficar mais difícil, não a toa ela optou por um modelo esportivo com tração nas quatro rodas, um modelo exagerado em Tóquio, mas necessário no interior de Hokkaido.
Assim que estaciona ela vê um casal perto da porta, ao lado de um velho jipe, ela se aproxima deles.
— Desculpe pela demora.
— Tudo bem, ainda temos algumas horas antes do anoitecer..
— A tempestade vai chegar logo?
— Não deve cair hoje, mas vai vir com força. Você não vai ter problemas com a casa, mas deve ficar isolada uns três ou quatro dias.
— Muito obrigada por virem aqui arejar tudo.
O homem simplesmente se afasta, indo em direção a SUV, abre a porta, pega a mala mais pesada e leva para dentro, sua esposa faz o mesmo e leva as compras, Tsukino os segue carregando sua pequena maleta de trabalho.
— Eu verifiquei o gerador - o homem se dirige a Tsukino, sem prestar muita atenção a moça - ele está carregado de querosene, se faltar luz por causa da nevasca ele deve funcionar dos 12 horas, depois disso vai precisar recarregar, em mais um galão e quatro latas ali no quartinho.
— A internet está funcionando?
— Está, não garanto se vai continuar assim durante a tempestade, nesse período as linhas telefônicas sempre falham.
— Meu rádio de ondas curtas está ativo.
— Firme e forte, agora se não for mais precisar de mim.
Ela se curva ao casal, agradecendo toda a ajuda, os dois fazem o mesmo e saem da casa, fechando a porta.
Tsukino deixa as compras na cozinha, coloca algumas frutas na estante, checa a geladeira cheia, volta para a sala e sobe as escadas com suas malas, primeiro entra no quarto, ela checa os armários cheios de roupas de inverno já fora de moda.
Ao abrir sua mala grande retira sua camisola preferida, dois pares de calça, duas camisetas, artigos de higiene e um vibrador, que guarda dentro de uma gaveta.
Subir escadas carregando uma mala a faz sentir calor, ainda mais com a calefação funcionando, ela tira a grossa jaqueta vermelha, ficando apenas de camisa e calça jeans.
Ela leva sua mala pequena para o escritório, uma sala recheada de mangás e animes em Blu-Ray, na parede um pôster de “Cavaleiro da Lua”, um mangá romântico para garotas, um pouco abaixo do título ela lê seu nome.
Pela primeira vez a garota checa seu celular, tinha uma mensagem de voz de seu editor.
“Aqui é Mamoru, os diretores da editora estão me cobrando, estão se queixando do seu hiato e querem o fim do mangá, por favor se esforce e entregue os últimos capítulos, vou na sua casa hoje a noite”.
Ela grava uma mensagem de voz: “Não vá, estou em Hokkaido, na minha casa na montanha, faltam três capítulos, acontece que fiquei empacada e não consigo me concentrar. Diga aos diretores que entrego tudo na próxima semana”.
A garota abre sua maleta, retirando uma pasta com seu trabalho, canetas nanquim, material de desenho e senta-se na sua mesa, a frente da escrivaninha uma enorme janela com vista para o topo da montanha.
— Ahh!!!!! Que lindo!
Ela sorri, se espreguiça e abre seu trabalho, na cena em que parou a princesa dança com o cavaleiro da lua, os dois mascarados, apaixonados e tristes: “Não vou conseguir impedir a guerra, os interesses dos nobres são mais fortes do que nosso amor”.
Ela começa a escrever mais falas da princesa: “Guerra é sinônimo de miséria, me dói muito ver meu povo sofrendo”; agora as falas dele: “Seu coração é mais puro que o gelo daquela escultura, é o que mais amo em você, infelizmente pessoas boas estão fadadas a sofrer”.
Em outra cena ela escreve os pensamentos do cavaleiro da lua: “Não posso revelar minha identidade para a mulher que amo, me ocultei como o cavaleiro da lua em busca de vingança contra aqueles que destruíram minha família e mataram meus pais, a guerra iminente é resultado da minha vingança, mas eu nunca imaginei que eu iria me apaixonar.

Enquanto isso, na vila que cerca a montanha.
Algumas crianças saem para brincar com seus trenós, uma delas corre atrás dos garotos.
— O burro quer andar de trenó
— Burros não andam de trenó, os cascos não deixam.
Irritado, o menino faz uma bola de neve e joga no rosto de um dos dois. Os meninos se irritam e correm atrás do garoto.
A paisagem é branca, flocos de neve caem por toda a parte, o menino consegue entrar no bosque, despistar seus perseguidores, que correm sem perceber que a lua começa a nascer.
Anoitece cedo perto do norte, a linda lua cheia projeta sua luz para dentro do escritórios, Tsukino se encontra sentada, sem calça, brincando com seu vibrador (a melhor forma de aliviar o stress pelas cobranças editoriais), sua mão direita segura o brinquedo erótico em sua vagina, enquanto a outra mão adentra sua camiseta, seguando o seio, tomada pelo prazer a garota morde o lábio enquanto geme satisfeita.
Seu prazer é interrompido por um grunhido, uma mistura de uivo com rugido, assustada ela perde totalmente o prazer, deixando seu vibrador cair. o som vem de longe, ela se levanta olhando a vista, provavelmente a localização de sua casa fez o ruído subir.
Enquanto tentava imaginar que som foi aquele, ela ouve novamente o rugido com uivo, perto ou longe é um animal grande. Tsukino veste sua calça apressada, desce as escadas correndo e tranca a porta principal.
Ela passa os próximos minutos checando todas as possíveis entradas para sua casa e só se acalma quando se percebe isolada.


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