Mirror Myself In You escrita por LadyDelta


Capítulo 41
The Other Side


Notas iniciais do capítulo

Oláááá. Olha quem voltou ♥
Como vai?
Esse ano tá bom ou tá merda?
Meio complicado viver nos dias atuais né?
Então, como eu prometi, aqui estou com capítulo novinho e fresquinho. Provavelmente eu volte ainda esse mês, caso contrário, só mês que vem. Mas é palavra que estarei aqui até o fim do mês que vem.
Se tiver interessada, tem uma história nova que estou publicando também, ela não será tão longa e no máximo terá uns 10 capítulo, então se quiser dar uma lidinha no primeiro que já joguei por ai, o nome é Chronos.

Creio que o capítulo tem algum erro de digitação, irei fazer uma segunda revisão, mas por enquanto, vai assim mesmo

Enfim

Playlist da história.

YouTube:

https://www.youtube.com/playlist?list=PLqzyWlKccLfamc0Zj0ZnRquCAmLaa_Den


Música para esse capítulo: Ruelle - The Other Side

Link: https://www.youtube.com/watch?v=68QiJRApny8


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Dito isso


~Boa leitura.



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Victória Pov.

Senti um nó na garganta ao ver Galateia se aproximar de mim, caminhando com passos firmes e um olhar inquisitivo. Eu queria fugir, me esconder, desaparecer. Mas sei que tenho que enfrentar essa situação que eu mesma criei. Respirei fundo e tentei me acalmar, mas as lágrimas já escorriam pelo meu rosto, denunciando o meu estado emocional.

— Por que está chorando? – Ela perguntou, parando na minha frente e me encarando com curiosidade. Eu me apressei em secar as lágrimas com as mãos, tentando disfarçar o meu choro.

— Não estou! Foi apenas… Apenas… Você não ia ficar conversando com a menina? – Mudei o assunto, desviando o olhar dela e procurando por uma saída. Ela cruzou os braços, baixou a cabeça e suspirou.

— Não ia demorar, apenas me despedi. – Explicou com uma voz calma e controlada e assenti sentindo um alívio momentâneo. Talvez eu ainda tenho alguma chance com ela. – O que foi aquilo ali atrás? Do nada você fez uma cena. – Continuou, me trazendo de volta à realidade e senti uma mistura de raiva e medo. Não quero falar sobre isso. Não quero admitir que acabei de pisar na bola. – Vick...

— Não foi do nada! – Exclamei um pouco alto e me encolhi logo em seguida. – Você… Você estava sorrindo pra ela e sendo toda simpática, quando nunca, NUNCA fez isso com qualquer outra pessoa. O que você queria que eu fizesse? Sentasse e batesse palmas? Você não quer namorar comigo, e eu estou completamente no escuro em relação a como está se sentindo sobre mim. Não faço a menor ideia se qualquer coisa que eu faça irá te convencer que te mereço! Não quero ter de ver uma pessoa te dando presentes na minha frente e você os aceitando como se fosse algo precioso!

— Eu não entendo… – Começou com uma expressão confusa e magoada. Levei a mão ao rosto, passando-a sobre os olhos em pura frustração.

— Da mesma forma que eu entendo os seus sentimentos agora, você deveria entender os meus! Está chateada comigo, ok, isso é óbvio e você deixou bem claro. Mas eu te amo! Galateia, eu amo você. Te magoei de uma forma escrota e estou tentando buscar seu perdão, mas ver esse tipo de situação me magoa, porque você sabe! Você sabe muito bem que gosto de você. – Falei com à voz embargada. – Não estaria sendo idiota nesse momento se eu não gostasse! Me chateia que ignore completamente esse fato porque está triste comigo. –  Falei sentindo a garganta arder pela vontade de chorar ser mais forte.

— Vick… Ainda não entendo. Por que ficou com ciúme dela? – Perguntou suavemente, tocando o meu braço com delicadeza. Senti os meus olhos se encherem de lágrimas outra vez. Ela não entende. Não vê o quanto estou insegura?

— Por que qualquer um é uma ameaça pra mim! Você está magoada comigo e pode me largar aqui e se envolver com qualquer pessoa que você queira, porque você é incrível e qualquer um estaria ganhando na loteria com seu interesse. Se você decidir que gosta de outra pessoa, eu não vou ter nada o que fazer contra isso, porque não tenho o direito de fazer! – Reclamei me sentindo trêmula por meu medo misturado com raiva e vontade de chorar. – Eu não devia! Mas estou com ciúmes. Não é um jeito de resolver as coisas, mas não posso ir contra esse sentimento. Inferno, eu faço tudo errado, desculpa. – Pedi, olhando para o céu para evitar chorar. – Só surto sobre tudo e você… Você ainda assim tem paciência comigo. Me desculpa por agir desse jeito. – Sussurrei me sentindo idiota, o que tem sido recorrente demais para o meu gosto. – Não queria surtar dessa forma, mas… É o que faço. – Me encolhi, esperando por uma reação dela. Uma palavra, um gesto, um sinal. Qualquer coisa que me mostrasse que ela ainda se importava comigo.

— Vick… – Disse com uma voz triste e cansada e me olhou por alguns segundos com compaixão, mas também com firmeza e determinação. Ela suspirou e balançou a cabeça, como se estivesse tomando uma decisão difícil. – Você não entende, não é? – Perguntou e abri a boca para lhe responder, porém não consegui dizer uma palavra. –Você não pode me magoar e depois chorar e pedir desculpas. Não pode esperar que as coisas se resolvam tão facilmente só porque você diz que me ama. – Disse com uma voz calma e sincera e senti um nó na garganta, vendo o seu olhar triste e decepcionado. Eu queria dizer alguma coisa, mas as palavras não saíam da minha boca.

— Galateia… Por favor… – Tentei falar, mas ela me interrompeu colocando a mão no meu ombro com delicadeza

— Vick. Escuta. – Pediu e voltou a suspirar.  – Eu sei que você está sofrendo, que se arrepende, e mais do que tudo, eu sei que você me ama. Mas isso não é suficiente! Por que eu também te amo, muito. E isso não está sendo o suficiente para mim. – Declarou, e só de ver seus olhos marejados me fez entender que suas palavras vêm do fundo do coração. – Eu não confio mais em você! – Lamentou. – E o que me deixa mais triste é que a culpa não é sua! Não foi algo tão ruim e aqui dentro eu sei que você realmente não queria. – Tocou sobre o peito e senti a lágrima escorrer por minha bochecha. – Mas da mesma forma que sei disso, aqui no fundo é o local que mais estive machucada o tempo todo. Não é culpa sua que eu seja tão quebrada assim e não quero que lamente tanto por algo que não deveria ter tanta importância para outra pessoa, mas que para mim fez um estrago enorme. – Sua voz saiu vacilante e quebrada de uma forma que me fez querer chorar ainda mais por ela ser tão especial. – Eu gosto de você, gosto tanto de você e quero poder dizer que está tudo bem e que não me importo com o que aconteceu, mas não posso! Não consigo, entende?

— Eu entendo. – Disse, com uma voz sincera e arrependida e olhei nos seus olhos, vendo a dor e o amor que eles refletiam. Nós poderíamos ter tido essa conversa ontem, mas eu sei que mesmo que tenha ido me ver, ela não estava pronta para isso e mesmo assim o fez. – Sei que você está machucada, que não confia em mim, e que mais que qualquer coisa, precisa de um tempo. – Agarrei suas mãos e beijei sobre elas com carinho. Essa garota é um anjo. – Me desculpa, por mais que eu tenha pedido e você tenha dito sim, agora eu entendo o que você quis dizer nas suas palavras ontem, que não pode me perdoar assim e Téia, você não é obrigada a aceitar o que eu fiz, nem a fingir que está tudo bem. – Garanti voltando a olhar em seus olhos azuis. Queria abraçá-la e dizer que tudo vai ficar bem. Mas diante das suas palavras, como eu ousaria? Tenho que respeitar o seu espaço e o seu tempo. – Mas eu quero que você saiba e guarde isso com você. Eu te amo, Galateia. E eu me odeio por ter te magoado, por ter momentaneamente perdido você. – Falei a última frase em um sussurro. – E quero que você saiba outra coisa. Vou fazer de tudo para reconquistar a sua confiança, para reparar o meu erro. Vou esperar por você, pelo tempo que for preciso. E lutar por você, até o fim. –  Terminei, apertando suas mãos nas minhas e olhando nos seus olhos com esperança e determinação.

— Vick… – Chamou com uma voz suave e emocionada. Seu olhar se manteve no meu com carinho e compreensão, mas também com tristeza e hesitação. Ela suspirou e balançou a cabeça, como se estivesse dividida entre o seu amor e a sua mágoa. – Posso abraçar você? – Pediu receosa e sorri chegando mais perto para lhe abraçar.

— Você é tão boba, Galateia! Estou o tempo todo me contendo pra não te abraçar e você pergunta se pode fazer isso? Meus abraços são só para você. – Declarei me aconchegando no aperto firme e carinhoso.

XxX

Mexi nas mãos sentada ao lado da Galateia na sala de aula vazia. Nós não estávamos nos falando depois do ocorrido antes de virmos para sala de aula, e embora tivéssemos nos resolvido sobre como nos sentíamos, aquela sensação desconfortável entre nós não estava indo embora. O foda é que por mais que ela tenha sido carinhosa, compreensível e tão sincera com seus sentimentos, ainda assim, sinto que me desculpar é um passo que ela não poderá fazer tão cedo. Hoje também não irei para natação, porque Débora se recusou a me deixar entrar na água, então infelizmente, terei de ficar perto da Galateia, mesmo que ela se pareça um pouco incomodada sobre como agir comigo.

Suspirei me focando na atividade da aula passada que não havia terminado e olhei para meu celular que vibrou sobre a mesa. Estiquei a mão o pegando e vi que era uma mensagem da Sam.

Sam: Eu estou aqui no hospital, sofrendo, quase morrendo e não posso ver minhas amigas juntas? Quando vocês vão aparecer aqui? Não quero vê-las em horários diferentes, por favor. Venham me ver juntas. As notícias não são boas para mim e eu preciso de amparo!

Arregalei os olhos pela mensagem e me virei para Galateia, vendo que ela também olhava o celular e logo depois e trocamos um olhar preocupado.

— A Sam me mandou uma mensagem. – Falou e assenti.

— Pra mim também. Ela disse que as notícias não são boas. – Falamos o final da frase juntas e engoli em seco. Mostramos a mesma mensagem uma para a outra e Galateia se atentou ao aparelho.

— Mas que inferno. Sara não está falando comigo por causa da Liane e a única pessoa que pode me manter informada da situação dela seria o Vicent, mas ela não está falando com ele. – Reclamou digitando no celular e me olhando em preocupação. – Vamos ver ela no final das aulas? Digo... Você não se incomoda de ir comigo? – Perguntou e entreabri a boca em surpresa por sua pergunta. Ela quem deveria ser a pessoa incomodada com a minha presença, não eu!

— Eu quem deveria perguntar isso. Está tudo bem se eu for? – Perguntei receosa e ela ponderou no lugar, olhando para a sala em nervosismo.

— Sim, eu não me incomodo, Vick. Quando a aula acabar, nós vamos. Tudo bem? – Perguntou e senti um frio na barriga ao ouvir isso. Não sei como será ir com ela. Vai se manter em silêncio o caminho todo?

— Tá bom. Ela te respondeu? – Perguntei curiosa quando seu celular voltou a vibrar.

— Disse que está sem bateria e que é pra nós irmos... – Sussurrou e olhamos para porta pelo sinal do intervalo anunciar o término dele e o professor entrar na sala, o que logo depois todos os alunos também fizeram. Voltei minha atenção para meu caderno e a aula seguiu normal até dar o horário da saída, com o silêncio de Téia de brinde. Deveria me sentir incomodada pelo silêncio constante, mas... Os olhares dela são suficientes, porque sempre parece estar querendo falar algo, só não sabendo o que dizer. Quando o ultimo sinal ecoou pela escola, ela foi rápida em arrumar todas as suas coisas, esperando pacientemente eu fazer o mesmo.

Coloquei a mochila nas costas ao guardar tudo e saímos da sala, descendo as escadas do segundo andar e fomos para o jardim na frente.

— Robert disse que vai se atrasar uns 10 minutos. – Galateia alertou quebrando o silêncio que estava entre nós e assenti olhando para todos os alunos que saiam e vi a menina de mais cedo um pouco distante, passando o torso das mãos nos olhos várias vezes como se estivesse chorando. Olhei brevemente para Galateia e ela seguiu o olhar para onde antes eu olhava. Seus ombros se encolheram e suspirei derrotada. Certo, eu fui idiota com a menina hoje cedo sem ela ter feito absolutamente nada de errado. Acho que no mínimo eu deveria chegar perto dela pra perguntar se está bem.

— Vamos falar com ela? – Propus e Galateia me olhou confusa.

— Você tem certeza?

— Tenho, me sinto mal por ter sido idiota mais cedo. Podemos? – Perguntei e ela sorriu assentindo algumas vezes, se colocando a andar na direção da menina, o que só fiz lhe seguir em silêncio.

— Bruna, você tá legal? – Perguntou e a menina ergueu a cabeça voltando a limpar os olhos e sorrindo forçado.

— Sim! Eu só... Só estou chorando, não se preocupe quanto a isso. – Balançou a mão fazendo pouco caso da situação e Galateia me olhou preocupada.

— Mas o que aconteceu? Está passando mal outra vez? – Questionei e seus olhos vieram em minha direção, vermelhos pelas lágrimas.

— Não! Estou bem de saúde, acho. – Fez uma careta e olhou para Galateia. – Lembra aquela garota de ontem? A que chegou pra me buscar. – Perguntou e também olhei pra Téia por ela assentir. – Eu meio que beijei ela hoje. – Murmurou e ergui ambas as sobrancelhas em leve surpresa. Então ela realmente tem alguém que gosta, como disse mais cedo. Acho que eu estava tão inconformada que não prestei muita atenção nesse fato.

— Meio que beijou ou beijou? – Galateia questionou confusa. – O que é um meio beijo?

— Beijei! Eu a beijei, um beijo normal. – Explicou. – Só que ela não gosta de meninas e logo depois de me xingar e ser bem cruel, ela parou de falar comigo. – Contou e riu logo depois. – Porra, eu sou muito idiota, não sou? Minha irmã vive dizendo que eu não tenho cérebro, mas dessa vez acho que me superei na idiotice.

— Você gosta dela? – Perguntei por ela voltar a limpar as lágrimas.

— Aquela idiota é minha melhor amiga desde que eu estava nas fraldas. – Reclamou. – E agora eu fui falar com ela para me desculpar, mas ela me tratou tão mal! Parecia que eu era uma completa estranha pra ela. – Murmurou voltando a limpar as lágrimas que continuaram a cair. – Essa idiota, babaca, cabeça de milho. – Choramingou. – Custava ter pelo menos falado civilizadamente comigo? Até parece que eu forcei o beijo. Daí agora eu me sinto uma idiota ainda maior por isso ter tanto impacto em mim. – Limpou as lágrimas uma última vez e fungou. – Você é inteligente, Galateia! – Falou confiante e franzi o cenho por ela parecer ter finalmente controlado as lágrimas. – Vamos, faça de novo. Me diz uma coisa que me faça sentir menos idiota? – Pediu e apenas lhe observei em curiosidade. De novo? O que eu perdi da interação dessas duas antes?

— Olha... Você se machuca menos quando decide aceitar a realidade. – Galateia murmurou e senti um aperto no coração ao ouvir suas palavras ditas em um tom tão triste. – Eu sei que mesmo assim machuca muito e você fica imaginando milhares de formas para tudo voltar a ser como antes, só que, nenhuma delas pode vir a funcionar, então... O único conselho que eu posso te dá e que infelizmente não vai mudar como está se sentindo. Faça jus a indiferença dela.

— Nãooo a dor é inevitável? – Perguntou em um exagero de lamento e respirou fundo. – Tá, entendi... Por que você tem que ser tão realista? – Choramingou e voltou a respirar fundo. – Ignorar de volta, né? Seria mais fácil se ela não fosse a única pessoa que conversava comigo. Saco, agora eu estou sozinha naquela sala imunda. – Reclamou se encolhendo. – Ótimo momento para ser nova na escola. Brilhante ideia mãe, me mudar de escola no terceiro mês de aula, eu obviamente vou fazer muitos amigos assim. – Reclamou e olhei para Galateia que lhe observava em silêncio.

— Você é nova aqui? – Perguntei curiosa.

— Sim, eu sou! – Confirmou acenando com a cabeça – Me mudei para cá tem umas três semanas. Eu vim de outra escola.

— E como você está se adaptando? – Perguntei interessada.

— Não estou! Os alunos daqui parecem um bando de robô e todo mundo já tem seu grupinho feito. Eu não me encaixo em nenhum e os professores me colocaram junto do grupo da Priscila, mas só ela falava comigo, porque o resto do grupo dela parece ser bom demais pra conversar com essa criatura. – Apontou para si mesma como se fosse uma aberração. – Eu ainda não conheço ninguém. – Choramingou fingindo limpar uma lágrima. – Mas gosto da escola. Estranhamente me sinto bem inteligente aqui. – Deu de ombros e suspirou. – Agora absolutamente ninguém vai falar comigo naquela sala e eu serei o patinho feio. – Reclamou e suspirei.

— Desculpa ter sido rude com você mais cedo. – Pedi e seus olhos se arregalaram.

— Quê? Nada! Relaxa quanto a isso, você pensou que eu estava dando em cima da Galateia, eu também ficaria puta da vida no seu lugar. Ela é sua futura namorada, né? Totalmente aceitável. Não tem de pedir desculpas, mas eu realmente só estava dando chocolate pra ela, apenas. – Sorriu e por um momento me senti idiota por ter surtado pela manhã. Ela só estava agradecendo e eu fui ignorante com a menina.

— Quer ficar com a gente no intervalo amanhã? – Perguntei e Galateia me olhou tão surpresa quanto Bruna.

— Eu? Você tem certeza?

— Sim, tenho. Galateia te achou legal. Ela não costuma achar ninguém legal, acredite. – Tentei brincar. – E... Realmente me sinto mal por ter sido ignorante com você, me desculpa de novo. – Pedi.

— Que isso! Eu já disse que está tudo bem, não precisa se desculpar não, moça. – Riu. – Mas vocês têm certeza mesmo que eu posso passar o intervalo com vocês? Ainda tem tempo de desfazer o pedido. – Alertou se encolhendo.

— Somos terceiro ano B12. – Galateia falou e ela sorriu grande ao perceber que o convite era realmente sério.

— Sou do B11. Acho que minha sala é do lado da de vocês! – Falou animada e assenti. – Tá bom, já que não voltaram atrás no pedido... No intervalo de amanhã vou conversar com vocês. – Sorriu e olhei para o carro branco que parou do nosso lado na calçada. – Ah, é o meu Uber. Obrigada pela conversa meninas e mais obrigada ainda pelo convite. Vejo vocês amanhã. – Acenou entrando no carro e suspirei por ela parecer feliz. Assim que o carro saiu um arrepio subiu por minha coluna por Galateia pegar minha mão, a apertando delicadamente sem dizer nada, apenas mantendo seu olhar para frente. Olhei na mesma direção e me mantive em silêncio como ela, apenas apreciando seu toque sem perguntar o porquê ou surtando sobre o que isso significava. Ela está segurando porque quer, não vou comentar e arriscar lhe afastar.

Nos mantivemos assim até que vimos o motorista dela se aproximar com carro. Ele nos cumprimentou com um sorriso e abriu a porta para nós o que levou a mão de Galateia a se afastar da minha para que pudéssemos entrar no mesmo. Ver ela colocar o cinto e se manter quietinha do seu lado do banco, me fez entender que ela já está me dando uma chance de tudo ficar bem, e que agora só me resta mostrar pra ela que não está errada em decidir isso.

XxX

Saímos do carro e caminhamos até a entrada do hospital. Pelo caminho conversamos sobre a mensagem de Sam e para ser sincera, estávamos nervosas e ansiosas para vê-la. Galateia disse que ela nunca admite que está mal e que se fez isso, é porque as coisas estavam mesmo ruim e o fato dela ter mandado a mensagem para nós duas e depois não ter dito mais nada por causa do celular descarregando... Isso só nos deixava ainda mais preocupadas. Não sabíamos o que esperar, só queríamos chegar logo ao quarto dela e dar-lhe apoio.

Chegamos à recepção mostrando nossos documentos e fomos rápido para sala de espera e procuramos pelo Vicent, para saber se ele tinha alguma notícia recente do acontecido e o encontramos sentado em uma das cadeiras, mexendo no celular. Ele levantou a cabeça quando nos viu e sorriu, guardando o aparelho no bolso antes de vir ao nosso encontro.

— Que bom que vocês vieram! – Disse animado. – A Sam vai ficar feliz em ver vocês. Ela está melhorando, sabiam? Os médicos me disseram que ela pode receber alta em breve. – Contou empolgado e franzimos o cenho em descrença. Ela o quê?

— Como assim? Ela mandou mensagem dizendo que estava piorando. – Galateia reclamou e Vicent pareceu confuso.

— Mandou? – Perguntou preocupado. – Mas o médico me disse que ela estava melhorando... – Sussurrou e nos olhou em súplica. – Mas ainda vão ir vê-la, certo?

— Sim, mas é claro. – Galateia garantiu.

— Por favor, ela ainda não quer que eu entre e se o médico tiver mentido pra mim... Digam pra ela que eu estou aqui. – Pediu apreensivo e assenti um pouco perdida por Galateia voltar a pegar minha mão, me puxando de leve para acompanhá-la. Sorri por sua mão ser fria em comparação a minha.

— Vocês se resolveram? – Vicent perguntou curioso e arregalei os olhos por isso fazer a mão firme da Galateia se afrouxar sobre a minha. O desespero me atingindo ao notar que a frase dele havia acabado de resultar em uma reação negativa nela. O que...

— O quê? – Perguntou em um sussurro e posso jurar que uma sirene de alerta começou a disparar dentro da minha cabeça. Não, porra! Ela não contou pro Vicent a nossa situação, e acho que nem iria, por mais que ele seja seu primo. Ela não contaria uma situação tão pessoal assim e eu contei? Meu Deus!

— Eu fico feliz em ver que vocês se reconciliaram depois daquela situação chata. – Continuou e quis chorar por Galateia soltar minha mão completamente e se afastar um pouco do meu corpo. – Ué... Soltou a mão dela por quê? Vocês não precisam ter medo ou vergonha disso. Podem contar comigo para o que precisarem. Eu estou do lado de vocês nessa, principalmente do seu, Ninfa. – Continuou animado e lhe olhei em desespero e só então ele pareceu perceber que julgou mal a cena.

— O quê? Como é que é? –  Galateia perguntou indignada. Ah não... – Você contou pra ele? – Olhou para mim com decepção e abri a boca para responder. Por que só comigo que essas coisas acontecem?

— Eu… Só comentei. – Sussurrei de forma quase inaudível ao notar que tinha cometido o segundo vacilo seguido. Eu só queria alguém para conversar, mas não me toquei que a Galateia não contaria esse assunto pro próprio primo, por mais que goste dele. Estraguei tudo de novo? Quantas vezes mais eu vou decepcionar ela?

— Foi eu quem perguntou e insistiu para saber! A culpa não foi dela. E... Eu só fiz uma declaração de apoio, Galateia. Eu torço muito por vocês. – Vicent tentou reverter a situação um pouco nervoso ao notar a mudança no humor dela.

— Uma declaração indesejada! Você não sabe do que está falando! – Disse visivelmente brava. – Você nem deveria saber disso. – Reclamou e voltou a olhar para mim e me encolhi por seu olhar decepcionado. – Por que contou pra ele?

— Eu só… Não achei que isso ia te chatear, Galateia. – Disse tentando acalmá-la e tentando evitar de chorar. Parece que quanto mais eu tento concertar as coisas, mas complicadas elas ficam.

— Eu não conto da minha vida pra todo mundo, Victória. – Reclamou nitidamente chateada por usar meu nome sem apelido. – Muito menos pro Vicent! – Apontou para ele que se encolheu.

— Mas, Ninfa… Eu já sabia que você e a Vick se gostam e qu-. – Tentou se explicar, mas Galateia o cortou.

— Não importa se você sabia! – Reclamou e fechou os olhos respirando fundo. – Esquece! Vou ir na frente. – Virou as costas saindo, deixando-me sozinha com o Vicent. Senti um aperto no peito e uma vontade de chorar enorme. Não acredito que tudo deu errado de novo. Eu estraguei tudo de novo!

Olhei para o Vicent e vi que ele estava se sentindo tão culpado quanto eu. E até tentou me consolar com um sorriso fraco, mas vi que também estava triste pela reação da Galateia. Ele é um bom rapaz e só queria nos ajudar. Não tinha culpa de nada.

— Me desculpa, Vicent. Eu não esperava que ela fosse reagir assim. – Pedi não conseguindo evitar a voz embargada.

— Não… Eu que… Eu não devia ter dito nada. A culpa foi minha, eu a conheço e sei que ela não teria me contado que vocês brigaram e se eu soube… Não devia ter transparecido isso. – Pediu aborrecido. – Ela é bem fechada sobre essas coisas e agora é como se eu tivesse invadido a privacidade dela. – Lamentou. – Mas não fiz por mal, é que ela pegou sua mão e julguei que estava tudo bem... – Sussurrou aborrecido com a reação da prima. – Me desculpa, Vick. Parece que eu compliquei as coisas pra você.

— Tudo bem, não precisa se desculpar, eu... – Comecei e suspirei. – Eu também errei. Não devia ter contado pra você sobre a nossa briga. Eu sei que ela é reservada e que não gosta de falar sobre esses assuntos. Só estava confusa e precisava de alguém pra desabafar.

— Eu entendo, Vick. Você é minha amiga também, não é errado me contar seus problemas! E... Quero te ver feliz. Achei que vocês tinham se resolvido e que estavam bem. Achei que podia falar sobre isso com vocês, sem causar problemas, porque ela estava de mãos dadas com você. Ela não costuma... Entendi! Ela não costuma, mas é apenas porque é você. – Sussurrou. – Me desculpa, não foi a intenção, de verdade.

— Eu sei, Vicent. Você foi gentil e atencioso com a gente. Só quis nos apoiar e nos incentivar. Não teve uma má intenção.

— Mas acabei irritando a Galateia e afastando vocês duas. Eu sou um idiota.

— Não, você não é. Você é um amor. A Galateia sabe disso, ela só está chateada agora. É muita coisa nos envolvendo, a cabeça dela tá cheia. – Expliquei segurando a vontade de chorar.

— Me perdoa?

— Claro que sim, Vicent. Você não tem culpa de nada. – O abracei e fui abraçada de volta e me afastei logo depois olhando para o corredor onde a Galateia tinha ido. Sentindo o medo me dominar. Não sei se depois disso posso continuar tendo esperanças com ela.

Respirei fundo e tomei minha decisão. Eu não posso deixar a Galateia sozinha agora. Tenho que ir atrás dela e tentar consertar as coisas. Tenho que mostrar pra ela que me importo com seus sentimentos e que contar pro Vicent não foi uma forma de expor eles, eu só queria conversar.

Me despedi do Vicent com um aceno de mão e saí correndo em direção ao quarto da Sam, diminuindo o passo ao avistar Galateia no corredor para começar a caminhar ao seu lado. Abria a boca várias vezes para dizer algo, mas apenas encolhi os ombros e continuei lhe acompanhando sem trocar uma palavra com ela.

Acho que ficar perto da Sam deixa a Galateia mais confortável do que ao lado do Vicent. A tentativa dele de “quebrar o gelo”, só adicionou mais umas sete camadas por cima. Galateia não estava desconfortável antes, mas agora, parece que quer estar em qualquer lugar, menos do meu lado. Isso me deixa tão nervosa e com medo de perder ela. Ela é tão imprevisível quando se trata de como está se sentindo.

— Quer que eu bata? – Perguntou séria quando chegamos ao quarto de Sam e assenti, segurando suavemente seu pulso quando sua mão se ergueu. Sua atenção veio para mim e engoli em seco por seu olhar intenso.

— Desculpa. – Sussurrei e prendi a respiração por seus olhos suavizarem.

— Esquece, por favor. – Pediu fechando os olhos. – Não estou brava com você. – Alertou e suspirei em alívio. – Foi só a situação que eu não... Tá tudo bem, ok? Eu só... Só me estressei um pouco. – Falou tornando a abrir os olhos e assenti. – Vamos ver a Sam e depois falamos sobre isso? – Pediu e tornei a assentir, soltando seu pulso e esperando que ela anunciasse nossa chegada. Ok, isso significa que as coisas não pioraram, certo? Talvez eu ainda...

Galateia abriu a porta e reprimi meus pensamentos no mesmo instante, sorrindo e indo na frente, sendo seguida de perto por ela. Não tem porque me forçar a focar no que estou sentindo, não agora, não nesse momento. Suspirei e vi Sam sentada na cama, lendo uma revista. Ela parecia um pouco abatida, mas assim que nos viu, seu rosto se iluminou com um sorriso radiante. Ela é o tipo de pessoa que não se deixa abater por nada, nem mesmo pela doença.

— Então você não tem boas notícias, não é mesmo? – Galateia perguntou com o humor totalmente diferente. A voz soando divertida e carinhosa para Sam, que fez uma careta culpada, jogando a revista de lado e nos chamando com a mão.

— Oi, minhas lindas! Que bom que vocês caíram no meu plano e vieram juntas. De que outra forma eu conseguiria isso? Tive que apelar pra chantagem emocional. – Falou piscando para nós e olhei para Galateia tentando disfarçar minha breve alegria. Realmente, se ela não tivesse mandado mensagem, nós teríamos continuado sem nos falar até o horário da saída e no fim iria cada uma para um lado. Isso facilmente me resultaria chorando no colo da minha mãe.

— Oi, Sam. Como você está? – Perguntei receosa, olhando para os seus olhos que ainda brilhavam em divertimento.

— Ah, eu estou bem, sabe? Só um pouco cansada, mas nada que um pouco de descanso e uns remédios não resolvam. O médico disse que eu logo irei receber alta, mas também disse que posso tornar a ter uma recaída futuramente e que se caso ocorrer, vai ser um pouco mais... Ruim. – Deu de ombros como se não fosse nada. – E vocês? Como estão as coisas entre vocês duas? – Perguntou curiosa, olhando de Galateia para mim com um olhar avaliador. Senti meu rosto corar e desviei o olhar.

Sei que ela está por dentro de tudo o que aconteceu entre nós, porque a mesma afirmou que Galateia havia lhe contado tudo, e eu também contei a minha versão. Mas para mim ela disse que queria nos ajudar a nos reconciliar. Só que as coisas não são simples assim. Nosso desentendimento não é algo que pode ser resolvido rápido, pelo menos, acredito que não.  Estamos tentando nos entender novamente, mas Galateia ainda está muito magoada comigo e ela é um pouco imprevisível nas suas reações, por mais que seja tão compreensível, por isso o silêncio que se instalou depois da sua pergunta foi constrangedor. Eu não vou dizer nada sem que Galateia diga, porque não me vejo no direito de fazer isso.

— Nossa! Mas que silêncio constrangedor esse de vocês. – Reclamou fazendo uma careta. – O que aconteceu? Vocês brigaram de novo? – Perguntou, parecendo preocupada.

— Não… – Galateia começou a dizer, mas se calou quando Sam negou várias vezes com a cabeça.

— Ai não, credo! Tá parecendo que alguém morreu nesse quarto. Eu quero alegria! Cadê aquele amor todo que vocês tinham de ficar grudadas e flertando? Cadê as risadas gostosas que vocês davam juntas? Cadê aqueles beijos apaixonados que vocês trocavam na minha frente? – Disse inconformada, fazendo gestos exagerados com as mãos e me encolhi pelo que ela decidiu dizer. Flertando? Beijos apaixonados? Olhei para Galateia sem saber o que dizer e me surpreendi em ver que ela tinha os olhos fechados e um suave sorriso. Ela não está brava?

— Você é tão exagerada, Sam. Nós nunca nos beijamos na frente de ninguém e não seria na sua que isso ia acontecer. – Respondeu abrindo os olhos com um tom suave e ameno e pegou na mão dela, acariciando seus dedos com carinho e depois olhou para mim com um leve sorriso. – Sempre fui discreta em relação a isso, mas… Nós realmente éramos muito melosas uma com a outra e nos abraçávamos. Isso eu admito que deixei às claras. – Falou calmamente e mantive a atenção nela, surpresa pelo que disse. – Desculpa por agora a pouco, Vick. Eu... Estou um pouco sobrecarregada. – Pediu e abri a boca para falar, a fechando logo em seguida.

— Está tudo bem, não precisa disso. Você não estava errada. – Sussurrei e voltei a olhar para Sam pelo seu suspiro.

— E é por isso que eu quero ver vocês juntas! – Reclamou, batendo na cama com as mãos. – Olha o que você acabou de falar, Galateia! Melosas e abraços e acabou de pedir desculpas sei lá pelo que. Quando, onde e com quem você já fez todas essas coisas sem ser com a sua irmã? – Questionou como se fosse o maior absurdo já ouvido.

— Tia Cass. – Murmurou, provavelmente lembrando-se da sua tia que sempre a enchia de beijos e abraços.

— Ah, você jura? – Sam reclamou e revirou os olhos. – Vamos lá! Eu sei que a Vic fez errado, cagou na meia e jogou no ventilador. – Começou e eu fiz uma careta de nojo pela metáfora. – Mas ela está arrependida e quer consertar as coisas. – Falou, olhando para mim com compreensão. – E Ninfa, você tem todo o direito de ficar triste, mas não pode deixar isso atrapalhar o seu amor por ela. Galateia… Desde que a Liane foi pra Itália que você perdeu mais da metade da sua personalidade! – Lamentou e ficou em silêncio como se lembrasse de algo ruim. – Mas daí a Victória aparece e você se transforma na coisinha mais linda, bebê de novo. E o melhor nisso é que agora a Liane também está de volta. – Falou animada e Galateia se encolheu no lugar. – Você sabe que eu jamais estaria te dizendo isso na frente da Vick se você não tivesse me pedido ajuda. – Explicou e engoli em seco por Galateia assentir. Ela pediu ajuda à Sam para tentar se acertar comigo? Isso significava que ela ainda tinha esperanças de nós duas? Mesmo antes de conversarmos? – Você gosta dessa garota e eu sei que ela também gosta muito de você, porque quando veio me ver, abriu a boca pra chorar. – Dedurou e arregalei os olhos por ela contar isso. Eu tinha desabafado com ela sobre tudo o que eu sentia por Galateia. E acabei chorando como uma criança nos braços dela, pedindo conselhos sobre como reconquistar o seu coração, mas depois da situação com o Vicent... – Ver vocês duas, ambas chorando pelo mesmo motivo, me deixa no direito de intervir. Vocês se gostam, gostam de verdade e isso é o que mais importa. – Falou firme e eu olhei para Galateia, esperando ver alguma reação negativa dela, mas ela se mantinha quieta, de braços cruzados e em silêncio, com os olhos baixos e a atenção no chão. Suspirei levemente preocupada com sua reação futura e olhei para porta por ela se abrir lentamente.

— Oi, com licença. – Uma enfermeira entrou no quarto e sorriu. – Não se incomodem comigo, vou apenas trocar a medicação dela. – Explicou e se aproximou com um soro em mãos e foi até Sam, pegando seu braço para organizar a medicação. Eu me virei para o outro lado do quarto ao ver a agulha e me encolhi, levando a mão na boca para mordiscar as unhas em nervosismo. Eu odeio agulhas.

Suspirei pensando a respeito do que Sam disse. Eu não quero que Galateia fique estranha outra vez, mas como evitar isso com a Sam dizendo coisas assim? Certo que dessa vez ela não pareceu incomodada, talvez porque já tivesse falado do assunto com ela? Será? Mas também... Isso não deveria ser um pensamento ativo na minha cabeça! Se eu que fiz a merda não consigo me organizar emocionalmente, porque espero que a Téia consiga isso? Os sentimentos dela devem estar uma confusão total.

— Tudo ótimo, daqui uns quarenta minutos eu retorno para retirar. – A enfermeira alertou, saindo do quarto e deixando-nos sozinhas novamente e voltei a olhar para Sam, vendo que Galateia estava sentada ao seu lado na cama, fazendo carinho em sua cabeça e sussurrando algumas coisas enquanto ela mantinha os olhos fechados.

— Já passou, foi só uma picada, já passou. – Confortou, beijando a testa dela e Sam suspirou, pegando sua mão e estendendo a outra para mim, assim que a peguei ela me puxou suavemente na direção delas, colocando a mão de Galateia sobre a minha. Olhei para nossas mãos entrelaçadas e depois para os olhos azuis de Téia.

— Ignorem meu medo de agulha e foquem no que eu estava falando com vocês. Me deixa para depois. – Reclamou fazendo uma careta e apertou a mão de Galateia me olhando com firmeza. – Vocês são um casal lindo! Eu tenho certeza que vão superar esse desentendimento. Só precisam se comunicar melhor, se entender melhor. Vocês precisam esquecer tudo que passou e focar no que ainda podem viver juntas! – Falou convicta e deu uma pequena pausa para respirar lentamente, como se o fato de falar estivesse lhe cansando. Ela tossiu um pouco e pegou um copo d’água na mesinha ao lado da cama, bebendo um gole do líquido como se o apreciasse e continuou. – Qual é, vocês precisam se dar uma chance e se dar uma nova oportunidade. – Olhou para nós com um sorriso esperançoso. – Eu sou um cupido também e conselheira das duas! E meu Deus, quero muito ser madrinha de vocês daqui uns anos. – Declarou e Galateia deu uma risada nasal, afastando a mão das nossas para beijar sobre a testa dela e voltar a lhe fazer carinho. Eu por outro lado, só soube me sentir tocada pelas palavras dela e olhei para Galateia, sentindo-me realmente esperançosa por ela sorrir para mim e voltar a fazer carinho na cabeça de Sam.

— Você falou muito, trate de dormir agora. – Pediu, dando sua total atenção pra ela, ajeitando o travesseiro atrás da sua cabeça e puxando o cobertor sobre o seu corpo.

— Mas… – Protestou fazendo um bico.

— Não teime, vamos ficar aqui até que durma. – Garantiu abraçando-a de lado. Sam suspirou derrotada e olhou para o celular na mesinha ao lado da cama por ele vibrar.

— Quer que eu pegue? – Ofereci e ela fez uma careta.

— Vai ser o Vicent. – Reclamou e estendeu a mão para que eu lhe entregasse o aparelho, e assim que o desbloqueou olhando para a tela, voltou a refazer a careta. – Não disse. É mesmo o Vicent de novo. Ele não para de me mandar mensagens. – Reclamou em lamento e se aconchegou mais na Galateia.

— O que ele disse? – Perguntei curiosa, me aproximando da cama também e me sentei do outro lado, fazendo um contraponto com Galateia.

— Que está lá fora, esperando por mim. – Resmungou, mostrando a tela do celular para nós. Nela, havia várias mensagens de Vicent, implorando para que ela o deixasse entrar. – Inferno, eu sei que ele quer me ver, que quer falar comigo e me abraçar. Não precisa me mandar mensagem a cada vinte minutos dizendo essas coisas. – Moveu a cabeça no ombro da Galateia até escondê-la em seu pescoço. – Estou cansada. – Reclamou e a abracei pelo outro lado, fazendo carinho em seu ombro. Da última vez que estive aqui, não toquei no assunto do Vicent, porque ela não parecia disposta a falar sobre, mas agora, depois de ter dito todas aquelas coisas por Galateia e eu…

— Você quer falar sobre? Nós estamos aqui se achar que sim. – Inclui Galateia e ela apenas concordou com a cabeça aceitando entrar no meio da frase, olhando para Sam com ternura e depois para mim em cumplicidade.

— Podemos te ouvir e ajudar. – Alertou apertando a mão de Sam com carinho.

— Eu não sei… Ele diz que me ama, que está sofrendo sem mim, que não aguenta mais ficar longe. – Suspirou e jogou o celular na cama, fechando os olhos e mordendo o lábio inferior. – Eu não… Não sei o que fazer com ele. – Lamentou deitando o rosto de lado no peito de Galateia. – Eu o amo, mas não quero vê-lo estando no hospital. – Choramingou, fazendo uma careta de dor.

— Mas por que não? – Perguntei tentando entender.

— Ele sempre fica nervoso ou triste quando me vê doente, e isso acaba afetando o humor dele também. Deixa de ser o rapaz espontâneo e tenta me animar com frases clichês ou conselhos inúteis. E isso acaba me irritando! Porque as reações dele são totalmente forçadas. – Reclamou frustrada. – Ele não age como vocês, que estão aqui agora do meu lado e me ouvindo reclamar, pelo contrário. Sempre chora ou se desespera quando me vê nessa cama. Isso me deixa mais preocupada com ele do que comigo mesma. – Olhou para nós duas e continuou ao ver que estávamos focadas no que dizia. Ela segurou as nossas mãos com força e nos puxou para mais perto dela. – Eu não quero ficar perto dessa energia dele, vocês entendem? – Perguntou e assenti.

— Você quer que eu diga pra ele que quer um tempo sozinha pra se concentrar na sua recuperação e saúde? – Perguntei e ela negou com a cabeça várias vezes, parando por Galateia a segurar delicadamente e deitar a sua sobre a dela.

— Não é isso! Eu só não… Não quero ter que lidar com os problemas dele, com as inseguranças dele e com as emoções dele, não estando assim. – Fez uma pausa e engoli em seco por ela começar a chorar. Ela soluçou baixinho e escondeu o rosto no pescoço de Galateia. – Mas, droga! Eu também me sinto culpada por afastá-lo. Ele é um bom namorado, só não sabe reagir a situações de estresse. Se preocupa comigo, cuida de mim, me apoia em tudo. É carinhoso, atencioso, gentil… – Limpou as lágrimas e se encolheu nos braços da Galateia, sendo acolhida com todo o carinho por ela. – Só não quero ter de lidar com seu completo oposto, quando tudo que preciso é “dele”. – Voltou a chorar e guiei a mão para seu cabelo, fazendo um suave carinho assim como Galateia fazia. – Estou confusa. – Sussurrou e olhei para Téia, vendo que ela estava tão sem jeito quanto eu. É complicado tomar partido de um dos lados, quando cada um parece se sentir de formas tão opostas, justamente porque sabemos como o Vicent está triste com toda a situação.

— Sam, nós estamos aqui para te apoiar, mas você precisa falar com ele sobre isso. Ele está tendo uma ideia totalmente errada de tudo. – Comecei e ela me olhou com os olhos marejados. E vi o medo e a dúvida em seu olhar. – Você precisa dizer pra ele o que está te incomodando, para que assim ele possa entender o que você precisa. – Fiz uma pausa olhando para Galateia e continuei por ela se manter em silêncio. Ela parecia não saber o que dizer também e apenas acariciava as costas de Sam, tentando acalmá-la. – Você precisa pensar se ele merece uma chance. Se o conhece, no fundo sabe se ele pode ou não se adaptar a isso. – Expliquei. – Ele não sabe qual é o problema e está pensando que você o odeia. – Contei e apertei a mão dela, voltando a olhar para Galateia, pedindo socorro com os olhos. Ela fechou os olhos por alguns segundos e respirou fundo, como se estivesse buscando o que dizer.

— Sam… Não sei bem o que dizer, porque até alguns segundos atrás estava irritada com o Vicent por ele meter o nariz onde não foi chamado. – Reclamou e abri a boca para falar, decidindo por ficar em silêncio. – Mas ele não deixa de ser o meu primo e por mais que eu odeie admitir isso, me importo com esse ser. – Disse com a voz contida e Sam soltou uma risadinha pelo comportamento dela. – Vou tentar te dar um conselho. – Continuou e foquei em seu rosto.

— Por favor.

— Olha, eu conheço o Vicent há muito tempo e sei que ele é dramático! Você escolheu um canceriano pra namorar. – Falou séria e sorri pelo tom indignado dela fazer Sam soltar outra risadinha. – Ele é insuportável? Claro que é! – Afirmou e segurei a risada. Ela quer defender ele ou aproveitar a situação pra reclamar dele? – Mas ele é uma boa pessoa. – Sussurrou. – E tem muitos problemas para lidar com as emoções dele. Fica muito nervoso ou muito triste, sempre no 8 ou no 80, ele não tem um meio termo. – Explicou. – Mas quando te vê doente, tenta achar esse meio termo e conciliar as coisas, mas obviamente não funciona e isso acaba afetando o seu humor também. – Falou pacientemente. – Só que te ama e quer ficar com você, mas também precisa aprender a respeitar o seu espaço e o seu tempo.

— Esse é o problema. – Sam sussurrou.

— Lembra quando você me conheceu e ele fez uma brincadeira idiota sobre o meu nome? – Perguntou e fiquei um pouco perdida no assunto quando Sam concordou. – Você chamou a atenção dele e ele rapidamente me pediu desculpas e posso te garantir que nunca mais me deixou desconfortável de novo. – Contou e Sam pareceu orgulhosa.

— No sério? Você nunca disse isso.

— É sério. Ele é chato, irritante, dramático e insuportável em alguns momentos, mas se você falar com ele, ele vai rever as atitudes dele. – Falou com convicção. – Sam, pra ele você é a mesma coisa que um anjo e digo isso de verdade, entende? Vicent gosta muito de você, então qualquer situação que mostre que está sofrendo, ele surta. – Continuou e sorri ao perceber o carinho na voz dela. – Mas isso não é motivo pra você ignorar as atitudes dele. Ele precisa entender a diferença entre o que ele quer fazer e o que você precisa. Tem que se esforçar para mudar e se adaptar à situação. Ele precisa continuar sendo um bom namorado para você, mas também um bom amigo que saiba ver uma situação de outro ângulo. – Fez uma pausa e me olhou como se perguntasse se estava dizendo a coisa certa e só soube sorrir. Ela diz que não sabe usar as palavras, mas é extremamente fofa quando faz isso.

— Acho que ele saberia lidar com isso. – Sam sussurrou e olhei para Galateia com um sorriso encorajador, mostrando como estou orgulhosa de suas palavras anteriores.

— Eu entendo o dilema que você está passando, Sam. Entendo que o Vicent te ama, mas também sei que você quer se sentir bem, mesmo não estando bem e que as atitudes dele te fazem se afastar dessa decisão. Você não quer se sentir culpada por afastar ele e voltar a ter sua positividade em relação as situações, mas só vai conseguir conciliar essas duas coisas se for honesta com ele. Precisa conversar com ele, Sam. Dizer o que está te incomodando, para que ele possa entender o que você precisa. – Repetiu minhas palavras anteriores e olhei para Sam por ela suspirar em derrota.

— Droga, você tem razão! Ele é um idiota, mas é o meu idiota. – Reclamou e sorriu. – Fala para aquele retardado entrar aqui? – Pediu me olhando e ri me levantando da cama e esperando Galateia fazer o mesmo, o que ela fez com extremo cuidado, ajeitando Sam sentada sobre o colchão logo depois. – Mas avisa que se ele entrar aqui chorando e todo catarrento, eu vou enfiar esse soro goela abaixo dele! – Ameaçou e foi a vez de Galateia rir baixinho.

— Sim senhora. – Fingiu bater continência e se inclinou lhe beijando a bochecha, dizendo algo em seu ouvido que eu não pude ouvir.

— Tudo bem. – Sam falou de volta e repetiu seu gesto de lhe beijar na bochecha. Sorri para cena e Galateia se endireitou vindo na minha direção.

— Você vem comigo. – Falou séria, deslizando a mão por meu braço para segurar minha mão na sua e me puxar em direção a porta. Arregalei os olhos e olhei para trás procurando Sam em desespero, suavizando a expressão por ela sorrir em carinho e soprar um beijo em minha direção. O quê... Que diabos está acontecendo aqui?


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Notas finais do capítulo

Foi isso, prometo que volto, palavra de pastora ♥



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