Ela une todas as coisas escrita por Akemihime


Capítulo 1
único




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A primeira vez que Joohyun a viu, ela estava olhando para o espelho do banheiro enquanto se maquiava, com a mente longe, distraída com o dia que teria pela frente. E então o seu reflexo de repente mudou para o rosto de outra pessoa, de outra mulher.

A estranheza do fato foi o suficiente para fazê-la se afastar gritando e fechar os olhos com força, querendo que aquele rosto desaparecesse.

Quando abriu os olhos momentos depois, o rosto tinha de fato desaparecido, sendo substituído pelo seu reflexo assustado lhe encarando no espelho.

A surpresa, no entanto, durou pouco. Afinal, Joohyun sabia que aquilo eventualmente aconteceria, é claro que sabia. Era assim que funcionava com almas gêmeas em todo o mundo e, apesar de demorar a acontecer com ela, o dia finalmente chegou.

E ao ver aquele rosto aparecer pela primeira vez, com um pesar, Joohyun sabia também que aquela não seria a única vez que o veria por aí no seu dia a dia.

Pois dito e feito. Com o passar do tempo, para todos os lugares que a Bae olhava que possuía algum um reflexo, ela se deparava com o rosto estranho lhe encarando por alguns momentos, antes de voltar a aparecer seu próprio reflexo, às vezes assustado, mas sempre incomodado.

Era de se esperar que com o tempo Joohyun se acostumaria com a situação, afinal várias pessoas ao seu redor se acostumaram e comentavam como se fosse algo natural, algumas até empolgadas querendo conhecer sua alma gêmea, enquanto outras falavam sobre como era ainda mais incrível quando conheciam e ficavam juntos de quem estavam destinados.

Mas aquilo era diferente para Joohyun.

Não que quisesse viver o resto da vida sozinha, ela nem ao menos pensava nisso. E também não compartilhava daquele papo que algumas pessoas falavam de não acreditar em alma gêmea, pois Joohyun até acreditava, para ser sincera.

O grande problema é que Joohyun nunca gostou de algo novo em sua vida, ainda mais envolvendo pessoas estranhas e desconhecidas.

Ela era reservada, tímida na verdade. Aquele tipo de pessoa que prefere ficar em seu mundinho ao invés de simplesmente sair interagindo ou querendo conhecer todo mundo. Pensar sobre isso lhe causava até um frio na barriga.

Então, quando o rosto desconhecido insistia em aparecer à sua frente, Joohyun se sentia retraída, incomodada com o estranhismo da situação.

E, sendo honesta, quando pensava sobre isso, Joohyun nem mesmo se dava ao trabalho de olhar muito para o rosto desconhecido. Ela não sabia se a pessoa era capaz de vê-la também — segundo relatos de suas amigas, acontecia de forma inconsciente e incontrolável, além disso, nem sempre as duas pessoas se veem na mesma época, às vezes pode demorar meses ou anos para uma das almas gêmeas ser capaz de ver a outra em um reflexo. Era tudo muito aleatório e inexplicável. 

Mas a ideia de alguém também vê-la a incomodava. A exposição toda a um completo desconhecido...

Sempre que pensava sobre isso, Joohyun tentava não pensar.

— Você pelo menos realmente viu o rosto dela alguma vez? — Seulgi perguntou certa tarde quando se encontraram na cafeteria da universidade depois de longas horas presas em salas de aula diferentes.

— É claro que vi, por isso fechei os olhos — Joohyun respondeu enquanto bebia seu suco e olhava o celular, tentando não prolongar muito aquele assunto.

Mas ela estava acompanhada de Seulgi. Óbvio que a amiga tinha notado que tentava se esquivar.

— Então como ela é? Bonita?

Joohyun abaixou o celular, semicerrando os olhos.

Ah, Kang Seulgi.

— Não — mentiu

Ela não sabia, não tinha notado, para falar a verdade, mas não estava disposta a admitir aquilo.

Tudo o que sabia sobre o rosto de sua alma gêmea é que se tratava de uma mulher, mas não tinha parado para realmente observá-la nenhuma vez. E nem sequer tinha pensado nisso, pois pensar a incomodava quase tanto quanto ver aquele rosto desconhecido no reflexo.

— Sei — Seulgi respondeu, sorrindo ao perceber a óbvia mentira de Joohyun — E o que tem de tão feia, então?

— Eu tenho que ir — Joohyun falou, sem respondê-la, se levantando depois de terminar seu suco — Preciso terminar logo uma matéria para o jornal, Junmyeon já está me cobrando, você sabe como é.

— Eu te acompanho…

— Não precisa, até mais! — exclamou com um pequeno sorriso, já se distanciando.

Não que ela estivesse exatamente irritada com Seulgi. As duas eram amigas por muito tempo, de modo que era besteira se preocupar em se sentir assim por pouca coisa. Mas isso não impedia a Bae de ficar ligeiramente incomodada com tantas perguntas, ainda mais sobre aquele assunto que tanto tentava fugir.

Joohyun entrou no banheiro, sem muita pressa para chegar à redação do campus. Talvez ela tivesse exagerado um pouquinho quando disse que precisava terminar rapidamente a matéria para o jornal.

A Bae suspirou, abrindo a torneira da pia e deixando a água correr por suas mãos. Ela levou as mãos ao rosto, umedecendo de leve suas bochechas enquanto olhava para o espelho.

E foi quando aconteceu de novo.

É claro que aconteceu. Estava acontecendo toda hora, era quase impossível se ver no espelho.

Mas dessa vez Joohyun hesitou em fechar os olhos.

Talvez toda a conversa com Seulgi estivesse entrando em sua cabeça, talvez o fato de não saber como era exatamente o rosto que aparecia direto à sua frente tenha enfim lhe deixado curiosa, talvez…

Não importava o talvez.

Importava apenas que Joohyun tinha hesitado.

E nesses segundos em que hesitou para fechar os olhos, ela realmente olhou pela primeira vez para aquele semblante no espelho.

O rosto era de uma mulher jovem. Mais jovem do que ela, Joohyun tinha certeza só de olhar. Ela tinha cabelos castanhos claros e sorria de forma adorável, fofa. Tão fofa que Joohyun esboçou um pequeno sorriso ao observá-la e até sentiu algo esquentar dentro de seu peito com a imagem.

E se sentir assim foi o suficiente para despertá-la do transe e abaixar a cabeça, balançando de leve, como se fizesse isso para espantar o rosto desconhecido não só do reflexo do espelho, como também de sua própria mente.

[...]

O resto do dia passou como um borrão para Joohyun e a noite já estava caindo quando finalmente se viu livre de todos os seus afazeres e pronta para ir para casa.

O pequeno apartamento onde morava, próximo ao campus, era dividido com Seulgi, e para a sorte de Joohyun, a amiga ainda não tinha chegado quando ela entrou na sala de estar.

A conversa que tiveram na cafeteria — seguida pela lembrança daquele rosto não tão estranho agora — esteve perseguindo a mente de Joohyun desde então. Era como se estivesse funcionando no piloto automático depois disso, respondendo perguntas de forma mecânica, revisando material para o jornal e entre outros deveres que tinha não só como redatora do jornal da faculdade, mas também como estudante de jornalismo.

Joohyun sentou-se no sofá de forma preguiçosa, com uma caneca de chá em sua mão depois de tomar um longo e demorado banho. Ela propositalmente não encarou o espelho quando entrou até o momento que saiu do banheiro, mas aparentemente isso não tinha lhe ajudado muito a tirar aquele rosto de sua cabeça.

Aquela garota… tinha algo naqueles olhos, naquele sorriso… que Joohyun não conseguia entender como tinha causado tanto efeito assim nela. Será que era assim que as almas gêmeas supostamente se sentiam? Não era como se Joohyun se sentisse perdidamente apaixonada pela mulher do espelho, mas o efeito que causava nela era de fato impactante.

— Você tá bem? — Por pouco Joohyun não derrubou a caneca de sua mão ao ouvir a voz de Seulgi bem ao seu lado.

Ela ergueu a cabeça, vendo a amiga por trás do sofá a encarando preocupada.

Há quanto tempo ela estava ali?

— Ah… sim. Não te vi chegar, só isso — balbuciou, sem jeito por ter sido pega distraída daquele jeito.

— Tudo bem, eu cheguei não faz muito tempo — Seulgi sentou ao seu lado no sofá, ligando a televisão em qualquer canal, sem muito interesse. 

Ela estava com uma expressão cansada, mas não era surpresa nenhuma para Joohyun — que também estava do mesmo jeito. Esses são os privilégios que apenas estudantes que já estão ao menos na metade do curso podem ter.

E era mais um motivo que Joohyun odiava ir em festas, em calouradas.

Calouros são sempre mais animados, sempre mais bem dispostos. É claro, alguns veteranos ainda se empolgavam com festas assim, mas eles sabiam mais como era o ritmo pesado de uma faculdade e como não podiam se dar ao luxo de festejar todos os dias.

— Tem calourada amanhã, você vai? — Seulgi perguntou como se tivesse lido sua mente. No entanto, seu tom de voz era distraído, como se já esperasse um “não”. Por isso ela se surpreendeu quando Joohyun suspirou e resmungou um pequeno “vou” ao invés disso — Espera, sério?

— Sim… eu fiquei encarregada de fazer uma matéria para o jornal sobre a festa, então tenho que ir — a Bae explicou, sem muita vontade. 

Kyungsoo tinha praticamente empurrado aquela matéria para as costas dela e Junmyeon não estava nada disposto a interferir na situação, de modo que Joohyun não teve exatamente muita escolha.

Bem, esse era o resultado de estar com a cabeça cheia de outros assuntos — aquele adorável e desconhecido rosto no espelho — e não ouvir quando o editor chefe do jornal anunciava os temas e os outros tomavam total liberdade para escolher, deixando-a assim com os calouros ou a pequena reforma nada interessante que foi feita em um banheiro masculino.

Ninguém gostava de pegar matérias relacionadas a festas de calouros, o maior motivo sendo que, apesar de serem veteranos, eles gostavam de ir em calouradas assim e simplesmente aproveitar para conhecer os rostos novos, sem se preocuparem muito em ter que fazer anotações para o jornal ou algo do tipo.

É claro, ainda tinha alguns estudantes — como Kyungsoo e Joohyun — que realmente não gostavam nem mesmo de comparecer a tais festas.

Mas era isso ou uma matéria extremamente entediante que nem saberia como abordar.

Então é, Joohyun não teve muita escolha a não ser aceitar falar sobre a calourada.

— Uau, isso é novidade! — Seulgi riu, esquecendo-se completamente da televisão agora e se virando para a amiga — A Yongsun e a Seungwan também vão, vai ser divertido, você vai ver!

Joohyun sabia que elas iriam, as duas nunca perdiam nenhuma festa e foi exatamente por esse motivo que se recusaram a pegar aquela matéria no jornal mais cedo, para aproveitar sem se preocuparem com os trabalhos extracurriculares da faculdade.

Ao menos ela teria companhia. A Bae tentou se consolar com esse pensamento.

E talvez assim conseguisse se distrair um pouco do problema que estava lhe assombrando naqueles últimos dias.

Joohyun olhou para a televisão que Seulgi tinha acabado de desligar, vendo dessa vez somente o seu reflexo na tela preta, embora aquele sorriso não saísse de sua mente.

Sim, talvez aquela festa nem fosse tão ruim assim. Ela estava precisando mesmo se distrair.

[...]

Joohyun estava enganada, óbvio que estava.

Assim que chegou na praia aonde a calourada já acontecia, ela se arrependeu quase instantaneamente.

O problema não era exatamente sua companhia: apesar de Yongsun e Seungwan serem particularmente barulhentas e agitadas, Joohyun estava acostumada à personalidade delas e eram até um divertimento para ela; Seulgi também aos poucos ia se soltando, juntando-se à empolgação das duas — e Joohyun desejou que também pudesse conseguir se adaptar assim tão fácil.

Provavelmente conseguiria se estivesse mais alcoolizada, mas aquele não era o objetivo naquela noite, visto que estava ali com um caderninho e caneta em mãos, fazendo anotações para a matéria do jornal.

E o álcool… esse era o problema (juntamente com o som exageradamente alto).

Juntar calouros animados com a novidade que era uma faculdade com bebida alcoólica de sobra era uma combinação desastrosa. Ainda mais considerando que os calouros eram em média adolescentes com hormônios à flor da pele e nada na cabeça além de querer se divertir.

Talvez Joohyun estivesse velha demais para essas coisas.

— Você precisa disso — ela pegou a bebida que Seungwan lhe ofereceu, sem pensar muito e depois percebendo que se tratava de uma lata de cerveja.

— Eu não posso…

— Relaxa, nem mesmo o nosso querido editor chefe vai reclamar se ver você bebendo — Seungwan falou, dando um gole na própria cerveja.

— Se ele me ver…? Ele está aqui na festa também? — Joohyun olhou em volta, procurando por Junmyeon e não o encontrando no meio de tantas pessoas.

— Eu o vi chegar com outro cara, mas ele parecia estar curtindo — deu de ombros, apontando para a cerveja intocada na mão de Joohyun — coisa que você deveria fazer um pouco.

— Sim, relaxa! Nós podemos te ajudar depois com a matéria se quiser — Seulgi falou e Yongsun concordou alguns segundos depois (esta já parecendo estar mais “aérea” que o normal).

Joohyun não quis retrucar pelo óbvio estado não sóbrio das amigas que claramente não conseguiriam ajudá-la em nada depois. Mas elas tinham um ponto, talvez estivesse precisando relaxar um pouco. Um dos motivos que queria ir até lá era justamente para se distrair, não era?

Então ela decidiu finalmente fechar o caderninho de anotações e o guardou em sua bolsa junto com sua caneta, tomando cuidado para não derramar a cerveja enquanto fazia isso.

E, com um longo suspiro, começou a beber, fazendo uma nota mental que não passaria de uma lata de cerveja. Ou talvez duas.

Queria estar plena de suas faculdades mentais para conseguir levar todas as amigas para casa quando fosse a hora e ainda conseguir escrever mais algumas coisas para sua matéria.

E foi quando aconteceu.

Ela ouviu.

Assim, do nada mesmo.

A risada feminina veio de não muito longe de onde elas estavam, mas se sobressaiu às demais conversas ao redor de Joohyun e até mesmo ao som alto do ambiente… ou talvez tenha se sobressaído somente em sua cabeça, ela não sabia dizer exatamente.

Só soube dizer que a reconheceu. Era ela.

E mesmo sem vê-la, a Bae tinha certeza disso.

Ela se moveu um pouco, bem a tempo de um homem sair da sua frente e revelar a figura mais ao longe, dona da risada que tinha despertado sua atenção.

O rosto, que já tinha visto inúmeras vezes naquele dia mesmo, estava bem ali, dessa vez pessoalmente, conectado ao corpo de uma garota baixinha — provavelmente do tamanho de Joohyun — que ainda ria abertamente em meio aos outros calouros.

Sim, era ela. Não tinha dúvidas quanto a isso.

— Joohyun, o que foi? Parece que viu um fantasma! — Ela ouviu Yongsun falar ao seu lado, mas não deu muita atenção, sentindo o coração acelerado, mas finalmente desviando o olhar da garota ao longe.

— Eu… vou pegar mais bebida, alguém quer?

— Eu quero! — Seulgi exclamou e Joohyun não se deu ao trabalho de olhar para ela e nem para mais ninguém enquanto andava em direção aonde ficavam as bebidas em uma caixa de isopor, do lado oposto de onde ela estava.

Era como se sua cabeça tivesse desistido de funcionar, Joohyun não sabia o que pensar e como agir diante daquele fato. Se tivesse que dizer o que sentia, diria que estava mais assustada do que exatamente entusiasmada por ver sua alma gêmea ali tão de perto.

O que deveria fazer? E se a garota a reconhecesse também? E se não reconhecesse?

Deveria se apresentar como sua alma gêmea? Não! Só de cogitar essa ideia seu estômago deu uma reviravolta, seria constrangedor demais!

Joohyun respirou fundo e bebeu o resto de sua cerveja antes de pegar outra para ela e para Seulgi.

Precisava se distrair. Precisava se acalmar.

Depois pensaria direito sobre o que fazer — ou não fazer.

O problema foi que o depois chegou horas mais tarde quando a Bae acordou com o despertador tocando do lado de sua cama.

Ela o desligou, confusa e sentindo a cabeça latejando como nunca antes, isso somado ao gosto amargo na boca e o estômago dando cambalhotas fez com que Joohyun entendesse logo o que estava acontecendo: ela estava de ressaca.

E o fato de não se lembrar muito bem do que aconteceu na noite anterior indicava que realmente estivera bem bêbada. Isso não acontecia há tempos e Joohyun odiava se sentir assim.

Por isso ela se levantou devagar e depois de um tempo se encontrou com Seulgi já na cozinha tomando seu café da manhã. A amiga parecia muito melhor do que ela, é claro — provavelmente só Yongsun estava pior, a Kim era a mais fraca para bebida entre elas — e ao vê-la, Seulgi sorriu como se não estivesse bebendo nada na noite anterior.

— Precisa de remédio? — adivinhou e Joohyun murmurou um sim, pegando o comprimido que Seulgi já lhe entregava e tomando com um copo d’água.

— O que aconteceu ontem?

— Você não se lembra de nada? — A Kang sorriu, claramente se divertindo com aquilo.

— Eu… claro que lembro de alguma coisa! — falou tentando soar firme, mas sabendo que não tinha conseguido.

E não foi exatamente uma mentira se parasse para pensar, mas não queria revelar para a amiga que supostamente tinha visto sua alma gêmea cara a cara — sim, disso ela se lembrava muito bem.

— Eu fiz algo que não devia?

— Nah, nada além do normal — garantiu Seulgi, agora rindo abertamente do seu sofrimento — Nós te perdemos em um momento quando você disse que ia pegar mais bebida, mas Seungwan te encontrou depois escrevendo em seu caderno em uma parte da praia afastada da festa.

— Escrevendo…? — Disso Joohyun não se lembrava.

— E com uma garrafa de vodka na mão, isso explica sua dor de cabeça, não é? — Seulgi apontou, ainda achando graça.

Mas a Bae não a respondeu mais e nem lhe deu atenção, apenas foi para o seu quarto e logo voltou com o pequeno caderno de anotações em mãos. Ela podia sentir Seulgi do outro lado do balcão da cozinha tentando espiar o que estava escrito e por isso tomou cuidado para ser discreta, procurando pelas últimas páginas que deveria ter feito anotações na noite anterior.

E lá estava, em letras desleixadas, tortas — de uma Joohyun bem alcoolizada, certamente — várias frases que provavelmente fizeram ainda mais sentido na hora que foram escritas.

“Caloura do rosto do reflexo a caloura nome qual nome”

“Sorriso de não quero ver mas não para descobrir”

“Ela está aqui!!!”

Joohyun suspirou, fechando o caderno depois de ver que o resto era apenas a última frase escrita várias vezes de forma cada vez mais forte no papel que agora se encontrava meio amassado.

— Alguma coisa relevante? — Seulgi perguntou, voltando a tomar seu café, mas com um olhar curioso sobre ela.

— Só coisas para o jornal… — foi o que conseguiu dizer em voz baixa, tentando não soar como se estivesse pensativa demais sobre o que tinha escrito.

Desde que acordara ainda não tinha visto o rosto diferente nos reflexos, mas não é como se Joohyun estivesse procurando ver. Afinal, ela fez questão de não se encarar no espelho naquela manhã quando levantou — não por pensar exatamente em evitar ver sua alma gêmea e sim evitar ver a si mesma, ela podia imaginar que seu estado físico estava acabado depois da bebedeira da festa.

Mas mesmo não vendo o rosto naquela manhã, Joohyun se lembrava com perfeição como tinha visto a garota na calourada, em como ela estava com um vestido longo e leve, e sorria abertamente enquanto conversava com outras pessoas. Ela parecia feliz.

— Você tem alguma atividade hoje ou tá livre? — Seulgi a trouxe de volta ao presente e Joohyun olhou alarmada para o relógio.

Era sábado, e apesar de não ter aula, tinha sim que estar na redação. 

E estava bem atrasada, por sinal.

— Acho que nos vemos mais tarde então! — a Kang exclamou, se despedindo quando Joohyun nem se deu ao trabalho de respondê-la, saindo às pressas de casa depois de pegar sua bolsa.

Conseguir um apartamento próximo ao campus da faculdade era uma verdadeira benção nessas horas, pois apenas questão de minutos depois a Bae já estava abrindo a porta da sala da redação.

Yongsun e Seungwan não estavam lá, assim como metade da equipe. Mas Junmyeon estava de pé, lendo alguns papéis, enquanto Kyungsoo estava sentado em frente ao computador, ambos parecendo concentrados em suas tarefas.

— Achei que não vinha hoje — Junmyeon comentou, sem tirar os olhos dos papéis — Eu te vi na calourada ontem, parecia estar se divertindo…

— Eu tenho que terminar de revisar a minha matéria e das outras meninas antes de segunda-feira — ela respondeu, sem entrar em detalhes da festa da noite anterior. A dor de cabeça ainda não tinha sumido completamente.

Joohyun ligou o computador ao lado de Kyungsoo, sentando-se em frente a ele e se focando a trabalhar sério no que tinha que ser feito.

Felizmente não teria que falar sobre a calourada naquela edição do jornal. Tinha ficado decidido que essa matéria entraria na outra semana, anexando ao tema central de boas vindas aos novos estudantes, tendo em vista que naquela semana aconteceriam outros eventos — acadêmicos dessa vez — para recepcionar melhor os calouros.

E era verdade que as revisões de todas as matérias em geral acontecia sob o olhar afiado do editor chefe, mas Junmyeon geralmente se encarregava de mais coisas do que era capaz de lidar e quase sempre Joohyun estava ali, como uma espécie de ombro direito, o ajudando a ter tudo pronto para a publicação semanal que acontecia toda segunda-feira.

Kyungsoo às vezes ajudava também, especialmente na parte estética do jornal, ele provavelmente era o mais perfeccionista entre o grupo mais novo que entrou na redação no último ano — e Joohyun tinha quase certeza que seria o futuro editor chefe, uma vez que Junmyeon (e ela) se formasse.

— Eu consegui um novo membro para a nossa equipe — Junmyeon disse depois de um tempo, chamando a atenção dos dois, que desviaram os olhos dos computadores para ele.

— Alguém bom com fotografias? — Joohyun indagou, sabendo que aquele era o ponto fraco da redação depois que Minseok se formou. 

Desde então eles não conseguiam encontrar alguém disposto a ser o fotógrafo para o jornal, de modo que as fotos sempre ficavam meio… inexperientes. Joohyun se lembrava de quando Yongsun insistiu em ajudar naquela área e como suas fotos saíram um completo desastre.

— Sim, — Junmyeon confirmou, sorrindo — segunda-feira, antes da reunião, eu apresento a vocês.

Kyungsoo sorriu também e todos voltaram ao trabalho depois disso. Tanto ele quanto a Bae não eram curiosos a ponto de quererem saber tudo sobre a pessoa antes da hora, estavam bem em ter que esperar. Desde que — seja quem fosse — pudesse ajudá-los no jornal, ficariam satisfeitos com a nova adição à equipe.

Exceto que Joohyun não esperava que chegaria na segunda-feira e o novo membro da redação fosse justamente ela.

Joohyun sentiu um arrepio por todo o corpo e o coração quase deu um salto dentro de seu peito ao reconhecê-la de imediato. Com os longos cabelos soltos, calça jeans e uma blusa de estampa florida, a garota sorria timidamente para eles. Para ela.

Quais eram as chances...

— Essa é Kim Yerim, — Junmyeon apontou para a novata — ela está entrando na equipe a partir de agora para nos ajudar como fotógrafa do jornal.

Enquanto toda a equipe da redação foi se aproximando de Yerim, lhe dando as boas vindas, Joohyun permanecia imóvel, ainda absorvendo aquela surpresa de ver a garota bem ali.

Ela passou o fim de semana inteiro pensando no fato de tê-la visto pessoalmente na calourada. E quando tentava esquecer disso, o rosto dela surgindo no espelho tornava tudo ainda mais difícil.

Joohyun tinha decidido, ao acordar naquela manhã de segunda, que tentaria deixar aquele fato para trás de forma definitiva, afinal, mesmo descobrindo que sua alma gêmea também estudava naquela faculdade… o campus era enorme, seria difícil se encontrarem de novo.

Mas então, lá estava ela, sendo justamente a nova aquisição na equipe que Junmyeon tinha comentado que tanto precisavam para ajudá-los.

— Ela não estava na calourada que fomos semana passada? — Seungwan comentou ao lado da Bae, fazendo-a despertar de seus pensamentos.

— Eu não… — começou a murmurar alguma desculpa sobre não ter notado, mas Seungwan não esperou por sua resposta, já abrindo um enorme sorriso e recepcionando a novata, com seu jeito barulhento e exagerado, mas de certa forma caloroso que, inclusive, pareceu fazer com que Yerim se sentisse menos desconfortável.

Yerim. Kim Yerim. Agora ela não tinha só visto pessoalmente, como também sabia o nome de sua alma gêmea.

Joohyun tinha certeza que aquele era só o começo, visto que teriam que trabalhar juntas na redação a partir de então.

E ela não sabia se aquilo era algo bom ou ruim, mas era como se um misto de sentimentos a invadisse e não deixasse pensar direito.

Medo, nervosismo, insegurança…

E acima de tudo, seu coração batia acelerado ao vê-la bem ali.

De certa forma era assustador isso. Se sentir assim, de forma tão intensa, confusa e principalmente inédita.

— Seja bem vinda — Joohyun finalmente conseguiu pronunciar as palavras para Yerim quando os outros integrantes da redação foram se afastando um pouco e a Bae percebeu que somente ela não tinha se aproximado ou falado alguma coisa.

Ela forçou um pequeno sorriso, tentando ao máximo disfarçar o que sentia.

Yerim sorriu de volta de forma mais natural.

— Obrigada! — falou, parecendo empolgada e, se ela tivesse reconhecido Joohyun, soube disfarçar muito bem, pois não demonstrou absolutamente nada suspeito em sua expressão quando a encarou.

E Joohyun decidiu não revelar nada também, pelo menos por enquanto, já que não fazia ideia sobre como abordar a questão — e nem se deveria exatamente fazer isso.

Talvez fosse até melhor assim, aliás. Se Yerim não a conhecia ainda como sua alma gêmea, Joohyun percebeu que não tinha qualquer intenção de acelerar as coisas bem ali. Ela não saberia como fazer isso, de qualquer forma, como revelar aquilo e jogar tudo para cima da garota, sendo que mal se conheciam.

O fato de serem almas gêmeas poderia até significar que estavam destinadas uma à outra — e de certo modo Joohyun acreditava nisso, embora a ideia ainda soasse estranha em sua cabeça enquanto encarava a garota —, mas independente disso, não tinha motivo para simplesmente ficarem juntas de uma hora para outra assim que se conhecessem. Talvez seria bom se aproximarem primeiro e, nesse meio tempo, Joohyun poderia reunir coragem para se abrir mais com Yerim.

E, quem sabe, com o tempo ela contaria tudo à outra.

É, com o tempo…

[...]

O problema era o seguinte: Joohyun era extremamente tímida. 

Ela era aquele tipo de pessoa que aparentava ter uma personalidade séria, fria e até mesmo intimidante para quem não conhecia — e Joohyun sabia muito bem disso graças às suas amigas que foram capazes de se aproximar dela mesmo depois de uma primeira impressão que quase as afastou. 

Mas toda essa fachada era incompreendida pelas pessoas que não entendiam que na verdade a Bae se sentia tímida e completamente desconfortável em se aproximar de desconhecidos. Ela não era boa nisso e as amizades que fez foi graças às outras pessoas que insistiram em uma aproximação maior, fazendo com que ela se sentisse confortável com o tempo para se soltar e mostrar que não era exatamente aquela mulher fria e com ar arrogante como tanto fazia parecer — ainda que de forma inconsciente.

Se pudesse escolher, desejaria ser mais como Seulgi ou até como Seungwan. Extrovertida, atrapalhada e engraçada até com pessoas que acabava de conhecer.

Mas infelizmente, por mais que tentasse, a realidade estava longe disso.

Por isso, nos dias que se seguiram, Joohyun se viu evitando ao máximo Kim Yerim. Não era por não ter gostado da garota — pois seu coração acelerado toda vez que via a novata (pessoalmente ou não) tornava impossível sequer tentar mentir para si mesma sobre isso —, o problema estava justamente em sua timidez, em sua talvez falta de habilidade de interagir.

Ela simplesmente não conseguia se aproximar de Yerim e manter uma conversa normal como qualquer pessoa. E toda vez que ficavam no mesmo ambiente, se tornava impossível de se concentrar para fazer qualquer coisa.

Então era por isso que Joohyun tinha fugido da sala da redação em um dia de semana normal após as aulas, dia em que supostamente deveria estar lá para terminar sua matéria e ajudar quem precisasse.

Com a desculpa de que precisava se focar em um trabalho do seu curso, a Bae se refugiou na biblioteca da faculdade, com a finalidade de buscar concentração e calmaria o suficiente para conseguir terminar sua própria matéria sobre a festa dos calouros que ocorreu no fim de semana.

Sem ver qualquer sinal de Yerim por ali, Joohyun ocupou um dos computadores nos fundos da biblioteca e, apreciando o silêncio, ela abriu o caderno de anotações que tinha levado consigo na festa. Com os olhos indo e voltando dele para a tela do computador, Joohyun começou a preparar sua matéria.

A Bae não soube nem quanto tempo se passou — provavelmente não muito pelo visto —, quando finalmente parou de escrever e olhou para a tela do computador, perdida.

Um parágrafo.

Foi tudo o que conseguiu com suas anotações e memórias falhas daquela noite.

Apenas um pequeno parágrafo.

Aquilo era um desastre. Ela nunca tinha ficado sem ideias e inspiração para escrever uma matéria como estava naquele momento.

Simplesmente não sabia o que dizer e toda vez que tentava se lembrar do que aconteceu na festa que poderia ser relevante, o rosto de Yerim brotava em sua mente. O fato de tê-la visto pessoalmente pela primeira vez na calourada a deixou totalmente alheia para tudo o que acontecia em volta, e a quantidade de álcool que ingeriu depois disso não facilitou em nada também.

E agora estava perdida, sem saber o que escrever.

Joohyun fechou o caderno de anotações, suspirando pensativa. Precisava dar um jeito. Se não conseguisse nada ali, teria que pedir ajuda a Seulgi e Seungwan — Yongsun estava fora de questão, se perguntasse ela nem conseguiria se lembrar do que estava vestindo na festa.

Não que pedir ajuda para as amigas fosse algo ruim, elas sempre se mostravam dispostas, mas Joohyun sabia como as duas também estavam ocupadas cada uma com seus afazeres, seja dos próprios cursos ou atividades extracurriculares. Seulgi, apesar de não fazer parte do jornal, sempre se ocupava com alguma atividade diferente e o fato de chegar todas as noites cansada em casa deixava claro como não era fácil para ela tentar manter aquele ritmo agitado e atarefado.

A Bae não queria ter que incomodar nenhuma das duas por um trabalho que supostamente deveria dar conta de fazer sozinha.

Mas então… como faria?

Mal sabia ela que a solução — ou o maior problema — de sua questão apareceria naquele momento de forma mais inesperada o possível:

— Quer ajuda? — Joohyun olhou para trás, no susto, mas de certa forma já sabendo de quem se tratava ao julgar pelo arrepio que correu por todo o seu corpo.

Kim Yerim estava bem ali, parada a encarando, esperando por uma resposta, com um sorriso no rosto (ela sempre estava sorrindo).

— O que? — foi tudo o que Joohyun conseguiu balbuciar, com a mente completamente em branco ao vê-la ali.

— Oh, eu te assustei, desculpa! — A garota riu, parecendo não estar realmente se sentindo culpada por ter pego a outra de surpresa. — Perguntei se você quer a minha ajuda...

— Ah, não, tudo bem! — a Bae exclamou, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha e tentando se manter calma — Está tudo sob controle.

— Sério? — Yerim perguntou, inclinando a cabeça e espiando o computador — Não parece que…

— Como você me achou aqui? Alguém te falou onde eu estava? — Joohyun a interrompeu, curiosa e Yerim a encarou um pouco surpresa e até ligeiramente envergonhada agora.

— Ah sobre isso… eu queria ajudar de alguma forma além de tirar fotos para o jornal, já que estou com tempo sobrando esses dias — Deu de ombros — e Yongsun me disse que você estava escrevendo sobre a calourada e que eu poderia ser útil nisso. Então como não te achei lá, resolvi procurar aqui pela biblioteca...

Bem, isso explicava.

Aliás, era uma explicação bem diferente do que tinha passado pela cabeça de Joohyun por um instante antes.

Espelhos, reflexos, almas gêmeas… Então não era sobre aquilo realmente.

Ela não sabia dizer se ficava aliviada ou um pouco desapontada com esse fato.

— Então como é sobre a festa, eu posso te ajudar, sério — Yerim não esperou que Joohyun falasse mais nada e puxou uma cadeira, sentando-se ao lado da Bae, que a olhou surpresa, mas sem saber o que dizer. — deixa eu ver suas anotações primeiro…

E foi quando a mais nova fez menção de pegar o caderno fechado de Joohyun bem em cima da mesa na frente delas, que ela finalmente reagiu de forma rápida.

— Não! — exclamou urgente, colocando a mão firmemente sobre seu caderno, de forma protetora. 

Aquilo sobressaltou Yerim, que claramente não esperava pela reação exagerada e até desesperada.

— Tudo bem…? — a Kim falou em um tom que não sabia se perguntava ou afirmava, claramente confusa enquanto observava a outra.

Mas se esperava uma explicação, essa não veio, pois Joohyun pegou sua bolsa que estava apoiada na cadeira e colocou o caderno lá dentro, preparando para se levantar.

— Não se preocupe em me ajudar, é sério, eu dou conta sozinha — Joohyun disse de forma até quase atrapalhada, sem conseguir esconder o nervosismo em sua voz. 

E ela não esperou que Yerim respondesse ou falasse qualquer outra coisa, pois a Bae sentia que se desse espaço, a garota iria voltar a insistir em ajudá-la e não queria correr o risco de tê-la ali tão perto de seu caderno que tinha tudo aquilo escrito.

É verdade que fora uma tola e não tinha pensado em arrancar aquela página e simplesmente jogá-la fora, de modo que as palavras de uma Joohyun bêbada em plena calourada, falando sobre sua alma gêmea, ainda estavam acessíveis para quem quer que desejasse abrir o caderno e ler. 

Ainda que não tivesse o nome de Yerim lá, Joohyun não estava disposta a correr o risco da garota ler e fazer perguntas a respeito disso. O que deveria dizer se ela perguntasse? Joohyun não conseguiria mentir e não estava pronta para lidar com a verdade na cara de Yerim ainda.

Estava claro que a menina não sabia de nada a seu respeito e ela apenas desejava manter as coisas desse jeito.

Então foi por isso que Joohyun parou na entrada da biblioteca, pegou o caderno e finalmente arrancou a última página que tinha escrito, amassando a folha e jogando na pequena lata de lixo bem ali próxima a porta.

[...]

No fim ela realmente recorreu a ajuda de Seulgi para concluir sua matéria. E pedir ajuda a ela teve um preço, pois de alguma forma a notícia de que Yerim a ajudaria espalhou por entre suas amigas, de forma que Joohyun se viu tendo que explicar à Seulgi o motivo de ter recusado o apoio da novata.

Verdade seja dita, cedo ou tarde ela acabaria contando à Kang sobre Yerim, sobre o fato dela ser sua alma gêmea, o seu rosto que via sempre nos reflexos.

E, obviamente, Seulgi ficou radiante — aparentemente bem mais feliz e empolgada do que a própria Joohyun — e uma Seulgi nesse estado significava que ela elevaria a sua curiosidade a outro nível, começando por fazer vários tipos de perguntas para a Bae a respeito de sua alma gêmea e como ela era pessoalmente.

É, pedir sua ajuda realmente teve um preço bem caro. Mas era tarde para se lamentar sobre isso.

— Então, eu andei perguntando por aí e descobri mais informações sobre a sua Yerim, se você estiver disposta a querer saber… — Seulgi falou certa noite, dias depois de Joohyun ter finalizado sua matéria para o jornal. 

Elas tinham chegado em casa milagrosamente cedo naquela noite, ambas relativamente com tempo em suas atividades extracurriculares — ao menos o suficiente para poderem se dedicar aos estudos dos próprios cursos, afinal agora que as aulas começaram para valer, as provas não demorariam a chegar, de modo que realmente precisavam se esforçar.

— Você fez o quê? — Joohyun indagou, com um misto de preocupação e surpresa em seu olhar.

Se Yerim ficasse sabendo daquilo…

— Relaxa, eu fui discreta — Seulgi a acalmou logo — fiquei sabendo que a Yerim é prima da Taeyeon e comentei com ela sobre isso…

— Ela é prima da Taeyeon? — disso Joohyun não sabia, mas não se surpreendia por Seulgi saber.

Taeyeon era simplesmente uma das veteranas mais populares da faculdade, era seu último semestre e todas as fofocas sobre ela corriam pelo campus inteiro. Além disso, Seulgi tinha uma boa relação com a mais velha, de modo que não deveria ter sido difícil ficar por dentro de tudo.

— Sim, e no fim eu nem precisei perguntar muito, pois o Kibum estava do lado dela quando comentei e ele simplesmente começou a falar tudo sobre a sua garota!

— Não precisa chamar ela de “minha” — Joohyun murmurou, mas não a interrompeu completamente, a curiosidade começando a tomar conta dela.

— Bem, mas escuta isso! — Seulgi se endireitou no sofá, fazendo um suspense enquanto encarava Joohyun, que se viu inconscientemente se ajeitando também e ficando muito atenta a amiga — a conversa acabou tomando o rumo de almas gêmeas e segundo o Kibum, Yerim ainda não sabe quem é a alma gêmea dela, ela nunca viu outro reflexo no espelho, nem nada do tipo! E ele disse que ela sempre foi muito curiosa a respeito disso, a respeito de quem é…

— Você não falou sobre mim, falou? — a Bae a interrompeu de repente, aflita.

— Claro que não! Mas eu não me preocuparia tanto se fosse você, ela realmente tem vontade de te conhecer, sabe, como a alma gêmea dela mesmo…

— Não é tão fácil assim — Joohyun falou, desviando o olhar, incomodada não com Seulgi, mas com aquele fato em particular.

Desde o encontro com Yerim na biblioteca e sua cena exagerada em relação ao caderno, Joohyun esteve evitando ainda mais a garota. É claro que ainda se viam na sala da redação, mas tinha sido diferente, Joohyun vinha se mantendo o mais afastada o possível e a Kim parecia receosa de se aproximar, apesar da Bae sentir os olhares dela sobre si em vários momentos.

E de alguma forma essa situação não a deixava contente, era como se algo estivesse muito errado, mas ao mesmo tempo não sabia como consertar uma relação que nunca existiu para começo de conversa. Então Joohyun se via ficando cada vez mais agitada e incomodada quando Yerim aparecia no mesmo ambiente, decidindo apenas se afastar cada vez mais e trocar o mínimo de palavras possíveis com a novata.

Seulgi sabia que a amiga era tímida e estava com dificuldades de se aproximar de Yerim, portanto ela acabava não pressionando nem nada do tipo, apenas falava algumas palavras de incentivo e mal tocava no assunto — a não ser para contar alguma fofoca sobre a Kim que tinha descoberto, como naquela noite que ficaram até tarde conversando sobre tudo o que Kibum tinha falado.

Mas ainda assim, apesar de suas palavras e tudo o que Joohyun ficara sabendo, era difícil manter uma conversa com Yerim. Até um simples “bom dia” se tornava estranho e forçado conforme o tempo foi passando.

A situação cresceu a tal ponto que até mesmo as pessoas próximas começaram a perceber e comentar, como aconteceu quando houve uma reunião naquela sexta feira para a redação, praticamente um mês depois de tudo o que houve na biblioteca.

— Você e a novata estão bem? — Kyungsoo, surpreendentemente, foi quem a questionou logo após a reunião, quando alguns dos membros do jornal ainda ficaram na sala, conversando e fazendo planos para o fim de semana.

Joohyun o olhou, surpresa.

— Por que está perguntando?

— Eu notei como você parece estar evitando ela — ele comentou em seu tom de voz sério como de costume, embora parecesse genuinamente preocupado.

— Não é nada demais — Joohyun tentou tranquilizá-lo, sem querer entrar em detalhes. 

Ela e Kyungsoo nunca foram tão próximos, mas a Bae sabia como ele, apesar de ser geralmente quieto, estava sempre atento às pessoas ao seu redor. Ainda assim, o fato de ter reparado no clima estranho entre ela e Yerim foi o suficiente para incomodá-la. Significava que não estava disfarçando tão bem quanto pensava e precisava mesmo dar um jeito naquilo, embora não soubesse como (ou não tivesse coragem o suficiente ainda).

— Junmyeon também percebeu que algo está errado com vocês, ele deve querer te perguntar sobre isso em breve.

— Não tem nada de errado, pode ficar tranquilo, Junmyeon também — Mas Joohyun sentiu que não importava o que dissesse, Kyungsoo podia ver através de sua mentira. No entanto, para a sua sorte, ele não parecia disposto a insistir, de modo que apenas sorriu discretamente e se despediu antes de sair da sala.

A Bae suspirou, pensando no que tinha acabado de acontecer.

Então Junmyeon também estava ciente de que alguma coisa estava estranha. Do mesmo modo que Kyungsoo perguntou, ele também perguntaria — a diferença era que Joohyun sabia que Junmyeon não deixaria o assunto de lado com tanta facilidade quanto o mais novo, afinal ele sempre tinha uma necessidade de tentar corrigir as coisas ao seu redor.

Ela realmente tinha que resolver aquilo.

Ou então se preparar para o interrogatório que certamente viria no fim de semana.

Joohyun olhou Yerim conversando animadamente com Seungwan do outro lado da sala e suspirou, pensativa.

De repente a ideia de encarar Junmyeon não parecia tão ruim quanto ter que encarar Yerim — já que só de pensar nela e em como se aproximar, Joohyun sentia um frio na barriga e o nervosismo percorrer por todo o seu corpo.

Céus, ela era um desastre.

E foi com esse sentimento de derrota que a Bae acordou cedo naquele sábado, pronta para encarar Junmyeon e seus questionamentos que ela não saberia nem como começar a responder.

A Bae só não esperava que entraria na sala da redação e encontraria Yerim ao invés do editor chefe ocupando o local.

Ela parou na porta de entrada, surpresa.

— Cadê o Junmyeon? — se forçou a perguntar, olhando em volta e percebendo que nem ao menos Kyungsoo estava presente. Isso até se lembrar de que ele havia comunicado sua ausência no dia anterior, alegando que estaria ocupado no fim de semana.

— Ah ele mandou mensagem hoje cedo falando que não poderia vir — Yerim falou parecendo um pouco receosa ao ver Joohyun parada na entrada da sala — ele não te falou nada?

Joohyun pegou o celular, apenas para confirmar o que a Kim falou ao ver as mensagens que Junmyeon tinha enviado avisando que teria que se encontrar com seu namorado para resolver algum problema e não poderia comparecer naquela manhã — desde quando ele namorava? A Bae realmente não sabia nada sobre a vida dos colegas de equipe da redação, isso era um fato.

Além do aviso, ele ainda pedia desculpas para Joohyun por deixar tudo por sua conta, “e por isso chamei a Yerim para ajudá-la”. Ela quase começara a duvidar que aquilo tinha sido proposital, exceto que Junmyeon sempre tinha sido um editor chefe totalmente comprometido com o jornal, ele não daria uma desculpa qualquer para não comparecer e forçar as duas a se unirem.

Não é?

Joohyun realmente esperava que sim.

— Parece que somos só nós duas então — ela falou, mais para si mesma do que para a Kim, reunindo coragem para enfim adentrar a sala.

Aquilo era inevitável, era o que Joohyun tentava pensar, enquanto olhava em volta e planejava por onde começar. Era inevitável que ela e Yerim passassem tempo juntas, afinal a caloura estava na equipe do jornal também, e o fato de ter conseguido evitá-la até então foi apenas por pura sorte.

No entanto, a Bae precisava focar no trabalho a ser feito — que realmente era muito, por sinal. Não podia ter tempo para pensar em seus sentimentos e no efeito que Yerim a causava.

Infelizmente a Kim tinha outros planos para o começo daquele dia e assim que Joohyun começou a deliberar o que as duas fariam e como se organizariam, Yerim a interrompeu:

— Você me odeia?

— O que?

— Você me odeia? — Yerim repetiu a pergunta, encolhendo os ombros, parecendo desconfortável — você é a única por aqui que não fala direito comigo até hoje e aquele dia na biblioteca…

— Eu não te odeio — Joohyun quem interrompeu dessa vez, sentindo uma pontada no peito só de imaginar odiar a Kim. Seria impossível mesmo se tentasse.

Yerim pareceu surpresa com seu comentário e a Bae suspirou, colocando sua bolsa sobre a enorme mesa que utilizavam para as reuniões. Ela voltou a encarar a mais nova, decidindo tentar explicar melhor — sem dizer o óbvio ainda.

— Eu só… Aquele dia eu não estava muito bem, mas obrigada por ter oferecido ajuda — ela deu um pequeno e tímido sorriso — Eu não sou muito boa para conversar com pessoas que não conheço, então deve ter sido por isso que você pensou assim...

— Seungwan tinha me falado algo sobre isso — Yerim comentou, parecendo mais aliviada, abrindo um grande sorriso — Então isso significa que eu posso te ajudar hoje?

O sorriso de Joohyun aumentou com o comentário dela, se sentindo um pouco mais leve por pelo menos conseguir manter uma conversa e o clima ter melhorado consideravelmente.

— Eu não vou dar conta de tudo isso sozinha de qualquer forma — se limitou a responder, de um modo mais calmo e natural.

O resto do dia se passou surpreendentemente rápido e Joohyun se viu entrando no ritmo de trabalho junto com Yerim, percebendo que a garota era bem mais responsável do que imaginava. Apesar das brincadeiras ocasionais, Yerim conseguiu ajudá-la a revisar todo o material necessário para a publicação do jornal, além de ficar por conta do design e das fotografias que tinha sido encarregada desde o princípio.

O ambiente estava leve e descontraído. E, embora Joohyun ainda sentisse um turbilhão de sentimentos a cada vez que olhava para Yerim e principalmente a via sorrir empolgada, estar com ela não era tão ruim quanto parecia inicialmente. Talvez sentir todas aquelas coisas novas, que nunca tinha experimentado antes, com tamanha intensidade, tivesse assustado demais a Bae e foi o que primeiramente a fez criar um escudo ainda maior em torno de si, para se proteger daquilo que Yerim trazia, daquela reviravolta gigante que acontecia dentro de si.

Mas não significava que aquilo era ruim. Longe disso, ela percebeu finalmente. Agora que estavam compartilhando um dia calmo e puderam se conhecer relativamente melhor — ainda que estivessem focadas no trabalho —, Joohyun percebeu que estar com a Kim trazia uma espécie de conforto, como se seu coração estivesse sendo abraçado, ficando quentinho e repleto de… amor? A Bae não saberia dizer ainda, apenas tinha a certeza que, seja lá o que estivesse se passando dentro dela, era bom o suficiente para querer que aquilo não tivesse um fim.

E de fato aquele sábado na sala de redação foi apenas o início. 

Depois daquele dia, a relação delas realmente começou a mudar. Talvez fosse o fato de estarem realmente destinadas uma à outra — ainda que Yerim não soubesse disso —, mas era como se elas tivessem se conectado, entrado em completa sintonia. O modo de pensar, seus gostos e personalidades… tudo se encaixava, como um perfeito quebra-cabeça, conforme foram conversando e se aproximando cada vez mais.

E, assim como era visível quando o clima entre as duas estava estranho, a mudança para melhor também se tornou algo que todos em volta puderam perceber com facilidade.

O que, logicamente, gerou comentários.

— Eu pensei que tinha algo errado entre vocês — Junmyeon foi o primeiro a dizer na semana seguinte, depois de se desculpar por sua ausência e por ter deixado tudo para Joohyun — mas pelo visto devo ter imaginado…

Ele não perguntou nada e nem forçou por uma explicação, mas o sorriso que deu ao se afastar fez com que Joohyun voltasse a ter dúvidas sobre o real motivo do editor chefe não ter aparecido no fim de semana.

Mas ela não se apegou muito a esse pensamento, voltando a prestar atenção na conversa que Seungwan e Yerim tinham bem ao seu lado ali na mesa da sala da redação.

— E então o cachorro começou a latir do nada pra mim! Ah, eu senti tanto medo! — Yerim falava, colocando os braços em torno de si e fazendo uma careta.

Seungwan caiu na risada imediatamente.

— Ah, a Joohyun também morre de medo de animais, um dia a Yongsun chegou com o cachorro dela aqui e quase que ela teve um ataque!

Joohyun, que até então tinha aberto um sorriso, fechou o rosto, contrariada.

— Ei, mas é assustador! Eu não sei o que eles podem fazer, não quero ser mordida!

— Sim, eu também penso o mesmo! — Yerim concordou imediatamente, erguendo a palma da mão para Joohyun que logo bateu de leve nela, voltando a sorrir.

Elas continuaram a conversar por mais algum tempo até o resto da equipe chegar e cada uma voltar para os seus afazeres.

E assim os dias, semanas e até meses se passaram. Rápido demais para Joohyun perceber, apenas desfrutando daquela calmaria e dos sentimentos bons que tinha decidido aceitar dentro de si, agora sem tanto medo como antes.

Embora, ela tinha que lembrar para si mesma vez ou outra, quando olhava para o espelho e via o rosto de Yerim, a garota ainda não sabia sobre Joohyun ser sua alma gêmea. E apesar de estar feliz com a relação de amizade que mantinham, aquela era a única coisa que a Bae não era capaz de lidar totalmente, não com o fato de Kim Yerim ser sua alma gêmea, mas sim em ter que esconder aquela informação da mais nova. Joohyun ainda não tinha coragem de contar tudo para ela e de certa forma isso parecia errado, como um pequeno incômodo no fundo de sua mente.

Joohyun tentava se confortar, pensando que não precisava necessariamente contar, um dia Yerim saberia. Mas e se esse dia demorasse? E se até lá Joohyun tivesse se formado e mudado para longe? E se…

Ela não queria pensar nas possibilidades, mas quando ficava sozinha, encarando o rosto de Yerim no espelho, às vezes aquelas questões simplesmente rondavam sua mente que não tinha uma escapatória para o único caminho que deveria seguir: contar a verdade.

Foi apenas quando, em uma tarde de sábado depois de um longo dia preparando a publicação de segunda-feira na redação, que Joohyun finalmente se decidiu.

Ela olhava para Yerim, sentada à mesa com sua cabeça apoiada nos braços, dormindo serenamente naquela posição nada confortável. A Bae sabia que deveria acordá-la, e antes de Junmyeon e Kyungsoo saírem da sala, ela assumiu a responsabilidade de despertar a mais nova e trancar tudo por ali.

Mas por algum motivo ainda não conseguia fazê-lo. Não quando a garota parecia tão calma, com um rosto quase angelical enquanto dormia, como se nada no mundo pudesse atrapalhá-la.

— Depois das provas finais — Joohyun falou baixinho para não acordá-la. Não ainda. — Depois das provas finais eu conto tudo.

E assim. Simples assim ela decidiu, com um ar determinado de que dessa vez não iria desistir.

Só precisava passar as provas finais. Não iria atormentar Yerim com aquela notícia bem antes e correr o risco de prejudicar os estudos dela, afinal não sabia como a Kim iria reagir — e não queria nem pensar nisso, nas possibilidades do que ela poderia fazer ou dizer, pois pensar a deixaria aflita e poderia até cogitar em desistir de contar.

[...]

— É sério, você já viu como ela anda atrás de você sempre? Parece um mascote — Seungwan riu com o próprio comentário — é o seu chaveirinho!

Ela e Joohyun estavam caminhando juntas para a sala da redação — seria o último dia que estariam todos reunidos lá, afinal as provas finais tinham terminado naquela manhã e o semestre também estava para ser encerrado.

E enquanto andavam, Seungwan não se cansava de comentar sobre como Yerim e Joohyun tinham se aproximado e como era engraçado ver a mais nova tão empolgada a cada vez que avistava Joohyun por perto.

— Você sabe que se ela te ouvir falando assim, ela vai te bater e reclamar disso por dias, não sabe? — A Bae disse, tentando não se levar muito pela conversa da amiga que até então não sabia sobre o fato das duas serem almas gêmeas.

— Não importa, o semestre está acabando, até as aulas voltarem ano que vem a Yerim já vai ter se esquecido disso!

— Vou ter esquecido do quê? — A mais nova surgiu ao lado delas, cumprimentando Joohyun animadamente antes de se voltar para Seungwan — o que você disse sobre mim?

Joohyun sorriu, deixando com que Seungwan se explicasse (e Yerim reclamasse, como ela imaginou que faria).

A Bae não tinha se esquecido da promessa que tinha feito há semanas e sabia que não teriam mais oportunidades naquele semestre para conversar. Ela esperava que pudesse fazer isso naquela tarde, inclusive, depois de todos saírem da sala da redação.

Pensar nisso a deixava nervosa, mas estava cansada demais de prolongar as coisas, era hora de resolver tudo e depois… depois, independente do que fosse decidido, as aulas estavam acabando e logo estariam de férias e Joohyun poderia respirar aliviada.

Era nisso que deveria focar.

Além de tudo, até mesmo as atividades extracurriculares já tinham sido encerradas. Era costume o jornal fazer a última publicação uma semana antes das provas finais terem início, a fim de não prejudicar nenhum membro da equipe, tendo em vista que todos precisavam se dedicar aos estudos. De modo que a reunião marcada naquele dia era apenas uma pequena confraternização, para comemorar o fim das aulas e do semestre — além de desejar um feliz natal a todos, tendo em vista que as festas de fim de ano já se aproximavam.

Desta forma, o clima empolgado do fim de ano se espalhou por toda a equipe assim que todos se reuniram na sala.

Ao longo do tempo que passaram naquela pequena reunião (ou confraternização, no caso), as conversas sobre como aquele ano tinha sido agitado e as diferentes matérias que tiveram que preparar para o jornal rodaram por todos eles. Vez ou outra alguns dos membros até mesmo trocaram presentes, pequenas lembranças, juntamente com abraços calorosos e despedidas recheadas de promessas de se encontrarem seja nas férias ou no ano que se iniciaria em breve.

Joohyun estava em meio aos vários sorrisos e conversas animadas, tentando colocar bem no fundinho de sua mente o assunto que teria que levantar mais tarde com Yerim. E era como se a Kim pudesse sentir que alguma coisa estava diferente — ou ao menos Joohyun poderia jurar que ela estava desconfiada, pois estava a encarando com uma atenção redobrada durante todo o tempo que passavam juntas ali. Yerim sorria com mais facilidade para ela e parecia… estranha.

A Bae realmente se questionou se não estava escondendo seu nervosismo tão bem quanto pensava.

E então, quando os membros da equipe começaram a sair da sala, de forma lenta, sem pressa, Joohyun teve certeza que não estava escondendo nada mais sobre como se sentia. Prova disso foi que, antes que sequer pudesse abrir a boca e pedir para Yerim esperar um pouco ali com ela, a Kim foi quem se adiantou, pedindo para poderem conversar à sós depois de todos se despedirem.

Ela vai me perguntar se estou bem.

Eu não posso desistir.

Era só o que se passava pela sua cabeça ao se despedir finalmente de Yongsun que foi a última a sair da sala.

— Está tudo bem? — Joohyun quem se viu perguntando então, colocando as mãos nos bolsos de trás da calça jeans, tentando disfarçar a agitação em seu corpo. — Eu também precisava falar com você...

— Na verdade, antes de você falar… — Yerim abria a sua bolsa, sem encará-la enquanto falava — eu te pedi para esperar, porque quero te dar isso aqui — Ela finalmente pegou de sua bolsa uma caixa de presente pequena, pouco maior que o tamanho de sua mão, estendendo-a para a Bae.

E por isso Joohyun não esperava. Ela encarou a mais nova, surpresa, antes de finalmente aceitar o presente.

— Vamos, abra! — Yerim falou rindo e Joohyun quase diria que estava empolgada, mas algo em sua voz estava diferente. Soando meio como um… nervosismo? 

Ela não entendeu, mas decidiu acatar ao pedido, sem saber o que dizer.

Joohyun desamarrou o laço e o deixou de lado, sentindo os olhos de Yerim sobre si conforme ela abria devagar a pequena caixa de presente.

O que viu lá dentro a deixou ainda mais confusa, pois se tratava de seu reflexo.

Ela piscou, olhando com mais atenção, percebendo a moldura em volta do que era um pequeno e delicado espelho no fundo da caixa.

Joohyun voltou a olhar para Yerim, ainda tentando entender, antes de retornar sua atenção para o presente, tirando com cuidado o espelho de dentro da caixa.

O seu reflexo não era mais visto pelo espelho e sim o rosto da garota que estava logo a sua frente.

A confusão que sentia até então foi sendo lentamente substituída pela compreensão e Joohyun fitou Yerim com uma expressão de surpresa, finalmente entendendo o que aquele presente significava.

Almas gêmeas.

— Desde quando você sabe…? — ela não precisou perguntar com todas as palavras, erguendo o olhar novamente para a Kim.

— Descobri nesse fim de semana — Yerim respondeu, sorrindo para ela — Por que nunca me contou?

Ela parecia genuinamente curiosa ao invés de chateada e Joohyun a agradeceu mentalmente por isso.

— Eu não consegui, eu não… — balbuciou, sentindo as maçãs do rosto esquentarem, claramente envergonhada — espera, como você sabia que eu sabia…?

Yerim pegou do bolso da calça um papel amassado e Joohyun o identificou na hora. O papel de seu caderno, aquele que tinha escrito sobre alma gêmea quando viu a Kim pela primeira vez na calourada.

A expressão de Joohyun deveria ser de pura surpresa naquele momento, pois fez Yerim rir abertamente, se aproximando ainda mais dela.

— Ah, você é muito boba! — provocou, dando um soquinho de leve no ombro da Bae, que sorriu, sentindo o constrangimento diminuir um pouco.

— Então… você não está chateada? — perguntou baixinho, pois era justamente aquilo que a preocupava, a reação de Yerim quando descobrisse sobre ela. 

Ainda que não tenha sido revelado do jeito que Joohyun imaginou nas últimas semanas, ela queria ter certeza se estava tudo bem para a Kim, se a mais nova tinha realmente aceitado bem ela como sua alma gêmea ou se tinha ficado incomodada por ter demorado tanto tempo para descobrir.

Os pensamentos inseguros pareciam tomar conta pouco a pouco da sua mente que antes estava tão nebulosa pela surpresa com o fato de Yerim já saber de tudo.

A mais nova abriu um enorme sorriso, antes de responder.

— Acha mesmo que eu ficaria chateada?! — foi o que exclamou, tocando o rosto enrubescido de Joohyun — ah~ você pensa demais!

E ela não esperou que a Bae falasse mais nada, pois se esperasse, certamente ela falaria, perguntaria, tentaria reafirmar mais uma, duas ou três vezes se realmente estava tudo bem. Sabendo disso foi que Yerim se aproximou ainda mais e pressionou seus lábios contra os de Joohyun, impedindo-a de falar, impedindo-a de pensar, deixando somente que os seus sentimentos tomassem conta do momento, como deveria ser.


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