Konoha Before The Time — Arco 1: Instinto escrita por ThaylonP, Luizcmf


Capítulo 16
CAPÍTULO 16 — Depois da Guerra




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Misashi terminava de aplicar o unguento no ombro e aproveitava a sobra para aplicar sobre os joelhos arranhados. Olhou para o aposento fechado em pedra, com tapetes de bambu e persianas cobrindo a janela, procurando por Asami. Não a viu a princípio, apenas viu as três camas separadas. Porém, quando se levantou, a garota estava no chão, com uma folha na testa e tentando fazê-la levitar sem explodi-la.

O garoto se aproximou para vê-la, mas assim que chegou perto percebeu o chackra visível chegando na folha e estraçalhando-a. Dessa vez, bem mais próxima da testa do que das outras vezes que voava.

— Seu unguento — apontou na direção. — Tá melhorando — ele disse, numa voz que dizia que ainda faltava muito.

Ela deixou os braços caírem para os lados com desânimo, como se já estivesse fazendo aquilo a um tempo.

— E com melhor você diz, estraçalhando a folha de outro jeito. — Ela suspirou pesado. — Estou sendo bloqueada…

A garota parou de falar pois sentia que sabia o motivo.

— Bloqueada pelo quê? — Misashi deixou o unguento numa mesinha de cabeceira atrás dela que seguia deitada.

— O chakra Vento... ele tem um peso…

A garota começou a falar se sentando e abraçando os joelhos receosa. Sentia necessidade de mentir, para não lidar com o assunto, mas, ao mesmo tempo, a presença de Misashi a lembrava de que não era necessário.

— O peso de uma promessa quebrada…

— Mais um peso — Misashi balançou a cabeça, confirmando o que ela dizia.

Uma brisa passou pelas persianas e atingiu os dois. O garoto não refreou o olhar para o seu braço e o dela. Ele pôs o punho esquerdo à luz, como se quisesse estalar o membro.

— Ajudou um pouco, eu acho. Talvez esse também te ajude a saber o que você precisa — disse, baixando a mão. — Sabe o quê eu quero dizer?

— Eu não sei direito... — a garota respondeu.

— Quero dizer que, diferente dos papéis, esse é um peso que você não pode se livrar. A gente não pode — Misashi engoliu em seco. — Mas, ele continua sendo um peso que vai nos tornar melhores. A gente só precisa dar sentido a ele.

— Mas a promessa já não foi cumprida, nós não temos as cinzas para fazer isso ter algum sentido — a voz da menina estava aflita.

Misashi ouviu aquilo e baixou a cabeça. Foi até o canto do quarto e trouxe sua mochila para perto. Abriu o primeiro compartimento, logo na frente. Havia um bom punhado de cinza úmida lá dentro.

— Ainda tão um pouco molhadas — Misashi apertou o rosto. — Mas vão secar bem na viagem.

— Mas vo... você... quando?

Misashi fechou o zíper e olhou para ela.

— Lembra que o pergaminho tava comigo? A bolsa tava longe, e eu tive que pegar mesmo na chuva. Não podia deixar isso para trás. Foi... um dos momentos onde eu entendi o que havia feito de verdade, e o que eu precisava fazer — o garoto afirmou, firmando a mão num punho fechado.

— Um dos momentos?

Asami estava impressionada, mas receosa. Não sabia o que o amigo tinha concluído com tudo que haviam passado, e isso era assustador.

— Sim — ele rebateu. — Houve outros. Descobri que ninjas podem ser como nós, podem ser como os do País da Cachoeira, como Kages... como nosso sensei…

A garota o observou.

— Tinha uma pergunta que ficava martelando na minha cabeça durante essa viagem, e ficou comigo por muito tempo — Misashi fez uma pausa. — Antes eu achava que tinha certeza, mas depois, eu ficava me questionando... perguntando: o que era um ninja. E... eu não sabia responder.

Asami observou com cautela, fazendo a pergunta a si própria. Quando não extraiu nada naquele momento, resolveu devolver a questão:

— E... hoje você sabe? — o garoto fez que sim com a cabeça, bem lentamente. — Então, o que é?

O que é…

• • •

—... ser um ninja? — Inochi questionou.

O sol batia forte em Konoha, faltava umidade, e por isso estava bem quente. Em cima de um telhado, um quarteto composto de um adolescente e três crianças se protegiam do calor debaixo de uma pequena cobertura. O restante do lugar estava repleto de varais aproveitando o calor intenso.

— Eu demorei tanto pra responder essa pergunta, Inochi-san — disse o rapaz. Os cabelos castanhos estavam vastos, e havia um colete da Folha cobrindo seu moletom. — Eu podia fazer que nem meu sensei e dizer que vocês tinham a obrigação de descobrirem sozinhos.

A menina, Chousu, olhava o sensei como se ele fosse um poço de sabedoria, enquanto os outros dois garotos duvidavam de que o mais velho não tivesse todas as respostas. Shikawase estava recostado, de braços cruzados, achando tudo um tédio, enquanto Inochi queria saber mais e mais sobre a vida ninja fora da aldeia.

— Mas não vou fazer isso, vou dizer o que significa pra mim. E depois, vocês tem que descobrir o que significa pra vocês, tá certo?

— Acho chato — Shikawase respondeu.

— É claro que acha — sustentou o professor. Enfim, ele suspirou. — Ser um ninja pra mim é poder escolher o melhor caminho apesar das ordens. É decidir o que é melhor, e fazer de tudo para evitar o pior.

Os três se entreolharam. Inochi tinha uma opinião.

— O quê isso quer dizer? — disse, entortando a boca, confuso.

— Isso vocês tem que descobrir por conta própria.

— VOCÊ DISSE QUE NÃO IA FAZER ISSO! — os três gritaram em uníssono.

• • •

Asami encarou a resposta com um certo desequilíbrio de emoções. Pensou se o conceito encaixava para si, pensou se aquilo fazia sentido. Então, Misashi completou.

— O sensei mesmo disse. Cada um tem uma resposta — falou a ela. — Por enquanto, essa é a minha.

— Misashi-kun…

Asami se encontrou surpresa pela resposta do companheiro.

— Voc…

A porta abriu depressa, e Kusaku atravessou ajudando as passadas de Yasuhiko.

O sensei andava meio torto devido aos ferimentos na barriga. Estava sem o colete militar, mantinha-se conciso dentro de uma postura de alguém que acabara de passar por uma recuperação veloz. Kusaku ajudou-o a andar, mas Yasuhiko agradeceu com uma mão, pedindo licença para caminhar sozinho. As costas não estavam eretas como antes, mas mantinham o máximo que ele podia ficar.

O garoto que veio junto dele se afastou, olhando-o de cima abaixo. Ele arriscou a vida mais de uma vez para salvar a nação que causou a guerra que matou as pessoas mais próximas que ele tinha. Não entendo.

— Certo — disse o professor, ajeitando a alça da mochila às suas costas. — Acho que já podemos ir andando.

Asami olhou de um colega para o outro e teve certeza de que o trio pensava o mesmo.

— Sensei... acho que podemos esperar mais alguns dias…

— Na verdade, Asami, eu concordaria com você — ele abriu aquele seu sorriso. — Mas hoje é o melhor dia para nos ocultarmos na multidão. E precisamos fazer isso porque o Tsuchikage aceitou nos liberar com essa condição.

Misashi devolveu o olhar de Asami a ela, e cruzou os braços.

— Somos criminosos? — o garoto quis saber.

— De certa forma. Mas também impedimos a Quarta Guerra Ninja — Yasuhiko parecia genuinamente orgulhoso disso.

— Tem certeza disso, sensei? — Asami perguntou, sobre todos os assuntos.

— Tenho, e posso explicar tudo no caminho, mas acredito que vocês entenderão quando sairmos agora — disse, deixando que o sorriso se esvaísse lentamente de seu rosto. — Mas antes... precisamos adereçar o problema do pássaro.

Kusaku, que já estava com seu cenho franzido, apertou ainda mais os olhos. Essa é a parte importante.

— Ainda não sabemos quem planejou isso, mas já sabemos que não é uma pessoa só — começou Yasuhiko. — Não sabemos o que querem, mas já sabemos que envolve conflitos entre países, e não estou falando só do Fogo e da Terra.

— O quê quer dizer, sensei? Aconteceu o mesmo nos outros países?

— Em todos os cinco grandes, isso já está sendo noticiado. Além do atentado armado que quase matou o Tsuchikage, houve uma tentativa na Aldeia da Folha que foi interceptada, um atentado que matou inúmeros civis na Aldeia da Areia, além de um ataque nas montanhas do País do Relâmpago que eliminou uma rota comercial vital para o sustento da Aldeia da Nuvem.

Os três alunos se entreolharam, abismados com tamanho caos em tantas partes do mundo.

— E como se não fosse o bastante, houve o assassinato do Terceiro Mizukage.

Asami e o resto de seus companheiros engoliram em seco. O Mizukage, pensou Misashi.

— Todos os atentados foram feitos para que parecesse um ataque de uma aldeia a outra, e como a PEdra e a Folha acabaram descobrindo, cabe a nós comunicar as outras aldeias — ele parou um momento para ponderar. — Mas ainda é difícil. Vivemos num momento tenso onde qualquer faísca pode explodir tudo. A Areia recebeu as informações e sendo uma aliada da Folha, confiou no que foi trazido. Mas a Nuvem não quis escutar nada da Pedra e nem da Areia, por exemplo, e isso fará as trocas entre esses dois países ficarem mais hostis daqui para frente. Enquanto isso, o País da Água, que sempre foi o mais escuso quanto aos negócios com outros países, provavelmente declararão cisões e proibições em relação ao mar a leste.

O sensei suspirou.

— É mais um período de conflitos — ele concluiu. — Mas este está acontecendo por causa de alguma mão.

Os alunos se entreolharam. Misashi estava com a cabeça voltada para o chão, mas conseguiu sussurrar:

— Kaizö (Reforma) — falou, depois ergueu a cabeça. — É esse grupo, não é, sensei?

— Não sei. Não sabemos nem se é um grupo formal, ou uma trupe de arruaceiros — Yasuhiko balançou a cabeça negativamente. — Mas é perigoso.

— O senhor acha que eles têm alguma ligação com os refugiados da Grama?

Asami questionou olhando a vasilha com as cinzas coletadas por Misashi.

— Não sei — o sensei mastigou as palavras. — Mas talvez as pílulas, e os jutsus que vocês disseram que eles usam…

Kusaku apertou a mão no queixo. Tudo aquilo parecia distante da realidade deles. Alguém ou alguma coisa deve ter chegado, essa informação precisou estar lá de alguma maneira.

— Agora é muito cedo — Yasuhiko disse. — Podemos ter algumas mais tarde.

Misashi vasculhou a sala à procura das mesmas dúvidas nos rostos de seus amigos. Todos questionavam-se muito enquanto tinham poucas respostas. Assim que a situação mostrou-se completamente irresoluta, os Genin deram ouvidos ao professor.

— Vamos — ele anunciou, indo até o canto do quarto resgatar sua mochila.

Asami afirmou com a cabeça olhando para um bolso específico da bolsa do colega, antes de recolher suas coisas. Estavam indo para casa, conforme o prazo que a garota havia estipulado a família, no entanto ela se encontrava em uma situação de aflito. Havia um desvio de caminho, um desvio que atrasaria a chegada do time 09 a Konoha. Um atraso que seria suficiente para sua mãe começar a lhe procurar, mas Asami sabia o quanto aquilo era importante.

Os três saíram do abrigo, passando por um corredor de pedra que levava a escadas espirais que guiavam à rua. No trajeto, passaram por dois ninjas ANBU que estiveram vigiando a casa todo esse tempo. Chegando na avenida, voltaram a pôr os ponchos e os chapéus, pois segundo o sensei, era desejo do próprio Tsuchikage que andassem com seus rostos ocultos dentro da cidade.

Sabendo disso, os Genin esperavam uma cidade tormentosa e revoltada, mas nada disso se confirmou quando chegaram à via principal da Aldeia da Pedra. O que viram, na verdade, era bem diferente: pessoas animadas por todas as partes. Para fora de suas janelas olhando à frente, uma multidão na rua voltada para a direção da antiga Sala do Kage, outros até mesmo em cima dos prédios acenando, gritando. Todos olhavam para algo feito improvisado.

Uma espécie de cabana de pedra erguida no fim da vereda. Teto alto com uma pequena murada impedindo os que estavam em cima de cair. Havia um, porém, que não cairia mesmo que se inclinasse, pois flutuava sobre a estrutura, o Tsuchikage. Ao seu lado, além dos dois seguranças e a equipe de elite ANBU, dois homens que não portavam as mesmas características do povo dali. Um era velho, trajado de uma roupa escura sem muita classe e de cabelos esvoaçados e esbranquiçados ao lado da cabeça. O outro, um loiro, alto, jovem e de olhar determinado.

Percebendo a presença dos dois, a multidão se aquietou, pois reconhecia que era um anúncio importante. Então, o Tsuchikage impostou a voz e começou seu discurso:

— Cidadãos da Aldeia da Pedra e cidadãos do País da Terra, ouçam-me! — a voz ecoou pela avenida. — Estou aqui para expor uma novidade que venho relutando a um tempo, uma notícia que vai contra as políticas agressivas que dispomos nos últimos anos...

Misashi ainda caminhava ao lado de Kusaku quando reparou que a última integrante do grupo havia parado para ouvir. Yasuhiko olhou para trás junto do restante do grupo.

— Asami-san — chamou, numa voz suave.

A garota não se virou, manteve o olhar alto fitando o palanque.

— ... com muitos acordos tomados a partir daí, mas declarando que esta é a melhor decisão para o povo — um dos seguranças segurou o enorme pergaminho do Tratado. — Declaro aqui o Tratado de Paz entre a Pedra e a Folha!

A multidão tornou-se um alvoroço, alguns gritos de comemoração excederam ao enorme ruído que alcançou a via.

— Ei — Misashi chamou, chegando próximo dela e tocando seu ombro. — A gente precisa ir.

— Misashi-kun — ela virou-se para encará-lo, um grande sorriso estampado no rosto. — É... é o primeiro passo.

O garoto considerou, olhou para o horizonte que ainda comemorava a paz e depois arriscou um longo suspiro.

— É, talvez seja mesmo — confirmou com a cabeça.

Ela deixou os ombros caírem, aliviada, e em seguida, acompanhou os amigos que a aguardavam.

O grupo desceu o País rápido, sem as dificuldades do começo da viagem. Também não choveu, a não ser as gotículas e respingos do País da Cachoeira. Mais próximo da vila, quase chegando aos enormes portões de entrada, dois integrantes se destacaram da formação e seguiram para mais ao sul. Chegaram numa comunidade ribeirinha, e lá foram informados que seguir pelo rio seria a melhor maneira de chegar sem problemas. Então, alugaram um barco e deixaram que o curso da água os guiasse em direção ao extremo sul do continente.

Um tempo depois, quando o sol já tentava se esconder no horizonte alaranjado, finalmente chegaram ao País das Ondas. Lá, tiveram que se acostumar com a umidade por um tempo, e também com o constante barulho de mar que sacudia as pedras da costa.

Os dois seguiram pedindo informações na cidade, descobrindo onde ficavam os principais comércios, como a terra se mantinha, mas por fim, conseguiram saber onde ficava o cemitério. Foram até lá quando a noite caiu, Misashi carregando uma lâmpada para esclarecer o caminho dos dois. Tudo estava muito calmo no lugar, uma brisa tranquila começa a tentar engrossar, mas falhava mesmo em carregar as folhas secas do chão.

Asami olhou por alto, em dúvida sobre onde o túmulo do filho de Matsumi estaria. Depois de muita procura, entretanto, descobriram que sem um sobrenome seria praticamente impossível, e foi quando a menina cedeu. Já havia chegado até ali, estava sacrificando seu relacionamento com a mãe, sacrificando a mentira que sustentou por anos. Tudo isso para chegar ali e não saber onde pôr aquelas cinzas.

Contudo, quando a brisa teve força o bastante para empurrar uma folha para suas pernas, ela lembrou-se de seu treinamento, lembrou-se do vento que ela lutava para entender. Ele vai de um lado para o outro, fluindo sem direção, mas sempre com leveza.

Asami agarrou a folha, apertou na mão até esfarelá-la, e depois, lançou ao ar. Os pedaços de folha dançaram antes de cair e foram empurrados à frente, fizeram uma volta e seguiram para mais distante do cemitério. Ela seguiu, e Misashi foi atrás, aguardando que o vento lhe mostrasse o caminho. Até que as folhas chegaram na orla e se espalharam, uma para cada lado, exatamente como precisava ser quando carregada pelo vento.

— Acha que ela te mandou aqui por nada? — Misashi perguntou, olhando as ondas acertarem a areia, voltarem e repetirem o processo.

— Não — Asami respondeu, indo na mochila do garoto, abrindo o primeiro compartimento. Pegou um punhado de cinzas e esticou à frente: — Não foi por nada.

A garota deixou o vento levar as cinzas, e elas circularam até se perderem, cada grão indo para um ponto distinto.

— Foi por tudo — a menina disse para si mesma.

Os dois observaram a noite enviar as cinzas para longe.


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