And july escrita por Mandalay


Capítulo 1
and July — capítulo único.


Notas iniciais do capítulo

Soulmate UA, uma realidade onde duas pessoas destinadas a se encontrarem possuem marcadores no corpo para sinalizar esse fatídico encontro.
Esses marcadores existem de formas diferentes, dependendo da forma como se cria o universo; podendo aparecer como timers, palavras, nomes, tatuagens específicas ou flores (essas duas expressando emoções de um no outro). Existem outras normas para os marcadores aparecerem, mas isso fica por conta do autor - coisa que não deixei tão forte aqui :B



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Maio.

Ainda era primavera quando a primeira rosa vermelha aparecera e mesmo não sentindo nada, os dedos insistiam em coçar o desenho que havia surgido da noite para o dia no lado esquerdo do quadril. Não chegava a ser um incômodo para o corpo que nada sentia mas era um incômodo para seus pensamentos.

Tamamo gostava de sonhar esperando por suas flores mas elas nunca chegavam e ali estavam as dela, rosas e mais rosas, enquanto o olhar sonhador da mãe murchava a cada fiozinho de esperança cortado.

Flores significavam que aquele destinado a ser sua alma gêmea estava próximo.

Próximo demais.

Izumo não queria encontrar sua alma gêmea. De que lhe adiantaria ter aquele que marcara sua pele com flores em sua vida, sendo que ela tinha mais o quê fazer.

Sua mãe buscava por pretendentes, enquanto ela cuidava da irmã mais nova.

As aulas começariam logo, um novo começo. Uma nova página que não precisaria ser virada, caso Tamamo não houvesse decidido que mudar de casa no meio do período letivo fosse uma ótima ideia.

Ele estava sentado ao seu lado na pequena turma que a recebera da melhor forma possível. Ela sabia, pois no momento em que seus olhos o encontraram, as rosas desenhadas em seu quadril começaram a coçar em sinal de alerta.

Ele lia revistas adultas escondido por entre os livros durante a aula. Um pervertido nojento, por mais que as flores ousassem dizê-la do contrário.

"Você é a mais bonita da turma, Izumo"

Ele tinha o péssimo hábito de dizer seu nome como se fosse caramelo quente, como se pronunciá-lo o fizesse sentir o doce mais doce que já pudera provar algum dia.

Ela se perguntava se ele também havia notado, se também sentira algo quando a vira passando pela porta logo no primeiro dia.

Qual seriam as flores dela?

Será que seus sentimentos e emoções eram representados por alguma flor no corpo dele?

Semanas depois de conhecê-lo, Izumo notou que cravos vermelhos desabrochavam em conjunto as rosas vermelhas, o que lhe trouxe confusão. Ela sabia que as rosas vermelhas simbolizavam muito bem aquele lado que lhe causava repulsa nele, mas os cravos eram diferentes.

Cravos vermelhos eram admiração e uma paixão que ela duvidava de que ele fosse capaz de sentir por alguém.

E ela até tentara se enrolar, dizendo a si mesma que eram apenas impressões, que ele poderia prová-la do contrário e realmente ser alguém além daquela figura, que fazia pouco das aulas e lhe mandava bilhetes quando os professores davam as costas, mas ela sabia que se enganar não era a melhor solução.

Nenhum dos dois mencionara flores nos raros momentos em que conversavam.

Enquanto na borda de alguns bilhetes, seus olhos enxergavam rosas mal desenhadas.

Sua vida acabara se tornando um shoujo, e dos mais dramáticos diga-se de passagem.

Junho.

O calor sempre fazia com que elas se vestissem de maneira diferente, dava certa liberdade para que todas as partes do corpo, antes escondidas pelo frio, ganhassem cor e brilho à luz do sol. Saiasregatas, não havia motivo para se negar uma caminhada junto ao grupo de amigas em uma tarde quente e seus olhos sempre as seguiam, por mais que nada além de uma bela vista conseguissem.

Então as caretas que recebia ao comprar revistas adultas na mercearia não significavam muito, olhar e não poder ter algo era realmente frustrante.

Mas Renzo era paciente.

Se realmente existissem almas gêmeas como seus irmãos adoravam dizer, caçoando de que ele nunca encontraria a dele, então que fosse dessa maneira, ele não se importava em esperar.

Sua mente estava mais do que pronta para isso, assim como seu corpo mas, talvez seu coração ainda estivesse atrasado no meio desse processo.

Não fora ele quem notara as rosas, quando estas surgiram caminhando por suas costas e encobrindo seu ombro esquerdo, conforme a passagem de tempo.

Fora em uma tarde de junho que um de seus amigos percebera as flores em seu ombro, por debaixo da regata. As cores vibravam no sol tardio, rosas de todas as cores em flor, desabrochando em todo seu esplendor.

E fora como se alguém o beliscasse quando ela apareceu em sua sala de aula, semanas mais tarde.

Ela tinha um olhar enfezado, como se tentasse afastar as pessoas ao seu redor com ele - que a deixava tudo menos amedrontadora - principalmente quando suas sobrancelhas ralas se juntavam bem no centro de sua testa. Quando isso acontecia, ela se tornava alguém adorável, ao menos aos olhos dele.

Aquela garota era sua alma gêmea.

Aquela que fazia questão de ignorá-lo quase que completamente em todas as suas investidas, aquela que com certeza sabia do elo que compartilhavam mas fazia questão de não enxergá-lo. Que respondia seus bilhetes com notas de exclamação acompanhadas de um redondo e grande "me deixe em paz", mesmo que eles sentassem lado a lado todos os dias da semana. Mesmo que seus amigos fossem próximos, os fazendo se encontrarem fora do âmbito escolar.

Um sentimento de ansiedade crescia em Renzo, a medida que rosas brancas e cor de rosa se destacavam em suas costas, mas ele pouco notava, tanto quanto entendia seus significados.

Rosas eram apenas flores bonitas, que machucavam ao toque.

Rosas eram como Izumo.

— Se ela for igual a Mamushi, talvez você tenha que esperar mais um pouco Renzo. - fora o que seu irmão lhe dissera, dando tapinhas nas costas, bem onde as flores estavam.

Era fácil para ele, que já estava casado com sua alma gêmea.

E assim, ele se questionou pela primeira vez se valia a pena insistir.

Almas gêmeas estariam juntas por toda uma vida, mesmo que separadas. Seu encontro era apenas uma colisão, um encaixe, a peça que faltava, mas não era uma resposta completa.

Rosas brancas eram o reflexo de um coração inexperiente no amor enquanto rosas, cor de rosa eram graça, e ele pouco se dera conta que o coração dela começava a mudar graças a atenção dele.

Julho.

Era uma noite quente, tão quente que a pouca brisa fazia a comoção de pessoas caminhando se agitar procurando por mais daquela breve amostra de frescor. Uma clássica noite de verão em julho.

Izumo se afastara do grupo de amigos com os quais havia saído para aproveitar o festival, Tamamo cuidaria de sua irmã e juntas elas aproveitariam a noite no conforto de casa, lugar onde ela gostaria de poder estar se sua própria mãe não houvesse deixado que aqueles seres barulhentos a arrastassem para aquele lugar cheio de outros completos estranhos.

E por mais quente que estivesse, o céu da noite estava limpo, haviam inúmeras estrelas despontando nele, como vaga-lumes num campo de grama alta e ter conseguido escapar daquela confusão de vozes para apreciá-lo estava sendo ótimo. Quanto mais longe estivesse dele, melhor para ela.

— Achei você Izumo!

Mas sua alegria durara por pouco tempo, quando um delicioso crepe de morangos fora colocado a frente de seu campo de visão e ele se sentara ao seu lado no gramado.

O doce parecia bom demais para ser recusado.

— Bom para você, o quê quer comigo?

E fora entre algumas mordidas que ela notara a pouca fala dele - alguém que adorava falar sobre coisas que ninguém queria ouvir - e observando melhor, ele também parecia entretido com o céu, mas não fora isso que lhe chamara a atenção.

Havia uma rosa cor de laranja em flor no lado esquerdo do pescoço dele.

Uma rosa que se unia a um complexo ornamento de outras rosas, descendo pelo ombro e indo abaixo, até onde a regata lhe cobria o corpo.

— Rosas.

Ela era rosas, seus sentimentos eram rosas e algumas tão vermelhas quanto as que ela tinha, mas ela mal notara que seu fio de voz chamara a atenção dele, entretida demais em sua própria descoberta.

— É, e tem muito mais de onde essas vieram.

Izumo mal teve tempo de reagir quando viu a mescla de cores que sentia, cobrindo as costas dele.

Eram muitas rosas, muitas. Cada uma num tom diferente, se agrupando e formando um enorme buquê.

Então seus olhos notaram outra coisa.

Renzo havia deixado de vestir a regata.

E seu rosto ficara incrivelmente quente, fazendo com que ele risse de sua careta, voltando a vestir a peça de roupa.

— São muitas.

— É, são.

— Eu também tenho rosas, e cravos.

— Então nós somos parecidos.

— É claro que não somos, e não me olhe desse jeito!

— Que jeito? Isso não é um bom sinal?

— Sinal de quê?

Os olhos de Renzo transmitiam aquela mesma segurança que ele tinha enquanto lia revistas inapropriadas em sala de aula.

— De que você não é tão diferente de mim, e que a gente pode se dar bem.

— Eu prefiro a morte.

— Não diga isso Izumo, eu sei que no fundo você é legal.

Izumo, pela segunda vez naquela noite não teve tempo de reagir a algo inesperado, quando ele a abraçou com um dos braços, sua mão caindo bem em cima de onde as flores estavam, causando um arrepio que lhe subira dos pés a cabeça.

Uma sensação estranha tomara conta de seu ser logo após o baque, algo como conforto, ou um banho frio que cairia muito bem naquela noite quente. Algo estranho e agradável que, ao invés de fazê-la se afastar do toque, a convenceu de recostar a cabeça sob o ombro dele.

Ela se sentia preenchida, completa de alguma forma.

— Sabia que a sua mão está em cima das suas rosas?

— Sério? Eu pensei que você fosse me chutar ou coisa do tipo.

— Foi você que disse que no fundo eu sou legal.

E Renzo apenas riu daquelas palavras, notando mais uma vez as estrelas douradas que decoravam o elástico que prendia o cabelo escuro dela.

A noite permanecia quente e estrelada mas, naquele pequeno momento dividido entre eles, tudo acontecia de uma forma diferente. Para Izumo, era uma novidade completa a qual ela nunca imaginou que se permitiria um dia sentir, e para Renzo, era um sentimento da realização de algo com o qual ele sempre sonhou.

E naquele breve momento, ambos estavam bem.


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Notas finais do capítulo

Eu deixei a maioria dos significados explicadinho ao longo da peça, queria rosas para ambos pois ambos os personagens são semelhantes em certos pontos e queria algo que os unisse nesse universo, já que fugi completamente do rumo original.

As flores refletem as emoções e sentimentos de um, no outro, sem ter realmente uma relação a pessoa nas quais as flores aparecem. E elas mudam, crescem conforme um conhece o outro. Aliás, eu realmente queria um lugar diferente do corpo para colocá-las, em cada um para fazer a cena final :B

E não que isso vá lá fazer uma diferença muito grande na leitura, mas a ideia e passagens de tempo/estação que coloquei ao longo do texto só tomaram forma graças a música "and july" da Heize - e eu adoror essa música heh.



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