No intervalo, enquanto Aninha conversava com as amigas, Titi a observava com a cara fechada. Não se conformava em ver a ruiva feliz sem ele, usando aquelas roupas curtas e provocantes na opinião dele. Ele ia ter Aninha de volta, custe o que custasse. Ela era dele, dele e de ninguém mais. Não ia deixar ninguém roubar a ruiva dele. Ele viu a ruiva se afastando das amigas pra ir ao banheiro e aproveitou a chance pra segui-la. Quando Aninha estava quase entrando no local, Titi a segurou pelo braço e a levou pra uma sala fechada.

Aninha: Titi! - gritou furiosa - Ficou louco?! Você machucou o meu braço.

Titi: Desculpa Aninha - disse um pouco mais calmo - Mas eu fiquei muito pistola quando vi você usando essa roupa curta, provocante.

Aninha o encarou furiosa e depois olhou pra si mesma. Ela estava usando uma saia que ia até os joelhos e uma blusa branca de alças. Ao ver dela, aquela roupa não tinha nada de provocante.

Ana: Você tá louco Titi - falou irada - Isso aqui não tem nada de provocante. É você que tem a mente suja!

Titi: Aninha! - gritou pistola - Eu não vou permitir que você ande vestida desse jeito! Que outros homens olhem pra você. Você é minha.

Aninha: Para com isso Titi - pediu assustada - você tá me assustando. Você precisa de ajuda. Procura uma psicóloga.

Titi: Eu não quero psicóloga nenhuma - se aproximou dela e a agarrou pelos braços, aproximando o rosto dela do dele - eu quero você. Será que você não entende isso?

Aninha: Me solta! - empurrou ele - Nunca mais, ouviu? Nunca mais toca em mim desse jeito!

Titi: Você bem que gostava dos meus beijos, das minhas carícias - sorriu irônico - o que mudou agora?

Aninha: Você ainda pergunta? - encarou o ex friamente - Você se tornou um escroto Titi. Ou melhor dizendo, sempre foi um escroto. E eu, tonta desde criança, só percebi isso agora.

Titi: Não diz isso Aninha - se aproximou a abraçando e sentindo o perfume dos cabelos ruivos - não diz isso meu amor.

Aninha: Eu não sou seu amor! - empurrou o dentuço mais uma vez - Você estragou tudo Titi. Eu não quero mais nada com você. Esquece que eu existo.

Irada, Aninha saiu dali antes que perdesse a cabeça de vez com o ex-namorado. Timóteo estava lhe tirando o sono há meses, desde que terminou o namoro com ele. Titi não se conformou de jeito nenhum com o término. Estava sempre enviando mensagens pra Aninha, seja no Whatsapp, no Facebook ou em outra rede social. Por causa disso, Aninha se retirou das mídias sociais e mudou seu número de telefone, só dando o mesmo só pras amigas e amigos mais íntimos. Denise, Carmen, Irene, Cebola, Titi e Quim não se encaixavam nessa lista. Aninha não se dava bem ou então não confiava neles. Ela até gostava de Denise, mas pelo fato da ruiva ser fofoqueira, não confiava muito nela.

Suspirando, Aninha entrou na sala e foi pro lugar dela, que era um lugar bem afastado de Titi, ainda bem, pensou ela. Ela via a professora de português passando algo no quadro, mas não estava prestando atenção. Estava mais preocupada pensando em como fazer pra se livrar de Titi. Aninha estava enlouquecendo com o ex em sua cola.

Cascuda: Aninha - chamou a loira - me empresta o apontador?

Aninha: Ah, toma Cascuda - disse saindo dos pensamentos dela - desculpa, hoje eu tô meio pensativa.

Cascuda: Eu percebi - falou preocupada - É por causa do Timóteo não é?

Aninha se limitou apenas a assentir.

Cascuda: Ana - suspirou - eu e as meninas já falamos várias vezes pra você denunciar ele pra polícia, mas você não escuta.

Aninha: Eu tenho medo Cascuda - olhou pra baixo - eu tenho medo de que depois ele queira se vingar de mim. Você sabe como o Titi é vingativo quando ele quer. Até hoje ele não se conformou com o fim do namoro.

Cascuda: Você já perguntou se ele está indo em uma psicóloga? - perguntou analisando a amiga.

Aninha: Já - suspirou - mas ele disse que não precisa de uma, mas sim de mim. Me ajuda Cascuda, eu não quero voltar com ele. Se ele convencer o meu pai...

Cascuda: Ei - repreendeu - não fala assim. Seu pai não seria louco de fazer você voltar com o Titi. Seria?

Aninha: Eu não sei - suspirou cansada - eu não sei de mais nada.

O pai de Aninha, seu Cláudio, era um homem tradicional. Ou seja, um homem que tinha a mente atrasada. Achava que o lugar de mulher era em casa cuidando da mesma e dos filhos, e se desobedecia, tinha que apanhar pra aprender quem manda em casa, palavras que ele escutou do pai dele quando ele era criança. E foi num ambiente machista e violento que Aninha nasceu, cresceu e viu a mãe apanhando do pai. A menina sofria com isso, mas não podia fazer nada. Ela era apenas uma criança. Quando Ana começou a namorar Timóteo, seu Cláudio comemorou, pois achava que Titi era o garoto certo pra Aninha, alguém que colocava rédeas nela, que a deixasse no lugar em que ela devia estar. Por isso, seu Cláudio não se opôs ao histórico de agressão e violência que Titi tinha em relação às outras garotas com quem ele se relacionou no passado.

Cascuda: Desculpa falar isso mas - hesitou um pouco - o seu pai é um escroto Ana. Em que século ele vive? No dezoito?

Aninha: Parece que sim - suspirou - Por mim, eu moraria com a minha avó, mas se eu sair de casa, o meu pai vai atrás de mim.

Cascuda: E a sua mãe não vai fazer nada? - questionou curiosa. Sempre quis saber se a mãe de Aninha apoiava a atitude do marido.

Aninha: Ela não tem coragem - lamentou - não tem mais vida própria desde que se casou com o meu pai. Mas eu espero que um dia Cascuda, ela saia desse casamento horrível. Ela merece alguém muito melhor.

Cascuda: E você também - sorriu colocando a mão sobre a mão da ruiva.

Aninha: Obrigada - sorriu um pouco mais feliz - não é à toa que você é uma das minhas melhores amigas Cascuda.

Na saída do colégio, Aninha conversava com as amigas, mas estava apreensiva. Estava sentindo o olhar de Titi sobre ela, como se fosse uma presa dele. E de certa forma, era.

Mônica: Caramba! - exclamou irritada - O Titi não para de te olhar. Tá parecendo um serial killer.

Aninha: É só não olhar pra lá Mô - deu um sorriso nervoso - logo ele para de olhar pra cá.

Marina: Sério Ana - disse irritada - eu ainda não entendo como você não denunciou esse doente pra polícia. Isso tá virando uma obsessão.

Aninha: Eu já tentei denunciar - disse engolindo o nó na garganta - mas o meu pai não deixou. Ele quer que eu volte com o Titi.

Mônica: Com todo o respeito - disse fingindo estar calma - mas o seu pai é um idiota Aninha.

Aninha: Eu sei Mô - respirou fundo - mas infelizmente ele é o meu pai. O único que eu tenho. E eu não posso deixar a minha mãe sozinha com ele. É capaz dele espancar ela até a morte.

Cascuda: Ai Ana - suspirou - a gente queria fazer alguma coisa pra te ajudar.

Ana: No momento - puxou as amigas pra um abraço coletivo - vocês podem me ajudar me dando um abraço bem apertado.

Mônica: Pode deixar - abraçou as amigas bem forte.

Mais tarde, Titi estava em casa no quarto dele pensando em Aninha enquanto olhava as fotos que ambos tiraram juntos antes dela terminar com ele. Foram bons tempos, pelo menos pra ele, pensou Titi. Suspirando, deixou as fotos de lado e deitou na cama, encarando o teto.

Titi: Ai Aninha - suspirou - como eu vou conseguir viver sem você?

Roberta: Toc toc toc - falou batendo na porta e a abrindo - posso entrar?

Titi: Claro mãe - falou sentando na cama - entra aí.

Roberta: Obrigada - fechou a porta e se sentou ao lado do filho - Eu soube do que aconteceu hoje.

Titi suspirou.

Roberta: Quer falar sobre isso? - questionou passando as mãos no cabelo do filho.

Titi: Mãe - suspirou - a senhora sabe o que eu quero.

Roberta: Filho - respirou fundo - você sabe que se continuar com esse comportamento machista e violento, você vai acabar perdendo a Ana. Bom, já perdeu não é?

Titi: Mas eu quero ela de volta! - exclamou - Mãe, eu não consigo viver sem ela. Ela é a garota que eu amo.

Roberta: Timóteo - falou calma - você machucou muito a Ana. Ela precisa de um tempo e é natural que ela não queira te ver. Dê esse tempo à ela.

Titi: Está bem - suspirou - mas é só porque você pediu.

Roberta: Fico feliz então - sorriu e saiu do quarto, deixando Titi sozinho novamente.

Titi: Você vai ver Ana - sorrindo friamente - ninguém me dispensa desse jeito. Se você não fica comigo, então não fica com mais ninguém.

E isso é apenas o começo de uma história que só está começando.