The Chosen Ones — Chapter One. escrita por Beatriz


Capítulo 13
Sasuke: a Vila dos Artesãos.




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 Minha cabeça está uma bagunça. Literalmente uma completa confusão. Neste exato momento eu mal consigo formular um pensamento sem que outro totalmente diferente tente tomar seu lugar. Depois do que fiz com Akemi e do que aconteceu dentro da floresta com Sayuri, não sei dizer como me sinto. Não sei qual dos dois é pior para pensar agora. Sayuri é um problema do qual não tenho condições de resolver, é algo que eu simplesmente não posso pensar agora ou vou acabar ficando louco de vez.

Resolvo voltar meus pensamentos para Akemi. Espero realmente que ela possa me perdoar, não hoje, não amanhã, mas algum dia. Não queria machuca-la, mas quando aquele cara falou sobre Itachi... Eu simplesmente perdi a cabeça. Minha vida toda eu procurei por respostas e agora elas pareciam estar bem na minha frente e eu não pude pegá-las. O que sinto dentro de mim é inexplicável, é horrível.

À minha frente, vejo as costas de Sayuri. Ela está andando tão rápido que mal consigo acompanhar seus passos. Meu corpo inteiro dói, estou cheio de ferimentos e a líder Anbu da Névoa não está tão diferente de mim, mas não diminui o passo em nenhum momento. Ela está realmente preocupada com Akemi, penso. Minha bochecha ainda arde com o tapa que ela me deu momentos atrás, levo uma mão até o local e penso que eu não merecia menos que isso. Espero de coração que Akemi esteja bem, pois, apesar de não sermos muito próximos, não conseguiria viver comigo mesmo sabendo que minhas ações a mataram.

Quando nós estamos de volta ao local em que encontramos os dois homens da organização ainda desconhecida, vejo uma cena que me surpreende. Akemi parece ter perdido a consciência, mas felizmente seu peito ainda sobe e desce com a respiração. Ela ainda está viva, isso é bom. Entretanto, o que mais me chama atenção é Gaara. Ele está segurando a líder Anbu da Folha nos braços como se ela fosse a coisa mais preciosa do mundo, está curvado para frente e sua testa está encostando na dela. Ele segura uma toalha no ferimento dela, na tentativa de estancar o sangue, e sussurra algo inaudível para Sayuri e para mim. Sem perder tempo Sayuri corre diretamente até eles, acabando com o momento. Ela se agacha na frente do ruivo, chamando sua atenção, e começa a perguntar como Akemi está. Ele responde e eu fico fora de vista, sei que Gaara gosta dela e não quero começar uma confusão, ainda que seja inevitável alguma hora.

— Nós precisamos fechar essa ferida — Sayuri diz, olhando de um lado para o outro. — Ela ainda tem linha e agulha no kit de primeiros socorros? — ela olha para Gaara, mas ele está fitando Akemi. — Gaara! — chama. Ele não a olha. — Ei — ela diz suavemente, colocando uma mão no ombro dele. O ruivo finalmente levanta o rosto. —, ela vai sobreviver. Pensamento positivo, tudo bem? — ele assente, trêmulo. — Agora me diz, ainda tem linha e agulha na bolsa dela?

— Acredito que não — ele responde. — Ela deve ter usado tudo em mim quando trocou os pontos do meu machucado.

— Certo — Sayuri fica de pé. — Então vamos ter que encontrar pontos naturais.

— O que você quer dizer? — Gaara pergunta.

Sayuri não responde. Apenas começa a andar de um lado para o outro, olhando para o chão. Me pergunto o que ela está procurando. Em um certo momento Sayuri se agacha perto de um formigueiro e simplesmente enfia a mão lá dentro. Sim, sem mais nem menos. Ela passa um tempo cutucando lá dentro e me pergunto se as formigas ainda não a atacaram, pois ela não faz nenhum tipo de careta.

— Achei! — exclama, tirando a mão lá de dentro. Gaara e eu a encaramos.

— Achou o que exatamente? — Gaara pergunta.

— Uma formiga grande o suficiente para servir como pontos — ela responde.

— Você vai usar formigas para fechar o ferimento dela? — Gaara parece incrédulo.

— Acredite, vai funcionar. Confie em mim.

Sayuri se agacha novamente perto de Akemi e pede para Gaara tirar a toalha, já encharcada de sangue. Hesitante, Gaara faz o que ela pede. Sayuri levanta a blusa dela, tenta juntar as duas extremidades do ferimento com a mão e, quando consegue, coloca formiga ali perto. Assim que o animal morde, Sayu o aperta e o mata, deixando-o ali. Sim, realmente funciona para fechar. Gaara olha para ela abismado e eu imagino que não estou diferente. Sayuri parece satisfeita consigo mesma e volta ao formigueiro para pegar mais uma, assim que ela se aproxima de Akemi para repetir o procedimento, eu me aproximo.

— Suas mãos provavelmente já foram atacadas pelas formigas, como você não está sentindo nenhuma dor? — pergunto à Sayuri. Ela não me olha quando responde.

— Os treinamentos na Vila da Névoa me deixaram resistente a muitos tipos de dor — ela diz. — Você não tem ideia de quão pode ser demorado chegar ao meu limite.

— Sai daqui, Uchiha — escuto a voz de Gaara. Nós dois nos encaramos. — Eu acho bom você ficar a quilômetros de distância de Akemi ou juro que acabo com a porcaria da sua vida! — ele me fita, cheio de ódio.

Sem dar mais nenhuma palavra, eu me afasto. Faço isso simplesmente porque é a coisa mais fácil de se fazer agora e a que menos trará problemas. Sayuri termina o que estava fazendo e, apesar de nojento, o que ela fez com Akemi fez o sangue parar de sair. Gaara parece um pouco mais aliviado e acaricia o rosto da menina, colando suas testas novamente. Sayuri fica de pé, dando um tempo ao ruivo. Ela limpa as mãos na própria roupa e, pela primeira vez, me permito pensar no que aquele cara fez comigo para que eu deixasse Akemi nesse estado. Eu simplesmente perdi completamente o controle do meu corpo e da minha mente durante alguns segundos. O jutsu dele é algo tão forte que foi como se eu simplesmente parasse de existir. Um frio percorre minha espinha. Se aquele cara é forte assim imagine o resto.

— Eu sei que aquele cara disse que não acharíamos nada na Vila dos Artesãos, mas precisamos ir para lá pelo bem de Akemi — Sayuri diz. Gaara levanta a cabeça.

— É, eu sei — ele diz, simplesmente.

Sayuri solta um suspiro e fica de pé, sendo seguida por Gaara que traz Akemi nos braços. O ruivo está completamente sujo de sangue, mas não se importa, tudo o que parece rondar sua cabeça é o fato de que Akemi pode ou não ficar bem. Sayuri faz alguns sinais de mão e ativa seu kekkei genkai, ela está tentando ver para que lado devemos ir agora. Me sinto grato por isso, pois, apesar de ter rasgado o mapa momentos atrás dando a desculpa de que eu sabia o caminho, eu não sei para onde temos que ir. Rasguei o pedaço de papel em um momento de pura raiva e talvez eu esteja começando a me arrepender.

Minutos depois nós nos colocamos em movimento. A Aldeia dos Artesãos ficam em outro país, mas acredito que já estamos mais perto do que imaginamos. Não demora muito para termos a necessidade de parar. Gaara é quem quebra o silêncio entre nós três, pedindo um tempo. Sayuri e eu fazemos o que o menino pede, pois, apesar de Akemi estar temporariamente indisponível, ninguém aqui se sente apto a tomar o lugar de líder da Senju. A líder Anbu e eu viramos para ver o porquê de Gaara ter pedido para pararmos e observamos enquanto ele ajeita Akemi nos braços. Ela parece consciente, pois suas pálpebras se movem e ela está com o cenho franzido, mas não abre os olhos. Percebo que Akemi está tremendo e isso me deixa um pouco receoso.

— Sayuri, você pode me ajudar aqui? — o garoto da areia pede. Sayuri se aproxima dele.

A líder Anbu da Névoa se agacha no chão e segura Akemi nos braços, enquanto Gaara fica de pé e começa a tirar o colete que segura sua cabaça em suas costas. Ele encosta o objeto na árvore e começa a tirar seu casaco vermelho, não entendo de imediato o que ele está fazendo até vê-lo colocando a roupa em Akemi. Ele está tentando aquecê-la. Quando ele fecha o zíper do casaco, coloca o colete com a cabaça em seu peito nu, tira a líder Anbu da Folha dos braços de Sayuri e a carrega novamente. Ele já está pronto para voltar para o nosso percurso quando Sayuri coloca uma mão em seu ombro, fazendo-o parar. Ele vira o rosto para olhá-la. Os dois se comunicam silenciosamente, sei que compartilham da mesma preocupação e agora de algum tipo de conexão. Viro meu rosto para não observar essa cena. Eu sou praticamente um intruso aqui, deixei Akemi no estado no qual ela se encontra. A última coisa que aqueles dois precisam agora é dos meus olhos em cima deles.

Quando o momento entre Gaara e Sayuri acaba, nós voltamos a seguir caminho. Não falamos nada, apenas no concentramos em chegar ao nosso destino o mais rápido possível. Nesse tempo tento tirar meus pensamentos do estado de Akemi e começo a pensar no que eu teria descoberto sobre meu irmão se tivesse conseguido alcançar aqueles dois. Provavelmente nada. Aquele tal de Ryou não parece ser um cara que se abre facilmente. Um sentimento terrível de frustração me domina e penso em desistir neste exato momento dessa missão idiota. E eu poderia fazer isso, podia simplesmente ir embora e voltar para a Aldeia da Folha. Afinal, não é como se Kakashi pudesse fazer algo contra mim. Mas algo me impede. Olho para o meu lado e vejo o motivo que me faz ficar. Sayuri. Eu não poderia abandonar tudo e deixá-la sozinha nem que a minha vida dependesse disso. Por quê? Bem, não faço ideia, mas deixá-la não é uma opção.

Nós chegamos à entrada do País dos Rios, onde se encontra a Vila dos Artesãos, no exato momento em que os primeiros raios de sol iluminam o céu. Akemi não abriu os olhos em nenhum momento da viagem e Gaara parece mais nervoso do que nunca. Antes de termos a oportunidade de entrar na Aldeia dos Artesões, nós passamos por um pequeno vilarejo e Gaara não hesita em entrar correndo, pedindo por ajuda. As pessoas nos observam com curiosidade e um pouco de receio, mas para a eterna felicidade do ruivo, ele é recebi por uma velha senhora. Sayuri e eu nos aproximamos devagar, cautelosos, e escutamos a conversa de Gaara com a desconhecida.

— O que aconteceu com ela? — a mulher pergunta, analisando Akemi.

Gaara me lança um olhar cheio de raiva antes de responder.

— Ela foi atinginda por uma espada — diz. — Tem alguém aqui que pode cuidar dela?

— Eu posso — a mulher diz. — Sou médica ninja e tenho tudo o que preciso aqui, mas acredito que vamos ter que levá-la para a Vila dos Artesãos em algum momento. Eles têm um hospital lá. Bem, mas agora vamos nos concentrar nessa mocinha. Por favor, me acompanhem.

A senhora nos guia até uma casa bem simples feita de alvenaria. Quando nós entramos vejo que outras pessoas, médicos ninja também, estão lá dentro, organizando algumas coisas. Como o hospital fica na Aldeia dos Artesãos, isto aqui aparentemente é algum tipo de enfermaria para os moradores desse lugar. Eles devem cuidar de casos pequenos e os maiores são levados para a aldeia. Gaara coloca Akemi cuidadosamente em uma maca e logo um homem vem até nós. Ele começa a examinar Akemi da cabeça aos pés e pede para que o casaco vermelho que a cobre seja retirado. Quando o médico olha paraaferida, abre logo a boca para falar.

— Vamos precisar de algum doador de sangue aqui — ele grita. — Quem fez esse curativo com formigas? — agora ele olha para nós três.

— Fui eu — Sayuri dá um passo à frente. — Eu sei que é nojento e tudo mais, mas foi a única coisa na qual consegui pensar para parar o sangramento.

— Você fez muito bem, menina — ele a fita. — Provavelmente salvou a vida da sua amiga.

— Doutor? — é a vez de Gaara dar um passo à frente. O médico se vira para ele. — Acredito que eu e ela temos o mesmo tipo sanguíneo. Será que eu poderia ser o doador?

— Vamos ter que ver se os tipos de sangue são realmente iguais. Se sim, eu não vejo porque não.

Gaara assente e dá alguns passos para trás. O médico chama uma enfermeira e ela leva o menino da areia para outra sala para que eles possam fazer o exame. Sayuri e eu nos vemos obrigados a deixar Akemi sozinha com o médico quando ele começa seus procedimentos nela. Nós nos encostamos na parede do lado de fora e vejo pelo canto do olho a tristeza estampada no rosto de Sayuri. Ela chuta o chão com a ponta do pé e olha para baixo. Nossas diferenças de altura são consideráveis e não me preocupo com ela perceber ou não que estou a observando, pois sei que isso não vai acontecer. Sei que ela está ansiosa para saber como Akemi vai ficar e sinto vontade de dizer algo para acalmar seu coração, mas não sei o que. Simplesmente não sou bom com esse tipo de coisa e com momentos assim, então permaneço calado.  Em um certo momento Sayuri me surpreende quando se vira e acerta a parede com um soco. A observo enquanto ela fica parada, com o braço esticado.

— É tudo culpa daqueles imbecis — ela diz. — Akemi pode morrer e eu não fui capaz de fazer nada! Que tipo de shinobi eu sou? Que tipo de companheira de equipe eu sou? Argh!

— Tecnicamente — digo, chamando sua atenção. —, a culpa de Akemi estar assim é minha.

— Eu sei, Sasuke — ela abaixa o braço e seus ombros caem. — Mas a culpa não foi apenas sua. Apesar de ter arrancado a espada de Akemi por conta própria, aquele homem te usou para machuca-la primeiramente. E isso é algo que eu não posso aceitar! — ela cerra os punhos, com raiva. — Ele não brincou apenas com você, mas com todos nós também.

Antes que possamos falar mais alguma coisa somos interrompidos quando uma enfermeira vem até nós empurrando um carrinho cheio de coisas para curativos. Ela pede desculpa por atrapalhar nossa “conversa” e pergunta se pode fazer curativos em nossas feridas, Sayuri e eu não nos opomos e sentamos em umas cadeiras que estão espalhadas pelo local. A enfermeira chama um assistente e os dois começam a fazer seu trabalho e nós dois ficamos em silêncio. Viro meu rosto da forma mais discreta que consigo e observo Sayuri por um tempo. A enfermeira está trabalhando nos ferimentos em seu braço e por isso seu rosto está livre para demonstrar qualquer tipo de emoção. Ela está com a cabeça baixa, fitando o chão como se ele fosse muito interessante, e seus ombros estão curvados. Não sei o que está passando pela cabeça dela, mas tenho uma ideia. Sei que ela está com o mesmo sentimento de frustração que eu, sei que está com raiva e quer resolver as coisas o mais rápido possível. Eu sei bem como está se sentindo, Sayuri, penso. Neste momento, entendo você mais do que imagina.

Passam-se horas até que vejamos Gaara novamente. Seu rosto pálido me leva a acreditar que ele realmente conseguiu doar sangue para Akemi. O garoto está vestido novamente com seu casaco vermelho e vem até nós com passos apressados. Ele chega até mim em questão de segundos e me surpreende quando acerta um soco em meu rosto. Cambaleio para trás com o susto e levo uma mão até o local dolorido. Mas que merda é essa?, penso. Sayuri se mete no meio de nós dois, com os braços esticados, pronta para parar uma briga caso seja necessário. Mas não é. Depois de me bater, o ruivo apenas encosta os antebraços na parede e fica nessa posição por um tempo. Sua respiração está ofegante e seu rosto tomado de dor. Sei que tudo isso é preocupação por causa de Akemi e por isso não sinto vontade de revidar.

— O que aconteceu, Gaara? — Sayuri pergunta, colocando uma mão em seu ombro.

— Akemi... — ele diz, a voz falhando. — A Akemi...

— O que aconteceu? — Sayuri arregala os olhos. — Ela piorou? — Gaara não responde, apenas cerra os punhos. — Responda!

— O meu sangue não foi suficiente para ela! — ele vocifera, virando-se de frente para nós dois. — O médico... Ele... — Gaara soca a parede. — Ele disse que não pode tirar mais sangue de mim porque se não eu posso morrer. E ela precisa de mais! E é tudo culpa desse cara!

Gaara avança para cima de mim novamente, mas Sayuri o impede, segurando-o pelos ombros. O menino treme, está transtornado. A líder Anbu da Névoa amassa o tecido da blusa do ruivo com suas mãos e olha diretamente em seus olhos.

— Gaara! Preste atenção! — ela diz. Ele olha nos olhos dela. — Eu sei que você está nervoso e sei que quer descontar toda essa raiva em Sasuke, mas você acha mesmo que vale a pena?

— Mas ele... Ele quase a matou! — diz, olhando para mim.

— Não, Gaara! Olhe para mim! — Sayuri o sacode pelos ombros, obrigando-o a olhá-la nos olhos. — Matar o Sasuke não vai resolver nada. Você precisa ser forte e encarar isso com maturidade. Seja forte, se não por você então por Akemi!

Gaara se livra das mãos de Sayuri de uma forma brusca, mas a garota nem se abala. Ele se afasta, provavelmente vai voltar para o quarto em que Akemi está. Sayuri aperta a ponte de seu nariz e solta um suspiro. Nós ficamos em silêncio mais uma vez, porque não há nada para ser dito entre nós dois, e voltamos a nos sentar. Ficamos mais um bom tempo assim até o médico que estava cuidando de Akemi aparecer, sendo acompanhado de mais uma pessoa. Uma mulher. Ela não parece ninja e carrega uma prancheta nas mãos e usa óculos, se ela for algo então é uma assistente.

— Como está Akemi? — Sayuri pergunta ao médico, ficando de pé, assim que ele para na nossa frente. Repito o movimento porque estou curioso para saber também sobre o estado dela.

— Vai sobreviver, mas precisa de mais uma transfusão de sangue. O amigo de vocês foi de grande ajuda, mas ele é só um garoto, se tirarmos mais sangue dele poderá matá-lo — ele responde. — E para que isso seja feito nós precisamos levá-la para o hospital da Vila dos Artesãos.

— Quando isso poderá ser feito? — pergunto.

— Hoje mesmo, mas antes a senhora Yumi precisa falar com vocês — ele diz. — Assim que terminarem eu venho aqui para explicar como vamos nos deslocar. Até daqui a pouco.

O médico nos dá as costas e vai embora, nos deixando sozinhos com a mulher chamada Yumi. Ela ajeita os óculos no nariz e fica escrevendo alguma coisa na sua prancheta por alguns minutos. Sayuri e eu trocamos um olhar, mas não dizemos nada. Passado esses minutos Yumi levanta o rosto para nos encarar.

— O senhor feudal do País dos Rios foi avisado sobre a chegada de vocês aqui — ela diz. — Assim que vocês chegarem à Vila dos Artesãos, depois de deixarem sua amiga no hospital, terão de ir falar imediatamente com ele, entenderam?

Sayuri e eu assentimentos. Como esperado logo depois que Yumi vai embora o médico retorna e diz que Akemi será transportada naquelas carroças que são fechadas e que nós vamos poder ir sentados ao lado dela. No exato momento em que ele termina de falar isso, vemos a maca em que Akemi está ser levada para o lado de fora. Gaara está ao lado dela como um segurança, observando cada movimento das pessoas que a levam, Sayuri e eu damos uma corridinha para acompanhá-los.

O sol já está no seu ápice quando saímos da construção. Deve ser meio dia ou alguma hora próxima. Akemi é a primeira a ser colocada na carroça e logo depois nós três entramos. Gaara fica de um lado e eu e Sayuri ficamos de outro. Tento não fazer nenhum contato visual com o ruivo e o caminho inteiro fico ou olhando para o chão ou para o teto. Em algum momento da viagem dou uma conferida em Akemi, a cor já voltou ao seu rosto e ela não está mais tremendo, apesar de ainda estar dormindo. No único momento em que me atrevo a olhar para Gaara, percebo que ele está segurando a mão da líder Anbu da Folha e acaricia a mesma com o polegar. Ele realmente gosta dela, seu sentimento está quase palpável aqui neste lugar apertado.

Minutos mais tarde sinto algo fazendo pressão em meu ombro, olho para o lado e vejo que Sayuri adormeceu e, com o balançar da carroça, sua cabeça acabou deslizando na minha direção. Seu peito sobe e desce com a respiração regular e suas pálpebras se mexem sob os olhos. Antes que ela tenha tempo de começar a dormir profundamente, eu a afasto com uma mão. Sayuri se assusta com o movimento e quando percebe o que estava acontecendo vira o rosto de lado e se afasta um pouco de mim.

— Se quer tanto dormir devia esperar até estar em uma cama — digo.

— Eu não queria encostar em você, se é isso o que está pensando — ela rebate.

Ficamos calados o resto da viagem. A viagem dura cerca de uma hora, assim que chegamos à Vila dos Artesãos, um grupo de médicos ninja vem pegar Akemi. Como esperado, Gaara acompanha a menina como uma sombra. Sayuri e eu ficamos para trás, pois temos coisas mais importantes para fazer no momento. No exato instante em que saio da carroça percebo o que algo está diferente aqui nesta aldeia, o ar está pesado, as pessoas parecem cheias de medo... Algo está acontecendo por aqui. Antes que eu tenha tempo de falar com Sayuri sobre isso, somos surpreendidos por uma menina que vem até nós. Ela tem os cabelos escuros e curtos e parece ser um pouco mais velha que eu.

— Vou acompanha-los até o senhor feudal do País dos Rios. Por favor, queiram me acompanhar — ela diz, com um tom que não admite protesto.

Sem termos escolha, Sayuri e eu fazemos o que ela pede. Nós andamos por um tempo e por todo o caminho percebo o quanto as pessoas dessa aldeia são condicionadas à apenas um tipo de trabalho: confecção de armas. Observo todos os tipos de objetos que podem ser usados em uma batalha, é um mais incrível que o outro. Ainda que essas pessoas sejam armadas até os dentes, me pergunto porque parecem tão cheias de medo. Dou uma olhada em Sayuri que anda ao meu lado e me pergunto se ela já percebeu a mesma coisa que eu.

A menina de cabelos escuros nos leva até a casa do senhor feudal. É uma mansão, como esperado. Afinal, tente imaginar um senhor feudal que não goste de ostentar e falhe consideravelmente. Nós três somos recebidos por alguns homens que eu imagino que sejam seguranças e somos escoltados até uma sala, onde encontraremos o homem que quer nos ver. A porta se abre, revelando-nos o senhor feudal do País dos Rios. É um homem alto, com barriga protuberante, deve estar na casa dos quarenta anos e tem uma barba esquisita. Ele nos recebe com um grande sorriso. Ergo uma sobrancelha.

— Ora, se não são os ninjas da Folha — ele diz, cumprimentando-nos. — Eu sou Hiroshi, senhor feudal do País dos Rios. Por favor, sentem-se. Fiquem à vontade.

Nós fazemos o que ele pede, tiramos nossos sapatos e nos sentamos de frente para o homem.

— Bem, senhor, com todo o respeito, eu sou da Névoa — Sayuri diz, corrigindo-o. — Apenas estou em uma missão pela Folha.

— Névoa? Melhor ainda! — ele parece incrivelmente animado com a nossa presença. — Já ouvi falar que os ninjas da Névoa são bem impiedosos e é disso que a Vila dos Artesãos está precisando.

— Você poderia ser um pouco mais claro? — pergunto, impaciente. O homem tira os olhos de Sayuri para olhar para mim.

— Você é Sasuke Uchiha, certo? O ninja que matou Orochimaru — eu balanço a cabeça, concordando. — Hoje é um dia de sorte para o meu povo — ele sorri e se serve de um pouco de saquê. — Bem, eu soube que uma companheira de vocês está gravemente ferida e vocês vieram buscar ajuda aqui no País dos Rios. Por acaso a missão de vocês era por aqui?

— Sim, senhor — Sayuri responde. — Devíamos vir à Vila dos Artesãos e buscar algumas respostas.

— Respostas sobre o que? — ele pergunta.

Sayuri e eu trocamos um olhar, sei que ela está pensando a mesma coisa que eu: será que é seguro falar para esse homem sobre a organização? Não sei a resposta para isso e desejo que Akemi estivesse aqui, pois, como líder da missão, ela poderia tomar essa decisão. Sem alternativa, balanço a cabeça, dizendo a Sayuri para falar.

— Sobre uma organização — ela responde. — Nós soubemos que eles passaram um tempo por aqui e estávamos vindo para recolher informações sobre eles. Porém, tivemos o azar de encontramos com dois deles no meio do caminho e, infelizmente, nossa líder foi ferida.

— Organização, hein? — ele se serve com um pouco mais de bebida. — Você poderia ser mais especifica sobre eles?

— Modesta a parte sou muito boa com desenhos. Eu posso fazer uma caricatura para o senhor, se tiver papel e lápis aqui — Sayuri diz.

O senhor feudal ergue uma mão e estala um dedo. Um homem que eu nem tinha reparado que estava na sala sai do recinto por um momento e volta segundos depois trazendo o que Sayuri pediu. Sem perder tempo ela começa a desenhar.  Não sabia que ela podia fazer esse tipo de coisa, quando era criança nunca demonstrou nenhuma habilidade para o desenho. Bem, ela cresceu agora. Se tornou uma mulher cheia de segredos, penso. Sayuri não demora muito para terminar seu desenho e dá os papéis para Hiroshi. Assim que ele coloca os olhos no desenho sua postura muda completamente: seus olhos se arregalam, suas costas se arqueiam e sua respiração fica entrecortada. Reações típicas de quem teme algo ou alguém. Se Sayuri e eu tínhamos alguma dúvida sobre ele conhecer ou não essa organização agora não temos mais nenhuma.

— Então, você os conhece — comento o óbvio. O homem deixa os papéis de lado e tenta normalizar a respiração.

— S-sim — gagueja.

— Pode nos dizer algo relevante sobre eles? — Sayuri cruza os braços sob o peito.

— Eu até posso — ele diz, levanta o rosto para nos encarar. — Mas não será de graça.

— O que você quer em troca? — pergunto. Eu já esperava por isso.

— Que vocês façam um trabalho para mim.

Nós ficamos vários e vários minutos dentro da sala enquanto Hiroshi explica o que é esse tal “trabalho”. Aparentemente, um grupo de ninjas tem aterrorizado a Aldeia dos Artesãos. Eles maltratam, abusam e matam quem quer que se meta em seu caminho. Hiroshi já tinha mandado vários shinobis atrás desses homens, mas nenhum deles voltou com vida. As baixas estavam sendo tantas que ele já estava entrando em desespero... Até nós aparecermos. Não é novidade para ninguém que os ninjas das cinco grandes nações estão milhares de níveis acima daqueles que são de aldeias menores. E os da Folha têm fama de serem melhores ainda. Então, o senhor feudal teve a brilhante ideia, no momento em que soube da nossa chegada, de pedir para que nós enfrentássemos esses homens. Ele fala tudo isso do melhor jeito que pode torcendo para nós aceitarmos. Quando ele termina de falar nós dois trocamos um olhar.

— Como o senhor bem sabe nossa missão não tem nada a ver com isso, então o que acontece se não aceitarmos? — pergunto.

— Bem, eu não posso obrigá-los a arriscarem suas vidas — ele dá de ombros. — Mas terei que pedir que se retirem do País dos Rios, levando sua amiga ferida e não poderei passar nenhuma informação sobre essa organização que vocês tanto querem.

— O senhor pode nos dar um minuto? — Sayuri pergunta.

— É claro.

Nós dois caminhos para perto de uma janela, ficamos alguns metros de distância do senhor feudal. Entendo que Sayuri quer discutir isso comigo em particular e me pergunto se chegaremos a alguma conclusão. Como eu disse, nossa missão não tem nada a ver com esse problema da Aldeia dos Artesãos, se eles não sabem lutar suas próprias batalhas o problema não é nosso. Eles não pediram ajuda da Folha em relação a isso e não seremos remunerados se ajudarmos. Então qual é a lógica de fazermos isso? Receber algumas informações e conseguir que Akemi fique melhor? Bem, podemos conseguir essas duas de outras formas bem menos arriscadas.

— Eu sei o que você está pensando — Sayuri diz, tirando-me de meus devaneios. — Você está pensando que não tem lógica arriscarmos nossas vidas apenas para salvar Akemi e conseguir informações que nem podem ser verdadeiras — abro a boca para falar, mas ela me cortar levantando uma mão. — Mas, tirando a parte egoísta desse seu pensamento para com Akemi, talvez essas informações que ele tenha sobre a organização sejam verdadeiras, você viu como ele ficou quando viu meus desenhos, e é muito provável que sejam as únicas informações que iremos conseguir.

— O que você quer fazer então? — cruzo os braços.

— Eu quero arriscar e ir enfrentá-los — abro a boca para protestar, mas ela me corta novamente. — Olha, Sasuke, o bem estar da Akemi e o sucesso da nossa missão depende disso.  E também não é como se fôssemos shinobis novatos sem experiência alguma. Você e eu já enfrentamos coisas piores que um bando de desocupados colocando o terror em uma vila. Você, por exemplo, matou o Orochimaru. Então, o que me diz?

Deixo um suspiro escapar.

— Mesmo se eu falar não eu sei que você vai fazer do mesmo jeito, então faz o que você quiser.

Nós comunicamos ao senhor feudal que iremos fazer o que ele pediu, em troca ele promete que Akemi terá o melhor tratamento e que ele nos dirá tudo o que sabe sobre a organização. Antes de irmos para a luta, nós três fazemos um plano que consiste basicamente em Hiroshi mandar um bilhete ao chefe desses homens, dizendo que dois desconhecidos chegaram à aldeia para tomar seu lugar. Hiroshi diz que tem certeza que o homem vem ao nosso encontro com sede de sangue e que nós só teremos que nos deslocar até um local longe o suficiente dos civis. Sayuri e eu concordamos e o bilhete é mandado.

Tudo ocorre como esperado. O homem realmente vai ao local do encontro prometendo que vai acabar com nós dois. Sayuri e eu vamos caminhando calmamente até lá. Não trocamos palavras nem olhares, pois queremos estar completamente concentrado. Apesar do que ela disse, sobre eles serem desocupados e tudo mais, eles ainda são ninjas e não sabemos do que são capazes. Em certa parte do caminho resolvo quebrar o silêncio por algum motivo ainda desconhecido até para mim.

— Para a fama que você tem como Tigre da Névoa, você é muito solidária — digo, lembrando tudo o que ela havia feito por Akemi.

— Você queria que eu a deixasse morrer? — ela pergunta. Sabe do que eu estou falando.

— Não — respondo. — Eu só estava pensando que para alguém cruel, sem piedade e que já matou milhares você me parece muito boazinha — eu sei que estou provocando-a, mas não me importo. Em qualquer lutar a raiva é importante. — Foi você mesmo que fez tudo o que dizem ou são apenas boatos?

— Fui eu mesma que fiz essas coisas, Sauke, e ainda fiz piores — ela diz. — Mas como você mesmo disse, essa fama é do Tigre da Névoa e não da Sayuri — ela me olha de relance e deixo um sorrisinho escapar.

— Vocês são a mesma pessoa — digo, como se fosse óbvio.

— Eu não gosto de mostrar esse meu lado quando não estou usando minha máscara. Por isso prefiro dizer que não sou a mesma pessoa quando estou com ela.

A conversa acaba e Sayuri continua andando calmamente como se nada do que falamos tivesse a afetado. Quando nos deparamos com uma fila de homens à nossa frente, Sayuri e eu paramos de andar. Nós dois ficamos lado a lado, analisando a situação. Aparentemente o grupo consiste em apenas pessoas do sexo masculino e, pelo o que percebo, o chefe não está entre eles. Será que não veio? Será que está escondido? Sayuri solta um suspiro baixo e eu viro o rosto para encará-la. Ela não parece nervosa nem nada do tipo, apenas entediada. A líder Anbu da Névoa me surpreende quando vem para a minha frente. Ela me olha fundo nos olhos.

— Desculpe, Sasuke, mas eu preciso fazer isso sozinha.

É a última coisa que a escuto dizer antes que ela me ataque. Sayuri é muito bem treinada e executa seus movimentos antes mesmo que eu tenha tempo de ativar meu sharingan. Ela junta o dedo indicado e o do meio e acerta as pontas dos dedos bem no buraco entre os ossos da minha clavícula, na base do meu pescoço. Isso me causa uma falta de ar súbita e caio de joelhos no chão, segurando o pescoço e de olhos arregalados. A próxima coisa que eu sinto é Sayuri puxando minha espada da bainha. Ela a empunha de uma forma ameaçadora e me lança um olhar de esguelha.

— Me empresta sua espada rapidinho? Obrigada. 

Os olhos de Sayuri mudam rapidamente de um verde calmo para um vermelho sangue cheio de ódio, seu sharingan é ativado, e, pela primeira vez, vejo a semelhança entre nós. Reconheço que o sangue que corre em nossas veias é o mesmo. O sangue Uchiha que carrega igualmente ódio e poder dentro de nós.

Sem perder tempo, Sayuri ataca. Os homens vêm na direção dela, mas não têm a menor chance. Não sei onde esses homens que se consideram ninjas foram treinados, mas eles não têm a menor chance contra o Tigre da Névoa. Sayuri avança para matar e é o que ela faz. A única coisa que posso fazer é olhar, cheio de raiva por ela ter me nocauteado desse jeito. Os cabelos de Sayuri voam com a sua velocidade enquanto ela corta, dilacera e arranca a vida dos homens sem piedade nenhuma. Ela parece muito com uma deusa vingadora agora. Seus olhos transbordam raiva, seus dentes estão cerrados e sua mão aperta o cabo de minha espada com uma força surpreendente. Sei que ela não largaria a espada por nada no mundo neste momento.

Um por um, os homens vão caindo. O sangue jorra pelos ares, sujando Sayuri da cabeça aos pés. Ela se movimenta entre eles com a agilidade de um felino e a experiência do mais antigo shinobi que possa existir. Sei que está descontando toda sua raiva por não ter feito nada com aqueles caras, mas me pergunto se é só isso que a está deixando assim. Quando todos já estão no chão, ela finalmente encontra o líder deles. O homem estava se escondendo atrás de seus homens o tempo inteiro. Que imbecil, penso. Quando os olhos de Sayuri encontram os do homem, ela balança a balança a espada para tirar o sangue dali e começa a se mover na direção dele. O homem está cheio de medo, posso ver o pavor nos olhos dele, e tenta fugir da forma mais rápida que consegue. Mas todos os esforços são em vão. Antes que ele possa dar um passo sequer, Sayuri aparece na frente dele. Ele se assusta e tenta mudar de direção, mas não consegue. Sayuri é rápida e separa a cabeça dele do pescoço com apenas um golpe.

Quando tudo termina, já posso respirar normalmente e fico de pé, ainda observando-a. Sayuri solta minha espada e cai de joelhos no chão. Mesmo de longe posso ver seu corpo tremendo e sua respiração ofegante, ela olha para suas mãos que estão pingando sague e parece um pouco assustada. Só então lembro o que ela havia me dito ainda a pouco. Será que ela está bem? Será que se arrependera do que tinha feito? Quando nossos olhares se encontram ela pega minha espada novamente e se levanta, limpando o sangue que respingou perto de sua boca. Ela dá um sorriso de lado e gira a espada em suas mãos, vindo em minha direção. Só então percebo seu corpo e roupas completamente ensanguentados. Ela para bem na minha frente e estende a espada para mim.

— Ela foi muito útil — diz.

Eu pego a espada, mas antes que ela possa dar um passo, seguro seu braço, mantendo-a parada. Aproximo minha boca de seu ouvido e sussurro algo para que apenas ela possa ouvir.

— Se você tentar fazer algo meramente parecido com isso outra vez, eu te mato.

Sayuri não treme e nem se abala. Ela simplesmente puxa o braço da minha pegada, se afasta um pouco e olha de soslaio para mim. Quando nossos olhos se encontram pela segunda vez percebo que seu sharingan foi desativado, mas ainda posso ver o ódio fervendo dentro deles.

— Se você quer me fazer temê-lo, deveria me ameaçar com outra coisa, Uchiha. A morte não me assusta nem um pouco. Depois do que você acabou de ver, posso dizer que eu e ela andamos lado a lado. 


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