Bom garoto mau escrita por kirke emer


Capítulo 2
Percy


Notas iniciais do capítulo

oieee~ troquei o título do primeiro capítulo. agora eles acompanham quem está fazendo a narrativa (os planos de ser "annabeth pov" foram pro saco :p)



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É só um café, então digo sim.

É idiota, porque eu não preciso. Meu desconto de funcionário recém adquirido me permite ter qualquer coisa daquela cafeteria praticamente de graça, e quase digo isso para Annabeth. Mas a verdade é que é difícil dizer não para ela. Os velhos hábitos, você sabe, são difíceis de deixar, mesmo que não façam sentido.

Nós escolhemos uma mesa no andar de baixo, aquela meio escondida debaixo da escada de madeira, onde ficam os livros de mais difícil acesso. É uma mesa meio questionável do café, por seu posicionamento. Mas as pessoas parecem gostar. Eu sei que Annabeth gosta porque faz questão de dizer:

“Eu gosto desse lugar.” Com ela sentada na cadeira logo abaixo escada, olhando de certa posição pode parecer que estou sozinho. Não consigo imaginar porque alguém escolheria um lugar como esse entre todos os outros, aqui, onde você ouve o rangido da madeira toda vez que alguém decide subir ou descer do andar de cima. Mas então Annabeth acaricia os livros com certo carinho, e começo a entender porquê. “Eu sempre trago para cá os livros que quero ter certeza que ninguém além de mim vai comprar.” 

Fico com vontade de apontar que ela poderia comprar o lugar inteiro, se quisesse. Mas não estou com vontade de deixar o clima mais tenso ainda entre nós, então digo, ao invés:

“Você sabe que os livros precisam obedecer uma ordem e você está bagunçando ao fazer isso, certo?” 

Ela não sorri abertamente como sorriu antes, mas encolhe os ombros, charmosa daquele jeito quase aristocrático, como se dissesse: “Bem, sim. E quem irá fazer alguma coisa sobre isso?”. Ela sabe que eu não faria. 

Nos encaramos por um momento, e observo Annabeth Chase na versão mais casual que já vi, a qual a maior parte do mundo parece não ter acesso. Ela tirou seu grande casaco, mas está usando um blusa de mangas longas duas vezes maior que seu tamanho. Não satisfeita, está usando cachecol e gorro, com uns fios claros despontando por baixo desse último, fazendo eu me perguntar que tamanho está seu cabelo loiro.

Sem nenhum vestígio de maquiagem, ela quase parece uma garota normal. Mas pessoas ricas e famosas são capazes de parecer normais, mas você só precisa procurar um pouco que é capaz de encontrar O Detalhe Revelador. Em Annabeth, é um anel de diamantes em sua mão esquerda. 

Tento não olhar muito para ele, embora seja um esforço considerável, meus olhos ameaçando cair para lá como se fosse um imã. Mas não é minha culpa, a maioria das pessoas no mundo só vê aquele tipo de coisa na TV. Annabeth não percebe, eu acho, mas ela inconscientemente gira a joia no dedo anelar. Uma. Duas vezes. Então o põe de volta em sua posição perfeita.

Annabeth dá um gole no seu café, que já deve estar repugnantemente frio a essa altura.

“Não sabia que você tinha voltado para Nova York.”

Por que você saberia? É a resposta imediata que minha mente oferece, e a que faria mais sentido. Tão tangível que quase pode ser ouvida entre nós, ainda que eu reprima as palavras. Elas ficam subtendidas no ar. Mas Annabeth não retira o que disse. Qualquer que tenha sido o acanhamento inicial que tinha ao me encontrar de repente, já sumiu a essa altura, dando lugar a uma confiança sutil que combinava mais com ela.

“Não estava exatamente na minha lista de coisas para fazer, você sabe, te avisar o meu paradeiro.” Queria que soasse como uma provocação, mas sei lá se deu certo. Quando você é um cara, entre provocar para manter a conversa interessante e ser um babaca existe uma linha muito tênue. 

Annabeth encolhe os ombros em resposta, com um sorriso tímido. Ela parece ter usado os anos que passei sem vê-la para se especializar na arte de Encolher os Ombros e Parecer Charmosa em Roupas Velhas Enormes.

“É que é bom procurar um amigo quando se está numa cidade grande.” 

Eu nem sabia que éramos amigos. Não digo isso em voz alta, mas algo em minha expressão deve ter revelado incredulidade, porque Annabeth se apruma e diz, indignada:

“Nós somos amigos!” Isso me faz rir um pouco.

“Defina amigos.” 

Ela tira um segundo para pensar.

“Bem, alguém com quem você toma café junto.” Diz, apontando para a bebida nas minhas mãos. 

Baixando os olhos para o meu café, reflito se aquilo faz sentido. Se Annabeth estivesse ali apenas por querer, até podia ser verdade, mas não sou ingênuo o suficiente para acreditar nisso. Acho que Annabeth é cheia de boas intenções, mas também sei que isso não vale nada, porque não quero suas boas intenções. Saber que ela é motivada por culpa é o suficiente para não me deixar fantasiar, nem por um momento, que eu sou apenas um cara tomando café com uma garota bonita.

“Bem, preciso voltar ao trabalho.” Digo, me levantando, o que não é de todo uma mentira – só uma verdade conveniente – mas Annabeth me olha como se eu tivesse quebrado seu coração em pedacinhos. 

“Mas já?”

Desvio os olhos dos dela.

“Sim. Obrigado pelo café. Se você não tiver...” 

“Vou fazer uma festa.” Ela interrompe, o que me faz olha-la. Tudo que posso fazer é ecoar, sem expressão:

“Uma festa.” 

“Sim, na quinta-feira. Não é estranho, uma festa no meio da semana? Eu acho que sim, mas Thalia insiste que quinta é a nova sexta, enfim...” Ela se interrompe, um pouco corada. “Se você quiser ir, pode levar quem quiser.” Então bate os dedos sobre a mesa, esperando uma resposta.

“Uh... Valeu. Vou pensar sobre isso.” Ela sorri como se aquela fosse a coisa mais incrível do mundo. Parece se lembrar de algo e apanha um celular no bolso do seu casaco.

“Pode me dar seu número?” Eu pisco para a tela do seu celular, minha mente em branco.

“Pra quê?” 

“Para que eu possa enviar o endereço da festa.” 

“Ah, sim.” Apanho seu celular e digito meu número no completo automático, porque a maioria dos meus neurônios está ocupado tentando enviar mensagens para o meu corpo a fim de me impedir de corar. Annabeth está sorrindo como o Gato de Chesire.

“Obrigada, isso é ótimo.” Aceno, de repente me sentindo deslocado. Aponto para a direção onde tenho que ir.

“Eu vou...” Annabeth assente rápido.

“Eu sei. Até mais, Percy." 

Quando me afasto, posso sentir seu olhar queimando as minhas costas, enquanto eu penso que de jeito nenhum vou nessa festa.

*

“Nós com certeza vamos nessa festa!” 

É a primeira coisa que Leo diz quando conto a coisa toda pra ele. Fica claro, depois disso, que eu absolutamente não devia ter dito nada.

Tentei não pensar muito sobre Annabeth ou sobre qualquer coisa relacionada à família Chase com o passar dos anos. Afinal, não dá pra tentar tocar a vida se você fica preso ao passado, qualquer coisa sobre ele. Acho que fiz um trabalho bem decente quando se trata de resistir ao impulso de pesquisar “Annabeth Chase” na internet.

Mas talvez eu tenha saído do trabalho hoje enfraquecido, porque a primeira coisa que eu faço é entrar no Instagram de Leo e procurar exatamente isso. Essa é a razão de eu estar devendo uma explicação para ele, porque não possuo minha própria conta em primeiro lugar.

“Posso entrar no seu Instagram para procurar uma coisa?” Perguntei depois do meu banho. 

“Claro.” Não parecia que ele faria muito estardalhaço, então por um segundo pensei de verdade que sairia daquela ileso. Mas quando me joguei no sofá com o celular em mãos, Leo espiou da nossa cozinha e disse, com um sorriso idiota na cara: “Quem é a garota?” 

Já era tarde demais a essa altura, eu já tinha digitado “annabethcha" na barra de pesquisa. Leo só precisou dar três passos largos para chegar até mim – nosso apartamento é pequeno assim – o que terminou como nós dois protagonizando uma briga ridícula pelo celular. Consegui ganhar pela altura, mas Leo permaneceu saltitando ao meu lado, tentando espiar.

“Você chega em casa e a primeira coisa que pede é para pesquisar uma coisa no Instagram, é tão óbvio que se trata de alguém que quase sinto pena de você. Qual delas é a sua Annabeth?” 

Hesitei por um segundo antes de clicar no primeiro resultado. Conta verificada. Um milhão e meio de seguidores. Ao meu lado, Leo reagiu com:

“Você só pode estar de brincadeira comigo.”

É quase vergonhoso como nós espiamos as fotos nos próximos minutos, e, com exceção do momento que disse a Leo sobre o convite para a festa, permaneço em silêncio enquanto ele tagarela, dizendo todas as coisas que lhe vêm à mente.

“Como você conheceu ela? Quer dizer, ela simplesmente te convidou para uma festa assim, do nada? Cara, eu sabia que esses olhos verdes viriam a calhar em algum momento, seu desgraçado. Isso é ela em Tulum? Sua garota é rica pra caramba. Frank! Percy conseguiu uma Sugar Mommy! Vai ter conta de luz esse mês!”

“Cala a boca, seu idiota.”

Frank aparece do seu quarto, parecendo confuso e com sono.

“Percy fez o quê?” Leo se dispõe a jorrar informações:

“Conseguiu uma garota. Ela é rica, e uma espécie de sub-celebridade, pelo o que entendi. Melhor ainda, nos convidou para uma festa e...”

“Okay, espera! Primeiro, ela não é nada minha. Segundo, Annabeth não é uma sub-celebridade!” Não sei porque faço questão de dizer isso, mas digo, tomando as dores por Annabeth que eu acredito merecer mais do que aquele título. Frank assobia baixinho, trocando um olhar com Leo e repetindo Annabeth, com um falso olhar esnobe que eu decido ignorar. “E terceiro e mais importante: nós absolutamente não estamos indo a essa festa.” 

Dando o assunto como encerrado, me afasto para a cozinha, depois de jogar o celular de Leo nas mãos de Frank. Eles me seguem.

“Como assim? Você vai realmente nos negar a oportunidade de ingressar no mundo dos ricos? Por quê?” Certo que Leo está enlouquecido, o encaro com o que espero ser um olhar duro.

“Cara, o que nós faríamos lá? Não têm espaço para nós num lugar como esse.” 

“Claro que têm! Pessoas ricas amam gente pobre, elas nos acham fofos porque somos fáceis de impressionar. Eles são tipo os colonizadores quando chegaram nas Américas.” 

“Tem tanta coisa errada no que você acabou de dizer que eu nem sei por onde começar. Annabeth provavelmente só foi educada, mas não tem como ela realmente...” Sou interrompido pelo meu celular tocando, esquecido na mesa de centro da sala. É estranho como nós três nos calamos, em choque por qualquer razão, talvez por causa do timing. É claro que não seria possível que... Seria?

De qualquer forma, o celular só toca duas vezes e então para, como se a pessoa que estava ligando tivesse mudado de ideia. Mas é então que as mensagens começam a chegar. Frank, Leo e eu nos esprememos na passagem de volta para a sala, os três ansiosos para saber se Annabeth Chase nos presentearia com o timing perfeito. Seria muita quebra de expectativa se não fosse ela, e preciso confessar que parte de mim ficaria aliviado com isso, mas outra parte decepcionado.

Annabeth não decepciona. 

Oi, Percy. Annabeth aqui :)

Espero que vc esteja pensando de vdd sobre vir p/ a  festa

Ela envia um endereço.

Outras duas mensagens vêm depois, que por algum motivo eu interpreto em um tom mais hesitante.

Realmente espero que você venha

Ouvi dizer que vai ter uma fonte de chocolate ;) 

Ficamos em silêncio por uns segundos, absortos. Frank levanta a mão para falar:

“Agora estou com Leo. De jeito nenhum você pode nos negar uma fonte de chocolate.”

E o que eu posso dizer sobre isso? Nós realmente somos fáceis de impressionar.


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Notas finais do capítulo

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