Singular escrita por WinnieCooper, Anny Andrade


Capítulo 3
Te ver


Notas iniciais do capítulo

Música: Te ver - Skank



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Te ver e não te querer

É improvável, é impossível

Te ter e ter que esquecer

É insuportável, é dor incrível

Seu pai não era bobo, percebia os sinais, Hermione nunca fora uma garota de amigos, e ele se preocupava com esse fato quando ela estudava em escola trouxa, não chamava amigas para vir em casa, não pedia para ir na casa das amigas, sua companhia era os livros. Estava o tempo todo lendo e querendo entender sobre tudo e todos. Mas isso havia mudado depois do seu primeiro ano na escola de bruxaria de Hogwarts. Descobrir que sua princesa era na verdade uma bruxa não fora fácil, mas também percebeu que ela havia parado de enfiar a cara nos livros, por causa principalmente de amigos. Sim, amigos no sentido masculino da palavra. Não que ele fosse um pai ciumento, mas não esperava ver sua princesa pedir, pela primeira vez, para passar parte das férias na casa de um amigo.

— Será a copa mundial de quadribol, consegui ingressos para todos. Hermione precisa vir, é a melhor amiga de Rony, meu filho. E Harry também irá...

Ele não gostava daquele homem ruivo que gesticulava o tempo todo em sua frente, ele era simpático, tinha a mania irritante de perguntar sobre todos os objetos de sua casa, mas ele estava querendo arrancar sua menina de sua casa nas férias, do único momento que teria com ela naquele ano, já que depois ela voltaria a aquela escola de Bruxos.

— O senhor pode me explicar novamente qual é sua profissão? Achei muito interessante alguém que cuida de nossos dentes, que usa de objetos que os furam...

Ele tentava dar atenção ao homem ruivo, mas reparava em Hermione. Seu olhar brilhante enquanto mostrava sua casa a Rony, suas bochechas coradas todas as vezes que ele falava alguma coisa que a fazia rir, seus dentes todos a mostra, reluzindo com uma alegria que ela não mostrava a ele nas férias sozinhas com seus livros. Os livros não pareciam mais interessantes que Ronald Weasley.

— Obrigada papai. – Ela lhe beijou no rosto depois dele autorizar sua ida a copa mundial de quadribol, a ida para uma temporada na casa de Rony. Sentia dentro de seu coração de pai, que estava perdendo sua menina para um amigo, que talvez ela não percebesse ainda, mas que ele sabia que era mais que um amigo. Era impossível não enxergar o quanto Hermione o queria em sua vida.

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É como mergulhar no rio e não se molhar

É como não morrer de frio no gelo polar

É ter o estômago vazio e não almoçar

É ver o céu se abrir no estio e não se animar.

— ...Eu não gosto da Hermione...

Rony discutia com seus irmãos que tinham acabado de invadir seu quarto.

— Não gosta. – Fred concordou com a cabeça, cutucou o irmão. – Vamos listar o quanto gosta dela?

George levantou as sobrancelhas e concordou com Fred.

— Está escrito na sua testa o quanto gosta dela, é só vê-la, a informação começa a faiscar na sua frente: te quero, te quero, te quero.

— Não exagere. – Rony negou com a cabeça tentando parecer firme.

— Seu amor é incompleto Rony. – Fred começou.

— Está ao alcance de seus dedos, mas é como mergulhar num rio e não se molhar.

— É como não morrer de frio no gelo polar.

— É ter o estômago vazio e não poder almoçar.

Rony mexia seu pescoço de um irmão a outro, sabendo perfeitamente onde eles queriam chegar.

— É como sentir o sapato apertar e não descalçar.

— Eu já entendi a analogia... – pediu a eles, podiam ficar naquilo o dia todo. Tinha Hermione ali do seu lado, com seus sorrisos, seus trejeitos, mas não podia toca-la como queria, não podia lhe fazer um carinho, lhe beijar, lhe abraçar, era como ter um amuleto da sorte e não se sentir sortudo. – Eu realmente gosto dela.

— Foi mais fácil do que pensamos fazer ele admitir o óbvio não é Fred?

— Será que podemos entregar nosso presente George?

— O que estão falando? – perguntou intrigado aos irmãos.

Fred entregou um pacote embrulhado em um papel pardo, era retangular e um pouco pesado. Ron automaticamente rasgou o embrulho curioso. Era um livro, capa dura e com letras em destaque escrito: “12 maneiras seguras de encantar bruxas”.

— É uma verdadeira relíquia.

— Os autores merecem uma estátua como homenagem na praça do Beco Diagonal.

Ron ignorou os irmãos e começou a folhear o livro. Era uma lista com várias dicas de como conquistar garotas. Como ser cavalheiro, como parar de dizer besteira, como colocá-la num pedestal, entender que ela sempre tem a razão.

— Fizemos até uma dedicatória. – Fred apontou para a folha rosto do livro.

“Para nosso irmão menor preferido, que ele finalmente  pare de ser lerdo com a Hermione e a conquiste, nada deixaria nosso pai mais feliz que ter parentes trouxas. Fred e George”.

Ron queria dizer que não leria aquele livro e que não gostava da Hermione, mas sabia que seria em vão. Esperou que eles saíssem de seu quarto, abriu o livro e começou a ler tudo o mais rápido possível. Afinal Hermione chegaria na sua casa dali uns dias.

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É como esperar o prato e não salivar

Sentir apertar o sapato e não descalçar

É ver alguém feliz de fato sem alguém pra amar

É como procurar no mato estrela-do-mar

Ela podia ouvir suas entranhas trabalharem, ah como era impossível disfarçar, queria gritar para ele a chamar para o baile de inverno, seria impossível ele pensar em algo simples como isso? Ela aceitaria um pedido banal como: “A gente poderia ir como amigos Hermione, já que eu não tenho par e nem você”. Ah ela aceitaria! Quem sabe poderia o chamar para dançar, sentir sua mão em sua cintura, colocar o seu rosto na curvatura do pescoço dele, sentir seu coração bater descontroladamente no mesmo compasso que o dele enquanto desajeitadamente dançavam uma música lenta das Esquisitonas. Era pedir demais? Ela não conseguia mais disfarçar suas frustrações quando ele não a chamava. Brigava além do comum com ele, não o ajudava com as lições. Sentia que sua testa tinha escrito o que ela pretendia: “Quero ir com você ao baile, quero o beijar, o abraçar, ter uma noite romântica com meu amigo com o emocional comparativo a uma pedra”. Mas ela duvidava que mesmo que estivesse escrito literalmente isso em sua teste ele percebesse que ela o queria tanto. O queria em sua vida, o sentir segurando sua cintura, sentir seu perfume, rir de piadas fáceis, derreter-se em seus braços e receber seu beijo no final da festa como recompensa. Não sabia quanto tempo mais conseguiria disfarçar.

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É como não sentir calor em Cuiabá
Ou como no Arpoador não ver o mar
É como não morrer de raiva com a política
Ignorar que a tarde vai vadia e mítica

Quando ela desceu pelas escadas era como se tivesse se transformado em outra pessoa. Como se todos a estivessem vendo pela primeira vez, até mesmo ele que passava a maior parte do tempo ao seu lado parecia que nunca a tinha visto antes. Com aquele vestido azul era como se os próprios olhos refletissem na roupa  da garota, fazendo com que finalmente a visse além das palavras inteligentes, dos livros, das broncas, além do que apenas uma amiga.

Passou a noite toda a vendo. E por mais que quisesse se enganar a querendo. Era impossível para Rony vê-la dançando com o idiota do Krum e não sentir a vontade de se colocar no lugar dele. Era para Hermione ter ido com ele, ou com Harry. Não confraternizar com o inimigo. Sentia-se vontade de brigar com qualquer um que falasse com ele, mesmo que fosse apenas para dizer boa noite. Quando ela finalmente pareceu se lembrar dos amigos e se aproximou, tudo que ele conseguia fazer era descarregar toda a frustração e raiva em cima da garota sorridente.

Se sentiu ainda pior. Quando ela parecia ter perdido todo o brilho após suas palavras. Mesmo que tivesse revidado, mesmo que tivesse questionado o motivo pelo qual ele não a convidará antes. Todo o brilho que ela estava oferecendo ao mundo pareceu perder força, era ele tirando dela a vontade de brilhar.

Quando destruiu o boneco daquele jogadorzinho de meia tigela, sentiu como se tivesse também arrancando a própria cabeça. Porque somente com uma nova cabeça poderia se perdoar primeiro por ter deixado o momento passar, segundo por ter roubado o brilho dela. Aquela noite dormiu mal. Não conseguia tirar da cabeça a imagem dela. Brilhante. Descendo as escadas. Sorrindo. No final do sonho pode se colocar no lugar de acompanhante. Soube naquele instante que talvez jamais pudesse mudar o sentimento que começava a crescer mais do que deveria.

— Te ver e não te querer… - Disse para as sombras do quarto escuro, contando seu segredo para o silêncio. - Se tornou improvável e impossível.

Não sabia como poderia lidar com todos os olhares que ainda viriam.

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É como ver televisão e não dormir
Ver um bichano pelo chão e não sorrir
E como não provar o néctar de um lindo amor
Depois que o coração detecta a mais fina flor

Eles se comunicavam com um olhar.

Era fácil. Simples.

Com o tempo Rony aprendeu a decifrar todas as erguidas de sobrancelhas, todos os olhos arregalados, a curva da boca. Cada gesto querendo dizer algo. Hermione também sabia decifrá-lo. Mas isso era fácil, aprendeu a fazer isso desde da época de Hogwarts. Isso era fácil quando ela decorava todos os movimentos do garoto. Tinha se tornado um péssimo hábito. Observar o amigo e saber seu humor através do jeito dele olhar em volta.

Agora, depois de tantos anos juntos eles podiam conversar através dos olhares. Eram bons em brigar assim também. No meio do jantar em família isso era muito comum, ainda mais quando família significava se juntar aos Malfoy. Tudo culpa de Rose, mas ela sempre conseguia o que queria, bastava abraçar Ron que ele cedia.

No final da noite podiam deixar os olhares de lado e voltar para conversas verbais. Podiam também na maioria das vezes esquecer das palavras difíceis de Hermione e das piadas de Rony para se comunicar através dos toques, carícias.

— É como provar néctar do amor.

— Onde escutou isso? - Hermione gostava quando o marido fazia declarações aleatórias, mas achava engraçado algumas frases que usava.

— Não sei, fez sentindo quando ouvi. - Ele sorriu.

— Faz sentindo mesmo. Porque eu sinto a mesma coisa. - Ela se deixou mergulhar no olhar dele, porque amava se afogar naquele mar imenso.

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Te ver e não te querer
É improvável, é impossível

Os lábios dela estavam molhados, os mordiscava a cada instante, estava cheia de sujeira pelo rosto, vestígios de escombros e do retrato da guerra em que lutavam. Ele só pensa que minutos atrás estava beijando aquela boca. Ele sabia que era importante ir atrás da diadema, sabia que tinham que achar a tiara naquele labirinto que tinha virado a sala precisa, que a guerra estava acontecendo lá fora, muitas pessoas morrendo, mas os lábios dela ainda estavam em seus pensamentos.

— Hermione...

Segurou seu braço fazendo-a parar de andar. Harry estava em outro corredor, estava finalmente sozinho com ela depois do beijo que ela havia lhe dado.

— Rony, precisamos procurar a diadema. – ela começou a contestar.

— Sim precisamos... – ele concordou ao mesmo tempo que segurava a cintura dela e a trazia perto de si.

Rony abaixou seu pescoço e desta vez iniciou o beijo. É claro que Hermione não fez questão de o impedir, era impossível para ela resistir, ou fingir que não o queria. Só havia o beijado uma vez, havia sido intenso e na situação errada, no local errado, mas completamente certo e perfeito, desta vez estavam sem ninguém os observando e mesmo continuando no meio de uma guerra, como Harry gostava de lembrá-los, permitia que ela descobrisse novas sensações. Como o fato de ser maravilhoso sentir a mão dele percorrer toda sua costa e suas mãos bagunçaram o cabelo dele e puxar seu rosto para si cada vez mais perto. Era maravilhoso sentir os pequenos beijos que ele distribuía em sua face, mas ela tinha que resistir.

— ...Harry precisa da gente...

Ela disse tentando manter a razão em meio a loucura que era resistir ao início de seu namoro com ele.

Para ele era maravilhoso notar os lábios dela vermelhos, além de molhados e mordiscados agora.

— ...Te ver e ter que esquecer o que aconteceu a pouco, por causa do momento errado e a hora errada, é insuportável, é impossível.

Ela sorriu e acariciou o rosto dele com sua mão.

— Teremos tempo para isso depois.

Ele concordou com a cabeça e lhe deu um beijo breve nos lábios.

— Vamos destruir logo esse cara sem amor para conseguirmos finalmente viver o nosso.

Ela concordou com a cabeça e sentiu suas bochechas vermelhas, era perfeito ouvir ele dizendo a palavra amor acompanhada deles dois juntos, na mesma sentença e no mesmo espaço e tempo.

Despediram-se para procurarem a diadema separados, com a certeza que depois que tudo aquilo acabasse, não iriam se desgrudar nunca mais.

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Te ter e ter que esquecer
É insuportável, é dor incrível

Quando a garota entrou na cabine que ele ocupava, não conseguiu mais tirar os olhos dela. Aquele cabelo que parecia ter vida própria, os dentes grandes um tanto para frente e o nariz arrebitado de quem parecia saber sobre tudo e sobre todos.

Assim que ela abriu a boca ele percebeu que estava certo. Aquela garota era irritantemente sabichona, parecia que carregava em sua língua uma enciclopédia e Ronald nem sabia o que era isso, mas Percy vivia falando sobre, entendeu que seria algo chato e que gente metida gosta de ler.

Não entendeu porque não conseguiu mais tirar os olhos da garota, viu ela sendo escolhida para grifinória, acompanha sua mão no ar em todas as aulas. Era um pesadelo o fato dele não conseguir tirar ela da cabeça. Nunca antes tinha se importado com meninas, mal suportava sua irmã mais nova.

Quando deram as mãos naquele banheiro horrível, depois de derrotar um trasgo, quando finalmente se tornaram amigos, ele soube que dificilmente tiraria os olhos daquela garota de juba de leão, de dentes grandes e olhos brilhantes. Ainda não sabia porque, mas alguma coisa chamava seus olhos para ela.

Hermione sabia sobre muitas coisas, tinha pesquisado o mundo bruxo minuciosamente, mas não sabia que um pirralho ruivo iria fazer ela chorar e ao mesmo tempo salvar sua vida. Seus olhos a partir daquele momento jamais deixariam de esperar pelos olhos azuis de volta.


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Notas finais do capítulo

Obrigada a todos que estão lendo, amamos ler as reviews de vocês ♥



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