Stars Align escrita por Akai Ito


Capítulo 1
Cometa Halley


Notas iniciais do capítulo

Cometa Halley: cometa visível a olho nu da Terra por um curto período a cada 75/76 anos. Dificilmente uma pessoa terá a chance de ver o cometa uma vez na vida. Mais raro ainda é isso acontecer uma segunda vez.



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Aquela parecia mais uma tarde normal na A.Z. Fell e Cia - Antiquário e Livros Raros: Aziraphale reorganizava os livros de alguma prateleira empoeirada de uma forma estranha que somente fazia sentido na cabeça dele. Onde já se viu clientes quererem comprar algum livro da livraria?! Esse era um absurdo que poderia ser resolvido com uma pitada de confusão e alguns litros do mais puro péssimo atendimento. 

O homem ponderava o que comeria assim que terminasse de reorganizar aquela prateleira enquanto se deliciava com a textura das capas duras dos livros e com o silêncio daquela tarde fria.

O delicioso silêncio foi interrompido no mesmo instante que o vendedor pensara sobre como este era agradável. Aziraphale ouvira algo que parecia muito com alguém fazendo um cavalo de pau bem na frente de sua loja, derrubando o livro que segurava com o susto.

Ele ainda estava recolhendo o objeto do chão – que por um milagre saíra intacto da queda – quando ouviu o som característico do sino que indicava que a porta fora aberta.

Um cliente! Ah, pronto! Aziraphale não podia ter um segundo de paz em seu comércio que já aparecia alguém querendo atrapalhar seu dia.

O dono da livraria soltou um suspiro e resolveu lidar com aquela situação da forma mais madura possível. Ou seja, ele simplesmente ignorou o visitante indesejado se escondendo em silêncio atrás da prateleira que reorganizava até momentos antes. A pessoa com certeza iria embora quando não encontrasse ninguém para atendê-la.

A pessoa – um homem, a julgar pela voz grave e rouca – parecia bem insistente, andando por toda a loja enquanto chamava por algum vendedor.

Aziraphale soltou mais um suspiro muito frustrado e, já sentindo um início de dor de cabeça se formar, resolveu finalmente atender o cliente irritante. Colocou no rosto o sorriso mais falso possível – ele tinha que fazer o mínimo para não levar um processo, não é mesmo? – na esperança que o visitante fosse embora rapidamente sem tentar comprar nada.

—Seja bem vindo à A.Z. Fell e Cia: Antiquário e Livros Raros! - o vendedor comprimentou com uma voz cansada enquanto contemplava a figura diante de si: o cliente chato se mostrou um homem alto (ainda mais com as botas de salto) vestido de cores escuras e com cabelos impossivelmente vermelhos.

E óculos escuros. Por que alguém usaria algo do gênero em um ambiente fechado durante um dia nublado?

Tratava-se de um homem estranho, concluiu Aziraphale.

—Olá! Vocês estão atendendo agora? Eu não entendi direito a placa com o horário de funcionamento – o homem coçou a nuca parecendo constrangido e Aziraphale se perguntou de onde surgira aquela onda de calor no início de dezembro.

—Sou só eu aqui, na verdade. E sim, estou atendendo. Em que posso ajudá-lo nessa bela tarde? –  o vendedor nem conseguia sentir raiva de si mesmo por não ter aproveitado a deixa e dito que a loja estava fechada, como fizera com pelo menos três pessoas somente naquela semana. Por algum motivo desconhecido ele não queria encerrar aquela conversa tão cedo e se vender algum livro fosse o preço daquela interação, Aziraphale estaria feliz em pagá-lo.

 —Que bom! Eu preciso de um livro de astronomia… Aqui! – o homem retirou um papel da calça de couro preta impossivelmente justa e se aproximou do vendedor, trazendo consigo o aroma de algo que parecia muito com grama cortada e terra após um dia de chuva. 

Aziraphale leu o título escrito com uma caligrafia desastrosa, engolindo em seco quando conseguiu decifrar o  garrancho. O livro procurado era o que ele deixara cair antes da chegada do homem.

—Ah, sim! Tenho esse livro em estoque. Um momento... – ele sabia exatamente onde o livro estava, porém fingiu levar mais tempo que o necessário para encontrá-lo, porque precisava controlar o sorriso vergonhoso que teimava em tomar espaço em seu rosto. —Aqui! – Aziraphale retornou para perto do homem enquanto observava a capa dura azul repleta de estrelas e letras douradas.

—Obrigado, é esse mesmo que eu procurava. Ai! - ao entregar o livro nas mãos do cliente, os dedos dos homens se encontraram, causando com o toque uma breve corrente elétrica. O vendedor podia jurar que vira certo rubor no rosto do cliente, porém era melhor não pensar naquilo. Com certeza era só a própria mente o enganando.

—Precisa de mais algo? - Aziraphale foi rápido para mudar de assunto na esperança de evitar qualquer constrangimento por conta de choques misteriosos. Ele não se lembrava de alguma vez na vida ter perguntado aquilo para algum cliente, mas ele não se importava. Não queria terminar tão cedo aquela conversa que parecia já chegar ao fim.

—Não, mas muito obrigado. Você não tem ideia de como foi difícil encontrar esse livro, já perdi a conta de quantas livrarias eu visitei nos últimos dias. É realmente uma raridade. - o homem abraçou o objeto como se fosse precioso e Aziraphale sentiu algo quente se espalhar pelo peito. Aquele gesto trouxe uma sensação de familiaridade que o vendedor não conseguia determinar a origem. Algo que era ridículo, uma vez que Aziraphale tinha certeza que nunca vira aquele ruivo vestido como satanista fashion. 

—Não há de quê. Pode contar comigo se no futuro precisar de algum outro título raro. - Por que aquilo soara como uma promessa?

—Pode deixar, eu sempre estou a procura de algum livro raro para usar nas minhas aulas.

— “Aulas”? Você é professor? - o homem demorou um segundo a mais que o necessário para responder e o vendedor se perguntou se não tinha forçado a barra perguntando sobre a vida pessoal do cliente.

—Sou mais um pesquisador, essa é minha paixão. Porém o mundo acadêmico vem com certas obrigações, então sim, sou professor também… Dou aulas de Astronomia na universidade. 

Mesmo que ser professor não fosse exatamente uma escolha do homem, não houve uma palavra sequer na resposta dele que não transbordasse empolgação. Aziraphale não teve escolha além de retribuir o sorriso.

—Pela forma que você fala, vejo que é realmente sua paixão. Eu mesmo já sonhei em ser um astrônomo quando era criança, - melhor não desenterrar essas lembranças, Aziraphale —Porém meu amor pelos livros acabou vencendo com o passar dos anos e hoje em dia sou o orgulhoso proprietário desta livraria aqui.

O cliente não tão chato assim acenou com a cabeça sorrindo e percorreu os dedos pelas lombadas de alguns livros em uma estante próxima.

—Quanto que ficou? - o silêncio entre os dois homens foi interrompido pela temida pergunta e, pelo que parecia a primeira vez na vida, Aziraphale não falou um preço dez vezes maior que o real para desencorajar uma compra. 

Ao chegarem ao caixa, a visão do vendedor se prendeu por um instante no contraste entre as mãos do cliente e as próprias que estavam apoiadas lado a lado no balcão. As do homem possuíam dedos longos e esguios - dedos de pianista, como diziam - já as suas apresentavam dedos mais curtos e grossos, o que de alguma forma combinava com sua manicure discreta, mas impecável, também muito diferente da do outro homem, com unhas compridas pintadas de esmalte desgastado vermelho tão escuro que parecia preto.

Aziraphale precisou mover a mão para fora do balcão. A vontade de sentir mais de perto o calor que irradiava da pele alheia era muito forte.

 —Um segundo... Aqui. - o homem colocou algumas notas sobre o balcão e o vendedor não conseguiu evitar olhar novamente para as mãos sobre a madeira maciça.

Aziraphale não queria que o homem se fosse tão cedo, por isso fingiu se atrapalhar com o troco por um instante.

—Prontinho.

—Obrigado de novo, sério, você é um anjo! - o homem fez aquela comparação com naturalidade, enquanto isso Aziraphale respirava com dificuldade. Somente uma pessoa já o chamara assim, mas não era possível que aquele homem coberto de preto, vermelho e dourado fosse o seu Crowley que sempre usava tons pastéis semelhantes aos seus. —É isso então, tchau.

—De nada, volte sempre.

Aziraphale observou, com o coração comprimido, as costas do homem se afastarem e rezou rapidamente para que aquela interação não acabasse tão cedo.

Como se ouvindo a prece, o cliente parou no meio do caminho e se virou muito devagar, como se tivesse se lembrado de algo repentinamente.

Ele continuou em silêncio por um momento a mais e Aziraphale de alguma forma sentiu que os olhos escondidos pelas lentes escuras estavam analisando sua alma.

—Reparei agora que nunca nos apresentamos, nem sei seu nome. - anunciou outra vez coçando a nuca, alguns fios vermelhos se soltando do coque com o movimento —Meu nome é Anthony, prazer. E o seu? 

É, realmente não era Crowley, era burrice pensar nele naquele momento.

—Anthony… - o vendedor pronunciou com cuidado, tentando apagar a nostalgia dolorosa com cada sílaba —É um belo nome, combina com você… - o vendedor resolveu continuar a se apresentar para disfarçar o quase ato falho —Meu nome é Aziraphale, mas pode me chamar de-

—AZIRAPHALE?!


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Notas finais do capítulo

Primeira vez que me aventuro nesse fandom, então não me matem (muito) XD
Espero que tenham gostado e se quiserem podem deixar um alô nos comentários



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