Maybe escrita por Lily Potter


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Oieee, cheguei atrasada, mas cheguei, auhauhauhauhauah, como vcs estão nessa linda manhã de segunda feira? Eu vou muitissimo bem obrigada. E chegamos ao fim dessa fanfic que eu amo TANTO! Eu me diverti muito escrevendo e espero que vocês tenham se divertido lendo.
Obrigada mais uma vez a todas as meninas do NH por tudo, amo vcs ♥
Boa leitura!!!



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10 de abril de 2020, Londres, Reino Unido

    Harry estava diferente, essa era a única coisa que conseguia pensar toda vez que seus olhares se encontravam e ele sorria timidamente. Ginny não conseguia dizer ao certo o porque ele estava diferente, não sabia onde encaixar o que era mudança e o que era apenas uma nova característica que ele adquiriu conforme amadurecia longe dela.

    Era estranho pensar em como alguém que um dia conheceu como a palma da própria mão às vezes se mostrava tão diferente. Havia começado a prestar mais atenção nele desde a briga que tiveram em frente aos seus filhos, foi nela que percebeu a primeira mudança.

    Ele havia admitido que estava errado.

    Nenhum homem, nem mesmo ele com toda sua doçura, havia feito isso antes. Era bom, saber que alguém reconhecia quando ela estava certa, não acontecia com frequência, o que apenas deixava ainda melhor a sensação.

    Ele também estava mais paciente, via isso em prática todos os dias quando ele ajudava os gêmeos a aprender a ler, era ainda mais presente essa paciência com Arthur que ainda parecia se sentir bravo com o pai por ter feito Ella chorar. 

    O moreno sempre que o filho fazia pirraça ou desobedecia não levantava a voz, nem a mão, nem o olhava decepcionado. Lembrava-se de estar na cozinha fazendo o jantar e de ouvir os gritos do filho.

    — Eu não vou tomar banho!

    — Você precisa tomar banho, campeão.

    — Eu quero brincar mais!

    — Eu sei, mas já está quase na hora de comer.

    — Eu não quero! Não quero! Não quero!

    — Arthie, você está todo sujo de tinta, precisa limpar.

    — Eu não quero! — Arthur gritou chorando com ainda mais força.

Estava no batente da porta que separava a sala da cozinha, totalmente preparada para interferir, ou responder às perguntas dos vizinhos curiosos que provavelmente não estavam gostando nada da situação e logo apareceriam em sua porta. Ninguém gostava de crianças barulhentas, mesmo que todas as crianças fossem barulhentas e não tivesse exatamente o que fazer sobre isso. 

    Antes que pudesse se mexer, Harry se agachou e pegou o menino no colo e com carinho o embalou em seu abraço como se ainda fosse uma criança de dois anos.

    — O papai sabe que você tá bravo e quer brincar, mas se você continuar sujo de tinta sua pele vai começar a coçar, e isso não vai ser legal, vai?

    Arthie negou ainda chorando no ombro do pai. 

    —  Pois é, vamos fazer assim, você escolhe como você quer tomar banho e amanhã a gente pode brincar de tinta de novo. 

    — Cê promete?

    — Prometo. — garantiu com um sorriso, beijando a testa do filho, nem ligando pelo fato que agora também estava todo sujo de tinta. — Banho?

    — Uhum, com bolinhas roxas.

    — Com bolinhas roxas. 

    Não foi a única vez que o viu lidando com os filhos dessa forma, mas por algum motivo, essa sempre parecia marcada em sua retina com maior força, como se fosse toda a prova que precisava para ter certeza que ele havia mudado mesmo.

    Queria que fosse simples assim.

    Era sexta-feira e faltavam apenas dois dias para a páscoa, e seus filhos que sempre saíam para a caça aos ovos passaram toda a semana anterior perguntando se o coelhinho da páscoa não iria ficar triste caso eles não fossem buscar os ovinhos no parque. Com isso ela e Harry haviam chegado ao acordo de que ele iria até ao mercado para comprar ovos e ela iria os esconder quando o moreno saísse para um breve passeio com Ella e Arthur como eles sempre faziam desde que o moreno estava em Londres.

    O que a levava a estar sozinha em uma casa que parecia silenciosa e grande demais para o horário, e Ginny não sabia o que poderia fazer para se distrair já que havia enviado tudo que seu chefe lhe havia pedido ainda pela manhã e agora só lhe restava esperar.

    Os enjoos matinais do primeiro trimestre de sua segunda gravidez eram tão leves que às vezes ela esquecia-se que estava grávida, o que levava ao ponto de que ninguém além de Harry sabia sobre isso, e ela estava postergando para marcar sua primeira ultrassom porque não sabia como explicar aos gêmeos que eles iriam se tornar irmãos mais velhos. E não seria nada prático ou certo se ela esperasse que sua barriga crescesse para contá-los sobre isso, por outro lado, não sentia nenhuma vontade de contar para outras pessoas de sua família que estava grávida. 

    O bebê em seu útero para muitos seria a prova de que ela e Harry iriam superar suas diferenças e isso os levaria a casarem-se novamente, para outros, como sua tia avó Muriel, seria a prova viva de que Ginny era “uma mulher fácil que não se dá o devido respeito”, e para seus amigos mais próximos seria a prova viva de que a ruiva havia enlouquecido de vez. Nenhuma das expectativas que sabia que seriam criadas no momento em que contasse a ajudava a se decidir sobre o que fazer a respeito de sua gravidez. 

Estaria sendo muito imatura em querer guardar o segredo de todos e viver nesse conto de fadas que sua vida havia se tornado por mais alguns meses? E mesmo que contasse, qual a vantagem seria para os outros? Estavam no meio de uma pandemia, e ela estando grávida apenas a deixava no grupo de risco, logo a notícia só deixaria todos mil vezes mais preocupados. 

    Como se soubesse que Ginny precisava de uma luz, seu telefone tocou e logo a foto dela e Soo-Yun fazendo caretas para a câmera brilhou no visor de seu celular e a música da banda de k-pop, Monsta-X, a favorita de sua amiga, soou estridente pelo apartamento.

Ginevra! — Gritou a amiga em forma de cumprimento, fazendo com que Ginny revirasse os olhos. Todos sabiam o quanto odiava seu nome, e mesmo assim insistiam em usá-lo o máximo possível.

— Soo-Yun, eu já disse para parar de me chamar assim! — Reclamou levemente, não estando irritada o suficiente para colocar raiva em sua repreensão. 

Elas não se falavam desde o dia antes de Harry se mudar oficialmente para a casa de Ginny, e ela sequer sabia que ele estava na casa da ruiva. Deus, ela era uma péssima amiga.

— Esse é o seu nome, Ginny! — A amiga riu bem humorada, e a ruiva riu junto dela, se sentindo apenas uma pessoa normal de vinte e seis anos ao invés de uma adolescente presa no corpo de uma mulher divorciada, grávida e mãe de duas crianças de cinco anos. — Como estão as minhas crianças?

— Os meus filhos estão muito bem, obrigada. — Ela respondeu com uma risada e apreciou mais um pouco da risada da amiga, antes de continuar a falar. — O que eu fiz para merecer a honra de receber uma ligação da bióloga marinha mais importante do Reino Unido?

Idiota!— Riu a outra suavemente. —  Eu senti saudades da minha melhor amiga, não posso? 

— Claro que pode, mas você nunca me liga só por isso. — Ginny retrucou com um leve toque de muito drama que com certeza fez com que a mulher do outro da linha revirasse os olhos.  — Deixa eu adivinhar… você arrumou mais um peixe de nome estranho para chamar de seu?

Não! Quer dizer, também, mas eu realmente estou com saudades. — Soo-Yun falou com a voz sincera, e a afeição que a ruiva tinha pela amiga aumentou cem vezes mais ao ouví-la. — Por falar em saudades, eu não soube mais do Harry. Ele já voltou para a Coreia?

— Huh…

Weasley não me venha com  os seus “ huh’s”, e responde a pergunta! 

— Você devia parar de andar com a Hermione, está ficando tão mandona quanto ela. — Ginny comentou, torcendo para que sua, fraca, tentativa de mudar de assunto funcionasse. Como o esperado, não funcionou, se o bufar irritado que recebeu como resposta não fosse indicador suficiente, Soo-Yun grunhiu irritada antes de respondê-la.

Eu não vou cair nesse seu papinho. — Ela advertiu com a voz surpreendentemente suave e compreensiva, como se ela enxergasse além do que havia sido dito. Ginny não duvidava disso, sua amiga sempre a conhecia bem demais para horror das duas. — Ele está morando com você, não está?

— Talvez? — Respondeu baixinho, sentindo-se uma criança admitindo para a mãe que havia quebrado seu vaso favorito. Esse não era um sentimento apreciado por Ginny, talvez por conhecer bem demais o sentimento, ou apenas pelas lembranças dolorosas que insistiam em vir à tona sempre que sentia-se assim. 

Oh, Ginny… — a amiga suspirou com pesar. Podia até imaginar o olhar de pena em seu rosto. — Como você está?

— Eu ‘tô bem, não precisa se preocupar, Soo. — falou colocando a maior quantidade de segurança em sua voz quanto conseguia. — Como está indo sua vida? 

Ruiva, por favor, você não pode simplesmente ignorar o fato que é ainda apaixonada pelo Harry enquanto ele mora na sua casa! — foi a resposta irritada que veio do outro da linha. 

Ginny queria gritar e espernear, dizer que era mentira e que ela não era apaixonada por Harry, que o casamento deles já havia acabado há tanto tempo que nada mais restava, que nenhum sentimento que ela um dia sentiu ainda estava presente em si, que nada a faria se apaixonar por ele novamente. 

Mas a verdade era que o tempo havia passado e eles haviam mudado, mas o sentimento permanecia ali, ficando cada dia mais forte mesmo com a ausência. Mesmo divorciados, mesmo com um oceano os separando, o que ela sentia por Harry parecia aumentar a cada dia que ela o via nos olhos de seus filhos, a cada dia que ela lembrava-se o quanto ela ainda o amava. 

No entanto, amor não era suficiente para ter uma vida a dois, e ela aprendeu isso da pior maneira possível, e não estava disposta a cometer o mesmo erro. Então, sim, não importava se o amava ou não, Ginny e Harry como um casal já não mais existia, e provavelmente nunca voltaria a existir.

— Isso não é verdade. — Respondeu com a voz cansada, a ponta do polegar indo diretamente para sua boca, como sempre fazia quando estava nervosa. Sabia que deveria parar de fazer esse tipo de coisa, que normalmente seus dedos ficavam doloridos quando fazia por muito tempo, mas algumas vezes, era apenas mais forte que ela.

Ginny você está há quatro anos divorciada, e só teve dois relacionamentos razoavelmente sérios e ambos eram com pessoas que se pareciam com ele. 

Com a resposta de Soo-Yun a ruiva não pode se defender, então apenas grunhiu alguma coisa sem sentido e sem qualquer emoção verdadeira. Sabia que era verdade, mesmo que não quisesse admitir isso em voz alta, porém negar seria totalmente sem sentido, já que a própria Ginny, em um raro momento de fraqueza bêbada induzida pelo pior término de namoro da história, havia confessado isso para a amiga.  

Viu? — a morena perguntou com a voz absurdamente presunçosa. — Mas, por favor, me diga que vocês não transaram.

— Por que você não me fala sobre o seu novo peixe, huh? — Mudou de assunto timidamente, seu rosto pegando fogo, mesmo que não houvesse qualquer motivo para se sentir envergonhada, afinal ela era humana e sentia vontades como qualquer pessoa e Harry estava apenas lindo demais e o mundo estava acabando, então qual era o problema se ela havia dormido com seu ex-marido?

Ginny! — a outra exclamou irritada e, talvez fosse a imaginação da Weasley falando mais alto, divertida. — Vocês pelo menos lembraram de usar camisinha, né?

— Kim Soo-Yun! — ofegou em falsa ofensa. — O que você acha que somos para fazer uma coisa dessas? Adolescentes cheios de hormônios?

Weasley, não tente me convencer de que vocês dois usam algum neurônio quando estão juntos. — a coreana respondeu curta e grossa, sem enrolar para falar o que pensava, típico Soo-Yun, realmente, Ginny sequer sabia porque ainda se surpreendia quando a amiga fazia isso, não é como se ela fosse do tipo que enrolava, normalmente esse papel era da ruiva. — Então me diga, vocês usaram ou eu vou ser titia de novo?

— Argh! Você é insuportável. — Respondeu ainda sem querer ceder, mas sabendo que precisava da opinião de outra pessoa no momento, e que sua família não era uma opção, a não ser que ela quisesse ouvir sobre como seus pais estavam decepcionados com ela, e em como nunca arrumaria um marido. 

Pela enrolação toda que você tá pra falar só pode ser a segunda opção. 

— Eu odeio como você me conhece bem, Soo.  — a ruiva respondeu se sentindo derrotada em admitir, mesmo que indiretamente, que ela e Harry haviam feito outro bebê, e apesar de não precisar nenhuma prova, além dos testes em positivos, a sua barriga já mostrava-se levemente diferente e em poucas semanas seria difícil esconder qualquer coisa das pessoas. 

— Sim, você vai ser titia, de novo.

Eu não sei se fico feliz ou se te esgano!! — brincou a morena fazendo com que Ginny sorrisse levemente. 

Sabia que poderia contar com Soo-Yun para mantê-la pés no chão, mas sem acabar com seu dia de forma irreparável, e mesmo que a outra fosse quem ligou e não ela, sentia-se realmente grata por ter atendido a ligação. Depois disso continuaram a conversa se atualizando sobre o que estava acontecendo na vida de cada uma, Soo-Yun estava presa em uma embarcação no meio do mar até poucos dias atrás, e apenas na noite anterior haviam conseguido permissão para desembarcarem em um hotel na costa da Inglaterra, então as duas tinham muito o que falar.

Seus olhos se desviaram para o relógio na parede, e ela quase levou um susto ao perceber que estava conversando com Soo-Yun há quase uma hora, logo Harry chegaria com as crianças e a privacidade que tinha no momento seria inexistente.

— Amiga, eu preciso ir fazer um lanche pras crianças, Harry saiu com eles mais cedo para irem ao mercado e andar no parque um pouco. — Comentou já levantando-se do sofá, mesmo que seu corpo pedisse mais cinco minutos de descanso, mas ela sabia que não podia demorar muito se quisesse que os gêmeos comessem alguma coisa saudável. 

Tudo bem, ruiva, mas olha, —  começou a morena com a voz mais séria, indicativo de que dessa vez Ginny realmente deveria pelo menos ouvir o conselho da amiga e pensar sobre ele. — você precisa se resolver com o Harry, ficar nesse “chove, não molha” de vocês não vai dar certo, e marque as ultrassons, quero meus bebês bem!

— Você sabe que os filhos são meus, né? — brincou levemente, tentando não pensar demais sobre o que a amiga havia lhe dito. — E eu vou marcar o ultrassom hoje, não se preocupe.

Estou confiando em você, ruivinha! 

— Finalmente? 

Não se aproveite da minha boa vontade, Ginevra, e vá logo fazer o lanche das crianças. — Kim Soo-Yun respondeu com uma falsa irritação na voz, que lembrava vagamente as broncas  que a mãe de Ginny dava nas duas, fazendo com que a outra risse. 

— Tudo bem, mamãe. — gracejou com um sorriso no rosto, caminhando para a cozinha com o telefone na mão. — Até mais tarde, Soo.

Até mais, Gin. 

Assim que a ligação terminou ela começou a lavar e cortar as frutas como sempre fazia, seu corpo entrando no modo automático enquanto sua mente retornava para a conversa com Soo-Yun. Como poderia resolver algo com Harry se sequer tinha certeza do que estava acontecendo entre eles, se quando ele a chamava com aquela voz suave e carinhosa e a olhava como se Ginny fosse o próprio sol em um dia nublado, ela não conseguia saber se era apenas uma admiração de um amigo ou se era algo a mais. 

Como saber se tudo o que estava sentindo, o que talvez ele estivesse sentindo não era pela aproximação, duplamente, forçada que eles estavam tendo? 

No fundo sabia que ainda o amava, mesmo quando não gostava dele, mesmo quando queria o odiar, quando estavam oceanos de distância, quando a única ligação que tinham eram seus filhos, quando todos diziam que era apenas um garoto, quando sequer sabia o que era o amor, mesmo quando ninguém acreditou neles e ela mesma quis desistir, Ginny o amava. 

E agora ela estava grávida, de novo, e mais uma vez estavam criando um laço. Mas um filho não era motivo para ser um casal, eles sabiam disso, já haviam passado por isso juntos e ela sabia que o resultado era desastroso. 

As frutas já estavam totalmente cortadas, assim como o suco de laranja já estava pronto, e estava preparando sanduíches de pasta de amendoim com geléia quando ouviu a porta se abrindo. Imediatamente sentiu um sorriso manifestar-se em seu rosto, ao ouvir a voz de seus filhos. 

Appa, você viu como eu pulei altão? — perguntou Ella animadamente. 

Conseguia imaginar a forma em que sua filha mexia as mãos enquanto falava, havia pegado essa mania de Hermione e Soo-Yun assim que chegaram em Londres, e todos achavam fofo demais para pará-la. 

— Eu vi, meu amor, se você continuar assim, logo vai poder competir nas olimpíadas! 

Appa, eu também vou? — Perguntou Arthur com a voz esperançosa. 

— Claro, que sim, campeão, os dois vão. — Harry respondeu com a voz alegre se aproximando, e antes que Ginny pudesse fazer qualquer coisa os três estavam entrando na cozinha. 

O moreno mais velho coloca uma sacola de compras no chão e sorri para ela, que não consegue decidir se ama ou odeia quando ele sorri.

— Mamãe! Você não vai acreditar no que a gente viu! — Arthur falou, ou melhor, gritou animado correndo em sua direção a fazendo virar em direção de onde vinha sua voz, mas antes que ela pudesse fazer ou falar qualquer coisa, Harry o para. — Appa!

— Você sabe o nosso acordo, campeão. 

— Mas appa eu quero falar com a mamãe sobre o coelhinho. — Arthie respondeu fazendo bico. 

— É appa a gente quer falar com a mamãe. — Ella concordou com o rosto choroso. 

Sempre que os gêmeos usavam essa tática com o pai eles conseguiam o que queriam, e pelo olhar que Harry a lançou estavam a um passo de convencê-lo. Ginny apenas deu de ombros e indicou que ele deveria resolver sozinho.

— Crianças, a eomma vai amar ouvir tudinho eu tenho certeza, mas vocês precisam tomar banho antes. — Garantiu o mais velho com um sorriso gentil e com ambas mãos repousadas no ombro das crianças. — Certo, Gin?

— Eu mal posso esperar para ouvir tudo o que vocês fizeram, meus amores. — confirmou com um sorriso os olhando com ternura. Ela os amava tanto que em alguns momentos sentia que poderia sufocar com o tamanho do sentimento. 

— Quem chegar por último é a mulher do padre! — Ella falou rindo e os dois saíram correndo apartamento adentro, suas risadas e passos apressados ecoando pelo caminho. 

— Crianças! Nada de correr dentro de casa. — Ginny gritou já sabendo que eles não a ouviriam.

Só esperava que nenhum deles se machucasse, ou quebrasse algum objeto da casa. A ruiva olhou para o moreno que limpava as compras com álcool, apenas para descobrir que ele estava a olhando com um sorriso bobo no rosto. 

— Tira esse sorriso besta da cara, Potter. 

— Que sorriso?

—  Esse aí que parece estar grudado no seu rosto. — Respondeu com um revirar de olhos. Na realidade não sabia porque quase sempre que falava com Harry estava na defensiva, talvez fosse força do hábito, ao que parecia três meses morando juntos não compensam os quatro anos que precisou para superá-lo.

— Como foi sua tarde sem as crianças? Conseguiu resolver o que precisava? — Ele perguntou ignorando totalmente o pedido dela, seu sorriso ainda estava fixo no rosto, na realidade, parecia ainda maior. 

— Foi okay, meu chefe ainda não respondeu então eu só fiquei deitada existindo. — Respondeu com um dar de ombros, finalizando os sanduíches e colocando as coisas na mesa. Olhou para Harry que já estava terminando de limpar as compras e foi até ele. — Você precisa de ajuda?

— Não precisa, Gi, mas se você quiser terminar aqui e eu dou banho nas crianças, por mim tudo bem. 

— Fechado. —  Concordou pegando o vidro de álcool da mão dele e olhando para a sacola que faltava, antes de olhar para o cacheado. — Não esqueça que o shampoo da Ella é o de morangos... 

— E o do Arthie de mirtilos, eu sei, relaxa. — Ele riu levemente e saiu da cozinha em passos largos. 

Novamente estava sozinha com os seus pensamentos, e não tinha certeza se essa alternativa era melhor do que sentir seu coração acelerado a cada sorriso que o moreno lhe lançava. Eles precisavam resolver isso antes que os hormônios a atingisse com ainda mais força e sua atração por ele falasse mais alto que seu lado racional.

Sabia que nunca havia de fato o superado, tanto que só conseguira evitar grandes desastres fingindo total desinteresse nele e agindo de forma fria toda vez que se encontraram nos últimos quatro anos, mas claro, com ele morando em sua casa e convivendo no dia-a-dia não conseguia manter a pose, era cansativo mentir o tempo todo. 

Fora que sentia falta de seu melhor amigo, mesmo que estivesse cercada de ótimos amigos durante todo seu tempo afastada dele, ninguém a conhecia como Harry, ninguém a fazia se sentir tão confortável em sua própria pele como ele. Havia sido esse motivo que a fizera se apaixonar por ele há treze anos, e o motivo que a fazia se apaixonar de novo e de novo. 

Suspirou e tentou focar em limpar e guardar as compras, mas sua mente insistia em voltar em todos os assuntos que queria esquecer. Pensar em Harry a fazia pensar nos gêmeos, e pensar em seus filhos a fazia lembrar que estava grávida, e que precisava contar para Ella e Arthur, marcar a consulta e começar a planejar transformar o quarto de hóspedes em um berçário, e isso a lembrava que ela seria mãe solteira de três crianças agora, e mesmo com toda a ajuda monetária que Harry dava e toda ajuda física que sua família e amigos lhe oferecia não seria o suficiente. 

Deus, porque eles foram transar sem camisinha? As coisas já eram difíceis o suficiente sem um bebê. 

E ela sabia que assim que descobriu que estava grávida deveria ter falado com Harry sobre abortar, e não sobre manter o bebê, mas mesmo que houvesse sido um acidente e fosse virar toda sua vida de cabeça pra baixo, não conseguia não amar seu pequeno.

Eomma? — Chamou Ella baixinho colocando sua pequena mão em seu rosto. Fazendo com que Ginny percebesse que estava chorando. Malditos fossem os hormônios. —  Você tem um dodói?

— Não, meu amor. — Riu levemente, secando suas lágrimas rapidamente. — A mamãe tá bem. 

— Mas você tá chorando, mamãe. — A menina fez um biquinho e seus olhos lacrimejaram. — Ella magoou eomma?

— Não, claro que não, princesa. — Negou Ginny com um suspiro, abraçando sua filha com força. Às vezes, odiava-se por esquecer o quanto seus filhos dependiam emocionalmente dela, e toda vez que eles falavam coisas assim, sentia que estava falhando como mãe. — Ella não fez nada de errado. 

— Mesmo, mesmo? 

— Mesmo, mesmo, princesa. — Confirma com toda a sinceridade que pode reunir e para concretizar tudo encheu o rosto da menina de beijos até pequenas risadas começarem serem arrancadas da menina. 

— Arthie, parece que as meninas estão tendo uma competição de cosquinhas sem a gente. — Harry falou, assustando as duas ruivas que não haviam percebido sua chegada. 

Os meninos estavam a apenas alguns passos de distância e antes que qualquer uma das duas pensasse em fugir, eles começaram a fazer cosquinhas nas duas, quebrando todo e qualquer clima triste que poderia ter se instaurado ali.

Ficaram incontáveis minutos no chão da cozinha tentando fazer cócegas uns nos outros, as crianças rindo tão alto que parecia impedir qualquer barulho exterior, e os olhos de Harry brilhando tanto que poderiam ser comparados ao sol, e ainda assim não faria justiça ao brilho e calor que emanava dele. 

Quando seus olhares se encontraram, o Potter sorriu, fazendo com que ela sorrisse junto, e sem desviar o olhar, ela o agradeceu. 

Não sabia o que o futuro lhe esperava, mas sabia que ficariam bem.

 

20 de abril de 2020, Londres, Reino Unido

 

    A páscoa havia passado sem muito caos. Quer dizer, quase sem muito caos. Harry ainda podia sentir os olhares de reprovação dos irmãos de Ginny sobre si quando se lembrava da chamada de vídeo surpresa que fizeram para ela. Ficava vermelho só de lembrar do que aconteceu.

    Ginny estava sentada na sala mexendo no computador como normalmente fazia e os gêmeos estavam dormindo a soneca da tarde. Ela estava lá linda usando um vestido amarelo que contrastava perfeitamente com o cabelo ruivo, que estava com metade presa, deixando-a mais jovem e, se possível, mais linda ainda. Depois de a admirar por longos segundos, voltou seu olhar para o celular e começou a digitar os ingredientes que precisaria.

Harry normalmente não prestava atenção em muita coisa quando ela estava por perto, ou longe, no geral, ele não era tão atento assim, estava com ideia para essa nova receita que queria fazer e fazia muito calor naquele dia, calor demais para um dia de primavera. Tudo isso junto nunca iria dar um bom resultado.

    — Gin, você sabe onde eu coloquei minha carteira? — Perguntou parando atrás dela, ainda sem prestar atenção no que ela fazia, focado em seu celular. — Preciso ir ao mercado. 

    Ela não o responde por vários segundos, o que era muito estranho, Ginny sempre o respondia, só então olha para o computador, que refletia seu torso nu na tela, para várias pessoas ruivas. 

    Droga.

    — Deixa pra lá.

    Assim que falou, se arrependeu, havia criado um problema para a ruiva e estava pronto para cair fora. Ótimo de demonstrar que amadureceu e mudou Potter, ótimo jeito mesmo. Ginny o olhou com seriedade e suspirou.

    Não tinha certeza se queria saber o que ela havia visto em seu rosto para tirar um suspiro. Esperava que fosse algo bom, mas tinha certeza que era algo ruim. 

    — Você me colocou nessa, cachinhos, agora vai escutar também. — Foi a única resposta que ela deu antes de desplugar o fone do notebook.

Era um pouco ácida e malcriada, mas não era algo que ela fazia de propósito, era o jeito que vinha a ajudando a continuar seguindo em frente, ao menos era como ele via a situação. E se fosse sincero, a Weasley sempre foi um pouco sarcástica e tendia a dar respostas malcriadas. 

    — Ginevra, quem é esse homem com você? — Foi a primeira pergunta que ouviram. 

Pela voz estridente e levemente rouca de velhice só poderia ser uma pessoa. Tia Muriel. Deus o perdoasse, mas ele odiava essa mulher. Lembrava-se perfeitamente de como no casamento deles ela fizera questão de reclamar de tudo. 

O terno dele era  muito verde. O vestido de Ginny, justo demais, o que ela usou na festa? curto demais. A comida tinha muito peixe e pouca carne, e no peixe? tinha muita pimenta. Nada nunca estava bom o suficiente para ela. 

Em momento nenhum. 

Nem no casamento, nem na criação dos filhos deles, menos ainda no divórcio. 

E porque diabos ele está sem máscara? — Perguntou Bill com a voz irritada e muitas vozes concordaram com ele, fazendo que fosse impossível de entender o que falavam. Até que uma voz foi mais alta e falou o que ninguém havia reparado:

E sem camisa?! 

Ronald! — Repreendeu uma voz feminina que soava familiar. O jeito mandão de falar e o não tão baixo “Mione!” soltado por Ron ajudaram Harry a reconhecer quem falava. Claro que tinha que ser Hermione. 

E porque esse cara pode ficar entrando assim na sua casa no meio de uma pandemia? — Perguntou por fim Percy. 

Eram muitas perguntas, e muitas vozes, e muitos ruivos de uma vez. Estava acostumado a lidar com várias pessoas de uma vez, lidava com elas o tempo todo no trabalho presencial, e lidava com sua própria família, mas já faziam três meses que estava vivendo apenas com Ginny e os gêmeos, e isso certamente o deixara mal acostumado. 

— Pelo amor de Deus, vocês vão calar a merda da boca para eu responder ou não?

Ginevra olha essa boca, menina!

— Desculpa, mãe. — respondeu com um revirar de olhos, e então virou-se para ele, que não havia saído do lugar. — Você responde as perguntas.

— Por quê?

— Porque eu disse que sim. 

— Mas é a sua família. — Retrucou bobamente. 

— Eu sei, por isso mesmo. 

— Hm, oi, sra.Weasley, tudo bem? 

Harry, querido, é você? — perguntou a ruiva mais velha soando incrédula, enquanto seus filhos olhavam para o moreno com ódio. — Como você está diferente.

— Sim, sou eu, e a senhora continua linda. 

— Puxa saco. — Murmurou Ginny com um risinho de lado. 

O que você está fazendo vestido desse jeito na casa da minha irmã, Potter? — Fred perguntou com raiva. Harry nunca havia visto os gêmeos Weasley com raiva. Bem, há uma primeira vez para todas as coisas. 

— Eu, huh… — começou se sentindo perdido, e olhou para a ruiva que estava calada até o momento. — Ginny?

— Você é um medroso mesmo, Potter. — respondeu batendo levemente em seu abdômen. — Harry está sem máscara porque está dormindo aqui por um tempo. 

Potter, o que você está fazendo na Inglaterra? Não acha que já fez merda demais com a minha irmã? — George perguntou parecendo ainda mais irritado que Fred.

Era sinceramente assustador, de todos os seus ex-cunhados os gêmeos eram os mais fáceis de lidar. Não esperava lidar com eles novamente, o que era irônico considerando que queria tentar ter algo com Ginny novamente. E eles sequer sabiam que a ruiva estava grávida de novo.

Deus, como era um grande idiota. 

— Chega! — Ginny respondeu em um tom irritado. Harry colocou suas mãos sobre os ombros dela, a ruiva não podia se estressar, sabia disso. Esperava conseguir acalmá-la só com sua presença. — Eu já estou bem grandinha para isso, vocês não acham?

Acho que você não está entendendo bem a situação, cerejinha. — Charlie respondeu calmamente olhando para Ginny e depois me olhou com escárnio. — O seu ex-marido está dormindo na sua casa no meio de uma pandemia e aparece sem camisa. Você acha isso normal?

Eu sempre disse que vocês davam liberdade demais para essa menina. — Muriel falou, claramente concordando com os sobrinhos pela primeira vez na vida. — Agora veja onde está, com duas crianças e divorciada!

Ginny, sua tia tem razão, vocês não acham que é muita irresponsabilidade ficar assim? — Molly falou com a voz levemente julgadora, e pude ver que isso abalou ainda mais a ruiva. 

— Ginny não merece ouvir isso, ela é uma mãe incrível, uma amiga maravilhosa e foi a melhor esposa que eu poderia pedir, se as coisas não deram certo não foi culpa dela, foi minha. — Harry respirou fundo antes de continuar, não olhou para a ruiva, se olhasse não conseguiria terminar de falar. — Vocês deveriam ter orgulho dela e não criticar, eu estou morando aqui porque foi a melhor opção para os nossos filhos.

Depois de quase uma semana do acontecido, Harry ainda sentia-se desconfortável ao pensar em como a família Weasley, por mais incrível que fosse, muitas vezes deixava que coisas tão ridículas como aquela os afastasse de Ginny. 

Como alguém poderia querer afastar-se dela? Ela era a pessoa mais incrível do mundo, nada no mundo valia mais do que a companhia dela, nenhuma diferença boba valia mais do que ser amado por ela.

O pior de tudo era que sabia que era igual. Ou havia sido.

Era tão burro quanto os Weasley por tê-la deixado ir, mas ao menos era inteligente o suficiente para tentar tê-la de volta. E isso o levava ao momento presente. A páscoa havia passado e tudo corria bem. 

Os dois estavam se dando bem, o trabalho dela estava fluindo, o chefe dele havia aceitado a proposta de manter Harry em Londres, os gêmeos estavam bem com a situação, entendiam que eles não estavam juntos, talvez melhor que eles mesmos, e Arthur estava mais relaxado em relação ao pai, o que era perfeito.

Tudo estava bem, exceto que…

Exceto que eles ainda não haviam contado sobre a gravidez dela a ninguém, exceto a Soo-Yun, mas ela estava de quarentena no litoral do nordeste do Brasil, e a consulta seria naquela tarde. Não havia parentes próximos para vigiarem os gêmeos, e eles ainda não haviam contado para as crianças. 

Teriam que contar naquela manhã. O que levou Harry a acordar às quatro da manhã para preparar o café da manhã perfeito para os adular. Não era o seu ponto alto na vida paternal, ele assumia, mas fazia o que podia, e naquele momento era o que podia fazer. 

Além de ser uma ótima moeda de troca, toda a preparação necessária para um café da manhã caprichado o ajudava a ficar mais calma. Uma das coisas que sempre mais gostava em cozinhar era a calma que o trazia, e acreditava que isso seria sempre o motivo principal por ter escolhido a carreira.

Se ele falasse para Caroline suas inseguranças ela provavelmente riria em sua cara, e falaria como era incrível a capacidade dele de ter medo dos próprios filhos, mas para isso ele teria que contar a ela sobre tudo, e ele não queria fazer isso. Não sabia se aguentaria ouvir a bronca que ela lhe daria.

Já ouvia o suficiente por ele não ter a visitado em Paris antes da pandemia começar, e apesar de Caroline saber que ele ainda estava na Inglaterra, não havia contado que estava na casa de Ginny. Na realidade, nenhuma das duas sabiam alguma coisa da existência da outra depois do divórcio, e ele sabia que precisava sentar com a Weasley e contar a verdade sobre Caroline, sobre tudo que havia acontecido, mas não tinha coragem. 

E isso tudo retomava ao momento presente onde sua imparcialidade voltava e chutava sua bunda. Não falar nada nunca agora estava custando sua sanidade mental, só podia falar sobre seu medo de contar aos gêmeos a Ginny, mas não se sentia bem em falar com ela sobre isso porque não queria aumentar a preocupação dela. 

Deus, ele iria realmente precisar conversar com alguém. 

Suspirou fundo, limpou sua mão no avental e olhou a hora. Cinco e quarenta da manhã, os muffins estavam no forno, a massa de panqueca estava pronta, o bolo de cenoura também estava assando, as frutas estavam cortadas e o suco pronto. 

Uma ligação rápida não o atrasaria, ele tinha certeza. Decidido andou até o quarto de hóspedes, pegou seu celular da mesa de cabeceira e voltou para a cozinha em passos largos, ouvindo o som eletrônico irritante de chamada sendo realizada. 

Alô?

—  Bom dia, Amelie. 

Harry? — perguntou a voz grogue de sono de sua amiga. — O que foi?

— Você e a Line podem falar agora? — Perguntou se sentava no banco da ilha.

Potter, são seis horas da manhã. — A voz de Caroline soou ríspida, provavelmente havia sido acordada pela esposa. — O que diabos você quer que não podia esperar até mais tarde?

— Eu preciso de um conselho. — Admitiu quase que timidamente.

Quando você não precisa? — Questionou Caroline e ele conseguiu imaginá-la revirando os olhos. 

Talvez fosse o fato de ter precisado imaginar que o impulsionou a deslizar para o botão de chamada de vídeo, talvez fosse porque sentia tanta saudade de suas amigas que até mesmo vê-las por trás de uma tela seria ótimo. 

Elas aceitaram rapidamente, talvez pela saudade, talvez por estarem doidas para ouvir a fofoca e voltar a dormir logo. Sentiu uma leve dor no peito ao ver os cabelos longos e castanhos de Caroline e os cabelos ruivos de Amelie. A pele negra de uma fazia um lindo contraste com a pele clara da outra, mas o que mais chamou sua atenção foram os olhos delas que gritavam carinho.

— Isso é um mero detalhe, Durand. 

Pra você é Lambert, bonitinho. — Amelie provocou. Em outros momentos ele até entraria na brincadeira, mas em tempos de necessidade nem mesmo a brincadeira o animava.

— Que seja. — respondeu com um revirar de olhos. —  É sério gente, eu preciso do conselho de vocês.  

O que você fez agora? — Perguntou Caroline que estava tão acostumada com os perrengues do coreano que sequer se deixava abalar pelo rosto desesperado dele. Quase nunca era uma coisa realmente urgente, Harry quem tinha uma mania de exagerar as situações.

— Prometa não gritar. — pediu o moreno. — E não me julgar muito.

Difícil, mas tudo bem. — Amelie concedeu enquanto sua esposa apenas encarava o moreno desconfiada. 

— Eu vou ser pai. 

Você já tem dois filhos, Harry. — Caroline respondeu com um revirar de olhos. Sua esposa no entanto o olhou desconfiada e depois chocada. 

Harry Potter! — exclamou irritada e parecendo sem palavras. — Você não sabe o que é uma camisinha?

— Eu sei o que é uma camisinha, Mel.

Então por que diabos você não usa?

— Eu uso, foi um acidente!

Do que vocês estão falando? — Questionou a morena olhando para a esposa e parecendo confusa. Harry suspirou, Caroline sempre foi muito inteligente, mas seu cérebro nunca funcionou muito bem antes das dez da manhã.

O idiota do Potter vai ser papai de novo. — Explicou a ruiva de pele negra à esposa. — Quem é a mãe?

— Então... — O moreno começou sentindo seu rosto aquecer rapidamente. Como explicar que sua ex-mulher estava grávida de filhos seus depois de quatro anos de divórcio? Ou melhor, como explicar que ele estava morando com ela? Deus, a cada minuto que passava a situação parecia mais e mais impossível de explicar. 

Felizmente para ele, já que no momento em que, após longos cinco minutos de silêncio, abriu a boca para dizer qualquer merda o corpo da Weasley apareceu atrás de si na câmera. Foi tão espontânea quanto a interrupção dele na chamada de vídeo da família Weasley. 

Talvez fosse karma, talvez apenas uma coincidência, mas o motivo não o impedia de ter a sensação de que só havia duas formas que acabaria a ligação, com Ginny o odiando de verdade e o expulsando do apartamento ou em uma conversa onde finalmente ele contaria a verdade.

— Bom dia, Har. — Cumprimentou com a voz rouca de sono, apoiando sua cabeça no ombro dele. 

Ginny estava mais carinhosa com ele já faziam algumas semanas e havia aumentado ainda mais após a páscoa. A resposta que Harry deu aos Weasley parecia ter feito com que ela repensasse e o odiasse menos. Só esperava que isso permanecesse após ela perceber com quem ele estava falando.

    — Bom dia, Gin. — Respondeu com um sorriso leve, mesmo sabendo que ela estava de olhos fechados. — Dormiu bem?

    — Não muito.

    — Aconteceu alguma coisa? — perguntou preocupado, seus olhos viajando imediatamente para o estômago dela. — Precisa ir ao hospital?

    — Está tudo bem, é só um enjoo, logo passa. — Respondeu com um suspiro cansado se afastando dele para sentar ao seu lado e finalmente percebendo que ele estava em uma chamada de vídeo. — Ah, acho melhor eu te deixar sozinha. 

    — Não precisa sair por nossa causa. — Caroline se pronunciou com um sorriso malicioso. Ela sabia o quanto Ginny a odiava antigamente, e sempre brigava com o moreno quando lembrava disso alegando que a culpa era toda dele. 

    Ela não estava errada.

Harryzinho estava prestes a nos contar uma coisa, não estava?

— Não! — Negou rapidamente, fazendo com que as três mulheres o encarasse descrentes. — Quer dizer, sim, mas argh!

— Eu posso sair se você quiser, Harry, tá tudo bem. 

Não precisa, flor, tenho certeza que ele não se incomoda. — Amelie assegurou com sua voz calma de sempre. Queria matá-la com as próprias mãos. Por que suas amigas eram assim? 

Acredito que não fomos apresentadas. — falou suavemente e então continuou com um sorriso. — Na verdade, eu sei quem você é, mas acredito que o Harry não fale de mim. 

— Não, eu acho que não. — Respondeu a ruiva parecendo confusa e curiosa, voltando a se sentar no banco ao lado do moreno. — Mas calma, o Harry fala de mim?

O tempo todo, é insuportável. — Caroline respondeu com um revirar de olhos. — Eu sei que você não gosta, ou não gostava?, muito de mim, mas queria deixar claro que eu nunca tive nada com Harry. 

— Fica quieta, Caroline. — O moreno pediu com um suspiro derrotado. — Ginny você não precisa fazer isso, sério, eu já até esqueci o que ia falar. 

— Eu estou curiosa agora, deixa elas falarem. — respondeu a ruiva o olhando rapidamente e logo em seguida desviando o olhar para a tela do celular do corenao. — O que ele fala de mim? 

Bem, ele...— A francesa de pele clara começa a responder, mas é impedida por sua esposa.

Acho que o Harry pode contar isso depois, amor. — Amelie falou com um sorriso rápido em direção da mulher, e logo voltou a os encarar. — Eu sou uma das amigas do Harry, do  tempo da faculdade, Amelie Lambert, e sou casada com a Carol. 

— Mas eu estava casada com o Harry durante a faculdade. — a ruiva falou parecendo confusa. — Por que não lembro dela?

— Eu e Amelie só nos aproximamos depois do divórcio, Gin. 

Você finalmente parou de ser um idiota e falou a verdade pra ela, Potter? — Carol perguntou curiosamente, fazendo Harry quase ter um ataque cardíaco. Nunca imaginou que uma conversa onde ele planejava pedir um conselho para ficar mais calmo iria se transformar na causa de sua morte. 

— Que verdade?

Você não contou? — Amelie perguntou irritada, porém nada surpresa. — Se você não contou, quem você engravidou?

— Harry, que verdade? — A ruiva perguntou parecendo em um misto de confusão e tristeza, sequer parecendo ter escutado a última parte. 

— Não importa, Ginny, não é nada. — Respondeu rapidamente, lançando um olhar bravo em direção a suas amigas. 

A verdade é que ele nunca te superou. — Caroline respondeu em francês com a voz raivosa. Sabia que a amiga havia soltado a verdade no idioma materno porque achava que a Weasley não entenderia, ou talvez apenas porque estava com raiva demais para pensar. 

O problema era que Ginny havia passado o último ano do ensino médio em um internato francês.

Ginny havia entendido. 

Droga. 

— Ele o que? — A Weasley perguntou também em francês, parecendo chocada demais com a resposta, tão chocada que não percebeu que havia mudado de idioma. — Isso não tem graça.

Pourquoi tu ne m'as jamais dit qu'elle parlait français, idiot? — questionou Durand com a expressão brava. — Não é brincadeira, Weasley, ele nunca te superou.

— Isso é verdade? 

— Ginny…

— É verdade ou não?

— Realmente importa a resposta? — Retrucou sentindo seu coração acelerar ridiculamente. Como uma manhã poderia desandar tão rápido sem mal ter começado? 

Quando era mais novo costumava pensar que o momento que mudou toda sua vida aconteceu quando ele e Ginny se tornaram amigos, depois quando eles se beijaram, acreditou que aquele sim era o momento que sua vida realmente havia mudado para sempre. Então eles se casaram e todos lhe disseram que ali era onde sua vida começaria de verdade. Até que chegou o divórcio e ele teve certeza que nada no mundo poderia mudar sua vida mais do que aquilo, nada poderia definir sua jornada de vida mais do que o nascimento dos gêmeos e o divórcio. 

Nada até aquele momento. 

Chegava a ter uma patética nota do utlrarromantismo na situação, a idolatria a mulher o levando ao desejo profundo de fuga da realidade, por meio de sonhos ou morte, era assim que se sentia. Como uma só pessoa conseguiu o fazer sentir tantas coisas em tantos momentos da sua vida?

Como ousava Ginny a chegar em sua vida e mudá-lo por inteiro sem sequer tentar?

— Sim, Harry, realmente importa a resposta. 

— É verdade, — começou baixo e parou por alguns segundos para controlar o choro. — não teve um momento desde que te conheci em que não te amei. Me divorciar de você foi como perder uma parte de mim, na verdade, acho que perder uma parte de mim doeria menos do que perder você.

— Harry.... — A ruiva começou a falar, mas não continuou, como se a única coisa que conseguisse falar fosse o nome dele.

Seus olhos castanhos estavam cheios de lágrimas o olhavam como se nunca houvessem o visto antes e a voz dela saindo tão fraca o fazia querer se esconder, mas já era tarde demais, era como se ao começar a falar o Potter abrira sua própria versão da caixa de pandora. 

— Não, não fala nada, por favor, eu preciso dizer tudo isso. — pediu segurando as mãos dela. 

— Eu nunca quis que a gente se separasse, mas eu não conseguia pedir desculpas, eu estava errado todo aquele tempo, Ginny. Toda vez que eu falava que estava em um bar com alguém ou em uma boate, era mentira, eu fui tão idiota com você. — respirou fundo e ignorou as lágrimas que escorriam por suas bochechas, seus olhos se fixaram no chão. 

— Fui um babaca completo, e me arrependo todos os dias disso, no dia em que você pediu o dia divórcio eu não consegui acreditar, às vezes eu ainda acordo pensando que foi tudo um pesadelo. — falou com a voz baixa e levantou o olhar para vê-la. — Eu te amo muito, Gin, nunca deixei de te amar, e se um dia, por algum milagre, você me quiser de novo, eu vou estar te esperando, mas você não precisa fazer ou falar nada, eu sei que não sente mais nada por mim. 

Você fez um discurso tão bonito pra estragar tudo no final? — A voz de Caroline soou pelo alto falante do celular, fazendo com que ele lembrasse que suas amigas ainda estavam na chamada.

Ótimo ele apenas havia se declarado para o amor de sua vida com uma plateia exclusiva que não o deixaria em paz. Não que elas não soubessem ou não fossem descobrir depois, mas o constrangimento ao vivo poderia ter sido evitado.

Se ele fizesse tudo certo não seria o Potter, amor. 

— Quem disse que eu não sinto mais nada por você? — A Weasley questionou o encarando com a face totalmente séria. 

Mas não tinha como ela estar falando a verdade, só poderia ser uma grande e elaborada brincadeira. A ruiva nunca havia sido o tipo de pessoa que brincava com o sentimento dos outros, mas ela também nunca havia se divorciado de ninguém antes. 

Há sempre uma primeira vez para tudo, e Harry poderia muito bem ser a primeira vez dela nessa situação também.

— Isso não tem graça, Ginny. — Respondeu sério, tentando demonstrar com um só olhar que aquilo o machucava. Não queria pensar tanto no assunto, iria focar em seus filhos, nos que estavam dormindo e no que iria ver através da ultrassom em algumas horas.

— Eu não estou rindo, Harry.

— O que? — Perguntou incrédulo, quase gritando. Rezou internamente para não ter acordado os gêmeos. Ambos eram ótimos no dia-a-dia e sequer se incomodavam em serem acordados, mas sentia que se isso acontecesse agora teria um sério problema.

— Eu disse que não estou rindo, seu idiota.

— Você tem que estar brincando, Ginny.

— Por que eu tenho que estar brincando, Har? — Ginny perguntou parecendo preocupada tocando o rosto dele com carinho. Ao mesmo tempo que queria se aproximar e deixar-se perder no calor da mão dela contra seu rosto, também queria afastar-se e fingir que nada disso havia acontecido. 

— Porque eu nunca imaginei que um dia você poderia sentir algo por mim de novo. — confessou, fechando seus olhos e preparando-se para ouvir os protestos indignados das três meninas que o escutavam. — E eu não quero correr o risco de te machucar de novo.

— Harry, essa escolha é minha e só minha. 

— Eu sei, me desculpa.

— Pelo que?

— Por ser um idiota.

— Eu te desculpo se você me desculpar também. — Ela respondeu com um sorriso carinhoso e apertou a mão dele levemente.

— Você não precisa pedir desculpas, você nunca fez nada de errado. — Retrucou a olhando confuso. Como ela podia um dia achar que era a errada da história? Ele havia fodido com tudo, quando tudo o que ela queria era ajuda e atenção num momento complicado.

— Não foi bem assim, Har. — Ginny falou cortando sua linha de pensamentos. — Eu posso não ter cometido os mesmos erros que você, mas isso não significa que eu não errei, nenhum relacionamento acaba sozinho. 

— Você só queria ajuda e atenção, isso não é errado. — Argumentou o de olhos verdes, afastando-se dela levemente, tentando entender onde a ruiva desejava chegar.

— Sim, isso não era errado, mas mesmo que inconscientemente eu estava tentando te controlar, Harry, eu não confiava em você mesmo quando você não dava motivos para desconfiança e isso prejudicou a gente. — a Weasley falou o olhando fixamente com tanta força que não tinha como ele sequer tentar desviar seus olhos dos dela. 

— Eu precisei te perder e ficar longe para entender que a gente fez muita merda, e não só você, eu te amo muito, Harry, muito mesmo, e eu nunca parei de te amar, mas daquele jeito a gente ia acabar se odiando. 

— Ginny isso não é verdade. 

— É sim, H, você sabe que é. — disse tristemente secando uma lágrima do rosto dele. — Você me perdoa?

— É claro que sim. — Respondeu como se fosse a coisa mais óbvia do mundo, e na verdade, era. Não existia um universo onde ele não a perdoaria, não a amaria. Era apenas impossível existir uma realidade onde Harry Potter não amasse Ginny Weasley.

Muito linda a declaração, só falta o beijo para ficar melhor. — Comentou Caroline quebrando todo e qualquer tipo de clima que poderiam ter. 

— Sabe Caroline, eu acho que estou começando a gostar de você. — Ginny falou com um sorriso e então o beijou. 

Os lábios dela estavam hidratados e sua boca tinha o gosto mentolado do creme dental que usava, seu cabelos, que agora batiam no meio das costas, outrora presos em um coque desleixado foram soltos por Harry. Céus, como ele sentira falta de tocá-la, de pegar em seus cabelos e sentí-los deslizar por seus dedos.

Se antes beijá-la era como um copo de limonada gelada após um dia no sol, voltar a beijá-la era como beber chocolate quente em um dia frio, ambos aliviavam todo seu ser, mas apenas um o fazia se sentir em casa.

Sabia que há poucos meses haviam se beijado, a prova estava ali entre eles, crescendo na barriga dela, no entanto como poderia comparar beijos de desespero trocados após descobrirem que todos que conheciam corriam risco de morte com um beijo de alegria compartilhado após uma declaração? 

Era não só insensato como estúpido fazer tal coisa. E mesmo sendo os dois, Harry não faria isso. 

Separaram-se do beijo com um breve selinho e ele a abraçou com força inspirando o cheiro de flores do cabelo dela e afogando-se no calor de seu corpo. Sentira tanta falta de poder apenas existir nos braços dela que por alguns minutos esqueceu-se de tudo.

Tudo está muito lindo,— Comentou Amelie com a voz irônica, ignorando os “Sssh, amor” e o “Não interrompa, eu esperei anos por isso” que vinham da esposa. —  mas se vocês não estavam resolvidos antes, quem você engravidou, Harry Potter?

— Harry, o bolo vai queimar. — Ginny falou de repente, fazendo com que ele lembrasse do que estava fazendo antes da ligação. Se desvencilhou da ruiva e correu até o fogão, retirando uma fornada de muffins e o bolo de cenoura que haviam passado levemente do ponto.

— Eu não sei o que faria da minha vida sem você. — Agradeceu beijando a bochecha dela e ignorando a pergunta de Amelie. Ignorar era sempre uma boa opção em algumas situações. 

— Você não vai responder sua amiga, Har? — Ginny questionou risonha olhando para o moreno que estava ignorando o celular e se ocupando com o café da manhã deles. Não importava o quanto ele tentasse esconder sua timidez, as bochechas vermelhas o entregavam.

— Não sei do que você tá falando, Gi. 

Na próxima vez que você ligar seis horas da manhã do meu dia de folga, eu nem vou te atender, seu mal agradecido. —  Caroline falou com raiva mostrando o dedo do meio para ele que apenas riu levemente.

— Você é muito fofoqueira e me ama demais para fazer uma coisa dessas. — Afirmou com o ar de conhecedor e inflando o peito como um pavão orgulhoso. O efeito teria sido melhor se suas bochechas não queimassem tanto. 

— Por Deus você é pior que as crianças, H. — Ginny suspirou divertida. — Eu estou grávida do Harry. 

Eu não acredito que não fiz a conexão, claro que seria você, esse idiota não transaria com mais ninguém além de você. — Caroline comentou despretensiosamente fazendo a Weasley arquear a sobrancelha em direção do único homem presente na conversa. 

Decidiu que deveria desligar o telefone antes que suas amigas falassem outra coisa que não deveriam. Não estava tão irritado, na verdade, não estava nada irritado, porque por uma vez na vida a boca grande das duas estava lhe dando uma coisa boa, e não iria estragar isso com elas falando mais do que deveriam de novo. 

— Sim, sim, agora vamos comer café da manhã, tem muita coisa pra fazer hoje, e você precisa comer, né Carol? Seus bebês precisam disso. — Harry falou rapidamente, não dando margem para a ruiva pensar muito no que a francesa estava insinuando.

Você não engana ninguém com essa falsa simpatia e animação, Potter. — Amelie respondeu pela esposa. — Mas a gente vai deixar para lá, porque estamos com fome. 

— Viu, só? — Respondeu com um sorriso grande. — Todos terminam felizes. 

Uhum. — Concordaram sarcásticas. — Tchau, Potter, juízo pelo amor de Deus.

— Tchau, meninas, e cuidem bem das minhas afilhadas. 

Quem disse que você é o padrinho?

— Não precisa dizer. — Afirmou com uma piscadela, que ele sabia que irritaria as duas meninas. 

Ridículo, Potter. — bufou Durand. — Tchau, Ginny e parabéns pela gravidez!

— Tchau meninas! — a ruiva respondeu animada e desligou a chamada para o moreno. —  Caroline é realmente uma pessoa legal.

— Eu sei. 

— Cala a boca. — Ginny respondeu com um revirar de olhos e o empurrou levemente.

— Vem calar. — Respondeu com um sorriso atrevido, a ruiva retribuiu o sorriso e o calou da melhor forma possível.


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Notas finais do capítulo

E FIM! Queria dizer que tive que excluir umas ceninhas que acrescentavam 0 coisas pro plot, mas que eram ótimas, por motivos de que n fazia sentido, então provavelmente estarei falando delas no meu twitter (@fangirlpad) em algum momento, então quem quiser....
Muito obrigada por tudo e até mais!



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