A linha tênue entre o amor e o ódio escrita por GomesKaline


Capítulo 11
Capítulo 11




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Ele olhou para o pequeno cacto no parapeito da janela, girou o celular na mão enquanto considerava fazer a ligação. Sim, ele levou o cacto com ele e fingiu não ver as sobrancelhas questionadoras de sua mãe.

Seus dias na praia foram bom, depois dos dias infernais no hospital e do repouso em casa. Quando ele lembra dos dias em que tivera que andar em seu quarto de hospital para exercitar o estômago, essa foi a explicação do médico, em seu terceiro dia após a cirurgia, ele sente o pânico sufocante que o assombrou durante aqueles doze dias.

Médico disse que era melhor ele não fazer grandes esforços, pois os ferimentos à faca são traiçoeiros. Costumam fazer estrago sem que ninguém perceba, até que seja tarde demais.

Os dias ensolarados fizeram maravilhas com seu humor, juntamente com sua mãe. Ele amou cada segundo que passaram juntos, desejou que pudesse arrancar todas as dores da mulher que deu tudo de som para que ele ficasse bem. E as deles, é claro, queria poder estalar os dedos e fazer elas sumirem.

Quando o vento soprou em seu rosto, ele lembrou de uma visão com cabelos esvoaçantes e um sorriso radiante. A visão que dera a ele um conforto, uma fuga, no seu momento de agonia. E mesmo quando a praia ensolarada se foi, ela ainda estava lá, dizendo para aguentar. E ele aguentou.

Ele, por fim, ligou.

— Alô?

— Olá, açúcar.

— Sério, Aaron? O que a medicação fez com você? Passou por uma cirurgia no cérebro que eu não sei?

— Cruel. Eu gosto.

Ele escutou a risada dela, ele sentiu o sangue circular mais rápido pelo corpo.

— Qual é o seu problema? — ele conseguia imaginar ela perguntando isso, um sorriso enfeitando o rosto.

— Queria saber se aquele encontro ainda está de pé?

— Não é um encontro, não combina com a gente. É apenas um café.

Foi a vez dele de rir.

— Quando duas pessoas marcam de se encontrar, não é um encontro? Se parece um pato, se anda como pato... pra mim é pato.

— Você não vale nada, Aaron.

Aaron olhou pela janela do quarto, o sol estava brilhante lá fora, e quente. Seu nariz estava vermelho porque esqueceu de passar protetor solar no primeiro dia. Sua mãe disse que não era assim que ele compensaria o sol que não tomou nos seus dias de repouso. Estavam jantando fora quando disse isso, Aaron roubou uma batatinha do prato dela e em seguida levou um tapa na mão.

Eles jantaram fora todos os quatro dias que ficaram na casa da praia. Christine estava radiante durante toda a viagem, teve momentos que Aaron se pegou pensando que queria poder congelar esse momento juntos. Mas era como os dias que Emily ficou na cabana dele, uma fuga da realidade.

— Quando está livre?

Emily ponderou alguns instantes.

— Quarta, ou quinta, ou sexta...

— Quarta está bom.

— Ansioso para me ver, Aaron?

— Você sabe que não. Poderíamos ter evitado esse encontro se você tivesse me contado o que devia no hospital. Você tem coisas para me dizer, e é por isso que eu quero que isso aconteça logo.

Ele não viu, mas as costas dela empertigou. Ela ainda não estava pronta para ter essa conversa. Mas ela não o deixaria saber que a abalou.

— Odeio menos sua versão sarcástica, te faz parecer charmoso. Mas sua versão babaca... na verdade, todas as suas são babacas...

— Você não sabe quando calar a boca, não é, Emily? — ele sussurrou.

— Porque está sussurrando? — ela perguntou, sussurrando de volta, apesar de está completamente sozinha.

— Estou na casa de praia com minha mãe.

— Está passeando com a mamãe — zombou — que bonitinho.

Aaron cerrou os dentes e fechou o punho, mais uma vez Emily soube exatamente que botão apertar para deixá-lo irritado.

— Porque você não sai com a sua mãe, não ache problemas em eu sair com a minha — disse entredentes, deixando óbvio cada faísca de fúria.

Ela rebatou com a mesma ferocidade.

— E você, quantos passeios já fez com o seu pai?

— Já chega. Vou te mandar o endereço. — e desligou.

...

Idiota.

Era a única palavra que ela conseguia atribuir a ele.

Ele provocou.

Não. Ela começou, mas ele não tinha o direito de desligar na cara dela!

Idiota. Idiota. Idiota.

Ela saiu do quarto e foi para o quarto de Ted. Ela sentou na cama dele emburrada e irritada. Ted dá um sorriso furtivo, para que ela não se irritasse mais vendo a diversão no rosto dele.

— Que bicho te mordeu? — perguntou erguendo a cabeça do travesseiro.

— Eu tinha realmente ficado mal por ele, porque tinha sido esfaqueado e tal, mas eu não sei mais se me sinto assim. Ele é um idiota, e não merece mais nem um fio da minha preocupação. Aquele imbecil estragou meu vestido, ele poderia me agradecer sendo um pouco menos idiota. Eu odeio aquele desgraçado!

— Presumo que seja de Aaron que está falando.

— Ele é tão insuportável!

— Serotonina foi ligada à agressão impulsiva, e também é responsável no equilíbrio do humor, impulso sexual...

— Qual o problema de vocês com hormônios?

— Vocês quem? — Então ele balança a cabeça e decide prosseguir — Estou dizendo que tudo é uma linha muito tênue. Humor e agressão. Amor, ódio e sexo...

— É melhor você para por aí.

— Estou brincando. Sobre a parte do sexo, todo mundo acha que vocês já transaram pelo menos uma vez.

— Nunca transamos.

— Nem uma única vez? Nem para se vingar da mamãe.

— Não. Qual é Ted, é Aaron. E para me vingar da mamãe ela tinha que saber.

— Nenhum beijo?

Emily desviou o olhar.

O que dizer para seu irmão intrometido? Ela conseguia esconder uma grande quantidade de segredo de suas amigas, mas de Ted... não tem muita coisa que consiga guardar dele. Ela só conseguiria manter isso até certo ponto.

Mesmo assim ela não voltou os olhos para ele.

— Você beijou — Ted começou a rir — Eu nasci exatamente para esse momento. Você beijou ele — riu novamente.

— Qual é o seu problema, Theodore? Primeiro você fica uma fera quando ver Aaron e eu conversamos, mas está tudo bem com um beijo?

— Quando foi?

— Há muito tempo. — Conseguiu parecer honesta.

Emily se move para deitar ao lado dele.

— Olha, eu não me importo com quem você alivia seu estresse, só não gostaria que fosse Aaron. Parece que ele não está fazendo um bom trabalho, você ainda está bem tensa.

Emily vira para ele, sua expressão ainda mais raivosa.

— Eu não estou dormindo com ele, mas que Inferno! O que Alina fez com você? Você não é o mesmo cara daquela festa meses atrás. O Theodore que eu conheço nunca diria uma coisa dessas.

Ted e Alina, a mãe de Ethan, resolveram as coisas no último mês, não completamente. O chão dele ainda era instável para voltarem a morar juntos, mas Ted estava mais feliz. Eles têm saído na maioria das noites.

— Estou tentando fazer psicologia reversa, achei que se talvez concordasse com isso, você então não faria nada disso. Mas pelo menos descobri que vocês já se beijaram. Acho que explica porque ele é vidrado na sua boca.

— Theodore, eu te amo, mas no momento não — Ela levantou — Alina parece que tirou sua tensão muito bem.

Ela saiu do quarto batendo a porta com força.

...

O endereço que ela recebeu dava em um beco. Sim, ela achou isso ridículo, mas então ela lembrou de Tommy, que ele poderia está seguindo-os. Esse movimento poderia desnorteá-lo. Ele não estava com nenhum dos seguranças da família dele, assim como ela não estava com nenhum da família dela, veio cada um no próprio carro.

— Uau. Você fica bem de barba.

— Minha mãe odeia.

— Mas a sua mãe não manda na sua barba, ou manda?

— Não.

— Então aconselho a ficar com ela, parece menos idiota.

Ele revirou os olhos.

— Oi, Emily, gostaria de dizer que é um prazer te ver depois de todo esse tempo, mas não é.

— Oi — disse sorrindo.

Ele não ficou tão irritado quanto pensou que ficaria, mas considerando que eles podem começar uma briga de qualquer assunto, essa calmaria logo pode desaparecer.

— Vamos dividir o carro ou vamos em carros separados.

— Separados, é claro.

— Okay, estávamos pensando em irmos ao Dolce Gusto.

— Eu não quero ir ao Dolce Gusto, quero ir ao Royal Coffee Cream.

— Esse nome é ridículo, o lugar provavelmente é também.

— Vamos ao Royal Coffee Cream e está decidido.

Aaron soltou uma lufada, irritado.

— Eu realmente não sei se você faz isso para me irritar, ou se é só por ser uma pessoa insuportável mesmo.

Ele sorriu, maliciosa. Feliz por um pouco de normalidade.

...

Ele chegou no Royal Coffee Cream primeiro, escolheu um mesa com a discrição que ele admirava. Quando Emily passou pela porta, pôs os olhos nele e inclinou a cabeça como se estivesse considerando algo, um sorriso travesso nos lábios, Aaron pensou seriamente que ela escolheria outra mesa, considerando como estava hoje. Ele por um momento considera ter sido amaldiçoado, pois estava achando aquilo cativante.

Mas então ela começou a caminhar em direção da mesa em que ele estava.

Ela recomendou alguns doces do cardápio que ele provavelmente gostaria.

— Como está tão segura do meu gosto por doce?

— Às vezes você não é tão difícil de ler, Aaron. E mesmo quem não te conhece sabe que você é uma formiguinha.

Aaron riu.

— Okay. E que história é essa de às vezes eu não ser tão difícil de ler? Às vezes?

— Sim, isso é raro. Você é uma das pessoas difíceis de se ler, não se é porque eu não gosto de você, ou se é assim para todo mundo. Mas raras vezes, é fácil saber o que você pensa sobre determinados assuntos ou sobre o que está pensando.

— Como? — perguntou intrigado.

— Eu descobri recentemente que você gosta de desenhar, então quando vejo sua atenção focada em alguma coisa, sei que você está catalogando as formas e as core e tudo mais. Apesar de você nunca usar cores. — Exceto aquele desenho que ele fez dela na cabana. Então ela baixou a voz e falou séria — Não sei porque sei disso. Eu não sei, na verdade, apenas acho que é isso.

Ele a olhava com os olhos arregalados, assustado. Ele se sentiu tão exposto, era como se ela tivesse invadido a privacidade de sua mente, e lá é um péssimo lugar de se estar.

— Bem, isso foi estranho. — Aaron sorriu com uma lembrança — Você também foi fácil de ler quando provou meu purê de batatas, eu sei que você gostou.

Ele tem certeza que viu seu rosto corar.

— Eu não gostei, não!

— Mal agradecida.

— Você se esqueceu que foi por sua causa que acabei lá? Ah, mas você pediu desculpa, então está tudo bem.

— Eu sei que o pedido de desculpa não resolveu nada. Mas realmente, Emily, você não tem que se crucificar com isso, você não fez uma escolha errada, você era uma criança.

— Aaron, minha mãe cresceu na política sendo contra o aborto, e então todos descobrem que a filha dela abortou com 15 anos. E eu sei que você sabe do tamanho do estrago que causou.

— Não ligo para sua mãe.

— E você se importa comigo?

Ele não respondeu.

— Não é contra isso que vocês lutam? Não é pelos direitos das mulheres, direito de escolher ou não prosseguir com a gravidez? Nunca entendi o porquê de sua mãe defender o direito da mulher e ser contra o aborto.

— Você não tinha o direito de revelar isso, era minha história pra contar!

Ele não rebateu essa afirmação. Que argumento poderia usar? Ele estava errado, e ele tinha total consciência disso. Não há nada que ele possa fazer para concertar. E se tivesse, ele faria?

Quando foram entregar o café deles, eles tomaram em silêncio, estavam indo totalmente contra o propósito de sair e tomar um café juntos. Se bem que o assunto que planejavam discutir não era nada amistoso.

Aaron ficou ruminando aquelas palavras de Emily no hospital, ficou se perguntando o que Emily saberia e quem teria sido para ela ter conhecimento. Se Emily realmente soubesse quem o esfaqueou, um caso aleatório estava descartado.

Ele não sabe dizer se isso é reconfortante ou não.

Algo nele diz que Emily não é tão inocente nessa história. Mas algo dentro dele também diz que Emily não o quer morto. Sua avaliação sobre Emily não querer abolir seu único adversário digno à altura ainda é válida. Contudo, ela não querer não significa que sua família não quer. Mas qual era o motivo?

Na verdade é bem ridículo a família Prentiss querer a morte dele, pois Aaron não é portador de todo o poder, seu pai era. Aaron pode até ser a inteligência, mas todos obedecem e estremecem a Craig Hotchner. Aaron não era importante o bastante para quererem sua morte.

— Emily — ele falou tão gentilmente que a assustou — O que você sabe sobre eu ter sido esfaqueado? Você sabia que aconteceria, foi por isso que estava lá para me ajudar?

— Não. Eu não sabia de nada, estava tão alheia quanto qualquer outro.

— Mas você não está mais.

— Aaron... — disse, tentando recuar.

— Emily, por favor — sua voz era mansa, suplicante. — Por que fui esfaqueado? Eu tenho inimigos, mas com certeza se me quisessem morto, eu estaria morto. Então por que eu não estou? O que você sabe?

O coração bateu mais rápido no peito de Emily. Não o importa o quão simples seja, mas tocar em qualquer assunto relacionado ao seu relacionamento com Tommy a deixava tensa. E o que estava prestes a revelar não era nem um pouco simples.

— Você foi esfaqueado por minha causa.

Não era preciso ser especialista em comportamento para saber que ele ficou desconcertado e chocado.

— E por que seria esfaqueado por sua causa?

— Ciúmes.

— Ciúmes? Emily, vou precisar que seja objetiva, porque você não está fazendo nenhum sentido.

Emily olhou fixamente para Aaron, como se aquilo fosse dá a resposta que ele queria. Bem, não deu. Ele ficou ainda mais alheio.

— Você lembra daquele cara do bar, aquele que "você me salvou"? — ela fez aspas com os dedos.

— Sei.

Emily começou a cutucar as unhas e a ficar inquieta, ele reparou. Talvez nervosa?

— O nome dele é Tommy. Namoramos por um tempo. Foi ruim.

A voz dela estava baixa demais, insegura demais, uma Emily diferente da que ele é acostumado a ver. Parecia... quebrada. E Emily Prentiss, mesmo em seus piores dias, era um pilar de força. Pelo menos era essa a imagem que ela dava ao mundo.

— O que isso tem a ver comigo, Emily?

— Foi ele, Aaron. Não com as próprias mãos, é claro, mas ele mandou alguém fazer aquilo com você.

— Por quê?

— Porque ele é um bastardo idiota que não aceita que acabou.

— Desembucha logo. Por que ele estava com ciúmes de mim? Todo mundo nessa cidade e os estados vizinhos sabem que nos odiamos.

— Ele pensa que somos namorados. Acho que talvez ele tenha nos seguido até aquela praça, talvez tenha visto o beijo. Não consigo mais ver de onde mais ele poderia tirar essa ideia, não nos vemos além de salas escuras nas festas políticas.

— Você tem certeza?

— Sim, ele me disse, quando eu fui no hospital te ver. Eu encontrei com ele no elevador e ele deixou bem claro que estava incomodado com você na foto.

Aaron respirou fundo. O ex-namorado louco de Emily esteve no hospital que ele estava se recuperando. Ele poderia tê-lo matado de forma rápida e limpa. Ele sentiu o local das facadas latejarem. Uma onda irracional de pânico percorreu seu corpo. Mas foi rapidamente sobrepujou raiva.

— Fui submetido ao inferno por causa do seu namorado idiota?!

— Ex-namorado.

Ele cerrou o punho e respirou fundo novamente. Um lugar público não é um bom lugar para surtar quando se é filho de um político renomado e está com uma filha da família política rival.

— É minha culpa. Eu estava com raiva da minha mãe e então beijei você. Eu sinto muito.

— Você não tem culpa se ele não sabe receber um não. Mas não faz sentido ele me atacar, você é próxima de tantos homens e então ele cria um caso com quem você mais odeia. Ele sai esfaqueando todo mundo que você beija?

— Você é um alfa, Aaron. Você o intimida. E por mais que o odeie admitir, você é um homem poderoso. Isso ameaça qualquer homem com masculinidade frágil.

— Por que eu ainda falo com você? Você é um caos.

— Como se sua vida fosse uma calmaria — zombou ela.

E sabe o que é mais engraçado? Nenhum deles levantou e foi embora. Ao contrário, permaneceram sentados e cada um pediu outro café. Ela perguntou como estava a mãe dele e ele perguntou sobre Amélia, e se ela tinha saído da linha de novo em um bar. Foi como vinha acontecido nos últimos meses, uma conversa agridoce. Era como se precisassem do acre e também da parte doce. Um equilíbrio estranho e perfeito que só eles conseguiam alcançar.

Aaron também perguntou por Ethan, estava curioso para saber se o menino ainda perguntava por ele, era ridículo se importar com isso, ele sabia. Mesmo assim não pôde evitar desejar que sim.

Ela então resolveu comentar o que tinha escutado de Ted.

— Sabia que as pessoas acreditam que já dormimos juntos pelo menos uma vez?

Intrigado, ele perguntou:

— Por que pensariam isso? Todos fingem não ver, mas sabem que não gostamos um do outro.

Ela bebeu do seu café e concordou com a cabeça.

— Pois é, pensei a mesma coisa.

E isso era contraditório, pois eles passaram os últimos meses agindo como duas pessoas que totalmente fariam sexo. Ambos estavam presentes nas fantasias noturnas um do outro, lembrando e desejando lábios quentes e macios. Em noites onde a solidão parecia ganhar forma, Emily lembrava do corpo de Aaron pressionado ao dela e o arranhar em suas costas. Às vezes levantava e saía do quarto fumegando com raiva, outras vezes ela se deixava levar, guiando a mão para entre suas pernas. Ela sentia vergonha por se sentir tão satisfeita com um orgasmo feito por ela mesma com a imagem dele na mente.

Inclusive, ela sentiu o rubor queimar em suas bochechas ali mesmo.

O quão no fundo do poço uma mulher tem que está para fantasiar com a pessoa que mais ela odeia? Ela se perguntava constantemente. O charme dele nunca a afetou, o que mudou agora?

Isso a apavorou.

— Seu pai apareceu no hospital.

Emily franziu o cenho.

— Meu pai?

— Sim. Ele ficou o tempo todo conversando com minha mãe, mal entrou no quarto que eu estava. — O olhar que Aaron deu a ela passou uma mensagem clara dos pensamentos dele.

— Eca, Aaron. Não. Eles foram amigos no colégio, melhores amigos na verdade.

— Eu sei que é loucura, mas eles conversavam tão confortavelmente. — Disse, ainda com uma leve tensão nas sobrancelhas — Eu não sabia que eles tinham sido amigos. Como você sabe disso?

— Meu pai me contou. Eu adorava bisbilhotar as coisas deles e um dia encontrei bilhetinhos dele e da sua mãe. Minha primeira impressão foi que eles foram namorados, perguntei a ele e sua expressão foi de nostalgia, depois ele negou, que era um absurdo eu pensar que ele namorou Christine. Ele me contou que os dois eram melhores amigos desde os 12 anos. No ensino médio as coisas mudaram, meu pai começou namorar minha mãe e Christine passou a namorar Craig. Era sabido que minha mãe e seu pai se odiavam, mas eles não acharam que pudesse atrapalhar a amizade dos dois. Mas atrapalhou. Passaram a se falar cada vez menos, tampouco se encontravam. Meu pai entrou no mundo da minha mãe e Christine entrou no de seu pai. Bem, você pode imaginar o que vem depois.

— Minha nossa, eu nunca entendi essa rivalidade entre nossas famílias, para ser bem sincero.

— Acho que começou com os avós de nossos avós. O clássico de amigos que viraram inimigos. Acho que foi por causa de mulher.

— Acho que foi por causa de terras.

Então desviaram o olhar um do outro. Emily olhou para a garçonete que se movimentava pelo local recolhendo xícaras e pratos vazios, anotando e entregando pedidos. Aaron observou uma família sentada à frente dele, a mãe explicava para uma criança de mais ou menos 6 anos que ela não podia tomar café. E a criança disse "Por que me trouxe aqui se eu não posso tomar café?". Aaron com certeza achou que a criança tinha feito um bom ponto.

— E nossa geração, por que acha que brigamos? — perguntou ele quando voltou a olhar para ela.

— Vocês Hotchner são insuportáveis — ela disse com um sorriso.

— E os Prentiss não são?

A sobrancelha dele é um charme instigante.

O sorriso de ambos se alargaram.

Nenhum dos dois sabiam qual o real motivo da geração deles brigarem, apenas foi ensinados que ambos deviam se odiar. Continuaram uma briga que não era deles. Seguiram o fluxo. E o pior de tudo, realmente tinha ódio no coração deles.

...

Dois dias depois Emily foi procurar um apartamento. Ela pediu o melhor corretor da empresa, ela queria achar um bom apartamento o mais rápido possível.

Chegando no primeiro lugar, quem ela encontra é Derek Morgan. Ela sabia que deveria ter pesquisado mais sobre os funcionários. Confiou que ele estava na mesma empresa do ano anterior. Mas ali estava ele.

— Oi — disse ele.

— Oi. Eu só quero um apartamento, espero que o fato de eu odiar seu melhor amigo não atrapalhe isso.

— Não vai. Não misturo pessoal com profissional como vocês dois.

— Ei!

Ele estava certo, mas ofendeu mesmo assim.

Eles olharam cinco apartamentos e Emily não gostou de nenhum.

Enquanto Derek pensava que ela estava sendo mesquinha, Emily estava apreensiva, pensando que talvez não encontraria um lugar confortável que pudesse chamar de casa. Era ridículo pensar assim, afinal era só um apartamento, ela tinha somente que escolher um preço justo, com uma boa segurança, áreas próximas de lazer e coisas do tipo.

Emily se despediu dizendo que o encontraria no dia seguinte, e falou para si mesma que seria menos criteriosa com suas escolhas.

...

Os primeiro seis meses ele foi o homem dos sonhos de qualquer mulher. Levava para passeios românticos, comprava flores e lhe dava chocolates toda vez que saíam para um encontro. Até que um dia ela disse que queria sair com as amigas, sem ele. Algo nos olhos dele mudou, e ele disse que a mulher dele não iria para festa nenhuma sem ele. Disse que o problema não era ela, era que ele não confiava nos outros homens, que eles eram pervertidos e que ele só queria protegê-la.

Ela acreditou nele, afinal ele só estava cuidando dela.

Na outra vez eles estavam brigando e ela lhe deu as costas para ir embora, ele a puxou pelo braço e a jogou no sofá e gritou que ninguém dava as costasnpaea ele. Depois pediu desculpas, disse que estava arrependido e que não ia se repetir. Ela o perdoou, pois ele disse que não faria de novo. Pela manhã até fez um café da manhã digno de uma princesa, essa foi a palavra que ele usou.

Mas em menos de 24 horas tornou a se repetir. Ele lhe deu um tapa quando não conseguiu uma ereção e disse que era culpa dela, e que aquilo nunca acontecia. Que se talvez ela se depilasse, isso não aconteceria. Emily correu para o banheiro, trancou a porta e chorou.

— Amor, por favor, abra a porta. Eu sinto muito. Emily por favor... abra a porta. Eu te amo, você sabe que eu nunca te machucaria.

Ela abre a porta, já coberta por um roupão, olhos vermelho...

Ele a abraça e lhe dá beijos gentis.

— Eu te amo mais do que qualquer coisa nesse mundo. Você é a melhor coisa que me aconteceu.

— Eu quero dormir — diz ela, cansada desse mesmo discurso, cansada por acreditar nele e cansada da vida.

— Vamos para cama então. Você sabe que eu faria qualquer coisa por você, não sabe?

— Eu sei.

No dia seguinte ele a presenteia com uma joia cara e diz que a ama, incondicionalmente e que estava se esforçando para ser um namorado melhor.

Ela passou a beber mais, se afastar dos amigos, dos irmãos. Ela só saía para algum lugar se ele também fosse, só saía com uma roupa que ele concordasse. O argumento era o mesmo, que não era ela o problema e sim os homens, ele não queria nenhum homem tendo pensamentos maldosos sobre ela.

Em uma festa, o amigo de Tommy a elogiou, disse que ela era muito bonita para parecer real. Ela sorriu e agradeceu. Tommy também sorriu, mas quando ele a olhou sabia que ele iria lhe bater quando chegasse ao apartamento dele.

Na maioria das vezes ela achava que ela merecia. Ela acreditava quando ele dizia que era culpa dela e discutia com os amigos quando disse que ele não fazia bem para ela.

Ele a amava, ela dizia aos amigos e para si mesma.

Ele cuidava dela, era isso que importava.


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