and I built a home (for you) escrita por Martell


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Chegando totalmente aos 45 minutos do segundo tempo com mais uma fic para esse projeto maravilhoso que é o November Hinny.

Essa fic foi um parto, não está revisada nem betada, perdão por tudo, mas eu espero que vocês gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/797460/chapter/1

Should I tear my heart out now?

Everything I feel returns to you somehow

I want to save you from your sorrow

The Only Thing, Sufjan Stevens

 

Qualquer pessoa normal que passasse mais de 5 minutos na presença de Harry Potter notaria que ele precisava de ajuda.

Infelizmente, o mundo bruxo não era repleto de pessoas com senso comum – o exemplo mais claro era o fato de que haviam deixado a responsabilidade de salvá-los na mão de um adolescente que nem mesmo havia terminado a sua educação formal, enquanto ficavam em casa e lamentavam as mortes que apareciam no Profeta Diário sem levantar um dedo para resolver alguma coisa.

Talvez fosse injusto culpar o cidadão médio por estar aterrorizado pela guerra, mas após perder tanto era difícil não ter pensamentos negativos sobre aqueles que nem mesmo haviam tentado fazer algo quando foi revelado que Voldemort estava de volta. Como não julgar as pessoas que apenas baixaram a cabeça e fecharam os olhos, enquanto crianças eram caçadas como animais pelas florestas da Grã-Bretanha? Após anos e anos tendo que cuidar da bagunça dos outros, era impossível não guardar ressentimentos.

Harry derrotou Voldemort, mas os custos para si foram enormes – amigos, pessoas que considerava família, a própria vida. Às vezes, quando fechava os olhos, estava de volta à plataforma, branca como neve, e ele entrava no trem sem pensar duas vezes, ouvindo a voz dos pais o chamando para finalmente descansar.

Em seus dias ruins, lamentava a escolha que havia feito. Em seus piores dias, refletia que não era tarde demais para se juntar a eles mesmo assim.

Se fosse honesto consigo mesmo, admitiria que era apenas uma sombra, andando de um canto para outro, afundando-se cada vez mais em seus próprios pensamentos; de certa maneira, talvez estivesse morto – seu corpo apenas ocupava os lugares onde deveria estar, enquanto tudo que o fazia humano ficara para trás junto ao fragmento de alma de Voldemort.

A guerra havia acabado e com ela tudo o que fazia sentido em sua vida. Não era fácil encarar a realidade que passara seus anos formativos lutando, de uma forma ou de outra – contra a solidão, fome e medo com os Dursleys, e depois de entrar no mundo bruxo cada dia era uma batalha por sua sobrevivência.

(E você, estupidamente, pensou que finalmente conseguiria escapar. Fugir, durante um tempo, de toda a tragédia que o cercava desde que se entendia como gente. Deixaria de ser Garoto ou Aberração e poderia ser Harry, apenas Harry. Você sabia a verdade agora.)

Não sabia quem era sem estar cercado de violência e esse era um pensamento que não o deixava dormir à noite. Uma criança forjada na guerra não fora feita para momentos de paz.

Sem nem pensar duas vezes, recusou o convite de morar com os Weasleys, escolhendo se trancar na escuridão pesada de memória que era Grimmauld Place, recolhendo-se em sua miséria e lembranças distorcidas. Mesmo com o peso de morte e perda que cercava A Toca, todo o lugar era iluminado.

Harry Potter, que crescera sob a sombra do assassinato dos pais e passara toda a sua infância no escuro empoeirado de seu armário debaixo da escada, sabia que não aguentaria olhar diretamente para a luz.

Ninguém precisava o dizer que não estava curando, era só olhar no espelho e ver as marcas das noites mal dormidas, os olhos assombrados da mesma cor da maldição que tirara a vida de tantas pessoas. Certos dias, jurava ver o reflexo de todos os que partiram, como uma imagem distorcida do espelho de Ojesed.

Temia que o desejo do seu coração não era sua família viva e bem. Parte do tempo não confiava nos seus sentimentos. Parte do tempo eles o assustavam de maneira visceral.

Convites chegavam pelo correio. As pessoas queriam comemorar junto a seu salvador, mas toda vez que pensava em festejar a bile subia na garganta. E apenas bile, pois deixara de comer regularmente na época da caça às Horcruxes e nunca voltara realmente a se alimentar como deveria.

Às vezes seu elfo doméstico, Monstro, o fazia se sentir culpado por desperdiçar a comida que preparava para todas as suas refeições. Não era o suficiente, se a fraqueza em seus músculos eram alguma indicação. Tinha a vaga impressão de que a única coisa que mantinha o seu corpo funcionando teimosamente era a sua magia.

Não era justo que projetasse seus problemas nos outros, então escolheu se calar. Todos estavam ocupados com seus próprios lutos, então o mês que passaria descansando logo se tornou dois, saindo apenas na extrema necessidade, ignorando os olhares cada vez mais preocupados de Hermione nas raras vezes em que resolvera visitá-lo. Mas a amiga estava distraída em sua busca pelos pais e em reatar o relacionamento fraturado pelo feitiço de memória. Não tinha energia para se focar na figura cada vez mais pálida de Harry e por isso o garoto era grato.

Ron, por sua vez, estava tentando segurar a família que havia desabado após Fred - em suas cartas dizia que Molly havia chorado todas as noites e que George quebrara todos os espelhos da casa, enquanto Percy não conseguia olhar ninguém nos olhos; confessara, também, que às vezes era melhor que o irmão mais velho o evitasse, porque ainda não conseguia racionalizar que não fora culpa dele. Depois de alguns copos de firewhisky, Harry conseguia admitir para si mesmo que temia o momento que o julgamento de Ron se voltaria contra ele.

Neville estava se dedicando com tudo o que tinha na reconstrução de Hogwarts, um foco quase obsessivo em suas ações, enquanto Luna resolvera viajar pelo mundo procurando os animais que o pai, que não escapara do ataque dos comensais a sua casa, tanto falava em sua revista. Vez ou outra Harry pensava em ajudar na antiga escola, mas só de pensar em colocar os pés em meio a tanta morte o fazia sentir uma dor física.

O fato de ter se acostumado com dor não significava que a apreciava. Nunca fora de deixar isso impedi-lo, mas dessa vez havia escolhido se poupar. Não sabia se deveria sentir orgulho ou não de si mesmo.

Era uma lástima ver a sua única casa destruída e não fazer nada sobre isso, mas era pior ainda ver os corpos jogados como marionetes com as cordas cortadas por todos os lados. Não importava se haviam sido retirados a semanas, se comparecera aos enterros. Ainda conseguia ouvir os gritos abafados dos soldados caídos – crianças que nem mesmo haviam chegado à maturidade, pais dispostos a deixar seus filhos para trás na luta por sua visão de futuro.

Andar por Hogwarts era como andar em um cemitério com suas covas abertas. Nem mesmo ele, acostumado a lidar com a morte como se fosse parte de si, conseguia aguentar esse pensamento. Talvez por estar acostumado a lidar com a morte como se fosse parte de si não conseguia aguentar esse pensamento.

Em seu maior ato de covardia, ou de autocuidado, como gostava de pensar, era o fato de estar fingindo que seu afilhado, Teddy, não existia. Sabia que estava sendo injusto com Andrômeda, que havia perdido quase toda a sua família no espaço de alguns meses, mas não conseguia encarar a responsabilidade que a criança apresentava.

Achava que manter a sua distância era o melhor nesse momento, simplesmente porque era impossível não se projetar no garoto, assim como era impossível o olhar sem sentir a dor de perder Remus e Tonks tudo de novo. Até que estivesse sob controle era mais saudável não invadir a vida da criança, principalmente enquanto não sabia se conseguiria permanecer nela. A coisa que Teddy – e Andrômeda, em menor escala – menos precisava era ser abandonado, dessa vez voluntariamente.

Harry Potter não estava bem. Nunca estivera, na verdade, mas fora forçado a ignorar os seus problemas, pois sempre havia algo mais urgente que deveria lidar e nas poucas vezes em que expressara como se sentia, quando fora visceralmente honesto com seus sentimentos, fora reprimido, de maneira consciente ou não, por aqueles que o cercavam.

Não que os julgasse, entendia que ninguém queria ouvir um adolescente gritando os seus problemas e os descontando no mundo, mas isso não apagava que havia acontecido.

Ninguém o havia ensinado a se expressar de maneira saudável e esperar que uma criança abusada psicologicamente durante toda a infância tivesse inteligência emocional o suficiente para lidar de maneira madura com repressão, ameaças de morte, perda de seus entes queridos, tortura física, falta de informação, entre muitas outras coisas, era no mínimo irresponsável e, sinceramente, idiota.

Nunca aprendera a confiar nos outros, não realmente. Gostava de pensar que confiava a sua vida a um punhado de pessoas, mas esses dias sua vida era algo que não entrava em sua lista de prioridades.

Harry Potter não estava bem. Passaria o resto dos seus dias definhando em sua casa empoeirada, na companhia do seu elfo doméstico, evitando cartas e convites, negando visitas, inventando desculpas para os amigos, preso em memórias tão sombrias quanto os corredores da mansão milenar dos Black. Mas Ginny Weasley tinha outros planos. E não havia nada que pudesse fazer para impedi-la de invadir a sua vida e virá-la de cabeça para baixo.

 

Well, the darkness came to take my faith

It tried to steal my words to pray

My love came down like holy rain

And she became my God that day

The Dark, SYML

 

Era impossível esquecer que Ginny era a pessoa mais teimosa que conhecia. Se ela decidia que algo iria acontecer, estava pronta para mover céus e terras, independente de quem se opusesse aos seus planos. Isso não significava que não era razoável, apenas que era do tipo que preferia estar certa a ter paz.

Fora um dos motivos pelos quais se apaixonara por ela em primeiro lugar. Como alguém que vivia constantemente perdido em si mesmo, esse tipo de determinação avassaladora era como um sopro de ar fresco. Ginny era confiante e independente, ela não precisava esperar nem estava disposta a parar a sua vida por ninguém.

Era reconfortante, de uma maneira estranha, saber que Ginny seguiria em frente com ou sem ele. Ela não precisava ser salva, não mais. E ela não precisava de Harry, nunca o fizera, e isso, também, era um alívio.

Não haviam conversado de verdade desde a batalha de Hogwarts. Nenhum dos dois estava pronto, as feridas ainda muito abertas na sequência de um dos episódios mais sangrentos da história bruxa moderna. Depois, bem, Harry havia dedicado boa parte do seu tempo a se isolar o máximo possível.

Havia recusado o convite para se juntar a turma de Hogwarts que ingressaria em pouco mais de um mês. Havia recusado o convite para se juntar aos aurores. Havia recusado o convite de Luna de viajar o mundo. Havia recusado o convite de Andrômeda de morarem juntos.

Seu exílio autoimposto era tanto para seu benefício quanto para o dos outros. Não estava interessado em fingir que estava bem, superando, pronto para se juntar a sociedade como se nada tivesse acontecido. Também não queria submeter ninguém a sua presença, no mínimo desconfortável, enquanto se cercava de dúvidas e medos, e um sofrimento tão palpável que era impossível de ignorar.

(Era, também, uma punição. Como você ousava estar vivo enquanto pessoas boas e importantes haviam caído? Seu lugar era nos cantos escuros, apenas observando a vida pela frecha na porta de seu armário e não participando, a menos que fosse necessário limpar alguma sujeira.)

Quando recebera a primeira carta de Ginny, sua reação natural fora jogar fora, assim como estava fazendo com quase todas as outras. Mas não conseguiu. Era algo simples, apenas falando sobre como ela estava - péssima, mas lutando todos os dias para se reerguer - e pedindo notícias.

Não a respondeu. Também não respondeu a segunda, nem a terceira. Porém, diferente das outras, as leu de ponta a ponta, traçando a letra ligeiramente desleixada religiosamente.

Hermione e Ron haviam embarcado juntos para a Austrália a algumas semanas e Harry vinha jogando cada correspondência que chegava dos dois na lareira sem nem mesmo pensar duas vezes. Respondia as raras cartas da Sra. Weasley. As de Andrômeda esperavam intocadas no escritório empoeirado, enquanto as de Neville e outros colegas se acumulavam numa gaveta qualquer onde Monstro as colocara.

As cartas de Ginny estavam sempre a seu redor. Na mesa de cabeceira antes de dormir, no bolso de sua calça ou casaco, em cima do balcão da cozinha, ao lado de seu copo de whisky. O papel estava amassado e amarelado de tanto que as pegava para ler, como se fosse descobrir algum segredo obscuro que ainda não havia sido revelado.

Tentou acreditar que ela entenderia a mensagem. Ginny era ótima em deixá-lo resolver os seus problemas com o mínimo de interferência da parte dela. Respeitava a sua autonomia e reconhecia que Harry muitas vezes só queria ser deixado sozinho. Ao mesmo tempo, sabia exatamente quando precisava de companhia. Mas ele também havia levado em consideração o quanto Ginny era teimosa.

Por isso, ficara apenas levemente surpreso quando a ruiva invadiu a sua casa sem antes dar notícias, o deixando com apenas alguns segundos para se preparar - seu elfo ranzinza exclamando a presença da garota, antes de sumir novamente - para a presença dela. E o confronto que ela inevitavelmente traria.

Quando ela invadiu a sala em que estava, foi com a mesma determinação com quem fazia todas as coisas, a cabeça erguida demonstrando que não iria recuar, independente do que ele fizesse. Seus olhos castanhos queimavam intensamente, o desafiando a mandá-la para casa, o desafiando a virar as costas e fingir que a ver não era algo que queria desde o momento em que finalmente entendera que estava vivo e estavam em paz.

Estava pálida, tanto que parecia quase fantasmagórica na iluminação ruim da casa, e suas sardas haviam praticamente sumido, indicando que não passara muito tempo no sol. Suas olheiras profundas manchavam seu rosto, seu longo cabelo estava sem brilho e seco, suas roupas estavam amassadas. Era impossível negar que esses últimos meses estavam deixando a sua marca.

Ginny estava linda. Merlin, ela estava ali e era real e tão, tão linda que queria chorar.

Mas Harry não chorava, não desde a morte de Sirius, não de verdade. Havia perdido tanto que as vezes se pegava pensando que estava se tornando imune ao sofrimento ou simplesmente se acostumado com ele.

(Mas nunca deixava de doer, nunca. Você apenas se tornou incapaz de reagir como uma pessoa normal, já que você nunca foi normal. Talvez Vernon estivesse certo e você sempre seria uma aberração.)

Queria abraçá-la, queria expulsá-la aos gritos, queria tocar em seu rosto com a reverencia de um mortal encarando um deus, queria fechar os olhos e fingir que era apenas mais uma de suas alucinações após ter secado uma garrafa ou duas, queria beijá-la até perder o fôlego, queria a sacudir até fazê-la entender que estava melhor longe dele. Não fez nada disso, apenas indicou vagamente para sentar em algum dos sofás e cadeiras espalhadas.

Ginny o encarou por alguns segundos, até escolher se sentar na poltrona diretamente em frente a dele, torcendo o nariz para o cheiro de álcool que permeava o ambiente provavelmente, olhando a figura patética que ele deveria fazer largado, um copo de whisky na mão, um livro meio lido no colo, roupas largas demais o fazendo parecer ainda menor.

— Não sabia que você bebia, Harry.

Sua voz estava rouca, como se tivesse gritado durante horas ou se segurando para não chorar. Com Ginny poderia facilmente ser qualquer uma das duas.

— Eu não bebia, – disse cautelosamente, desacostumado a falar com um ser que não fosse o seu elfo doméstico, – mas os Black tinham uma coleção impressionante. Acho que acabei desenvolvendo um gosto.

— E é isso que você tem feito? – Perguntou incrédula, torcendo as mãos em seu colo como se tivesse se segurando para não fazer algo, – se trancar nessa casa escura e tentar beber um estoque centenário de bebidas?

— Sim.

Os dois apenas ficaram se encarando, nenhum com coragem ou vontade de continuar a conversa na direção em que ia. Ginny jamais aprovaria o fato de que estava se tornando quase um alcoólatra funcional, mas não iria enfrentá-lo sobre até que tivesse certeza do que estava acontecendo. Ela sempre fora do tipo ação primeiro, perguntas depois, assim como Harry, mas haviam passado um ano sem se comunicar e muita coisa poderia ter mudado.

(E era assustador pensar nisso, não era? Uma vida havia se passado em um ano e você nem mesmo conseguia reconhecer o garoto que namorara Ginny. Ela certamente não parecia te reconhecer. Não queria admitir, mas estava decepcionado.)

Todo esse encontro parecia anticlimático. Havia se preparado para confrontos diretos, gritos, talvez lágrimas, mas não para o silêncio pesado que nunca havia existido entre eles. A verdade é que estava cansado, não tinha energia para fazer muito além de continuar catalogando as mudanças visíveis nela. Ginny, pelo que parecia, também não estava com muita vontade de discutir.

— Eu não vou fingir entender exatamente o que você passou, Harry, – começou a falar hesitantemente, desviando os olhos para suas mãos, – mas eu sinto a sua falta.

E ela sempre foi refrescantemente direta, sem jogos de palavras e olhares enigmáticos. Se Ginny sentia algo e tinha o espaço para se expressar, ela apenas falava. Nem sempre era fácil para Harry, acostumado a guardar seus sentimentos com a ferocidade de um dragão, incapaz de entender emoções minimamente positivas, preferindo ignorar problemas que não pudessem ser enfrentados com um feitiço ou dois.

Não era fácil agora, provavelmente não seria durante muito tempo. Não sabia se Ginny teria vontade de esperar o dia em que se tornasse. Não sabia se queria que ela o esperasse.

— Eu não sei se sou a pessoa que você sente falta, Gin. Muita coisa mudou.

Tomou o último gole da sua bebida e colocou o copo no chão. Era verdade que havia mudado? Ou simplesmente perdera o proposito que o guiara durante todo esse tempo? Quando era criança, o que mais queria era se ver livre dos Dursleys e havia conseguido. Depois, o que mais queria era sobreviver pelo menos até o seu aniversário de 18 anos, o que era uma ideia quase impossível na sua perspectiva. Não necessariamente conseguira cumprir essa meta, mas ainda estava respirando e isso deveria contar para alguma coisa.

— Então eu quero conhecer a pessoa que você se tornou, – respondeu com convicção.

Suspirou, mas não falou nada para desencorajá-la. Não valia a pena tentar mudar a cabeça de Ginny quando ela estava determinada, e sabia que acabaria mudando de ideia cedo ou tarde. Não era como se fosse uma pessoa particularmente interessante, ela ter se interessado por Harry em algum momento ainda o deixava surpreso.

Passaram mais algumas horas conversando, Ginny o atualizando sobre tudo o que estava acontecendo com as pessoas que conhecia. Que voltaria para Hogwarts. Que George finalmente estava saindo do quarto sem ser ordenado por um dos irmãos.

Quando ela se preparou para ir embora, se surpreendeu com o quanto estava relutante em voltar a ficar sozinho. Sem saber como lidar com seus sentimentos, apenas ignorou quando disse que voltaria no dia seguinte. Certamente Ginny tinha algo melhor para fazer do que perder o seu tempo com uma pessoa como Harry.

Linda, vibrante Ginny no meio da escuridão pesada de Grimmauld Place. Parecia uma piada.

Antes de sair, ela se virou em sua direção, os olhos ainda mais brilhantes do que quando chegara.

— Todos nós sentimos a sua falta, Harry, – suspirou cansada, provavelmente pelo fato de ter se recusado a olhar para ela, – responda as cartas de Hermione, pelo menos, ela está preocupada.

— Eu não preciso que se preocupem comigo.

— Oh, Harry, nós sempre vamos nos preocupar.

E se foi, o deixando com a culpa de ignorar os amigos, mesmo que fosse o melhor para eles. A presença de Harry na vida de Hermione e Ron só os fizera correr riscos ainda maiores dos que enfrentariam em situações normais. A única coisa boa que causara os dois fora fazê-los ficarem amigos, mesmo que talvez com o tempo, em uma vida sem Harry, pudessem ter se encontrado do mesmo jeito.

Como prometido, Ginny veio no outro dia. E no outro. E no outro. Passava horas conversando com Harry, falando sobre banalidades e quadribol e a escola. Desabafava sobre seus segredos mais profundos, bebia metade de seu firewhisky e chorava lembrando de tudo o que havia perdido. Trazia comidas da Sra. Weasley e o observava como um falcão até garantir que havia comido tudo.

Com uma semana, já passava a maior parte do seu dia com ele. Harry havia adequado a sua rotina inteira – que antes consistia em acordar, fingir comer alguma coisa, lamentar sobre a sua vida enquanto tentava se forçar a ler algo da biblioteca dos Black e beber até dormir – para a presença da ruiva. Estava se alimentando melhor, dormindo melhor e sinceramente considerando sair de casa, nem que fosse para ver Molly, que continuava mandando cartas regularmente.

E então chegou a hora de Ginny voltar para Hogwarts e todos os seus bons hábitos se deterioraram.

Sabia, racionalmente, que não era saudável depender emocionalmente de alguém como estava dependendo da ruiva, e que deveria fazer algo por si mesmo, sem precisar do incentivo externo. Sabia, também, que precisava de ajuda.

Harry Potter não estava bem e se isolar das pessoas que amava não o estava ajudando a melhorar.

(Mas você sabe que quebra tudo o que toca e sabe que vai destruir a vida de mais alguém. Você sabe que se afastar é melhor para elas e que está sendo egoísta em trazê-las de volta para a sua vida. Você não se importa tanto quanto pensa, pois se se importasse, sumiria da vida de todos de uma vez.)

Isso não o impediu de passar a primeira semana de setembro tão bêbado que não conseguia diferenciar o dia da noite, comendo apenas quando forçado por Monstro e ignorando que não tomava banho a dias e havia dormido no chão da cozinha mais vezes do que poderia contar.

Não era justo com Ginny que o seu bem-estar estivesse relacionado estritamente com a presença dela. Não era justo colocar nas costas de uma garota de 17 anos, que havia acabado de perder um irmão e amigos próximos, a responsabilidade de ser a única garantia de sobrevivência de uma pessoa mentalmente instável como Harry.

O fato de saber que não tinha saúde emocional para qualquer laço mais profundo não o impedia de ter, inconscientemente, associado Ginny a um oásis em meio ao deserto, e agora estava sedento pela presença que não mais estava disponível.

Fora Ron, que passara quase dois meses ignorando, que limpara o seu vômito e escondera todas as garrafas de bebida da casa. Fora Ron que o dera banho, o vestira em seu pijama mais confortável e o colocara para dormir. Fora Ron que o recebera na cozinha pela manhã, panelas com comida vindas diretamente da Toca, pronto para o acolher.

Sem julgamentos, sem gritos, sem nada além da companhia silenciosa do seu primeiro amigo.

Não sabia como pedir desculpas, nem sabia se deveria. As coisas se tornavam cada vez mais difíceis, principalmente quando tinha que enfrentar as consequências de suas escolhas.

— Eu nunca esperei viver até os 17 anos. Eu nunca esperei realmente ter que fazer escolhas adultas sobre o meu futuro, pois eu não achava que precisaria. Não realmente. E eu vejo todos vocês seguindo com a vida e eu nunca pensei que estaria aqui para fazer o mesmo.

Seus olhos se encheram de lágrimas que se recusava a derramar e estavam focados no seu prato intocado. Não queria encarar o amigo, não queria ver a sua reação a seu pequeno discurso emocional que não tinha a intenção nenhuma de declarar, muito menos em um momento como esse. Um silencio contemplador desceu sobre a cozinha, como se Ron estivesse digerindo as suas palavras com cuidado.

— Mas você está vivo, Harry, o que você vai fazer para o resto da sua vida não importa, – o ouviu dizer, a voz mais séria do que estava acostumado, – não me importa se você vai ou não para Hogwarts ou para os aurores ou se vai apenas aproveitar a sua fortuna. Você está vivo, Harry, e você está aqui e é só isso que eu preciso de você, okay? Eu preciso que você viva e que me deixe fazer parte da sua vida.

Demorou alguns segundos para realmente absorver o que o amigo havia dito. Ele e Ron não tinham conversas extremamente profundas a maior parte do tempo, nenhum dos dois eram pessoas que tinham uma grande inteligência emocional desenvolvida. Mas nesses momentos, apenas Ron e Harry, como havia sido no começo, era fácil buscar conforto nos braços do amigo e apenas se deixar respirar.

— Eu não sei como, Ron.

— Não se preocupe, Harry, eu te ensino.

Depois de terminarem o café da manhã, estava drenado – física e emocionalmente. Passou o dia apenas conversando sobre quadribol com Ron, enquanto ouvia sobre a viagem para a Austrália e como ele e Hermione ficariam enquanto ela estava na Escócia estudando e ele em Londres treinando junto aos aurores.

Fora um bom dia, melhor do que esperava. Após se despedir do amigo, finalmente teve coragem de responder as cartas de Ginny que nem mesmo havia aberto.

Talvez não estivesse preparado para reatar seus laços de onde havia os deixado, menos ainda pronto para seguir em frente, mas estava disposto a tentar fazer alguma coisa de sua vida. E para isso, precisava dar um passo de cada vez, pequenos e dolorosos, mas esperava que fosse valer a pena.

Pelo sorriso na voz de Ron, certamente parecia valer.

 

Take my mind

And take my pain

Like an empty bottle takes the rain

And heal, heal, heal, heal

— Heal, Tom Odell

 

Uma das primeiras coisas que fez assim que se sentiu estável o suficiente foi mandar uma carta para Andrômeda Tonks, pedindo desculpas e notícias de Teddy. Talvez essa não fosse uma ponte que estava pronto para cruzar nesse momento, mas desejava pelo menos saber mais sobre o seu afilhado.

Logo trocava cartas quase que diariamente com a mulher. Da mesma forma, havia voltado a responder as cartas de Molly, mesmo declinando os convites para almoços e jantares na casa dos Weasley. Ron aparecera mais algumas vezes para o visitar, sempre trazendo notícias de Hermione e todos os outros, um rosto amigo preocupado no meio da torrente de pensamentos disfuncionais que Harry tinha sobre si mesmo.

Ginny, assim como a maior parte dos estudantes maiores de idade, havia conseguido permissão para passar dois finais de semana em casa ao mês. Não achava que ela iria trocar tempo com os pais e os irmãos pela companhia miserável de Harry, mas no sábado a tarde ela estava em sua porta, irradiando uma mistura de felicidade com algo que não sabia decifrar.

Seus olhos imediatamente saltaram para o cabelo dela. Antes uma cascata ruiva que ultrapassava a sua cintura, agora estava cortado um pouco acima dos ombros, uma franjinha completando o seu novo visual. Dava um ar mais jovem, assim como as bochechas rosadas de quando notou o olhar de Harry.

— Gostou? Eu decidi tentar algo novo, – e mexeu na alça da sua bolsa de maneira nervosa, corando ainda mais.

— Nossa, Gin, está incrível.

E ficou feito um bobo a encarando por dois minutos, sem perceber que não a havia convidado para entrar. Estava nervoso e desajeitado, mas a queria ali mais do que conseguia por em palavras, então era apenas natural que não soubesse exatamente o que fazer.

Depois de finalmente deixá-la entrar, continuaram a rotina que haviam estabelecido algumas semanas antes, mas dessa vez sem a bebida, que Ron ainda não revelara onde havia escondido e Harry não havia colocado muito esforço para procurar. Estava desenvolvendo um hábito ruim e era melhor cortá-lo pela raiz antes que realmente se instalasse.

Quando se despediram mais tarde, sentia-se leve. A mera presença de Ginny o fazia esquecer dos seus problemas – que não eram poucos.

E então sonhara com Ginny gelada em seus braços, olhos castanhos sem vida o encarando fixamente, enquanto ouvia os barulhos da batalha e a risada maníaca de Bellatrix. A vira se juntar as figuras espectrais de James e Lily, o convidando a segui-los, um sussurro de que não doeria, que poderiam finalmente ficar juntos para sempre.

Acordou com um grito engasgado na garganta e lágrimas escorrendo impiedosamente por seu rosto. Nem mesmo tentou pará-las. Horas depois, Hermione e Ron o encontraram na mesma posição, ainda soluçando em sua cama.

(Você achou que estava melhorando, que se ignorasse a sua dor e se forçasse a voltar a viver em sociedade, tudo ficaria bem. Mas você não sabia o que era estar bem e provavelmente nunca saberia. Fora idiota de sua parte tentar.)

Passara o que poderiam ter sido minutos, dias ou séculos nos braços dos melhores amigos, respirando junto a eles para tentar se acalmar. Eles nunca tinham te visto dessa maneira. Raiva era algo que esperavam, mas esse vazio que ficava cada vez maior e que consumia cada um de seus pensamentos era algo que não estavam preparados. Nem deveria, não era dever deles cuidar de Harry. Foi o que disse a eles, quando finalmente conseguiu ter ar o suficiente para falar.

— Não seja idiota, cara, a gente vai estar aqui para você sempre, – disse Ron, enquanto revirava os olhos e apertava ainda mais o seu abraço.

— Ronald está certo, nunca iremos o deixar, principalmente enquanto está passando por uma situação difícil, – completou Hermione, no seu tom de “é-melhor-você-me-escutar-se-não” que todos haviam aprendido a temer.

Depois, quando conseguira se separar dos amigos e descer para tomar café da manhã, era claro que ambos queriam conversar sobre o que havia acontecido. Enquanto não necessariamente queria falar sobre o problema, não estava com energia o suficiente para tentar impedir Hermione, então apenas começou a tomar o seu chá e esperou pela garota.

— Em partes você estava certo, Harry, – começou lentamente, pesando cada palavra como fazia quando não sabia exatamente continuar a frase, mas disposta a tentar mesmo assim, – não sobre eu e Ron não cuidarmos de você, isso é no mínimo um absurdo e eu nunca mais quero ouvir algo sobre. Mas a verdade é que nós dois não somos equipados para lidar com os seus problemas, nem mesmo sabemos lidar com os nossos.

— E o que você quer dizer com isso? – Perguntou levantando uma sobrancelha, sem tirar os olhos do seu chá.

— Eu acho que você precisa de ajuda especializada, Harry, alguém que possa realmente fazer a diferença.

O silêncio desconfortável que se instaurou foi quebrado pela risada incrédula de Ron, que começou a falar sobre como não era bem visto buscar medibruxos da mente, pois normalmente apenas pessoas gravemente afetadas os visitavam. A lembrança de Frank e Alice Longbottom cruzou a sua mente e fez uma careta para o pensamento.

— Eu estou! – Exclamou Hermione com força, calando o namorado. Inspirou profundamente antes de continuar, dessa vez com os olhos fixos na mesa. – Eu estou fazendo acompanhamento, certo? Eu sabia que os sangue-puro ainda são fechados em relação a isso, o que não me surpreende com a falta de noção do mundo bruxo como um todo, mas eu precisava disso mais do que eu esperava.

Respirou fundo novamente, antes de colocar a cabeça entre as mãos, parecendo envelhecer alguns anos nesse momento. Era difícil ver Hermione tão desolada, mas nada incomum depois do ano que viveram.

— Eu não tenho nem 20 anos e tive que encarar uma guerra, o quão surreal é isso? Sem contar com a história com os meus pais. Estava se tornando impossível continuar do jeito que estava, então assim que eu voltei para Hogwarts tomei essa decisão. Não sei ainda se vai adiantar de alguma coisa, mas eu acho importante tentar.

Calaram-se novamente, cada um perdido em seus próprios pensamentos. A ideia era absurda em muitos níveis e nunca havia pensado em fazer nada do tipo. Mas a verdade é que queria ficar bem e saudável e quem sabe um dia feliz, e, nesse momento, precisava de toda a ajuda que poderia conseguir. E se o mundo bruxo o tacharia como louco por isso, bem, não seria a primeira vez.

— Eu vou pensar sobre, Mione.

E realmente passou o resto da semana procurando informações e pesando os prós e os contras de tomar esse passo. O que o fez se decidir a favor foi uma conversa que teve com Andrômeda, na primeira vez em que foi visitar Teddy. Queria ser presente na vida do menino, mas seria impossível se continuasse no rumo destrutivo em que estava.

Depois de tomar a decisão, pediu a mulher que procurasse um profissional confiável que não sairia espalhando os segredos de Harry Potter para o jornal e um advogado que criasse um contrato de confidencialidade para impedir que pudesse divulgar o que seria dito, de qualquer forma.

Após isso o resto de seu ano fora caótico. Ginny ainda mandava cartas e o visitava duas vezes no mês, passou a sair para ver Teddy e o seu conselheiro, até mesmo apareceu para o Natal na Toca, para a felicidade da Senhora Weasley e todos os presentes. Com a virada, as coisas entraram em uma rotina mais leve e lenta, exatamente o que desejava.

Todos os dias as coisas continuavam difíceis e a voz na sua cabeça que repetia inúmeras vezes que não merecia a felicidade que estava tendo não havia se calado, mas cercado de pessoas que amava e continuando o seu acompanhamento terapêutico, sabia que estava melhorando. A passos lentos, as vezes regredindo, com recaídas e fraquezas, mas até onde fora informado era normal, então tentava não se deixar abalar.

A festa de aniversário de um ano de Teddy fora um dos eventos mais felizes de sua curta vida, assim como o marco de um ano da Batalha de Hogwarts fora um dos seus pontos mais baixos, onde nada nem ninguém conseguiu o tirar do humor sombrio em que estava. O problema de ter uma vida com mais baixos do que altos era a dificuldades de se erguer do poço que ele mesmo havia cavado.

A formatura de Ginny, Luna, Hermione e Neville marcou a primeira vez em que pisou em Hogwarts desde o fatídico dia. Mesmo com todas as lembranças ruins, a escola ainda emitia uma energia acolhedora inigualável. E fora numa conversa com antigos membros da Armada de Dumbledore que finalmente decidira o que faria no seu futuro.

Sentia que estava honrando Remus, de uma certa forma, com o seu novo desejo de ser professor de Defesa Contra as Artes das Trevas.

(Assim como um paralelo assustador com Voldemort, um de muitos que você tenta ignorar, mas que sempre estão gritando no fundo de sua mente.)

E foi assim que Ginny o encontrou um mês depois, quando voltou de sua viagem pela Europa Continental com Luna. Com um novo foco para o futuro, dedicado a cuidar do seu afilhado – que pensava com cada vez mais frequência como um filho – e muito mais estável emocionalmente.

Se um ano atrás ainda houvesse alguma dúvida, agora tinha certeza: amava Ginny Weasley, como nunca pensara em amar alguém, como sempre achara que seria impossível. Amor era algo para pessoas que tinham a vida inteira pela frente e que tinham capacidade de demonstrar seus sentimentos de maneira saudável.

Harry Potter de um ano atrás não estava bem e não tinha nenhuma previsão de melhorar. Pelo contrário, caminhava alegremente para o seu túmulo, seja por excesso de bebida, desnutrição ou por meio de sua própria varinha.

Harry Potter ainda não estava bem, mas estava trabalhando o máximo possível para ficar. Sua vida agora tinha sentido e sabia que sua presença era importante para a vida de outras pessoas. Nada era perfeito e nem nunca seria, mas estava aprendendo a lidar com isso, a realmente enfrentar seus problemas e lutar para manter o seu coração batendo.

Quando Ginny o encontrou em um canto afastado da Toca olhando pela janela, vendo a chuva cair com um sorriso sereno e um copo de chá na mão, e emitiu um pequeno “oh”, algo em sua expressão o fez sentir como se tivesse chance. Algo em seus olhos o deu esperança de que poderiam tentar.

— Senti sua falta, Ginny, – disse, seu sorriso se alargando enquanto catalogava todas as diferenças da viagem.

— Eu não sei se sou a pessoa que você sente falta, Harry. Muita coisa mudou.

Respondeu sarcástica, até que se deu conta que talvez brincar com um dos momentos em que Harry estava sofrendo não fosse exatamente adequado. Corou até a raiz dos cabelos e desviou os olhos para o chão. Ele, por sua vez, apenas riu. Riu até lágrimas escaparem de seus olhos, enquanto Ginny o olhava brava e envergonhada.

— Então eu quero conhecer a pessoa que você se tornou, – disse em tom brincalhão, antes de rir mais um pouco, principalmente quando ela o socou levemente no braço.

Quando finalmente se acalmaram, apontou para o novo corte de cabelo – algo ainda mais curto e bagunçado, que a fazia parecer rebelde e madura ao mesmo tempo – e levantou a sobrancelha do jeito que sabia que ela sempre quisera aprender a fazer, mas nunca havia conseguido.

— Gostou? Luna sugeriu e eu achei que ficaria interessante, – questionou tentando levantar a sobrancelha e falhando.

— É, Weasley, eu certamente chamaria de interessante.

— Você acabou de insultar meu corte de cabelo, Potter? – E ela certamente parecia insultada, seus olhos chocolate queimando com irritação, o que só a deixava ainda mais bonita.

— Calma, Gin, só disse que era interessante, – respondeu levantando uma das mãos em sinal de rendição, a outra ainda segurando o seu chá, – está linda como sempre. É impossível que eu não te ache bonita.

Dessa vez os dois coraram e desviaram o olhar. Deixou a xícara precariamente em cima da borda da janela, com medo de derrubar a bebida em cima de si se suas mãos continuassem tremendo do jeito que estavam.

— Obrigada, Harry, você não está nada mal, – sorriu levemente, tentando, por hábito, colocar o cabelo atrás da orelha e falhando por motivos óbvios, o que fez o garoto sorrir também.

Estava claro que nenhum dos dois sabia o que dizer para continuar a conversa, mas o silêncio não era constrangedor, longe disso. Ginny, mesmo o deixando nervoso, nunca o deixara de fato desconfortável.

— O que eu falei de saber mais sobre você é verdade, Ginny, – começou incerto, mas estava disposto a arriscar se o resultado fosse outro sorriso tímido como o que recebera, – talvez você pudesse me contar mais sobre a sua viagem em um jantar?

— Está me chamando para sair, Potter? – E lá estava o sorriso que amava, direcionado apenas para ele.

— Estou, Weasley, – respondeu no mesmo tom sarcástico.

— Então é um encontro.

Disse em tom brincalhão, o que poderia ter o deixado para baixo se não fosse o fato de que se aproximara timidamente e dera um beijo em sua bochecha, corando lindamente, antes de se afastar e ir embora de maneira imediata, o deixando atordoado, sem reação. Quando despertou, apenas levantou a mão ao rosto lentamente e se permitiu sorrir.

Ginny havia saído sem nem mesmo saber os detalhes do jantar que concordara. A parte importante, pelo menos, os dois já sabiam: era um encontro.

 

And you said, "this is the first day of my life

I'm glad I didn't die before I met you

Now I don't care, I could go anywhere with you

And I'd probably be happy"

First Day Of My Life, Bright Eyes

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí, galera?
Comentários são sempre bem vindos, a autora não morde, eu juro!
Espero que tenham gostado, estou sempre aberta a feedbacks e até a próxima.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "and I built a home (for you)" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.