— Como? — Elijah passa seu olhar crítico pelas centenas de cartas em cima da mesa.

— Mágica — pisco para ele, que sorri.

— Elle é ótima em ser passiva agressiva, os convites ficaram ótimos — Gianna comenta, pegando um doce na geladeira e devorando. Vampiros não precisam de sangue aqui, eles comem como pessoas normais.

— Obrigada. É um dom — dou de ombros, então me concentro em Elijah novamente — cada criatura de New Orleans vai receber um convite para o baile de amanhã. É tempo o suficiente para arrumarem roupas e se organizarem, mas não para criar um plano eficiente para nos prender.

— Não um bom plano, pelo menos — o original completa. Assinto.

— Podem já estar armando para vocês desde que chegaram, mas não contavam com esse evento — continuo — vai parecer a oportunidade perfeita para atacar, mas estaremos preparados.

— Absolutamente — ele se senta ao meu lado — Abaccus está como um maestro conduzindo uma orquestra. É fascinante observar.

Desde a noite passada meu amigo planejou cada detalhe da festa com esmero.

— Eu sei — sorrio — ele realmente faz as melhores festas desse lado. Até amanhã essa mansão será transformada no ambiente perfeito.

Estendo minhas mãos para as cartas e murmuro algumas palavras e elas desaparecem.

— Pronto — falo — cada criatura de New Orleans recebeu um convite nesse exato minuto. Mandei também os extras que pediram.

— Contagem regressiva para o caos! — Gianna grita animada e sai da cozinha.

— Ela é uma peça — Elijah comenta.

— Totalmente — suspiro. Me levanto e o moreno automaticamente me segue, educado — vou reforçar o feitiço de barreira e preparar brechas para que possamos escapar se necessário. Quer vir?

— Será um prazer.

Passamos as próximas horas cobrindo pedaços específicos que marquei na noite passada, reforçando o feitiço. Quando finalmente voltamos, pisco algumas vezes com a sensação forte que alguém está perto do território. Funcionou. Fico aliviada por reconhecer quem é. Paro no hall de entrada e Elijah não diz nada, apenas me observa pacientemente. Em poucos minutos a porta principal é aberta sem hesitação.

— Eu não posso acreditar! — Dakota entra junto com Josh, me fazendo sorrir. Estava imaginando quando eles apareceriam.

Josh é um vampiro que era muito amigo de Davina. Então, quando ela morreu e ficamos juntas, ele acabou de aproximando de mim por tabela. Mesmo depois de Davina ir, o vampiro continuou sendo um bom amigo, mesmo que nossa relação não seja tão profunda quanto a dele com minha duplicata. Ele e seu namorado estão constantemente se aventurando com Gianna, já que ela é muito boa em tirar os outros do tédio. Dakota é uma bruxa que morreu um pouco antes de Hayley. Ela imediatamente fez amizade com Abaccus e ele a trouxe para o nosso grupo. A jovem nunca se importou com minha má fama por aqui. Apesar de toda a crença das bruxas de que eu sou uma abominação, Kota diz que abominação mesmo é o aquecimento global e as consequências do capitalismo. Eu a adoro.

— Eu não posso acreditar — Josh olha em choque para Elijah — então é verdade mesmo.

Já ouvi algumas histórias de Josh de como os Mikaelson o meteu em enrascadas. Imagino o quanto deve estar sendo desconfortável para ele agora.

— Josh — Elijah lhe dá um sorriso educado, inclinando a cabeça em cumprimento.

— Elijah — Josh imita o original — onde está Klaus?

— Ajudando Abaccus junto com Gianna na sala principal — respondo.

— Eu quero! — Kota praticamente saltita para longe de nós. Josh nos encara por um momento e segue a amiga.

— Poderia ser pior — Elijah comenta.

— Poderia — concordo. Amanhã ele verá o quão pior pode ser, esse pensamento me causa arrepios.

— Vai ficar tudo bem — é como se ele lesse minha mente — somos fortes. Vamos passar por isso com classe e controle.

— Se você diz — encolho os ombros.

Decido então escolher minha roupa para amanhã. Subo para o meu quarto e abro meu guarda roupa, passando a mão pelas peças sem pressa. Depois daqui ainda precisaria revisar o feitiço para bloquear os poderes de todos. Algo poderoso demais e que eu precisaria de ajuda. Nada animador.

Alguém bate a minha porte e eu digo que pode entrar. É Hayley. Ela havia saído mais cedo para avisar os lobos antes que recebessem os convites. 

— Ei — dou um abraço rápido nela — como estão os lobos?

— Ansiosos — ela resume com uma careta — Jackson não queria vir. 

— Claro que não — reviro os olhos — mas você convenceu ele — afirmo. Ela sempre convence.

— Sim. Então meu problema atual é outro — ela se senta na minha cama.

— Sim? — pergunto preocupada, voltando a mexer em minhas roupas. Eu definitivamente precisarei pedir por um vestido de baile. Todos aqui são menos. Eu preciso de mais. Algo extravagante, que eu possa usar como um escudo social.

— Precisamos contar a eles sobre seus pais e a maldição — paro imediatamente de mexer em meu guarda roupa e viro-me para ela.

— Você está certa — concordo, relutante — é melhor eles descobrirem por você.

— Nós — ela corrige, se aproximando — eu não quero fazer isso sozinha. É... Doloroso.

— Eu sei — é doloroso para mim também — será difícil para eles. É... É bom você ter apoio.

— Então... Vamos? 

Assinto, a seguindo até o escritório no andar do andar de cima, apenas algumas portas de distância. Elijah e Niklaus bebem whiskey juntos, conversando. Eles param e nos encaram. 

— Tudo bem? – Elijah questiona. Provavelmente nossas expressões não é das melhores.

Fecho a porta e me aproximo, me encostando na mesa e assim tendo a visão dos dois. Hayley fica parada em pé um pouco atrás. Os irmãos trocam olhares.

— Tem algo que vocês precisam saber — Hayley começa, cautelosa.

— O quê? — Niklaus questiona, fechando a expressão.

— Sua mãe... teve algumas desavenças com os Ancestrais — conto, sem conseguir encará-los diretamente — eles fizeram acordos, tiveram altos e baixos, mas no final houve um confronto e uma maldição foi lançada. Esther acabou presa pelos bruxos.

— Mikael também não foi nenhum santo — completa Hayley — ele também está preso. Junto com ela, aliás.

— Tecnicamente — ergo meu olhar para eles — todos nós estamos presos. Presos em New Orleans.

— Não podemos sair daqui? — Elijah sussurra. Niklaus parece paralisado, seus olhos azuis profundos grudados nos meus.

— Ninguém pode — respiro fundo, falar sobre isso é como mexer em uma ferida — quem morreu em New Orleans desde que a maldição foi lançada, fica preso na New Orleans desse lado.

— Isso é um pesadelo — Elijah se levanta, afrouxando sua gravata.

— Sim, sim é — murmuro, concordando.

— Achamos melhor vocês saberem por nós do que pelos outros — Hayley diz suavemente.

— Algo mais que precisamos saber? — a voz de Niklaus é vazia e ele encara seu copo apenas.

Eu e Hayley trocamos olhares.

— É óbvio mas... Não confiem em ninguém — murmuro, me ergo, andando até a porta. Eles precisam absorver as notícias.

— Além de nós, claro — completa Hayley, mas internamente não me acho incluída. Não sei se eles podem confiar em mim. Em uma situação de eles ou eu...

Saio do escritório, mas em vez de ir até meu quarto vou até o cômodo destinado a bruxaria. Pego meu grimório e reviso o feitiço que preciso, coletando também todos os ingredientes. Poucos, mas difíceis de conseguir. Felizmente, eu sou a rainha do dar um jeito.

No dia seguinte, a casa parece ter outra atmosfera. Uma expectativa está no ar, junto com toda a elegância ostensiva da decoração. Tudo é do mais puro ouro, pedras preciosas, tecidos sofisticados e objetos valiosos. A iluminação é perfeita em adicionar um mistério ao ambiente. 

Fazendo cinco minutos que os portões se abriram para os convidados, estou tomando coragem no meu quarto, junto com Gianna e Abaccus.

— Eu não acredito que realmente estamos fazendo isso  — murmuro ao me olhar no espelho. Meu vestido será o mais radiante da festa, com certeza. Dourado da cabeça aos pés, sensual e sofisticado. Minha máscara é preta fosca com detalhes dourados, assim como a dos outros: os irmãos Mikaelson, Gianna, Hayley, Abaccus e Dakota. Josh não quis se envolver, usando algo imposto pelos outros vampiros. Sim, todas as raças sobrenaturais decidiram usar cores padrões e máscaras padrões. Vampiros de vermelho, bruxas de branco e lobisomens de cinza. Nós, os anfitriões, ficamos com o preto e dourado.

— Eu sei! Estou tão empolgada — comenta Gianna, entrando no banheiro para ajeitar sua maquiagem uma última vez.

Aproveito a oportunidade para falar com Abaccus. Ele usa a cor dos bruxos, branco, mas sua máscara é igual a minha.

— Você sabe... O que os outros vão pensar sobre você estar aqui. Ajudando. 

— Eu sei. E não ligo — dá de ombros — você é minha família, Elle. E se os Mikaelson estão entrando a bordo agora, estão sob minha asa também.

— Você não tem medo? — porque eu tenho, quero dizer mas me mantenho calada. Ninguém precisa saber que sou uma medrosa.

— Eu tenho medo de algumas coisas sim. Mas não disso e nem de nada que venha como consequência — sorri tranquilo — às vezes temos que apostar alto para conseguir o que queremos. 

— E o que você quer?

Mas ele apenas continua sorrindo e sai do quarto, me deixando confusa para trás.

— Abac foi na frente? — pergunta Gia ao sair do banheiro.

— Sim — me viro para ela, que usa um vestido vermelho com detalhes dourados — como estão seus poderes?

— Audição ok — em um piscar de olhos ela está em frente a porta  — velocidade ok — e então arranca a maçaneta com facilidade — ops. Força ok.

Reviro os olhos e saio do quarto com ela, trancando meu quarto com magia. Ao chegar perto da escadaria, observo meus aliados e amigos. Hayley está usando um vestido cinza com detalhes vermelho e dourado. Dakota usa um vestido preto em seu costumeiro estilo hippie, com detalhes em branco. Os irmãos Mikaelson usam ternos chiques pretos com detalhes em dourados. A gravata de Elijah é vermelha, enquanto a de Niklaus é cinza, mas há um lenço vermelho em seu bolso. Todas as máscaras iguais a minha.

Nem sinal de Josh. Tudo bem. Eu entendo.

— Eles estão doidos por conseguirem usar seus dons  — sorri Gianna, apontando para baixo — consigo ouvir tantos xingamentos que até minha mãe coraria.

— Está cheio — conta Hayley. 

— Oh — é tudo que sai da minha boca.

— Está na hora — avisa Abaccus. Meu estômago se contorce com a informação.

— Com vocês, nossos anfitriões — um homem nos anuncia com entusiasmo, com uma música suave de fundo — os Mikaelson!

Meu coração parece pular uma batida com isso. Não só os Mikaelson, penso, mas isso não importa. Tudo que eles enxergam são os originais. Mas os outros não passam despercebidos. Eu não passo.

Hayley, Gianna e Abaccus lideram o caminho. Algo simbólico e poderoso, uma loba (híbrida, na verdade), uma vampira e um bruxo juntos. Amigos. Depois deles vai Dakota sozinha. Eu tento ir com ela, mas Niklaus me segura gentilmente pela mão e me faz esperar. E então eu desço com os irmãos, bem no meio deles. Discretamente solto a mão de Niklaus da minha. Passo os olhos pela multidão que preenche o salão, tentando me manter indiferente. Elijah capta meus sentimentos, porque sorri suavemente.

— Poderia ser pior — sussurra para mim.

Poderia, concordo. Até agora ninguém jogou legumes podres em nós. Só precisamos manter a pose...