Laços Improváveis escrita por Alice Dias


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Essas últimas semanas foram muito corridas por conta da faculdade e eu sei que vocês estavam ansiosas pelo próximo capítulo hihihihi



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POV Edward 

 

Na noite anterior à reunião com Isabella Swan, Edward Cullen fazia sua caminhada pelo centro de Forks, tentando manter um ritmo constante. Embora gostasse dos benefícios que o exercício lhe trazia – fazia cinco anos que era um praticante assíduo –, vinha sendo difícil mantê-lo desde que ele se mudara para lá. Toda vez que saía, uma chuva forte começava, fazendo-o voltar para casa.

Forks deveria estar no topo das cidades mais chuvosas do país e, talvez essa melancolia que o clima nublado causava nas pessoas, fosse o motivo dele ter se mudado, pois sua vida atualmente parecia enevoada.

Mudara-se para antiga propriedade de seus pais, a poucos quilômetros do rio Sol Duc, no norte da cidade. A casa tem mais de um século, reformada por sua mãe Esme, quando ele ainda era criança. Uma casa atemporal e graciosa. Pintada de branco e com portas e janelas que faziam parte da estrutura original. Mas sua família morou pouco tempo. 

O que ele mais admirava, porém, era o fato daquela casa ser um dos poucos imóveis que sofreram alterações. Ao contrário do Alasca, onde as restaurações ocorreram em grande parte graças a uma doação das fundações para seduzir os próprios moradores. Sua família havia se mudado quando seu pai foi trabalhar como Médico no centro especializado de trauma no Alasca quando ele tinha apenas 8 anos. Mesmo assim, enquanto caminhava, pensava em como seus pais decidiram trocar essa vida calma, uma cidadezinha relativamente isolada, por um lugar onde a maioria das pessoas iam apenas para passar as férias.

Depois que Edward se divorciou, eles começaram a insistir para que o filho não fosse embora. Conhecendo a mãe, ele havia adiado a mudança por um ano. No entanto, morar em uma cidade pacata era exatamente o que ele precisava.

Praticamente no momento em que chegara, ele havia compreendido que Forks não era uma cidade para solteiros. Não havia muitos lugares para se conhecer gente nova e as pessoas da sua idade que ele havia encontrado já eram casadas e tinham família. Como em muitas cidades do Sul, a vida ali ainda era definida por certas convenções sociais. Como a maioria das pessoas era casada, um homem solteiro tinha dificuldade para encontrar seu lugar ao sol, ou mesmo para começar a tentar encontrá-lo. Principalmente um homem divorciado e recém-chegado à cidade.

Mas Forks certamente era o lugar ideal para se criar filhos. Às vezes, durante as caminhadas, Edward gostava de fantasiar que sua vida era diferente. Sempre imaginou que um dia iria se casar, ter filhos, uma casa em um bairro residencial, no qual as famílias se reunissem no quintal na sexta-feira à noite – o tipo de vida que tivera na infância. Mas não era isso que tinha acontecido. Uma coisa ele havia aprendido: a vida raramente segue nossos planos.

Durante algum tempo, no entanto, ele acreditava que tudo fosse possível, principalmente depois de conhecer Tanya. Edward estava terminando sua formação em pedagogia e ela voltava para casa depois de um intercâmbio na Inglaterra. A família dela, uma das mais importantes do Alasca, era conhecida por sua soberba e pela fortuna que ganhara no setor bancário. Tanya, porém, parecia ir contra os valores da família e todos paravam para olhá-la quando ela chegava e, embora ela tivesse consciência disso, sua qualidade mais cativante era ser capaz de fingir que o que os outros pensavam dela não tinha a menor importância.

Fingir, naturalmente, era a palavra-chave.

Edward sabia quem ela era quando a viu aparecer em uma festa e ficou surpreso quando ela foi cumprimentá-lo mais tarde na mesma noite. Os dois se deram bem na mesma hora. Aquele bate-papo rápido levou a um café e a outra conversa, mais longa, no dia seguinte e, depois disso, a um jantar. Em pouco tempo, os dois começaram a namorar firme e ele se apaixonou. Um ano depois, Edward a pediu em casamento.

A mãe de Edward ficou animadíssima com a notícia, mas o pai não disse muita coisa a não ser que torcia pela felicidade do filho. Talvez ele desconfiasse de alguma coisa, ou talvez apenas já tivesse vivido o suficiente para saber que contos de fadas raramente viram realidade. Seja como for, não lhe disse nada na época e Edward nem sequer se preocupou em questionar a atitude do pai, exceto quando Tanya lhe pediu que assinasse um pacto pré-nupcial. Ela alegou que a família havia insistido naquilo e se esforçou bastante para pôr a culpa nos pais, mas parte de Edward desconfiou que, mesmo que estes não estivessem por trás da decisão. Mesmo assim, assinou os documentos. Naquela mesma noite, os pais de Tanya deram uma festa de arromba para anunciar formalmente o noivado e o casamento.

Sete meses depois, Edward e Tanya estavam casados. Passaram a lua de mel na Grécia e na Turquia. Ao voltar para o Alasca, se mudaram para uma casa a menos de dois quarteirões de onde os pais de Tanya moravam.

Edward começou a lecionar para o segundo ano do ensino fundamental em uma escola do centro da cidade. Nos dois primeiros anos de casamento, tudo parecia perfeito: nos fins de semana, ele e Tanya passavam horas na cama, conversando e fazendo amor, e ele compartilhava com a esposa seus sonhos.

Vários meses se passaram até que Edward e Tanya tiveram sua primeira briga séria. Tanya demorou para chegar do trabalho e Edward à sua espera, perguntando-se por que ela não tinha ligado e imaginando que alguma coisa horrível tivesse acontecido. Quando ela finalmente chegou estava histérica. “Você não é meu dono”, foi toda a explicação que deu, e daquele ponto o bate-boca se inflamou depressa.

No calor da briga, ambos disseram coisas horríveis. Horas depois, Edward estava arrependido e Tanya pedia desculpas. Depois disso, porém, ela começou a parecer mais distante, mais reservada. Quando Edward pressionava, ela negava que seus sentimentos por ele tivessem mudado. “Vai ficar tudo bem”, dizia, “nós vamos superar isso.”

Pelo contrário: a relação dos dois foi ficando cada vez pior. A cada mês que passava, as brigas ficaram mais frequentes e a distância entre eles, maior.

Seu casamento havia acabado.

Duraram menos de três anos. Edward estava com 27. Os doze meses seguintes passaram num borrão. Todo mundo queria saber o que havia acontecido, mas, exceto pela família, Edward não contou a ninguém. “Não deu certo”, era tudo o que dizia sempre que alguém perguntava.

Foi nessa época que percebeu que precisava sair da reserva Denali, que precisava recomeçar sua vida em outro lugar. Um lugar onde as lembranças não fossem tão dolorosas, um lugar onde havia morado na infância.

Agora, percorrendo as ruas de Forks, Edward fazia o possível para tocar sua vida adiante. Às vezes ainda era uma luta, mas não tão difícil quanto já tinha sido. Os pais o apoiaram à sua maneira.

Depois disso, Edward se dedicou àquilo que tanto amava. A única decisão da qual jamais se arrependerá. Amava lecionar, amava trabalhar com crianças. Sempre que entrava em sala e via trinta carinhas ansiosas erguidas na sua direção, tinha certeza de que escolheu a carreira certa.

No início, como a maioria dos jovens professores, era idealista e imaginava que conseguiria estimular qualquer criança, desde que insistisse o bastante. Para sua tristeza, descobrirá que não era assim. Por mais que se esforçasse, por algum motivo certas crianças permaneciam alheias a qualquer coisa que ele fizesse. Essa era a pior parte do trabalho, a única que às vezes lhe tirava o sono, mas nunca a impedia de tentar outra vez.

Ainda precisava repensar algumas coisas em seu planejamento para as aulas. Desde que começou o ano letivo, tinha descoberto que muitos alunos não estavam tão adiantados quanto deveriam nas matérias principais, e precisará diminuir um pouco o ritmo e fazer revisões. Não ficou espantado com isso: cada escola avançava em um ritmo diferente. Imaginava, porém, que no final do ano a maioria da turma acabaria atingindo o nível esperado. Mas uma aluna em especial a estava deixando preocupado.

Renesmee Swan.

Ela era uma menina boazinha: tímida, quieta, o tipo de criança fácil de passar despercebida. No primeiro dia de aula, ficou sentada nos fundos da sala e respondeu educadamente às suas perguntas, mas, depois de trabalhar em Denali, ele havia aprendido a prestar atenção em alunos assim. Às vezes seu comportamento não significava nada em especial; outras vezes, indicava que a criança estava tentando se esconder. Depois de pedir à turma para entregar o primeiro dever de casa, ele fez uma anotação mental para verificar com cuidado o de Renesmee. Não foi necessário.

O dever – um parágrafo curto sobre alguma coisa que os alunos tivessem feito no verão anterior – era uma forma de Edward avaliar rapidamente a capacidade de redação das crianças. A maioria das redações trazia o esperado: algumas palavras com erros de ortografia, pensamentos incompletos e caligrafia desleixada, mas o trabalho de Renesmee havia se destacado pelo simples fato da menina não ter feito o que o professor pediu. Ela havia escrito seu nome no canto superior do papel, mas, em vez de redigir um parágrafo, desenhou a si mesma colhendo uma flor.

Quando ele lhe perguntou por que não tinha feito o que pedira, Renesmee havia explicado que a Sra. Berty sempre a deixava desenhar porque “eu não sei escrever muito bem”.

O alarme na mente de Edward disparou na mesma hora. Ele sorriu e se abaixou para ficar mais próximo dela. “Pode me mostrar como você escreve?”, pediu. Depois de um longo intervalo, Renesmee assentiu com relutância.

Enquanto os demais alunos iniciavam outra atividade, Edward ficou sentado ao lado de Renesmee vendo que ela dava o melhor de si. Mas logo percebeu que era inútil: a menina não sabia escrever. Mais tarde nesse dia, descobriu que ela praticamente também não sabia ler. Tampouco se saía bem em matemática. Caso nunca a tivesse visto e precisasse avaliar em que série ela estava, Edward teria dito que era no início do jardim de infância.

A primeira coisa que lhe passou pela cabeça foi que a menina tinha uma deficiência de aprendizado, talvez dislexia. Depois de passar uma semana com ela, porém, não achou mais que fosse o caso. Ela não misturava letras nem palavras, e entendia tudo o que ele lhe dizia. Quando Edward lhe mostrava alguma coisa, sua tendência era fazê-la corretamente dali em diante. O problema, imaginou ele, vinha do simples fato de os outros professores nunca terem exigido que a menina fizesse os trabalhos.

Quando levantou a questão com um ou dois colegas, ficou sabendo sobre o pai de Renesmee. Embora tivesse se solidarizado com a situação, sabia que não era bom para ninguém – muito menos para a menina – simplesmente deixá-la ficar para trás, como tinham feito seus antigos professores. Ao mesmo tempo, Edward tinha outros alunos e não poderia dar a Renesmee toda a atenção que ela precisava. No final das contas, resolveu chamar a mãe da menina para conversar, na esperança de que juntos pudessem achar uma solução.


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Notas finais do capítulo

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