Aquele que ficou para trás escrita por Lukkas


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem



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O som dos passos no corredor escuro ecoavam de forma uniforme pelas paredes, era o único som que era ouvido naquele lugar em eras. Aquele local já havia sido ocupado antes, seus antigos habitantes não hesitaram em deixar aquelas terras quando souberam que poderiam voltar à superfície e viver uma vida melhor. Por conta disso, tudo parecia abandonado, todas as casas por onde o humano passou tinham óbvios sinais de que ninguém esteve por ali há muito tempo. Apesar disso, seu objetivo não estava em nenhuma das casas em específico, estava em um lugar que ficava bem mais ao fundo e ele estava quase lá.

Ele atravessou o grande portão, o salão que se estendia adiante era iluminado por apenas uma pequena brecha nas rochas no teto, a abertura pela qual Frisk caiu no Subsolo estava menor do que ele se lembrava. Porém ele não tinha tempo para pensar sobre isso. O que ele buscava não estava em cima e sim no chão, um pequeno jardim de flores douradas que se localizava exatamente dentro de onde a luz do sol alcançava.

“Eu sei que você está aí.” O humano não falou muito alto, mas o silêncio no local era grande o suficiente para fazer até alguém que estivesse nas salas anteriores das ruínas o ouvisse.

Nenhuma resposta, Frisk se manteve paciente.

“Por que você continua voltando?” Finalmente, uma entre as muitas flores douradas no jardim se ergueu, se destacando entre as demais. A flor tinha olhos e boca, apesar da aparência amigável, sua expressão não era de alegria. “Eu já te disse mais de uma vez que eu não vou pra superfície com seus amiguinhos e viver uma vida feliz. Não está satisfeito com seu final perfeito?”

Frisk negou com a cabeça. Flowey fez sua cara assustadora.

“Não consegue viver com seu fracasso, não é mesmo?”

“Não é isso.” O humano finalmente falou. “Eu entendi sua vontade, não é por isso que eu estou aqui.”

Flowey levantou uma sobrancelha.

“Então o que é?”

“Cinco anos” Frisk começou. “Desde que o dia que saímos daqui, hoje é o aniversário de cinco anos que os monstros deixaram o subsolo.”

“E?”

“Isso foi poucos dias antes de quando eu caí aqui, apesar de não me lembrar quando foi.” Frisk coçou o lado da cabeça.

“Vai direto ao ponto, droga.”

“Você foi o primeiro que encontrei aqui, Asriel.”

Ouvir aquele nome fez Flowey recuar como se estivesse se esquivando de um ataque.

“Não me chame desse nome.” Ele murmurou. “Não sou ele, não mais.”

Frisk baixou o olhar com um sorriso doloroso.

“Entendo...” Ele olhou para Flowey de novo. “Como eu disse Flowey, você foi a primeira pessoa que encontrei aqui. E lá em cima decidimos organizar uma pequena festa entre amigos para comemorar.”

Frisk se aproximou de Flowey que não reagiu ao humano chegando mais perto, a flor percebeu que o humano carregava uma mochila em suas costas. Ele se sentou no chão fora das flores douradas, colocou a mochila em seu colo e abriu o zíper.

“Eu trouxe algumas coisas para você.” Sorriu amigavelmente.

De dentro da mochila Frisk tirou um recipiente de plástico tampado e o abriu. Flowey se inclinou para frente para ver o conteúdo, possuía uma fatia de torta cujo cheiro ele reconhecia mais do que bem.

“Toriel fez pra nós, eu peguei o pedaço que sobrou para você.”

“Como eu deveria comer sem mãos?”

“Eu vim preparado.” Frisk voltou sua atenção para a mochila e tirou um garfo de dentro e usou o utensílio para retirar um pedaço da torta, a criança sorriu. “Abre a boca.”

Flowey fez uma expressão de extremo desgosto.

“VOCÊ NÃO PODE ESTAR SÉRIO SOBRE ISSO!”

“Se você não quer, tudo bem.” Ele recuou o garfo lentamente, sua expressão era provocativa.

A flor encarou o pedaço de torta se afastando, ele franziu os lábios.

“Urgh... Não conte pra ninguém.”

“Claro, diga ‘Ah’”

Flowey grunhiu, mas fez o que Frisk pediu. Logo o pedaço de torta chegou até sua boca, ele mastigou sentindo-a desmanchar deliciosamente. Ele esboçou um sorriso.

“Quer mais?” Frisk perguntou de forma gentil.

Ele ainda não estava muito feliz, mas confirmou com a cabeça. Então outro pedaço da torta preso ao garfo veio até sua boca. Os dois continuaram desse jeito até sobrar apenas farelos dentro do recipiente. Frisk guardou tudo de volta na mochila, o olhar de Flowey estava longe.

“Você só veio pra me dar torta?”

“Eu tenho um presente para você.” Aquilo chamou a atenção da flor, Frisk voltou a olhar para dentro da mochila. “Não sei se você vai gostar, mas eu pensei bastante tempo sobre o que te dar. Eu queria algo que durasse bastante tempo.”

Ele tirou da mochila um colar de prata, com um coração de ponta cabeça preso a ele. Frisk o pendurou em seu dedo indicador e mostrou para Flowey que não esboçou reação.

“Frisk eu não posso nem usar isso, não tenho pescoço.”

“Não precisa usar, só quero que fique com ele.” Frisk se aproximou e colocou o colar em volta da base do caule dele.

Uma raiz se ergueu em meio das flores, pegou o colar e o colocou na altura dos olhos de Flowey. Ele encarou o objeto atentamente por longos segundos.

“Então?”

“Eu vou ficar com ele.”

Frisk se animou e deu um grande sorriso.

“Você cresceu.” Flowey murmurou. “Quando você caiu aqui a nossa diferença de altura não era tão grande.”

“Muitas coisas aconteceram nesses cinco anos.” O humano fez uma expressão nostálgica, muitas lembranças de sua nova vida vieram a tona.

“Como está Papyrus?”

A pergunta veio como uma surpresa para Frisk, mas ele se lembrava de que a flor já havia mencionado o esqueleto antes.

“Ele adorou a superfície, ele viajou com Sans para vários lugares e fez muitos amigos.”

“Entendo...”

Ambos voltaram a ficar em silêncio. Frisk colocou a mochila nas costas.

“Você está indo?”

“Eu sei que você me disse que não vai pra lá, mas você realmente prefere ficar aqui sozinho? Pra sempre?”

Flowey virou o rosto para o lado.

“Se você estiver preocupado com o que os outros farão quando te ver, eu garanto que nada vai acontecer com você.”

“Esse não é o problema, Frisk.”

“Então me diga qual é.”

“EU NÃO TENHO UMA ALMA!” A voz de Flowey ecoou pelas Ruínas. “Você sabe disso, não aja como se não soubesse.”

“Monstros vivem muito tempo...” Frisk começou, Flowey franziu as sobrancelhas. “Muito mais do que nós humanos, um dia eu vou falecer e os outros vão continuar lá. Quando a hora chegar, absorva a minha alma e volte a ser você mesmo.”

Flowey não conseguiu acreditar na sugestão de Frisk, seus olhos se arregalaram. Ele não pode estar falando sério, pode?

“Se eu fizer isso você nunca vai descansar de verdade, você vai ser uma parte de mim enquanto eu viver. Você sabe disso, não é?”

Frisk sorriu.

“Eu não me importo, desde que seja você.”

 “O que Asriel vai pensar sobre isso quando ele voltar?”

“Espero que tanto você quanto ele encontrem em sua nova alma uma maneira de me perdoar.” Sorriu melancolicamente. “Diga a ele que sinto muito.”

Flowey deu um sorriso provocativo. “Você é muito idiota.”

“Eu acho que eu sou.”

“Então eu vou com você.” Ele declarou. “Pra garantir que está dizendo a verdade.“

“Eu já menti pra você?” O humano riu enquanto colocava a mochila de volta no seu colo e tirava um pote e uma pequena pá lá de dentro.

“Não banque o mocinho perto de mim! Tem muito mais sobre você do que os olhos podem ver.”

“Talvez.”

Frisk se aproximou novamente e começou a cavar em volta de Flowey até que ele estivesse livre o suficiente para ser colocado no pote. Depois de terminar ele pegou o colar e o amarrou em volta do pote.

“Nada mal.” Ele disse após observar seu trabalho concluído. “Você é uma flor fofa.”

“Corta essa.”

Frisk sentiu uma vibração em seu bolso, ele limpou suas mãos sujas de terra na camisa e pegou o celular. Havia recebido uma mensagem de Toriel perguntando se estava tudo bem.

“Acho que temos que ir.”

O humano pegou o pote e o colocou dentro da mochila, deixando a cabeça de Flowey escapar para o lado de fora. Ele tomou a direção por onde veio e começou a andar.

“Que tipo de coisa você fez nesses cinco anos?”

“Eu tenho uma namorada linda e sexy.” Frisk respondeu enquanto andava pelas Ruínas.

“O q-que? Desde quando você fala desse jeito?”

O humano gargalhou.

“To brincando com você.”

“Eu sempre soube que você seria um fracassado solitário.”

“Isso é cruel.”

“Mais cruel vai ser passar o resto dos meus dias em um pote na presença do lixo sorridente.”

“Falando nele, ele ta namorando a mamãe.”

“Q-QUEEEEE?!”

Frisk gargalhou ainda mais, andando em direção ao novo capítulo de sua vida.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.



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