Os Teus Acordes escrita por Nami Buvelle


Capítulo 8
Um enigma bastante complexo e cheiroso




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/797155/chapter/8

Um fim de tarde bonito. A mãe de Tomás precisou fazer hora extra no trabalho. Casa vazia, provas se aproximando e um ambiente silencioso, propício para os estudos e a concentração. Um dia perfeito para... aperfeiçoar sua música nova.

Tomás de qualquer forma não queria estudar naquele momento. Estava pensando no que aconteceu na lanchonete. Luiza estava tão linda. Tímida e sorridente. Com certeza estava apaixonada, concluiu outra vez.

Mas como me aproximo dela?

Começou a refletir: eles se esbarraram na rua da esquina e no bar famoso do bairro. Aparentemente ela morava por ali, ou pelo menos estava passando alguns dias por perto. Se ele tivesse sorte, e ele costuma ter, podiam se encontrar novamente. Só que ele podia também dar um empurrãozinho para a sorte. Afinal, sua mãe não estar em casa cedo só poderia ser obra do destino.

"Ei, @ApenasLu,

Sei que geralmente não olhamos o e-mail imediatamente. Na verdade, não sei. Hoje em dia muitos de nós temos o e-mail logado no celular, mas enfim.

Diante da minha análise minuciosa de sua tão encantadora música, gostaria de saber se quer conhecer a minha mais nova composição. Aliás, considero esse seu dever moral!

Mas não se sinta pressionada. Não é todo dia que vamos parar na casa de um estranho. Se preferir, posso te mostrar no quintal, tenho diversos vizinhos espiões. Não tem erro, é segurança para todos os lados.

O endereço é rua três, número 184, bloco B, casa quatro.

É isso.

Não que eu aconselhe ficar visitando estranhos por aí. Você que sabe. Mas se topar, pode aparecer aqui o quanto antes. Juro que sou um cara legal.

Saudações de um cara com certeza legal,

@umTomasReal."

Espero que ela tenha o e-mail no celular. Espero que ela tenha o e-mail no celular. Espero que ela tenha o e-mail no celular. Espero que...

O celular vibrou junto com o coração de Tomás.

Mensagem recebida do Zachary. Ah...

"Mané, você não vai acreditar no que aconteceu!"

Tomás se joga de costas na cama e bufa.

Claro que acredito, quem vai querer ir para a casa de um estranho, assim, de repente? Pelo menos ela é uma pessoa bastante responsável e...

Enquanto resmungava mentalmente, bocejou. A vista pesou e logo Tomás se viu despertando de seu breve cochilo com a campainha. Olho no relógio. Minha nossa! Havia passado uma hora! Como o tempo voa quando estamos em paz.

Ah, é verdade, a campainha.

— Oi, tudo bom? Olha, eu até posso ficar com a encomenda do vizinho, sim, mas nossas caixas de correio são bastante espaçosas para não rolar essa confusão e...

Luiza riu e acenou, sorrindo timidamente.

— Luiza?

Ela o encarou por alguns do que considerou os segundos mais longos de sua vida. Tomás, visivelmente confuso, fez menção para que ela entrasse. Ela preferiu apontar para o jardim de trás de sua casa.

— É claro! O quintal. Claro que podemos ficar no quintal. Só vou pegar minhas coisas e vamos. Fique à vontade!

E é óbvio que a garota não ficou à vontade. Por quanto tempo mais conseguiria fingir que sua falta de palavras era apenas algum tipo de timidez excessiva e seletiva – que só acontecia pessoalmente?

Tomás, em paralelo, foi pegar seu violão, a palheta e deu uma passada no banheiro. Enxaguante bucal, penteada rápida no cabelo e desodorante, sim, desodorante. Agradeceu aos céus por não ter se esquecido. Por curiosidade, parou para checar o celular:

"@umTomasReal,

Sim, sou moderna o suficiente para ter meu e-mail no celular.

Fico bastante encantada e surpresa com seu convite. Da mesma forma que eu estaria me arriscando, indo parar no apartamento de uma pessoa estranha com quem troco mensagens online e partilho amor pela música, você estaria se arriscando em me levar para dentro de casa.

É claro que eu estaria me arriscando mais. Sou bastante consciente disso. Só que você puxou a carta do dever moral. E devo dizer que ninguém, repito, ninguém ameaça minha moral!

Para sua sorte, ou talvez seja o destino nos facilitando após tantos encontros desencontrados, a tia da Lilia mora na mesma vila que você. Aliás, no mesmo bloco. E ela me adora. Não é difícil, não é mesmo? De qualquer maneira tenho certeza de que não se importará em observar a sobrinha emprestada durante um encontro com um rapaz que ela acabou de conhecer.

Posso chamar de encontro, aliás?

Podendo ou não, chego aí em uma hora.

Não pense que por ter ficado encantada pegarei mais leve com sua composição. Meu olhar crítico e detalhista permanecerá como bem veio ao mundo. Você estar convicto de ser um cara com certeza legal não muda isso.

Até logo, de uma mulher consciente de sua moral,

@ApenasLu"

Tomas riu. Ela é completamente imprevisível!

— Admiro muito quem tem consciência de sua moral. - Começou a falar enquanto saía do banheiro. - Acredito ser essa uma das consciências mais importantes.

Luiza estava apoiada no batente da porta – estaria disposta a ficar no quintal com ele, não em sua casa, vai que ele a tranca lá ou sei lá? Tem maluco para tudo no mundo. Encarou Tomás com confusão. Tinha entendido apenas metade do que ele tinha dito, talvez menos do que isso. Como alguém conseguia falar tão rápido, meu Deus?

— Lu? Posso te chamar de Lu?

Ok. Isso ela tinha entendido. Perfeito.

Balançou a cabeça de forma animada e sorriu abertamente.

— Ok, Lu. Vamos fazer um som lá no quintal.

De violão nas costas, uma camisa de tecido fino abotoada só pela metade – conseguiria ser mais sexy? - e o cabelo cacheado solto, com o dourado reluzindo ao sol, Tomás se virou, trancou a porta e beijou a mão de Luiza. Em um movimento rápido, quando Tomás levantou o rosto, a menina estalou um beijo em sua bochecha.

Ele, que já não estava mais entendendo aquele silêncio, aquela timidez e aquelas mensagens tão seguras de si, aqueles sorrisos e muito menos aquele beijo, não pode evitar de sentir que Luiza era um enigma, um enigma bastante complexo e cheiroso. Ele pôs a mão em sua cintura e a guiou até o quintal.

Durante a breve caminhada, Luiza refletiu nos percursos estranhos que nossos corações nos fazem tomar.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Os Teus Acordes" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.