“Hey, I just met you

And this is crazy

But here's my number

So call me, maybe”

— Carly Rae Jepsen.

Capítulo 2

No dia seguinte, eu aproveitei para limpar meu apartamento com o tempo livre que eu havia conseguido depois de esvaziar minha caixa de e-mails. Então quando minha melhor amiga me ligou para falar sobre a vida como fazia pelo menos duas vezes na semana, eu contei a ela sobre o meu dia enquanto arrumava a casa.

Passei rapidamente por todos os acontecimentos desastrosos, como Jude destruindo minha planta e a menstruação vindo mais cedo, mas não pude evitar ser detalhista ao falar da briga com Claire.

— Eu conheço ela, nunca trabalhei junto, mas tenho alguns amigos que já trabalharam. Trata bem quem ela acha que pode ser útil e despreza quem ela acha inútil — fofocou Alice.

Eu havia conhecido Alice no primeiro semestre da faculdade, em uma aula de literatura feminista. Ela olhou para mim no segundo em que se sentou ao meu lado e sorriu, e depois de 30 minutos de conversa enquanto esperávamos a aula começar, ela disse que seriamos melhores amigas. Não precisei de muito tempo para perceber que Alice não estava errada, ela nunca estava.

Ela sonhava em ser uma estilista famosa, conquistar tapetes vermelhos, mas não da forma que a maioria das pessoas queria. Essa era Alice, otimista, sonhadora e definitivamente uma pessoa que não seguia a maré.

— Então ela claramente me achou inútil — comentei enquanto colocava meus livros na estante. — Mas eu coloquei ela no devido lugar.

— O que você fez? — questionou Alice com curiosidade na voz.

— Primeiro eu disse que ela não entedia de comida — contei sorrindo com a lembrança daquele momento, bem menos irritada do que no dia anterior. — Então eu mandei ela pra fora do meu restaurante e fiz ela pagar a salada que ela não consumiu.

— Não acredito!

— Angela que seguiu ela pra fora, me contou depois que ela teve que ligar para a mãe vir pagar, porque era um encontro e ela tinha saído sem dinheiro — disse rindo.

— Isso deve ter sido hilário, eu queria ter visto — falou rindo. — E o encontro dela, também não tinha dinheiro?

— Ah, com certeza ele tinha, mas eles não saíram juntos e eu quis brincar com ela — confessei.

— Como assim eles não saíram juntos? Você não expulsou os dois?

— Eu expulsei ela — corrigi. — Ele foi um anjo, disse que minha comida estava incrível e quando ela o chamou para ir, ele disse que ia ficar.

— Ok, agora eu estou realmente chateada de não ter visto! Me deixa olhar a filmagem de segurança?

— Alice!

— Poxa, deve ter sido super engraçado. Você sabe como eu amo ver estrelinhas quebrando a cara — explicou-se. — Quem estava com ela era conhecido?

— Eu não conhecia, mas Angela deu uma pequena surtada e eu sei que os outros que cruzaram com ele também. Vi Jéssica se abanando na cozinha.

— Você nunca conhece ninguém, consegue ser pior que a minha mãe — apontou e eu sabia que ela estava revirando os olhos. — Vamos, me conte quem é pra eu colocar na minha lista de famosos que eu posso gostar.

— Edward Cullen.

— EDWARD CULLEN?

— Não grita, Alice! — exclamei. — E sim, Edward Cullen.

— Meu Deus! Edward Cullen foi no seu restaurante!

— Calma, Alice! Ele é só um rostinho bonito com uma conta bancária ainda mais bonita — disse dando de ombros.

— Poucas coisas são mais bonitas do que Edward Cullen e a conta bancária dele com certeza não é uma dessas coisas.

— Uau, você gosta mesmo dele — divaguei — A última vez que eu te vi assim foi quando a Anne Hathaway apareceu na sua loja atrás de um vestido pra um casamento.

— Edward é o reizinho do pop — contou ela. — A voz dele é perfeita e eu amo todas as músicas. Sem contar que é um daqueles artistas que estão envolvidos em causas importantes e não tem escândalos relevantes. Além disso ele é melhor amigo de Jasper Whitlock, o melhor artista de todos os tempos e o homem dos meus sonhos.

Sobre seu crush por Jasper eu conhecia, ela era toda sobre ele desde que tinha escutado seu penúltimo álbum — um disco de rock alternativo, cheio de composições tristes e sexys —.

— Ok, me conta mais sobre Edward.

— Não tem muito pra contar — falei enquanto tirava o pó do meu baú de lembranças. — Eu pedi desculpas por estragar o encontro dele, ele me agradeceu por isso, eu dei uma garrafa de um vinho do vinhedo do meu pai e voltei para cozinha.

— Só isso?

— Bem, antes de ele ir embora elogiou a comida mais uma vez e pediu meu número.

— ELE PEDIU SEU NÚMERO?

— ALICE! — gritei de volta. — Não é grande coisa, eu disse não.

— Por quê? Você não achou ele bonito? — questionou indignada.

— Não foi isso, é só que ele estava ali pra um encontro. Não importa que tenha dado errado e eu mesma afastei a acompanhante dele, ainda era pra ter sido um encontro. Eu não ia passar meu número — expliquei.

— Tudo bem, eu entendo seu raciocínio — disse ela. — Só que eu não acredito que você perdeu a chance de ter Edward Cullen te mandando mensagem. Não só por ele ser muito gato e você deveria dar uns beijos nele, mas também seria ótimo ter esse tipo de contato. Você sabe que tudo nessa cidade é sobre quem você conhece.

— Bem, não grite, mas ele disse que ia ter que voltar outro dia já que eu não dei meu número pra ele.

Eu esperei que ela gritasse, mas ela continuou quieta, o que definitivamente me surpreendeu. Queria poder ver a cara dela naquele momento.

— Não acho que ele realmente vá aparecer outro dia, ou que se aparecer vá pedir meu número de novo.

— Ele com certeza vai aparecer de novo — garantiu Alice.

— Eu não sei... — murmurei.

— Vai sim, escreve o que eu digo. Eu tô sentindo algo bom sobre isso.

E com isso eu não argumentei novamente, eu conhecia Alice bem o suficiente para não apostar contra ela.

*

Eu estava certa em não apostar contra Alice. Dois dias depois de nossa conversa, Edward apareceu novamente.

Aquele dia tinha sido muito mais tranquilo do que a primeira vez que ele tinha aparecido no restaurante, eu estava preparando um prato quando Angela entrou na cozinha e me avisou.

— Edward está aqui de novo — contou com um sorriso no rosto.

Pedi para Leah tomar conta da receita que eu estava fazendo e sai para a mesa que Angela disse em que ele estava.

Ele estava mais uma vez no andar de cima, dessa vez não estava em uma das salas, mas estava perto de uma janela.

— Que bom te ver por aqui de novo — comentei sorrindo.

Edward não havia pedido nada aparentemente, estava concentrado no cardápio, mas afastou seus olhos do papel ao ouvir minha voz e abriu um sorriso. Não sei como era possível, mas ele estava ainda mais bonito do que no outro dia.

— Eu disse que fiquei encantado — respondeu.

— Precisando de ajuda? — perguntei apontando para o cardápio.

— Preciso — assumiu. — Não consigo tirar aquele tortellini da cabeça, mas vi uma bisteca passando para a mesa ali do lado e fiquei tentado.

— Eu não te conheço o suficiente, mas eu costumo sempre experimentar algo novo — contei. — Sou um pouco aventureira quando se trata de comida, além disso depois de conhecer o cardápio inteiro, eu me sinto mais confortável escolhendo um favorito.

— É uma boa ideia, vou seguir seu conselho. Alguma sugestão de vinho?

— Um tinto.

Eu chamei Josh e pedi para que ele buscar uma Bistecca alla Fiorentina para Edward, além de pedir para trazer o vinho que eu sugeri.

— Há algo mais que eu possa fazer por você? — questionei.

Seus olhos brilharam e eu não sei se queria saber para todos os lugares que a mente dele tinha ido naquele momento.

— Você pode se sentar e me fazer companhia — sugeriu sorrindo.

Eu não tive chances de responder, Angela se aproximou de mim e falou primeiro.

— Bella, estão precisando de você na cozinha.

— Eu estou indo — respondi e então olhei para Edward. — Vou ficar te devendo, o dever me chama.

Então virei as costas para ele e me afastei.

Quando cheguei na cozinha, descobri que Mike estava passando mal e precisava ir embora, então eu teria que ficar na cozinha pois a noite estava agitada. Não que fosse um problema para mim.

Logo deixei com que meu cérebro focasse apenas naquele lugar, nos cheiros, nos ingredientes, na beleza de cada prato. O barulho das panelas e a conversa entre todos que trabalhavam na cozinha era como música para os meus ouvidos, o silêncio era algo superestimado.

A noite foi realmente corrida com um funcionário a menos e eu não pude me despedir de Edward dessa vez, porém quando nos preparamos para fechar, eu não conseguia parar de sorrir pela noite ótima, cozinhar fazia isso comigo.

Estava sorrindo quando abri meu escritório para pegar as minhas coisas, então notei um guardanapo sobre o meu teclado. Não segurei a curiosidade e logo peguei, notando a caligrafia muito mais bonita do que a minha no bilhete.

Doce Bella, me fez bem te ver essa noite. Seu uniforme lhe cai muito bem :)

Como o espaço neste guardanapo é pequeno, vou ser direto. Quando eu te pedi para sentar comigo, você disse que ficaria me devendo. Eu entendo que você seja uma pessoa ocupada, mas eu vou esperar.

Não se preocupe, eu sou muito paciente ;)

Beijos, Edward Cullen.

P.S.: estou torcendo para que sua funcionária não leia o bilhete.

Continuei sorrindo depois de ler o bilhete, agradecendo a discrição que eu sabia que Angela tinha.

O bilhete me fez pensar em três coisas.

Alice ficaria maluca quando soubesse.

Edward era encantador e com certeza estava flertando comigo.

Eu estava gostando disso.

*

Ele apareceu de novo na semana seguinte e como das outras vezes, Angela me avisou assim que ele chegou. Mas ela esqueceu de um detalhe.

Edward estava mais uma vez em uma mesa privada e assim que eu me aproximei o suficiente, consegui ver ele olhando para a porta como se procurasse algo, então abriu um sorriso assim que me viu.

Era incrível como a cada vez que ele aparecia, eu o achava mais bonito. Ele usava uma camisa verde que caia perfeitamente nele, seu cabelo cor de cobre parecia se destacar ainda mais com aquela cor, ainda mais com o penteado bagunçado que ele usava.

Quando me aproximei o suficiente, era tarde demais. Ele estava acompanhado novamente aquela noite, mas a mulher estava de costas para a entrada.

 — Com licença, boa noite — falei anunciando minha presença. Edward já tinha me visto, eu não podia correr — Eu sou Bella Swan, a proprietária do Riccione. Vim checar se vocês precisam de alguma coisa.

Me permiti olhar para a mulher com ele na mesa por alguns segundos e senti uma familiaridade com seus olhos verdes.

— Prazer, Esme Cullen — disse a mulher.

Esme Cullen. Era a mãe dele.

A mulher era linda, olhando pra ela um pouco mais eu conseguia enxergar as semelhanças dela com Edward, além dos olhos verdes e o cabelo ruivo, genética realmente abençoada. Mas não era apenas isso, Esme tinha classe. Não só em suas roupas, mas até nas três palavras que ela trocou comigo, conseguia sentir a leveza e sofisticação que ela transbordava.

Com certeza correr não era uma opção.

— Há algo que eu possa fazer por vocês hoje a noite? — questionei tentando esconder meu nervosismo.

— Eu imagino que você deve estar ocupada demais para sentar conosco — comentou Esme suavemente. — Mas eu agradeço por sua atenção, Edward vem falando tanto do seu restaurante nos últimos dias que eu não pude deixar de pedir para ele me trazer aqui.

— Me sinto lisonjeada — afirmei.

— É apenas a verdade, poderia comer aqui todos os dias. Mas eu com certeza ganharia alguns quilos indesejados — disse Edward sorrindo.

— Bem, se você pedisse uma salada caprese ao invés de uma massa, poderia manter o seu corpo — respondi piscando para ele.

Edward não se conteve e soltou uma gargalhada, enquanto a mãe dele o olhou atravessado.

— Já que vocês não precisam da minha ajuda no momento, vou voltar para a cozinha — avisei. — Caso precisem de algo, podem pedir para me chamar.

Os dois agradeceram e eu voltei para a cozinha.

Tentei me concentrar nas comidas, mas vez ou outra meus pensamentos voltavam para Edward e a mãe dele. Primeiro ele flerta comigo, então ele traz a mãe dele para o meu restaurante e ele nem tem meu número de telefone? Ele era claramente maluco.

Algum tempo depois, Angela me chamou de novo para avisar que os dois estavam prontos para irem embora, mas insistiram em se despedir, então eu larguei a cozinha por alguns minutos.

— Edward tem razão, nunca comi uma comida italiana tão gostosa quando a sua — disse Esme.

— Obrigada senhora Cullen.

— Apenas Esme, querida. Com toda a certeza vou voltar aqui, quem sabe em breve não fazemos uma visita com a família toda. Tenho certeza que Carlisle e Rosalie vão amar aqui exatamente como nós — disse ela, a última parte mais para Edward do que para mim.

Tentei não demonstrar o quão assustada eu estava.

Edward e eu não tínhamos nada, não havia nada de errado na família inteira dele vir comer no meu restaurante, seriam apenas clientes.

Quando os dois se levantaram para ir embora, eu os acompanhei até a entrada, Esme tecendo elogios sobre a decoração dos ambientes.

Esme me surpreendeu, me cumprimentando de perto antes de pegar sua bolsa e abrir a porta, então Edward se espelhou nela e fez o mesmo, parando perto do meu ouvido para sussurrar.

— Não se preocupe, eu vou vir sozinho na próxima vez. Então você vai finalmente poder me dar seu número.

Então se afastou e me deu uma piscadinha antes de sair.

Eu estava ferrada.

*

Levou outra semana para que Edward aparecesse de novo e eu lutei contra a vontade de pesquisar o nome dele no Google.

Eu não era uma pessoa muito ligada no mundo dos famosos, não era tão desligada como Angela, Alice e Gianna achavam, mas não podia negar que não me importava. Eu gostava de assistir filmes e acompanhava os lançamentos sem preconceito com a geração mais nova de atores, mas não acompanhava nenhuma revista, também não costumava assistir programas de entrevistas já que não tinha tempo — e também não eram o meu tipo de entretenimento —.

Então não tinha para que jogar o nome dele no Google, mesmo com o flerte.

Mas apesar de não ter procurado ele no Google, não resisti e procurei por ele no Spotify. Não eram exatamente o que eu procuraria para ouvir, mas a voz dele era linda e eu acabei adicionando algumas músicas dele na minha playlist favorita.

Ao contrário das outras vezes, Angela não precisou me chamar para avisar que Edward estava lá, eu estava na recepção de costas para a entrada quando ele se aproximou e sussurrou no meu ouvido.

— O que você me sugere essa noite — disse ele com a voz rouca.

Meu corpo reagiu instantaneamente ao som da sua voz, me deixando arrepiada.

— Edward! — exclamei.

— Bella! — devolveu ele com um sorriso torto.

— Posso te levar até a sua mesa? — questionei.

— Você pode me levar para onde você quiser, Bella.

Aquele comentário foi o suficiente para me fazer corar e minha mente me levar para todos os lugares completamente inapropriados que eu poderia levar ele.

Balancei minha cabeça e perguntei para ele onde queria se sentar, então o levei até uma sala privativa e o ajudei a escolher um prato, além de um vinho, como eu tinha feito dias atrás e pedi para Hannah trazer para ele.

— Agora que estamos sozinhos e antes que te levam para longe de mim, você quer me passar seu número?