Xiao Zhan estava acostumado a receber críticas, a receber negatividade e comentários de puro ódio. Ele aprendeu a se acostumar, especialmente desde que The Untamed foi ao ar e sua popularidade cresceu.

Ele sempre procurava ignorar ou talvez tirar alguma positividade em meio àquilo tudo. E, ainda por cima, sempre podia contar com seus fãs e pessoas queridas, que não mediam esforços para demonstrar que o apoiavam.

Mas mesmo acostumado àquele meio, Xiao Zhan não esperava a intensidade de críticas que passou a receber nos últimos dias. 

No começo ele não entendeu, afinal, estava na casa de seus pais, em Chongqing, em um descanso forçado devido ao vírus que assolava o país.

No entanto, com o tempo tudo se tornou claro. Suas fãs haviam feito algo, talvez não com má intenção — ao menos era o que Xiao Zhan acreditava — e por conta disso, o país inteiro o reprimia, exigindo alguma atitude e, alguns extremistas, indo além a ponto de ameaçá-lo de várias formas.

Quando descobriu tudo o que acontecia, ele não contou aos seus pais. Ao invés disso, desligou o celular e se focou nos problemas familiares que também não estavam fáceis.

Seu avô havia falecido naquela manhã e não era hora de se preocupar com nada.

Então, Xiao Zhan simplesmente bloqueou aquela parte dos problemas em sua cabeça.

Isso até ver seu pai assistindo televisão e seu nome aparecer nos jornais, com comentários de várias pessoas influentes na mídia chinesa, criticando o fato dele não ter se pronunciado sobre nada ainda.

Com isso, a família toda pareceu despertar para a situação. E Xiao Zhan fez o que podia fazer de melhor no momento, colocar um fraco sorriso no rosto e dizer que não deveriam se preocupar com aquilo.

Tinham um funeral para organizar, e isso já era preocupação e dor o suficiente para lidar.

E ele só queria ignorar tudo em uma caixa bem trancada no fundo de sua cabeça. 

Até o falecimento de seu avô parecia demais para lidar. Embora fosse algo previsível devido a sua fraca saúde nos últimos meses, a dor de perder alguém nunca era fácil de lidar.

Por isso ele se envolveu em ajudar ao máximo sua família em tudo o que podia, tentando não ficar nem sequer um minuto parado nos dias que se sucederam. O trabalho não o fazia pensar e era isso o que precisava.

E talvez por estar tão ocupado e distraído que Xiao Zhan se assustou quando abriu a porta de sua casa e descobriu Wang Yibo parado do lado de fora, com máscara no rosto e um olhar preocupado.

— O que você está fazendo aqui? — Foi tudo o que conseguiu perguntar, dando espaço para o outro entrar.

Yibo retirou a máscara e o casaco, agora com um semblante completamente sério a mostra.

— Por que desligou o seu celular? — devolveu com outra pergunta e Xiao Zhan olhou ainda mais surpreso para ele.

— Eu… tive que desligar — respondeu, sem saber o que dizer. Não queria lembrar do problema que tinha para lidar. Não queria ter que ver todas aquelas mensagens, aquela negatividade... 

— E não pensou em me avisar antes? Eu estou preocupado com você! — Ele de fato parecia irritado, e Xiao Zhan se sobressaltou ainda mais ao constatar isso.

Com todo aquele tempo juntos, seja na época que eram apenas amigos, até se tornarem algo a mais, Xiao Zhan nunca tinha visto Wang Yibo chateado ou até mesmo nervoso com ele.

E tudo isso porque estava preocupado. Porque Xiao Zhan estava com problemas e se fechou.

Ele se recriminou silenciosamente por deixar o outro alarmado ao ponto de ter que viajar até lá, mas, apesar de tudo, não podia deixá-lo ainda mais preocupado, não com seus próprios problemas.

Então tudo o que Xiao Zhan fez foi esboçar um sorriso.

— Ah, me desculpa por isso, mas não tem com o que se preocupar, Bo-di! — falou, talvez não com toda a energia que costumava ter, mas ele tentou o seu melhor no momento.

E com isso explicou brevemente para Yibo o que se passava em sua família também. Essa foi a vez do mais novo ficar surpreso e, apesar de Xiao Zhan jurar que Yibo acabaria voltando para casa, ele permaneceu ali, insistindo em acompanhá-lo até o enterro e continuar ao seu lado mesmo depois.

O funeral em si foi breve e com poucas pessoas, e logo Xiao Zhan estava de volta a casa de seus pais, retirando a máscara de seu rosto e pegando Jian Guo em seu colo. A gatinha ronronou, se ajeitando confortavelmente, lançando um olhar curioso para Yibo.

Os pais de Xiao Zhan acolheram o mais novo facilmente, agradecendo por ele ter se preocupado tanto com o único filho deles, oferecendo até mesmo estadia pela próxima noite, ou quantas Wang Yibo fosse precisar  — apesar de não fazerem ideia do relacionamento que ele e Xiao Zhan mantinham.

E então, bastou os dois ficarem sozinhos novamente que Yibo tornou a expressar sua preocupação.

— Zhan-ge, você não precisa aguentar tudo sozinho. — Ele falou, com o semblante sério, como estava quando chegou ali mais cedo naquele dia — Não precisa fingir que está tudo bem, não comigo.

Xiao Zhan riu. Um riso sem vida e forçado demais.

Ele ergueu a cabeça, encarando Yibo.

— Desde quando você se tornou tão sentimental, Wang Yibo? — perguntou em um fraco tom de deboche.

— Nós não estamos começando isso dessa vez. — Mas Yibo logo o cortou, sabendo que ele apenas queria o distrair.

E Xiao Zhan no fundo sabia que dessa vez não conseguiria adiar a conversa. Até porque, francamente, ele estava começando a se cansar de fingir que nada o abalava, não quando tudo a sua volta parecia desmoronar cada vez mais.

Ele suspirou, fechando os olhos e depois tornando a encarar Yibo, que ainda o aguardava, sério.

— Se… Se eu parar de fingir e pensar demais sobre isso, eu não sei se vou aguentar… — murmurou, com a voz subitamente trêmula.

Ainda assim ele não queria se descontrolar, não queria deixar os outros ainda mais preocupados. Só queria que tudo aquilo acabasse logo. A dor de perder o seu avô. A sua vida profissional em crise...

Mas por que era tão difícil fazer com que tudo acabasse?

— Tsc… eu estou aqui, não estou? Não precisa sofrer sozinho, Zhan-ge. — Yibo falou, segurando a mão de Xiao Zhan e o puxando para um abraço repentino.

Xiao Zhan deixou seu corpo se apoiar no corpo do mais novo, sentindo os braços de Yibo contornando as suas costas, deixando-os ainda mais próximos.

E aquilo foi o ápice para Xiao Zhan sentir todas as barreiras que tinha construído nos últimos dias desmoronarem.

As lágrimas começaram a brotar de seus olhos e ele finalmente se deixou levar, unindo os braços ao redor do corpo de Wang Yibo, correspondendo ao abraço de maneira forte, como se sua vida dependesse disso.

E Yibo o segurou. Também com força, com determinação, com um sentimento de que nunca o deixaria ir.

Então assim eles ficaram, sem dizer nada por um bom tempo, apenas compartilhando aquele abraço que significava mais do que mil palavras de conforto e apoio.

Mais tarde, Xiao Zhan pensaria no que fazer. Pensaria em seu próximo passo, quando seu coração estivesse pronto e calmo, depois de dias transtornado.

Mais tarde, ele também pensaria e, entre risos de ironia, compartilharia com Wang Yibo como a vida deles se assemelhava à de seus personagens que um dia interpretaram.

Ele nunca achou que um dia entenderia como Wei WuXian se sentira quando sofreu acusações de várias pessoas por atos que não cometeu. Ainda acreditava que uma parte de si jamais compreenderia completamente os sentimentos daquele personagem, mas depois dos eventos que aconteciam com ele, Xiao Zhan agora imaginava melhor tudo o que Wei WuXian teve que enfrentar.

E, assim como Wei WuXian, ele também podia contar com seu Lan WangJi para apoiá-lo.